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História Peter Pan - VII. O Farol É Uma Estrela


Escrita por: Wyphea

Capítulo 8 - VII. O Farol É Uma Estrela


Fanfic / Fanfiction Peter Pan - VII. O Farol É Uma Estrela

 

Capítulo VII

 

Farol É Uma Estrela

 

 

Terra do Nunca? — Ye Eun quis se certificar de que escutou direito as palavras de Luhan. Ele continuava a fita-la, absorvendo a pergunta dela em uma expressão oblíqua. Algo nela é familiar, Luhan pensou.

— Não me lembro exatamente — ele disse, dando de ombros e encolhendo-os em seguida. — Sabe como são os sonhos... Você nunca se lembra de tudo, mas sabe que sonhou com aquilo — esvaziou o ar pela boca e um sorriso apareceu no véu do semblante impassível que mantinha até aquele momento. — Recordo-me de correr em uma floresta e um ponto pequeno e brilhante sempre me seguia, ele fazia um barulho de sinos.

— Sinos?

— Tilintava, era algo bom de ouvir.

Sininho, Ye Eun pensou e meneou a cabeça para os lados.

— Você não sente mais nada? Dor de cabeça? Cansaço?

Luhan negou e abriu um sorriso, dissipando toda a preocupação que Ye Eun guardava até aquele instante.

— Acha que consegue levantar? — Luhan escorregou para fora da cama, colocando seus pés descalços no chão de madeira e Ye Eun inclinou seu corpo para perto dele, segurando-o pelo braço, atenta a qualquer movimento de Luhan.

O jovem andava pelo apartamento absorvendo cada mínimo detalhe que ele escondia como se estivesse ali pela primeira vez. Luhan apoiava-se em Ye Eun mesmo tendo a sensação de que poderia se deslocar sem qualquer auxílio, porém somente pelo fato de sentir que ela se preocupava com ele o fazia sorrir internamente.

Luhan estancou o passo no corredor e se virou para um dos quadros que adornava a parede branca. A pintura retratava um farol que parecia abandonado, havia algumas árvores retorcidas atrás dele e davam ao jovem um aspecto insalubre, quase morto; entretanto um céu cerúleo repousava calmamente em terceiro plano. Luhan levantou seu dedo indicador e apontou para o quadro.

— Não é aquele farol de sua foto? — ele perguntou sem olhar para Ye Eun.

— É sim — respondeu ela sem muito interesse. — Mudou muito, não?

— Mas um dia você me levará para lá? Quero saber como era o lugar onde você se sentia feliz.

Um sorriso aflorou no rosto de Ye Eun e ela apertou o contato de seus dedos com a pele do braço de Luhan.

Ela assentiu.

— Há anos que não vou para o farol.

— Por quê?

— Tive de deixar algumas coisas para trás quando me mudei para a casa da minha tia. E o farol foi uma delas.

Luhan ficou em silêncio e recuou alguns passos até sentir suas costas contra a parede paralela a do quadro.

— Quem pintou?

Ye Eun deu de ombros, indiferente à pergunta, porém avançou até o quadro, tirando-o da parede e trazendo-o mais para perto. Uma pequena caligrafia tremida e negra escondia-se entre o cinza do asfalto no canto inferior direito.

 

“Poem Jung Ha”

“21/04/2011”

 

Ela piscou várias vezes, tentando compreender o motivo do nome da esposa de Chanyeol se encontrar no quadro. Ao franzir o cenho, fora interrompida pela campainha que soou às suas costas; em seguida, Ye Eun balançou a cabeça, tentando voltar ao presente e deu a Luhan o quadro, o mesmo escrutinou a pintura entre suas mãos.

Está anoitecendo, Ye Eun pensou. Quem é que vai me visitar a essa hora?, ela abriu a porta e Jong Dae se modelou na sua visão. Vestia roupas simples e um óculos de grau refletia a luz de dentro do apartamento; a expressão de preocupação se desenhava de forma cômica ao ter os cantos do lábio repuxado para baixo.

— Você está viva! — ele exclamou e um sorriso afável apareceu, balançou as mãos no ar, magnânimo. — Você não deu sequer um sinal de vida!

Ye Eun jogou a cabeça para trás e soltou uma longa risada. Luhan se aproximou aos passos lentos, totalmente solícito para não ser reparado naquele ambiente e parou atrás do pilar que separava a cozinha da sala, escondendo-se. O quadro estava agarrado contra seu peito, apertando-o enquanto via Jong Dae e Ye Eun conversarem, ela encostada na soleira da porta com um sorriso aberto estampado no rosto que brilhava ao ser iluminada pela luz da sala.

Algo no professor fez Luhan se encolher, curvando seus ombros, e fixar sua mente nele. Uma aura benevolente, porém de extrema ingenuidade circulava em volta de JongDae e perguntas de Ye Eun e ele terem um relacionamento suscitaram de forma dolorosa no peito de Luhan. Por algum motivo, ele queria intervir na conversa e puxar Ye Eun para longe do professor; contudo seus pensamentos se anuviaram quando a psicóloga girou o tronco na direção dele e entregou seu melhor sorriso ao rapaz, fazendo sua imagem brilhar na penumbra. Em seguida, Luhan desviou o olhar do dela e se recolheu para o quarto da psicóloga.

Sentou-se na cama e repousou o quadro ao lado de seu corpo, afundando-se na própria mente, nadando em um vasto e escuro mar que não parecia ter fim. Ele não poderia reconhecer a própria profundeza que sua mente abrigava, entretanto vozes infantis subiam-lhe pela cabeça.

Irritava-se pelo fato de não poder conhecer a si mesmo, a cada instante sentia o seu passado conseguir escorregar pelos seus dedos e fugir para um lugar inexorável, serpenteando até poder confundir a escuridão com o passado. Tentando dissipar seus devaneios, Luhan levantou as mãos até a altura de seus olhos e as analisou. Cicatrizes pequenas e grandes se desenhavam nas costas da mão e nos dedos longos. Eu era tão desastrado assim?, perguntou-se e comprimiu os lábios, um frêmito de medo reverberou em seu corpo. O que eu fazia de errado para ter isso?

Lágrimas de raiva e de profunda consternação banharam os olhos azeviches de Luhan, rolando pelos pômulos rosados. Um sentimento enviesado tomava conta de si por simplesmente não ser suficientemente capaz de fisgar um único pedaço de suas longínquas memórias, ele queria entrelaça-las e conseguir entende-las. Um soluço prendeu em sua garganta e Luhan abafou o barulho de seu choro ao morder fortemente o lábio, uma dor que atingia desde o seu peito até o âmago mais profundo o deixava desnorteado.

Tentando deter suas lágrimas de raiva, desespero e desamparo, Luhan respirou profundamente e sorveu o aroma de flores do quarto. A imagem de Ye Eun quando menor suscitava um sentimento de nostalgia e sempre vinha à tona o pensamento de que ele a conhecera naquele tempo; no entanto a cada vez que centrava sua mente na figura frágil dela, ele sentia-se cada vez mais perdido e aquilo lhe doía como facadas.

— Luhan?

A silhueta de Ye Eun se desenhou na penumbra.

Ele escutou um clique e as luzes do quarto se acenderam, o rapaz sobressaltara no mesmo instante, percebendo que estivera no escuro desde aquele momento. Os olhos negrume que tinham o brilho infantil, característico de crianças que acabaram de ganhar algum presente. No instante seguinte, a fotografia da garota parada no farol veio à mente de Luhan e ele sorriu mesmo com lágrimas trilhando um caminho sinuoso pelo rosto dele. De fato, pensou. Ye Eun fez parte do meu passado.

— O que aconteceu?  — ela quis saber.

Eu a conheço, certo?, sua vontade era de perguntar, porém um nó na garganta o fez cerrar os lábios.

— O que é um beijo? — Luhan simplesmente soltou ao tentar afastar seus pensamentos. Ye Eun riu e se sentou ao lado dele, limpando calmamente as lágrimas dele com o dedo indicador.

— Por que está perguntando isso?

— Porque eu quero saber — disse. — O que é um beijo?

— É um toque de lábios que duas pessoas fazem quando gostam uma da outra — Ye Eun explicou; em seguida, Luhan desviou seu olhar para o chão.

— Agora entendi...

— O que você achava que era?

— Algum tipo de doença mortal.

Ye Eun gargalhou e ele sorriu instantaneamente.

— Por que elas fazem isso?

— Como disse, é uma forma de mostrar a uma pessoa que gosta dela.

— Você já beijou o farol?

— Como é?! — ela arregalou os olhos.

— É... Você gostava de ir ao farol, deveria ter beijado uma vez, não?

— Farol não é gente...

— Mas você gosta dele, certamente ele merece ser beijado.

— As coisas não funcionam assim, Luhan — ela balançou as mãos. — Ele não é um ser vivo, é apenas um lugar.

— Então por que gostamos de coisas não vivas?

Ye Eun se calou e permaneceu por um longo tempo pensando, no fim, nenhuma resposta lhe parecia palpável.

— Porque nos faz lembrar de alguém que amávamos... Eu acho — Ye Eun respondeu.

— E de quem você se lembra de quando está lá?

— De minha mãe — Luhan assentiu com a cabeça e voltou a encarar o quadro ao seu lado, Ye Eun acompanhou seu olhar. — Por que acha que gostamos das pessoas?

— Eu acho que nosso coração seja uma flecha e nós, o arco — ele começou a dizer, lentamente Luhan levantava o olhar para a janela, em que um mar negro era pontilhado por estrelas e uma lua repousava calmamente entre elas. — Disparamos uma flecha sem perceber e acertamos o alvo, mas às vezes o coração de uma pessoa é uma flecha que nem sempre aponta na direção correta.

— E como chegou a essa conclusão?

— Chegando, eu acho.

Mergulharam em um silêncio confortável, Luhan ainda tinha a mente distante, preso às tentativas de suscitar seu passado.

— Agora posso saber o porquê estava chorando? — a psicóloga perguntou e ele levantou a cabeça, perscrutando sua face.

— Eu só quero me conhecer — ele respondeu. — Ye Eun... Por que eu tenho a sensação de conhecê-la? Por que me lembro da Terra do Nunca, mas não me lembro de quem eu sou?

Ye Eun não falou, somente baixou a cabeça e começou a contemplar o piso de madeira. Ela queria poder responder todas as aquelas indagações de Luhan, no entanto sentia-se trôpega ao imaginar o que ele poderia fazer se caso as lembranças viessem à tona, imaginava-o enlouquecer porque não conseguiria voltar ao seu lugar de origem ou abandona-la novamente e nunca mais voltar, como ele fizera.

Ela soltou o ar pela boca e levantou.

— Eu não o conheço e não posso fazer nada ao seu respeito, só o tempo poderá ajuda-lo — Ye Eun simplesmente disse, andando na direção da porta. — Luhan, por favor, você pode me deixar um pouco sozinha?

Luhan somente levantou e passou diretamente por ela, deixando-a em turbulentas correntes de pensamentos, culpando-se por não ter sido capaz de dizer nada a ele sobre seu passado.

***

Ye Eun enrolava-se nos lençóis que se esticavam na cama, porém o sono lhe parecia impalpável demais para poder agarra-lo. Havia algumas horas em que permanecia encarando o teto branco brilhar ao contato da luz da lua que atravessava a cortina. Durante toda a noite a imagem de Luhan chorando por não conhecer a si própria a deixava deslocada, totalmente desnorteada por não conseguir contar o passado tão distante.

Ela piscou os olhos algumas vezes e depositou a mão na barriga apertando o lençol contra os dedos. As lágrimas de raiva de si afloravam no limiar de seus olhos e sua boca entreaberta permitia um som quase inaudível de sua respiração serena. Mordeu o lábio inferior ao tentar desviar seus pensamentos para algo que não lhe machucasse tanto. No entanto voltava-se para Luhan, cônscia de que um dia ele se lembraria de tudo e a deixaria novamente.

Passou a mão pelo rosto e se levantou, sentando-se na cama e deixando os ombros caídos. Reuniu algum resquício de coragem e se dirigiu para a sala, em que uma claridade macia iluminava aquela parte do apartamento. Ela escorregou até chega a sala, vendo Luhan sentado no sofá com o semblante absorto em pensamentos. A touca estava caída ao seu lado, seus braços estavam em volta dos joelhos, abraçando-os. Ye Eun retirou uma mecha de seu cabelo na frente do rosto e a colocou atrás da orelha, aproximando-se aos passos pequenos, hesitantes.

— Oi — ela cochichou em uma voz rouca e tremida, refletindo que chorara há pouco tempo. Luhan levantou a cabeça e a encarou, um sorriso hermético emergiu de seus lábios. — Posso me sentar?

Ele assentiu com a cabeça e Ye Eun se acomodou ao lado dele, contemplando a televisão desligada.

— Você chorou, não é? — Luhan comentou, ainda olhando para ela. Os pômulos da psicóloga aderiram a uma coloração avermelhada e ela baixou os olhos.

— Como sabe?

— Seu nariz está vermelho, parece um palhaço...

Ela riu.

— Luhan, eu queria—

— Sabe no que eu estava pensando? — ele perguntou. Seu sorriso se alargou em um tom de amabilidade. Ye Eun negou. — Estava pensando no farol e percebi que ele é como as estrelas... Sempre brilhando para nós e iluminando o caminho nessa escuridão.

— Belo jeito de pensar nele — ela respondeu.

***

Peter escorregou sua mão pelo braço de Ye Eun e entrelaçou seus dedos com os dela, conduzindo-a adentro da floresta. Pequenos raios de sol cortavam as folhas verdes e iluminavam um ambiente soturno. Ye Eun olhava de soslaio para Peter, sua roupa de pele de animal era adornada por folhas e cipós que entrelaçavam seu corpo apresentando alguns furos em suas costas, revelando sua pele pálida e com desenhos de cicatrizes ao longo dos furos; sem perceber, Ye Eun tocou na pele descoberta dele, fazendo-o estremecer e sobressaltar.

— Ei... Sabia que sua mão está fria?! — ele reclamou e Ye Eun abriu um sorriso galhofeiro.

— Está furado — ela comentou ao afastar a mão. — Você não tem outra roupa?

— Não tenho tempo para pensar em roupas — Peter respondeu.

— Mas você não faz... — ela começou a dizer, no entanto se interrompeu. Balançou a cabeça e se afastou um pouco dele. — Mas ela está tão... Mas tão velha!

Peter deu de ombros.

— Posso costurar para você — Ye Eun falou, seus olhos caíram para seus pés descalços que se afundavam na terra úmida. — Minha mãe tinha me ensinado uma vez, talvez não seja tão difícil fazer isto sozinha...

Os olhos de Peter brilharam e ele bagunçou o cabelo azeviche da menina em um gesto de agradecimento, puxando-a para o lado oposto ao que andavam.

— Isso é ótimo, na verdade, perfeito! — ele exclamou.

Sobre a fina cortina da superfície, Ye Eun realmente nunca soubera costurar da mesma forma que a sua mãe. A todo instante ela perfurava seu dedo e começava a chorar, no final, restava-lhe assistir à sua mãe costurar em um ar sereno.

Por entre as árvores que se entrelaçavam, Peter escorreu entre elas para poder entrar no esconderijo, auxiliando a Ye Eun descer com uma das mãos apoiadas no braço da menina. Quando chegaram, os Meninos Perdidos já haviam partido para caçar e se divertirem sob o sol que queimava a pele deles.

— Tome — Peter falou ao entregar um conjunto de agulhas e linhas para Ye Eun. Ela encarou com receio os apetrechos e segurou entre suas mãos. O menino sumiu em seu campo de visão quando se infiltrou entre as sombras.

Ye Eun mexia meticulosamente nas bordas dos alfinetes e via as linhas se entrelaçarem e formavam um arco-íris a sua frente. Somente foi acordada de seus pensamentos quando Peter jogou em seu rosto a sua camiseta furada, ele se aproximou com uma manta nas costas e se sentou ao lado de Ye Eun.

— Estava pensando... — ela começou a dizer, um sorriso constrangedor emergiu de seus lábios. — Acho que você fica melhor com os buracos mesmo...

— Você não quer costurar, não é? — um bico se formou na face de Peter e ele cruzou os braços. — Você é uma preguiçosa...

— Não que eu seja! Mas é que—

— Então o quê?

Ye Eun se encolheu e sorriu.

— Vou tentar!


Notas Finais


Sinto que algumas pessoas vã querer me espancar pela demora UAHSUAHSUAHS
Mas, de verdade, desculpem-me por ficar mais de um mês sem dar um sinal de vida é que... Poxa, eu tô sofrendo muito nesse ano! UAHSUAHSUASH
Nunca soube que eu precisaria me concentrar tanto assim nas aulas e estudar ainda mais em casa, então, estou quase me matando de tantos números e de tantas letras que vejo voando por aí! Mas não posso fazer nada a respeito, o que só consigo dizer a vocês é que: tentarei escrever, tentarei postar e tentarei dar um sinal de vida nas fics que acompanho (ainda continuem esperando pelo meu comentário, plis D: )
Enfim... Em questão à fic, eu vou dizer que as coisas começarão a andar mais rápido a partir de agora, então pra quem achava que estava numa monotonia só... Vai melhorar! Prometo! ASUASHUASHUAS
A capa do capítulo não representa a pintura feita, só foi algo para dar uma sensação de como era lugar e tals <3
Obrigada por terem lido! <3

*antes de terminar*
UMA LINDA LEITORA (vulgo BabyFox) fez uma linda fanart dessa fic <3
Aqui está o link do desenho maravilindo <3: https://instagram.com/p/zipTfeQ3jK/?taken-by=_lady_buggie_


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