História Fotografia - Photograph

As ruas movimentadas e turbulentas faziam as árvores balançarem ainda mais, ajudando o vento. Lá estava, no recanto de um pé de limoeiro, a pequena foto de uma garota. A fotografia era linda, mas um tanto assustadora, pois estava ali há algum tempo e nunca fora encontrada. Aquilo tudo havia um porquê que deveria ser contado, a garota da fotografia vivera uma grande história de humilhação e desigualdade. E tudo isso começa há alguns anos.

Em 1999, uma jovem totalmente desarrumada e inteligente, era humilhada pelos colegas de escola, pelo fato de ser uma nerd, 'cdf, uma pessoa socialmente incompetente para aqueles que a humilhavam.  

A garota continha a sua vida igual a de todos ali, gostava de ouvir músicas, ler e gostava de um belo rapaz. Era reservada e não tinha amigas para dividir seus pensamentos. Uma brincadeira de colegas de classe, que a maltratavam e praticavam bullying, fez a garota se cansar de vez de tudo aquilo. Ela recebeu uma carta, a carta do rapaz que ela admirava e, sem pensar duas vezes, foi de encontro com ele para conversar.

— Eu recebi a sua carta. — Ela começa se aproximando do rapaz. — Fico grata pelos elogios. — No mesmo instante o garoto ri e se faz de desentendido.

— Que carta? — ele pergunta zombando.

— A carta que você... — Ela pensou e logo imaginou que fosse apenas mais uma brincadeira de mal gosto de seus colegas de turma. — Não foi você, não é mesmo? — A garota sentia seus olhos com as lágrimas prontas a caírem.

— Você acha mesmo que eu gostaria de uma pessoa como você? — Ele ri zombeteiro. — Nunca — concluiu deixando a garota decepcionada. 

Ela estava ali, recebendo risadas, zombaria e humilhação. Todos estavam rindo dela, não era para tanto, mas a garota não tinha amigos. Todavia ela deu meia volta em seus calcanhares e saiu às pressas. 

A noite era aterrorizante, os pensamentos da garota estavam a mil por hora e tudo em que ela pensava era no pior. Morrer. E foi isso que ela fez. No dia seguinte a toda aquela humilhação, os alunos recebem a notícia de que a 'cdf da escola fora encontrada morta em seu quarto com uma corda no pescoço e uma fotografia em sua mão. A fotografia, continha um limoeiro ao fundo e no centro estava ela, linda e deslumbrante, estava diferente, sem óculos, maquiada e toda arrumada. Logo, junto com a fotografia, a garota havia escrito em uma folha rasgada um pedido ao seus pais. 

31 de outubro de 1999 

Estou me sufocando com tudo isso, não consigo mais, desisto. Mas por favor, quem encontrar essa fotografia coloque-a no lugar mais bonito que já vi, no limoeiro próximo a nossa casa... Vocês saberão do que estou falando em breve. Volto derrotada porque não fui capaz de viver, prefiro morrer do que viver com a morte dentro de mim.

E assim foi feito, a fotografia fora colocada naquele limoeiro e nunca mexeram lá. Depois de anos ali, a fotografia nunca fora tocada ou estragada. Até que em um dia tudo isso mudou.

O garoto chutava uma pedra qualquer que estava na calçada, com as mãos nos bolsos e sem prestar atenção em nada. Mas uma coisa lhe chama atenção quando o jovem encontra uma foto presa entre as folhas do limoeiro a sua frente. O mesmo pega a fotografia e a observa atentamente. Uma garota linda, com a pele branca, olhos castanhos, lindos cabelos e um perfeito sorriso toma conta de seus olhos. O rapaz fica fascinado pela postura dela e seu sorriso encantador. Sua pose na fotografia era alegre e com sua mão levantada formando um "V" com o dedo indicador e o dedo médio, como um dois. A garota era tão linda que havia deixado o rapaz curioso em conhece-la. Sem pensar duas vezes o jovem foi perguntando de pessoa a pessoa se alguém conhecia a garota da fotografia, pois achou que, possivelmente, ela pudesse morar ali perto e ter a deixado voar pelas ruas até prender-se em uma árvore.

— Com licença. — O rapaz chama a atenção de um grupo de garotas. — Vocês por acaso conhecem essa garota? — ele pergunta esperançoso enquanto as três ali analisam a foto.

— Não — disse uma delas.

— Nunca a vi — respondeu outra.

— Acho que essa fotografia é de alguns anos atrás, ela parece velha — outra detalhou e o garoto observou a foto novamente.

— Tudo bem, obrigado mesmo assim. — Sorriu em agradecimento e continuou sua busca.

Logo o rapaz fora caminhar perguntando para mais pessoas se conheciam a garota da foto, mas ninguém a conhecia, todavia ele não desistiria tão fácil. Foi para a casa, pois já era tarde, e descansou. Durante a noite ele ouvira alguns ruídos e alguém batendo em sua janela, mas não ligou muito para isso, pois não acreditava em contos de terror e, menos ainda, em assombrações. No dia seguinte o rapaz acordou disposto para procurar novamente a garota da foto. Saiu de casa feliz e logo foi perguntando para as pessoas que passavam por ali se alguma delas conheciam a tal garota. E mais uma vez não obteve resultado. Distraído, observando a fotografia e os detalhes da garota, foi atravessando a rua sem ver se algum carro vinha ou não. Em segundos um carro em alta velocidade acaba chocando-se com o homem, o atropelando de uma vez. O motorista do carro preocupado e desesperado, saiu do mesmo e correu até o garoto para ver se estava vivo. O sangue escorria pela sua boca e manchava o asfalto enquanto dava seu último suspiro. O motorista sem ter o que fazer, liga para pedir ajuda e logo observa que o garoto tinha algo em suas mãos. O homem pega a fotografia e a observa atentamente, era uma linda garota, de pele branca, olhos castanhos, com o sorriso perfeito e encantador. Sua pose era fascinante e ela estava deslumbrante. O homem observa ainda mais a aparência da garota e vê sua pose, inclina sua cabeça um pouco para o lado direito e pensa em o porquê de ela estar assim. Sua pose na fotografia era alegre e com sua mão levantada formando um W com o dedo indicador, o dedo médio e o dedo anelar, formando um três. 

De longe, aquela garota, a garota da fotografia, linda e deslumbrante, já não era mais seu ponto forte, pois lá estava ela, desarrumada e suja. Algo havia mudado. Sua alma vagava pela morte, sua vingança com aquele rapaz era um desejo seu, arrastá-lo para seu próprio inferno. Sua vingança fora terminada, mas seu desejo em matar, não... 

Ao assistir toda a cena do jovem ser morto, um sorriso maléfico brotou em seus lábios. Sua imagem aparecia fracamente, vestia-se com uma roupa típica a dormir, branco, mas sujo, e seus pés estavam descalços. Via-se que todo aquele tempo, era ela. A garota apenas queria mostrar-lhes que valia a pena, e que não se pode brincar com qualquer um. 

Um menino que  passava ali, próximo ao limoeiro, estava voltando para sua casa. Seus pés cansados de tanto andar param ao avistar uma foto ao chão, pega sem pensar e observa a moça da fotografia. E lá estava ela, observando atrás do limoeiro, o rapaz que acabara de pegar sua foto. Sua próxima vitima. Aquela fotografia, como era linda. Ela, aquela garota, a garota mais bonita que o rapaz havia visto e era a mesma que tiraria a sua vida.

De noite o medo é fantasioso, mas de dia o medo é real.