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História Petra: The Guardians - Prólogo


Escrita por: th_florenciio

Notas do Autor


Eu acho que quem me conhece aqui no grupo já me ouviu falando dessa história e, claramente, não está surpreso com ela por aqui, não é? O caso é que, sim, estamos aqui mais uma vez com uma fanfic cheia de tudo no mundo, tem puta, tem corno, tem viado, tem crente, tem t-u-d-o. Petra: The Guardians, finalmente, depois de muito tempo e planejamento, tá dando as caras aqui pra todo mundo. Espero que vocês gostem, de verdade, e desculpem por qualquer eventual erro!

Capítulo 1 - Prólogo


Fanfic / Fanfiction Petra: The Guardians - Prólogo

"Era uma vez."

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Heaven Hill, Oito Anos Atrás, 20:40

A CHAMA DA LAREIRA CREPITAVA com toda força na tentativa de aquecer os corpos friorentos dos dois irmãos gêmeos, além das três outras pessoas presentes na sala. Era uma noite fria de sábado, e os pais das crianças tinham tirado um tempo como casal para sair e se divertir, deixando os filhos com os avós paternos, como sempre acontecia quando eles precisavam viajar ou tiravam um tempo para si. A noite em Heaven Hill era iluminada pela luz da lua e de suas estrelas em contraste com o céu escuro da noite, e formava uma vista digna de ser admirada pelo pequeno pré-adolescente de cabelos loiros e olhos azuis, que fitava o satélite natural com uma certa admiração.

Desde que tiveram a oportunidade de ter alguém para chamar de vó, os irmãos Von Devereaux não deixaram de aproveitar cada segundo da companhia da mulher de cabelos já um pouco grisalhos devido a sua idade, assim como também de seu avô, que como a maioria das vezes, assistia o jornal da noite em uma poltrona de frente para a televisão na sala, onde todos eles estavam. O clima na casa dos dois idosos sempre agradavam e tiravam sorrisos, mesmo que mínimos, dos três irmãos, especialmente de Rebekah e Kolton Deveraux, os dois irmãos gêmeos mais novos, que dividiam uma coberta em uma pequena poltrona próximo da lareira. O irmão mais velho, Niklaus, sentado na janela da sala, continuava a encarar a lua, distraído pelo som da televisão de seu avô.

— Quem quer chocolate quente? — A voz de Marianne chamou a atenção das crianças, que se animaram em responder a pergunta da avó.

— Eu! Eu quero! — Rebekah, ou apenas Bekah, levantou o braço direito, sinalizando que deveria ser a primeira a receber o chocolate. — Vamos, vovó.

— Ei, eu também quero — protestou Kolton. O mais novo dos irmãos Deveraux, que odiava ser chamado por seu nome completo e, por isso, atendia apenas como Kol.

— Eu sou a mais velha. — Bekah rebateu, mesmo que a diferença de idade fosse de apenas um minuto.

— Calma crianças — pediu Frederick, desligando a televisão que transmitia o jornal e focando a atenção nos netos. — Aposto que tem chocolate para todo mundo, não é mesmo, querida?

— Isso mesmo. — Marianne concordou. — Aqui. — A mulher entregou as xícaras para os mais novos e ao seu marido, indo até a janela. — Você quer, Klaus? — indagou ao menino loiro, tirando a atenção dele das estrelas.

— O que? — O loiro perguntou confuso, sem ter ouvido o que acontecia antes.

— Desculpe assustá-lo. — Marianne pediu ao neto, rindo pela reação do garoto. Klaus, por ser um pouco mais velho quando conheceu o padrasto, foi o mais difícil dos três de conquistar, e às vezes, ainda parecia um pouco travado em relação a eles, mas seu filho, Joseph, sempre dizia que aquele era apenas o jeito do garoto. — Mas você quer? — Ofereceu a xícara de chocolate quente, que Niklaus aceitou de bom grado, sorrindo em agradecimento para a mulher, que já chamava de avó.

Marianne sentou no sofá ao lado de Frederick, com uma xícara em sua mão. A bandeja que tinha usado para trazer as xícaras de cozinha fora colocada na pequena mesinha de centro enquanto se sentava no lugar, sorrindo para o marido no processo. Um pequeno bigode de chocolate se formou ao redor de seus lábios quando ele bebericou um pouco do conteúdo na xícara, devolvendo o sorriso de Marianne, o que arrancou algumas risadas de Kol e Rebekah.

Diferente de Klaus, que tinha os cabelos em um tom escurecido de loiro, Kol e Rebekah tinham os cabelos castanhos, embora as pontas dos cabelos da garota fossem um pouco mais claras, sua raiz ainda era castanha. Sentados enquanto dividiam a mesma coberta, a mania de toda mãe de filhos gêmeos era óbvia nas xícaras rosa e azul dos dois, ambas com personagens da animação Como Treinar o Seu Dragão. Dentre os dois irmãos, Kol era o mais tranquilo. Passava parte do dia de frente à televisão assistindo desenhos, mas bastava que Rebekah o chamasse e o carregasse para mais uma das suas armações, e os dois estavam dando trabalho juntos. Isso, no entanto, não incomodava os dois mais velhos. Pelo contrário. As crianças alegravam o seu dia.

— Vovô, vovô… — Rebekah chamou pelo homem até que tivesse a atenção dele em si. — Conta uma história pra gente?

— Aquela com magia! — Pediu o mais novo, sempre apelando para histórias de mundos fantasiosos, como os dos desenhos que assistia.

Frederick riu, arrumando-se melhor na poltrona quando Marianne sentou-se em seu colo, cada um agora com uma xícara de chocolate quente em mãos. Ele passou os braços ao redor das costas da esposa, abraçando-a e encostando o queixo em seu braço. Marianne retribuiu o carinho com um sorriso, acenando com a cabeça para que o homem fizesse o que as crianças estavam pedindo-no.

— Tá, tá, tudo bem. — Deu-se por vencido. — Vou contar essa história pra vocês de novo. Essa já é o que, a quinta vez?

— Acho que sexta. — Klaus respondeu, mas mesmo ele acomodou-se no chão ao lado dos irmãos para ouvir a famosa história de um mundo mágico que o homem os contava sempre que os mais novos pediam.

— Acho que eles realmente gostam dessa história, não é? — Marianne indagou as crianças, que assentiram animados e ansiosos para ouvirem outra vez a mesma história. — Vamos, conte-nos essa história.

Frederick encarou o complô que tinha crescido contra ele. Marianne, Rebekah, Kolton e Niklaus o encaravam, esperando que começasse a história. O homem sorriu, encarando cada um deles de volta com um olhar saudoso. Joseph era o seu único filho, e tamanho não fora o seu receio quando descobriu que o ele tinha se envolvido com uma mulher que já tinha três filhos, mas não demorou muito até que as crianças tivessem conquistado o seu coração, e como todo avô apaixonado por seu netos, ele nunca conseguia negar nada que um dos três o pedissem com aqueles olhos brilhando.

— Tudo bem, vamos começar. — Bebeu um gole do chocolate quente. — Existia uma bonita cidade chamada…

— Não, vovô! — Protestou Kolton, revirando os olhos, assim como Klaus fazia. — Não é assim que se começa uma história, lembra?

O homem gargalhou com a negação do pequeno garotinho de cabelos castanhos. Tinha feito de propósito, apenas porque sabia que Kol iria protestar. Não era assim que se começava uma história, afinal.

— Okay, okay. — Controlou o riso. — Era uma vez, há muitos e muitos anos atrás…

 

Em um lugar muito distante, afastado da civilização, um belo e abençoado reino. Dizem que as flores que rodeavam a cidade nunca morriam, e o céu era sempre límpido e calmo, e que ao olhar para as Constelações a noite, se podia ver o universo inteiro refletido na luz do satélite natural e suas companheiras. Naquele reino, todos viviam em paz e harmonia, e todas as espécies coexistiam juntas. Humanos, ninfas, elfos, metamorfos, shifters, vampiros, anões, todos eram como um só. Existiam animais mitológicos e muitas lendas que nós acreditamos ser só lendas, existiam lá. Era um lugar mágico.

Ele se chamava Petra, e era conhecido como a Cidade Rosa. Um reino de paz, ternura e prosperidade, as crianças podiam brincar na rua umas com as outras, independente das espécies a qual pertenciam, enquanto os seus pais ajudavam a manter o reino, misturando-´se, ajudando-se. Seres humanos e seres mágicos viviam juntos, como um só. Esse reino era governado por Evelot, um rei justo e de coração bom, que teve apenas uma filha, e a chamou de Esperanza, uma jovem ninfa que sempre chamou atenção por ser considerada a mulher mais bonita de todos os reinos, mas Esperanza casou-se com um homem humano. Seu casamento foi um grande marco em Petra, porque apesar de os seres coexistirem, nunca tiveram um relacionamento amoroso entre si, e muito menos com um sentimento tão grande quanto o de Esperanza e Klarion.

Mas um dia, o Supremo Rei Evelot, O Sábio, faleceu, e Esperanza teve que assumir o trono, como única filha do rei, junto de Klarion, tornando-se Grande Rainha Esperanza, A Iluminada, e Grande Rei Klarion, O Destemido. Dizia-se que o reino iria prosperar para sempre sob o comando de Esperanza, e todo o mundo ouviria falar de Petra, A Cidade Rosa, o reino onde o humano e o mágico se uniam em um só coração.

Mas nem tudo em Petra eram flores. Quando assumiram o trono, Esperanza preferiu deixar os cuidados do reino para seu marido, preferindo estar a par apenas do que dizia respeito a educação e cuidado de seu povo. Ela andava pelas ruas como uma deles, ajudando-os e cuidando dos feridos e dos que tinham fome, enquanto Klarion, o Destemido, comandava o reino, alguns diziam até mesmo mais justo e bondoso do que seu antigo rei. Essa divisão não agradou tanto algumas pessoas do reino. Pelas sombras, um grupo de seres demoníacos começou uma rebelião, e aos poucos, o pensamento de que um humano não deveria governar todos os seres mágicos se espalhou pelo reino, iniciando uma guerra liderada por um demônio chamado Azazel, o Pai de Todos os Males.

Azazel marchou com um exército para o Jardim das Esmeraldas, o nome dado ao palácio real por conta de um jardim feito em homenagem ao nascimento de Esperanza, e no Suplício dos Deuses, mataram Klarion. A Grande Rainha de Petra chorou em cima do corpo de seu marido, por um dia e uma noite, enquanto a guerra ainda continuava. Ela pediu aos deuses que o trouxessem de volta, ou a levassem com ele, mas apenas continuou chorando por mais um dia, até que quando os soldados voltaram para tentá-la fazer comer, ela não estava mais lá. Em cima do corpo morto do Grande Rei Klarion, havia apenas uma rosa diferente, com doze pétalas. Como seres mágicos, os anciões logo entenderam o que tinha acontecido. Os deuses responderam ao pedido da rainha, e seu espírito subiu ao paraíso junto de Klarion, mas as pétalas de sua rosa deram um fim à guerra.

Os guerreiros se uniram e derrotaram O Pai de Todos os Males, mas depois da guerra, os sábios e anciões decretaram que nenhum humano teria mais qualquer relação com um ser sobrenatural, que eles nunca mais saberiam ao menos da existência um do outro. Apenas os que seriam escolhidos pela Rosa da Rainha, ganhariam a honra da sabedoria, mas também pagariam com a sua vida.

 

A história de Petra não tinha um final feliz, mas por algum motivo, sempre foi a preferida de Kolton e Rebekah. Todas as vezes que dormiam na casa dos avós, mesmo com os protestos de Niklaus por saber que os dois mais novos teriam pesadelos mais tarde, eles pediam aquela mesma história para Frederick, e para Klaus quando estavam em casa. Mesmo negando, o mais velho sempre se rendia e acabava contando o conto de fadas aos irmãos - que, provando o seu ponto, sempre tinham pesadelos depois.

— Acho que já está na hora de dormir, crianças. — Marianne falou para os netos, encarando o relógio na parede da sala. — Já está ficando tarde, seus pais foram bem claros quanto ao horário de dormir.

— Que já passou — completou Klaus, levantando-se e recolhendo todas as xícaras. — Vão se trocar e escovar os dentes para dormir, sim? Não, Kol, não tem nenhum vampiro no banheiro.

— Como você sabe? — O mais novo dos irmãos gêmeos perguntou, cobrindo-se até metade do rosto com a coberta. — Você estava aqui como nós dois.

— Porque vampiros não existem, bobão. — Rebekah caçoou do irmão. — É só uma história legal que o vovô conta, mas não passa de um conto de fadas.

— Bekah tem razão. — Klaus se ajoelhou na frente da poltrona onde os irmãos estavam, deixando as xícaras no chão. — Isso não existe. E você não vai dormir sem escovar os dentes. Vamos, seja corajoso.

— Não posso ir com você?

— Pode. — Virou-se para Rebekah. — E você?

— Eu já sou crescida — respondeu a mais velha dos gêmeos. — Posso ir sozinha.

— Tudo bem, dona adulta. — Niklaus respondeu rindo da expressão da irmã mais nova, de apenas oito anos. — Vamos, Kol.

Kolton levantou-se da cama, arrumando o seu cabelo de novo, deixando-o mais perto de como o do seu irmão mais velho estava, o que fez os dois idosos rirem. Os dois pegaram as xícaras outra vez e foram com elas até a cozinha, com Kol tentando imitar os trejeitos do mais velho enquanto andavam.

— Gostou da história, querida? — Frederick indagou a neta, mesmo que já tivesse aquela resposta.

— Sim, vovô. É uma ótima história. Pena que não tem um final feliz.

— Nem todas as histórias têm, Rebekah. — Marianne respondeu em um suspiro. — Assim é a vida. Mas você é nova demais pra isso, e ouviu o Klaus. Vamos, já passou da hora dos dois dormirem.

Rebekah deixou os dois idosos sozinhos na sala.

— Eles crescem tão rápido. — Frederick apontou, suspirando. — Lembra de quando eles chegaram aqui? Eram pequeninhos e mal falavam direito, e agora já estão aí dizendo que são “crescidos”.

— Daqui a pouco estarão trazendo os namorados e namoradas para Joseph e Carolyn conhecerem. — Marianne provocou sorrindo.

— Sim. — Concordou o homem. — Por isso ainda guardo minha espingarda lá em cima.

A mulher sorriu, sentando-se junto de seu esposo outra vez, que a acompanhou em risadas.

Niklaus ajudou os irmãos a arrumarem-se e dormirem, e deitou-se no próprio quarto que tinha ganhado na casa dos avós. No meio da noite, como acontecia sempre que tinham um pesadelo, Rebekah e Kol se arrastaram pela casa até a sua cama, e quando ele acordou no dia seguinte, estava sendo quase jogado da cama pelas duas crianças mais novas. Na noite seguinte, já em sua casa, outra vez, Kol e Rebekah o pediram para contar a história de Petra, que de tanto ouvir, ele já sabia decorado. Klaus negou a princípio, mas como sempre, não demorou muito. Com um pouco de insistência, os dois mais novos conseguiram fazer com que o irmão contasse a mesma história para eles de novo.

— Bom, vamos lá. Mas não venham para o meu quarto quando tiverem pesadelos mais tarde, em? — Avisou o mais velho dos irmãos Devereaux, sentando-se na cama de Rebekah. — Era uma vez...

『❦❦❦』

Heaven Hill, Dias Atuais, 23:30

Não havia quase ninguém na rua naquela hora da noite. As ruas estavam praticamente vazias, a maioria dos estabelecimentos já tinham fechado, as luzes das casas já estavam apagadas e todos já deveriam estar dormindo. Heaven Hill era uma cidade perfeita, com pessoas perfeitas, e pessoas perfeitas não ficam na rua depois das onze. 

Tudo em Heaven Hill perfeito, no fim das contas. Nos domingos, as famílias se reuniam no quintal para fazer um almoço e pregar a boa convivência. Heaven tem as famílias perfeitas. As mulheres, muito bem recatadas, acenam positivamente às ordens de seus maridos enquanto cuidam de suas crianças. Heaven tem as mulheres perfeitas. Os homens, levam o sustento a sua casa, através do seu suor de um dia exaustivo de trabalho. Heaven tem os homens perfeitos. Os jovens estudam dia e noite para entrar em uma boa faculdade de direito ou medicina, com muito esforço e se formar com louvor. Heaven tem os jovens perfeitos.

Com exceção, é claro, de Peter Bates Blackwell. Diferente de todos os jovens perfeitos que já se preparavam para a faculdade, Peter tinha outros passatempos ao invés de passar a noite inteira estudando física quântica ou tópicos de química e biologia. Diferente das famílias perfeitas de Heaven Hill, Peter não estava nos almoços de domingo, não era recatado e do lar, não suava em um dia exaustivo de trabalho e muito menos era perfeito, como Lorcan sempre insistia em lembrar, em jogar na sua cara todos os seus defeitos, o quanto era imaturo e irresponsável, o quanto manchava a honra do grande Primeiro Trono, Lorcan Blackwell, o líder dos shifters.

Com uma garrafa de whisky em sua mão, Peter bebeu outro gole da bebida, abrindo os braços e gargalhando.

— Lorcan Blackwell! — O garoto gritou, com os cabelos em um tom dourado de castanho, quase loiro, totalmente bagunçados, assim como ele próprio parecia uma verdadeira bagunça. A camisa social amassada, e com os quatro primeiros botões abertos, a gravata apenas enrolada no pescoço, batendo quase em sua perna, a calça preta com manchas brancas e o sapato encharcado da bebida que ele tinha deixado cair minutos atrás. — Você é um pai de merda, e eu sinceramente quero que você se foda!

Outras duas risadas foram ouvidas atrás dele. A primeira de Topázio Bittencourt. O nome exótico vinha da joia, era como uma tradição de toda família, assim como os cabelos loiros, quase brancos, e os olhos azuis também era uma herança familiar do melhor amigo de Peter, que estava sempre com ele em todas as, segundo Lorcan, merdas que o filho mais novo fazia. O loiro bebeu um gole da garrafa de vinho que tinha em sua mão e a passou para o terceiro integrante do trio. Abbadon Santavy, mais calado entre os dois, mas ele a negou. Já tinha bebido muito na boate antes de saírem, e alguém precisava ter cérebro no meio daqueles três. Abbadon tinha os cabelos tingidos de loiro e a pele bronzeada, com duas íris esverdeadas em seus olhos.

— Qual é, Abby! — Provocou Topa´zio. — Não vai mesmo se juntar a nós?

— Já bebi demais hoje. — O garoto deu de ombros. — Além do mais, não é melhor ele parar também? Olha só o estado dele, o que acha que o Lorcan vai pensar quando ele voltar pra casa?

— O meu pai? — Peter riu com escárnio. — Ele vai achar que sou irresponsável, problemático, que preferia que eu não tivesse nascido, que só faço merda e que eu devia ser mais como o meu irmão. Nada diferente do que ele já pensa, mas sinceramente? Você já ouviu, Abby. — O Blackwell indagou, gritando a última parte outra vez, quase como se realmente quisesse que Lorcan, seu pai, o ouvisse. — Eu quero que você SE FODA.

Topázio gritou em concordância com o amigo. Na verdade, não tinha nada contra Lorcan. Assim como Peter, também era filho de um dos tronos. Turquesa Bittencourt, o Quarto Trono e a Chanceler de todos os metamorfos, mas diferente do amigo, tinha uma boa relação com sua mãe. Abbadon, no entanto, era um das “crianças” de Nathaniel Buzolic, o Oitavo Trono, que cuidava, protegia e acolhia crianças feiticeiras que eram abandonadas ou que por algum motivo não tinham para onde ir, até que tivessem dezoito anos ou que quisessem ir embora.

Os três amigos entraram em um beco escuro e estreito, com Peter cambaleando um pouco e tendo que ser segurado por Abbadon e Topázio, mesmo que o segundo não estivesse em condições tão melhores que ele. O Blackwell quase não falava mais duas palavras sem rir. Bebidas comuns não tinham esse efeito em um shifter, mas algumas bebidas especiais com as substâncias que Abbadon tinha trazido - e já estava quase se arrependendo disso -, ele conseguia ficar tão ou até mais bêbado que um humano comum, para o azar dos amigos, que precisariam cuidar dele agora. Ou apenas amigo, se considerar o estado de Topázio. O jovem feiticeiro quase começou a acreditar no ditado popular humano aqui se faz, aqui se paga.

Abby foi o primeiro a perceber que não estavam sozinhos no beco. Ele avistou ao longe um grupo de cinco caras conversando e bebendo, assim como ele. Seus olhos verdes trocaram momentaneamente para a íris semelhante a de um gato, sua marca de feiticeiro, mas logo voltaram ao normal.

— Qual é, me soltem. — Peter afastou as mãos dos dois. — Eu já tenho dezesseis anos, sei andar sozinho. Não ajam como o meu pai.

Topázio e Abbadon trocaram um olhar, soltando o braço do shifter pantera. Peter continuou o caminho sozinho, seguido pelos amigos, mas ainda cambaleando. Mesmo Topázio e Abbadon não conseguiram impedir o amigo de tropeçar e quase cair, derramando o litro de whisky quase inteiro em cima de um dos caras do grupo.

— Que porra é essa, mano? — indagou o desconhecido. — Tá maluco?

— Ih, tá estressadinho, é? — Peter indagou, sem nenhuma noção do perigo. Não tinha medo de simples humanos e estava mesmo afim de uma briga. Seu pai sempre dizia que não deveria comprar brigas com os de outras espécies, mas ele nunca obedecia seu pai. Não era perfeito, afinal. — Tá na seca? Eu nem julgo, com essa sua cara amassada. Mas ó, eu não faço caridade não, valeu? Então nem vem.

— Qual o teu problema, porra? — O homem perguntou, empurrando Peter, que teria caído se não fosse os amigos, mas ele não era o único que os tinha. O grupo se formou ao redor dos três, com expressões nada convidativas.

— Eu que pergunto, Peter. — Abby perguntou baixo para o amigo. — Fica quieto, valeu? A gente resolve isso.

— Então, cara. — Topázio ficou entre o amigo e o grupo de desconhecidos. — Ele tá bêbado, a gente não quer arrumar confusão. Foi mal, valeu? Releva aí. A gente só quer passar e ir embora. Mas se não quiser, a gente também pode dar uma surra em vocês e fechou. Não fiz nada muito interessante essa noite mesmo. — Abbadon bateu a mão na própria testa.

— Relevar? — Ele perguntou com um sorriso no rosto. Um sorriso largo demais, com dentes grandes e afiados demais, fazendo o Bittencourt arregalar os olhos. — Eu acho que não.

Os olhos ficaram totalmente brancos, e os dentes cresceram ainda mais. Em um som animalesco gutural semelhante a um rugido, o homem com quem Peter bateu atacou, com os dentes prontos para arrancar o braço de Topázio. No entanto, sua surpresa foi o fato da pele do garoto não ser mais tão macia quanto parecia. Ao invés disso, agora mordia um mineral duro e brilhante de cor amarela. O corpo do metamorfo estava transformado em sua forma de, agora literalmente, Topázio.

— Ótimo. — Ele revirou os olhos, encarando Peter como se não tivesse um cara com dentes amolados como uma faca tentando morder seu braço. — Tanta gente, tinha que ser logo wendigos?

— Odeio wendigos. — Abbadon falou, com as íris mudando de forma para as de um gato outra vez. As mãos do feiticeiro brilham em um tom dourado, e em um movimento, uma luz da mesma cor empurrou o grupo de wendigos, afastando-os. — Tenta não morrer, falou? — disse para Peter.

Abbadon e Topázio se encararam, tomando a frente, enquanto Peter parecia um pouco mais alerta, mas ainda bêbado. As íris do Blackwell também tinham mudado, e de suas mãos, as garras de uma pantera tinham crescido. O corpo de Topázio refletia pela luz da lua, totalmente transformado no mineral que o nomeava, e as mãos de Abby brilhavam em um tom dourado.

— Então, quem vai me conceder a primeira dança? — Topázio indagou com um sorriso sarcástico no rosto, chamando os wendigos para a briga em um sinal de cabeça.

Mesmo em menor número, os três garotos não tiveram problema. Topázio se abaixou, tempo o suficiente para sentir Peter usar o seu corpo como apoio e saltar, em um único rugido, atacando um dos wendigos. Suas garras rasgaram o rosto do primeiro deles, e assim que seus pés tocaram o chão, uma rasteira deixou o outro caído. O terceiro wendigo correu na direção de Topázio com fúria, o punho levantado na intenção de acertar o metamorfo com um golpe, mas a única coisa que conseguiu foi sentir dor quando seus dedos bateram contra o peito duro. O Bittencourt deixou um sorriso escapar. Eles nunca aprendem.

Topázio acertou uma cabeçada no wendigo, deixando-o atordoado por tempo o suficiente para ele agarrar o pescoço do wendigo e o erguer. Quando o tinha no alto, fora acertado com um chute que o fizera trincar os dentes. Infelizmente, seu parceiro Beryl não estava ali, mas se encarregaria ele mesmo daquele idiota. Topázio jogou o wendigo contra a parede, agarrando o pescoço dele outra vez e repetindo o processo uma, duas, três, e mais diversas outras vezes. Abbadon recitou um pequeno e baixo cântico, quase como uma oração, e o brilho em suas mãos aumentou. Um movimento majestoso de suas mãos e em questão de segundos, os dois wendigos restantes caiam no chão, agarrando o próprio pescoço pela falta de ar.

— E aí, quem é o próximo? — Peter indagou em deboche. — Poxa, já acabou?

Topázio, Abbadon e Peter eram treinados desde a infância, e cada um, por si só, já seria difícil de pegar, mas os três juntos, mesmo contra cinco, era quase impossível. O problema foi quando os wendigos não eram mais cinco, e sim, um bando. Peter quase achou que estava vendo coisas por causa da bebida. Os cinco wendigos se multiplicaram, e logo eram dez, quinze, vinte, e então ele parou de contar. Talvez fossem trinta, ele não sabia, mas eles o atacaram de uma só vez. Com vários golpes recebidos ao mesmo tempo, o corpo de Topázio logo voltou ao normal, e mesmo os feitiços de Abbadon não conseguiram parar tantos ao mesmo tempo.

— Está começando agora.

Cambaleante, Peter sentiu diversos ataques de uma só vez, vindo de todos os lados. Ele tentou se proteger, tentou revidar, mas eram wendigos demais para que ele conseguisse lutar. Os golpes começaram a lhe acertar, seu rosto, braços, barriga, sua cabeça. Todos de uma só vez, e ele tinha certeza que haviam mordido o seu braço. Seu corpo caiu no chão, o sangue o impedindo de enxergar direito, e a substância dos feiticeiros nublando os seus sentidos. Sentia chutes em sua barriga, pisões em sua cabeça, e um zumbido insistente em seu ouvido, com golpes o acertando de todos os lados.

Seus olhos começaram a se fechar, e ele sentiu seu corpo ser arrastado.

— O que porra é essa? — Uma voz grossa indagou um pouco afastada, e Peter achou que estivesse delirando pelos golpes e a bebida. Ou talvez, era realmente seu irmão, Damon. — Larguem eles, agora.

A última coisa que Peter conseguiu ver foi o seu irmão se aproximando, mas os corpos de Topázio e de Abbadon continuaram sendo arrastados. Seja lá quem fosse o wendigo que o arrastava, deixou seu corpo no chão. E de repente, tudo em sua mente se apagou.

Mas antes de tudo ruir, Peter ouviu um grito.

『❦❦❦』

Algum lugar em Heaven Hill, Dias Atuais, 10:58

Os pés descalços da mulher adentraram o lugar um pouco apressados, mas sem fazer nenhum tipo de barulho. Era um lugar desconhecido. Não que fosse muito difícil achar um lugar desconhecido para ela na cidade, já que nunca saia da floresta. No meio do caminho, ela viu seres de duas ou três espécies disfarçados, entregando um sorriso educado a cada um deles, mesmo que sua expressão fosse séria, como sempre ficava quando precisava resolver alguma coisa do Conselho. Seus cabelos mudaram do roxo para um tom de marrom fechado, mas as folhas ainda continuavam entre os seus fios quando ela, aliviada, finalmente achou a sala a qual procurava e adentrou, respirando fundo.

— Desculpem o atraso. — Elvina Siofra Titânia, o Quinto Trono e Rainha das Ninfas desculpou-se quando entrou na sala. — Tive dificuldades em achar o lugar, quase não cheguei aqui.

Todos os membros do Conselho já estavam na sala. Os lugares das reuniões sempre eram diferentes, afim de proteger os Tronos.

— Seja bem-vinda, Rainha das Ninfas. — Bryan Thatch, o Sétimo Trono e Príncipe dos Nefilins fora o único que a cumprimentou educadamente. — Não precisa se preocupar, também chegamos a pouco tempo.

Elvina encarou todos na sala, percebendo a diferença da atmosfera no ambiente. Ela percebeu que isso se devia ao fato de que Nathaniel Buzolic e Turquesa Bittencourt, os dois mais falantes e, por assim dizer, excêntricos e divertidos dos Conselheiros estavam mais afastados e calados demais. A mulher até mesmo chorava, o que a lembrou do motivo de estarem ali. A ninfa cumprimentou todos os Tronos com olhares e sorrisos educados, mas o clima no lugar estava longe de ser dos melhores. O Alfa dos Alfas, líder dos shifters e Primeiro Trono, Lorcan Blackwell não parecia ter dormido a noite, e tão pouco estava de bom humor.

— Pelo menos já estão todos aqui. — Morgan Zharkov, o Senhor dos Necromantes e Segundo Trono falou frustrado. Não via a hora de ir embora dali de uma vez. — Podemos começar de uma vez. Vamos, garoto, inicie isso. — Ele falou, quase como uma ordem, ao Sexto Trono, o Mestre dos Druidas, Kaíque Oliveira Fantin.

O jovem brasileiro - e o mais novo entre os Tronos - encolheu-se um pouco em seu lugar, recebendo um olhar compadecido de Elvina. A Ninfa sorriu para ele, encorajando-o a fazer o que era necessário.

— Bom… — Kaíque fora escolhido como representante de seu povo muito cedo, e sempre tivera dificuldades para expressar suas falas e opiniões, mesmo que estivesse melhorando aos poucos quando dizia respeito a defender o ideal de seu povo, os Druidas. Quando a situação era outra, no entanto, ele ainda precisava evoluir mais. — Tudo bem.

Kaíque agachou-se, tocando o chão. Seus olhos brilharam em um tom forte de verde e marcas da mesma cor dançavam por seu rosto, como a raíz de uma planta se mexendo debaixo da terra. Quando as marcas chegaram aos seus olhos, a voz de Kaíque soou com a de várias pessoas falando ao mesmo tempo.

YggDrasil, a árvore da vida e do bem, elo entre os dois mundos, mãe de todas as dádivas da natureza, eu, Mestre dos Druidas, os seus servos e protetores, a invoco. — O garoto tirou a mão do chão, quase como se estivesse levantando a própria YggDrasil. — Escute o clamor do seu eu na terra, dê-me a mim e aos meus o poder, e venha ao nosso plano, inicie a Ascensão dos Tronos!

O poder na voz do brasileiro fizera todo o lugar tremer. Do chão, raízes grossas começaram a nascer e tomar forma, e o mesmo brilho irradiou dos olhos de todos os guardiões, cada um de cores diferentes. Todos eles se fecharam em um círculo, em ordem de seus Tronos, e as raízes logo tinham a forma de seus respectivos tronos, assim como uma grande mesa no centro do círculo cujo o meio parecia ser feito de vidro e, do lado de dentro, era possível ver espécies de constelações.

— Obrigado por, mesmo sendo o mais novo de nós, fazer alguma coisa ao invés de ficar apenas reclamando e sendo um inútil, Kaíque. — Lorcan falou ao Sexto Trono com o mais próximo do que deveria ser um sorriso gentil, diferente do que direcionou ao Segundo Trono. Elvina segurou uma pequena risada com a clara provocação dos dois.

O Nono Trono, Patrono dos Djinns, Órion Tarrish, tomou a frente antes que todos estivessem sentados.

— Temos muito para resolver, a situação está saindo fora do controle e…

Antes que Órion terminasse, todos os Tronos sentiram dores insuportáveis em sua cabeça. As constelações no centro da mesa brilharam e se remexeram, e todos eles sentiram diversas visões invadindo suas mentes. Caos, destruição, ruína. Cidades destruídas, sangue, pessoas mortas. Fora como um giro de trezentos e sessenta graus em apenas alguns segundos regados de gritos e gemidos de dor dos Dez Tronos do Mundo Mágico. Tudo aconteceu rápido e de repente e, sem avisos, assim como chegou, a dor sumiu outra vez.

— O que diabos acabou de acontecer? — indagou Morgan.

Fatum Sacris. — O Décimo e último Trono e Salvador dos Humanos, Simon Kennedy, fora quem respondeu, com uma expressão assustada e dolorida. — O livro do destino despertou. Isso significa que… — Ele suspirou, dando espaço para Nathan, o Protetor dos Feiticeiros, continuar.

— Os novos Guardiões precisam encontrar a Rosa da Rainha.

De repente, as portas da sala da nova reunião foram abertas, e um dos soldados da Guarda Gênese disfarçados entrou.

— Encontraram os Wendigos.

— Acharam meu filho? — Indagou a Chanceler dos Metamorfos, e fora possível ver a mesma aflição no olhar de Nathan.

— E-eu… — Engoliu em seco. — Acharam um corpo.


Notas Finais


Petra: The Guardians.

Nos próximos capítulos:

01 - O clube dos velhinhos do tricô se une na melhor detenção do mundo (Ps.: Vai dar merda).

Um novo aluno chega a Heaven Hill High School, e o seu primeiro dia não é o melhor de todos. As duas estrelas do time de lacrosse da escola entram em uma enrascada por conta de outro aluno, este que é uma figurinha repetida da detenção da escola. Dois melhores amigos chegam atrasados no primeiro dia, e a perseguição com um deles os leva à sala onde tudo começou. Uma garota com problemas familiares enfrenta mais confusões com sua mãe e um livro velho muda a vida de todos para sempre.

02 - Vamos passear no bosque (Ps.: rezem pra não acontecer como Hell’s Church).

03 - Todos a favor da morte digam sim (Ps.: rezar não deu certo, por favor, tentar outra coisa).


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