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História Pintando O Sete - Yoru - Parte 1


Escrita por: andreiakennen

Capítulo 7 - Yoru - Parte 1


Pintando O Sete

Revisado por Blanxe

Capítulo 07 - Yoru - Parte 1

Aquele pedaço de gente saiu correndo assim que a porta se abriu, misturando-se às inúmeras cabecinhas com cabelos presos em coques, recoberto com um laço e uma tela rosa, as quais encheram o saguão principal da Academia de Ballet, cada uma delas guiadas pelo magnetismo materno que as ligam as suas respectivas mamães.

Mas a menina de cabelos roxo-cor-uva se deteve de uma forma brusca ao não avistar a mãe, inchando ambas as bochechas e fazendo um grande bico rosado com os lábios. 

Logo o professor parou atrás dela.

— Por que você parou, Yui-chan[1]? Não achou a mamãe?

Antes que a pequena respondesse, aquele rapaz alto e de óculos, veio rapidamente na direção deles.

Yoru abriu um grande sorriso ao ver que o professor da irmã estava conversando com ela. Ele não podia deixar passar aquela rara oportunidade pela qual tanto estava esperando. Desde o dia em que teve que substituir a mãe na tarefa de pegar a Yui na escola de Balé — já que estava chovendo e ela não queria arriscar de forma alguma pegar chuva e estragar a progressiva que havia acabado de retocar — ele vinha criando pretextos para poder pegar a pequena Yui no fim de todas as aulas e, quem sabe, ter alguma chance de conversar com aquele homem deslumbrante.

— Oi. Deve ser minha culpa.

O rapaz loiro ficou ereto e ergueu os olhos azuis para encarar os estranhamente verdes, atrás as lentes dos óculos, daquele rapaz que tinha características orientais marcantes.

—Yoru — apresentou-se. — Uchiha Yoru.

O professor piscou, despertando do transe, ao ver a mão estendida à sua frente.

— Sou irmão dessa pequena ferinha aí — Yoru complementou, ainda notando o estranhamento na bela feição do professor.

— Ah, sim. Eu não sabia que ela tinha um irmãozão. — Ele uniu sua mão com a do outro e a apertou. — Vocês se parecem — o professor observou. — Até no nome.

— Eu não me pareço com esse feioso! — Yui protestou, depositando as duas mãozinhas na cintura.

Yoru deu um safanão no coque da irmã e demandou:  

— Cale-se, pirralha.

Aumentando a expressão irritadiça no rosto, a menina chutou o pé do irmão e ergueu os braços, ordenando:  

— Calado você, me pega.  

— Ei? Isso dói, fedelha. Faça isso de novo e eu vou te jogar pro monstro do armário.

— Quieto, seu feio. Não existe essa bobeira de “monstro do armário”, tá pensando que sou bebê pra acreditar nessas coisas? — A menina soltou um resmungo, virando o rosto de lado. — Agora pare de ficar querendo paquerar meu profe e me pega, rápido, onii-chan! Tô cansada!

— Opa, opa, opa. Você me constrange na frente do seu professor ainda me trata como seu empregado, gatinha?

— Então, por que a mamãe não veio?

— Ela está ocupada... — resmungou a resposta entre os dentes.

Mas a garota ignorou a explicação e continuou com os braços estendidos para o ar, aguardando ser apanhada.

— Tô esperando.

Yoru suspirou e apanhou a irmã no colo. Mas ao ficar ereto e ver o professor dela sorrindo, ele sentiu que aquela pequena humilhação havia valido a pena.

— Desculpe-me.

— Não por isso. Será sempre assim, elas que mandam, nós apenas obedecemos.

— Lógico — interferiu a menina. — Eu sou uma menina, além de ser criança, ele tem que fazer tudo que eu quero.   

— Chega, pirralha.

­— Não me chame assim.

O professor cobriu a cabeça da menina com sua mão, fazendo um breve carinho.

— Se comporte, Yui-chan. Até amanhã.

— Tchau, profe.

Yoru se irritou pela irmã fazer o professor se despedir e tentou agir antes que ele se afastasse.

— Ei... profe — chamou, notando-o se deter. — Você não me disse seu nome.

O professor loiro não evitou olhar a criança no colo do irmão que estreitava seus olhos espertos na direção dele, com uma expressão óbvia de desconfiança e que dizia “não falei que ele está paquerando meu profe”. Então sorriu novamente e voltou sua atenção para o adulto.

— Andrii Keichiro.

— Mestiço?

— Pai japonês e mãe russa.

— Está há pouco tempo no Japão? Quer sair pra conhecer...

— Pare de paquerar meu profe, onii-chan — a menina voltou a reclamar, apertando ambas as faces do rapaz com suas mãos. — Estou com fome, fome, me ouviu?

— Calma aí, Yui.

— Se estivesse há pouco tempo no Japão não falaria japonês tão bem, não acha? — o professor o cortou, mantendo o sorriso no rosto, evitando assim soar rude, aquilo que ele, assim como a criança, também estava entendendo como uma cantada.

— Ui. Essa doeu.

— Desculpe-me a indelicadeza, mas não posso aceitar o convite pra sair. — Ele tirou a luva branca que estava usando após fazer a alegação, então mostrou o dedo anelar esquerdo envolto por uma argola dourada e brilhante. — Eu sou comprometido.

A decepção estampada no rosto do irmão fez a pequena Yui cair na gargalhada.

—Bem feito, bem feito... — ela cantarolava para maior irritação de Yoru.

— Fica quieta. Sua mãe te dá aulas de como ser insuportável?

— Não fala da mamãe assim, onii-chan! Baka! Feio! — A menina começou a chorar.

— Desculpe-me, Keichiro-san. Agora entendi bem o que me atraiu em você, não são somente os olhos azuis e os cabelos loiros, mas acredite, pois acabei de descobrir isso também, devo ter um imã por alianças embutido no meu coração.

O professor que antes sorria ficou sério e foi a vez de Yoru sorrir.

— Ainda iremos nos ver mais vezes, até lá — disse, ajeitando a menina em um dos braços e usando a mão livre para empurrar a porta de vidro do salão e sair pra rua, deixando o professor de Balé da irmã com um ar aparvalhado para trás.

...

Yoru seguiu em direção ao estacionamento, bronqueando com a irmã em seu colo.

— Está doendo onde pra você abrir esse berreiro?

— Você é feiooooooo! Feiooo, onii-chan!

— Yoru-nii-san?

Bara veio correndo ao encontro do irmão, já tirando a mochila do seu ombro e deixando para a colega que estava atrás dela, estendendo os braços para pegar a pequena Yui do colo dele.

— Oi, oi, Yu-chan. Por que tá tão brava, hã? O que foi?

— Nee-chan, o nii-chan foi mal, feio. Gritou comigo.

A loira franziu as sobrancelhas para o irmão mais velho.

— Ei, calma aí. Você sabe bem de quem ela é filha, né? Não dá pra deduzir que ela está sendo dramática em excesso?

— Você também é filho da Sakura-baa-chan.  

— Mas, pelo menos, eu tenho sangue de alguém decente do outro lado, e ela?

— Não fala mal do meu otou-chan, nii-chan! Vou falar tudo pra mamãe! — a menina ameaçou e o choro voltou a ecoar ainda mais estridente.   

Yoru largou os ombros, cansado. Bara embalava a Yui tentando acalmá-la.  

— Hoje não é mesmo meu dia.

— Tive uma ideia — Giovana observou, chamando atenção dos três. — Não há nada melhor para esfriar os ânimos que sorvete. E tem uma ótima sorveteria aqui perto.

A pequena Yui, que havia cessado o choro para ouvir a proposta da amiga de Bara, sorriu abertamente.  

— Sorvete! — Acabou comemorando, com os olhos ainda úmidos de lágrimas.

— Certo. Vocês venceram. Vamos, todos para sorveteria, em fila, entrem no carro. Vou pagar sorvete pra todo mundo.

— Oba!

...

Na sorveteria, atrás de enormes taças de sorvete, Yoru observava o prazer estampado nas faces das três meninas que comiam animadamente.

— Vai devagar, pirralha — ele alertou a irmã caçula.

A menina respondeu mostrando língua para ele, e Yoru acabou respondendo com uma careta.  

— Bara, sua família é mesmo enorme, quando imagino que já conheci todos seus irmãos, aparecem mais — comentou Giovana, encantada com a pequena Yui.

— Apesar de que essa pirralha não é irmã de verdade da Bara — Yoru alfinetou, ainda chateado pela cena de choro dela diante do seu alvo.

A menina largou a colher cheia dentro da taça e ameaçou recomeçar o choro.

— Sou sim, nii-chan...

— Claro que somos irmãs! — Bara interveio em defesa da menor, fazendo uma cara feia para o mais velho. — Qual é seu problema, Yoru-nii-san? Você está bem? Pare de pegar no pé da Yui-chan. Além disso, se fosse assim, você também não seria meu irmão, afinal, eu não tenho o sangue Uchiha, esqueceu?

— Mas meu pai é casado com o seu, o que nos torna mais irmãos do que você e a Yui.

— Yoru-Nii-chan!

O rapaz deslizou na poltrona, suspirando.

— Ele estava chamando meu profe pra sair, nee-chan — a menina o denunciou.

— Não diga, Yui-chan? — A loira estreitou os olhos para o irmão mais velho e fez um meneio negativo com a cabeça. — Sabia que aí tinha coisa, você vindo apanhar a Yui-chan no balé é algo estranho.

— Está falando do Keichiro-sensei? — Giovana perguntou, ganhando a atenção dos outros três irmãos novamente. — Ele é lindo.

— Sim. Concordo absolutamente. Mas acabei dando uma bola fora. Ele é lindo, deslumbrante, heterossexual e casado. — Yoru apertou ambas as mãos na cabeça. — Por que não tenho sorte em me apaixonar pela pessoa certa?

— Porque o Sasori-nii é sua pessoa certa.

— Bara, não começa, tá? Eu sei que você gosta do Sasori, mas coloca na sua cabeça: ele foi estudar arte na Europa. Estamos dando um tempo agora.

— Mas ele quer reatar quando voltar.

— E você sugere o quê? Que eu vire padre até lá?

A menina revirou os olhos e voltou a tomar seu sundae.

— Você é incorrigível, Yoru-nii-san. Não sei pra que tanto fogo.

— Quero mais um! — pediu a menina passando os dedinhos no fundo da taça dela.

— Pare com isso, pirralha. Sua mãe terá um chilique se vê-la fazendo algo tão grotesco.

— Hétero? Casado? — Giovana franziu o cenho.  

— O que é hétero? — a menina mais nova quis saber, olhando curiosa para os mais velhos.

Mas ninguém a respondeu, Bara olhava do irmão para a amiga, e Yoru sentiu seu ânimo renovado e, querendo que Giovana prosseguisse, a instigou.

— Você sabe de algo, Giovana-san? Por favor, fale. Fale tudo.

— Bem... É o que ouvimos falar, não sei se pode estar certo.

— Não tem problema. Conte.

— Nii-chan, o que é hétero?! — A menina exigiu saber, batendo as mãozinhas na mesa, esbarrando sem querer na taça de sorvete, que caiu na mesa, rolou e se despedaçou no chão. Recomeçou o choro.

...

O susto por ter quebrado a taça fez a pequena Yui fazer um escândalo sem tamanho na sorveteria, que nem mesmo Bara foi capaz de conter. Quando chegou à casa da mãe, ainda teve o azar de ser atendido pelo pai da menina que não mediu esforços para ofendê-lo, acusando-o de irresponsável por não saber lidar com uma mera criança.

Por sorte dele, não quis entrar em uma discussão, apenas o ignorou, virou as costas e saiu da casa. Sabia que mais tarde receberia uma ligação da sua mãe que faria questão de lhe passar um sermão. Mas, o que Giovana lhe contara em meio aos berros da irmã caçula, foi animador suficiente para ele não se importar com o mau-humor do padrasto.

Havia rumores na escola de que o belo profe de Yui era mesmo gay. Perguntou para Giovana como ela poderia ter certeza e ela disse que não tinha. Mas ouvira uma conversa pelos corredores que ele havia rejeitado o pedido para sair de duas funcionárias da Academia e que uma delas quis saber o motivo dele a estar rejeitando, e se ele já estava saindo com alguém. Keichiro simplesmente respondeu que não, só não tinha interesse de sair com ela.

Aquela informação fez o estômago de Yoru revirar, Keichiro parecia do tipo difícil e que não tinha medo de despedaçar corações e aquela informação ao invés de afugentá-lo, o atiçou mais. Por isso havia decidido, iria tentar novamente no dia seguinte.

Estacionou o carro na garagem do prédio onde morava e subiu pelo elevador, morava no oitavo andar.

“Tenho certeza que ele arrumou a aliança como uma estratégia para afugentar as garotas que vivem dando em cima dele”, deduziu Yoru. Mas havia uma forma dele descobrir se a informação de Giovana era verdadeira ou não, lendo a inscrição no interior da argola. Se a aliança fosse verdadeira, haveria o nome da pessoa com quem estava comprometido. E a única forma de conseguir tirar aquela dúvida era indo ao banheiro no momento que o professor também estivesse lá, quando ele tirasse a aliança para lavar as mãos. Entretanto, para isso, precisaria arrumar uma desculpa para estar na academia. Não conseguia nem se imaginar dançando balé, mas poderia arrumar outra forma, quem sabe um trabalho na recepção.

O elevador parou e a porta se abriu, cumprimentou o casal jovem de vizinhos que esperava no corredor.

— Boa tarde.

Depois de responderem, o vizinho o encarou de um jeito desconfiado, enquanto a namorada sorria evidentemente constrangida. Ele acenou para os dois, desejando que a situação fosse ao contrário, e que fosse o cara a ficar constrangido com sua presença e não a garota.

Abriu a porta e sobressaltou ao notar o par de tênis na soleira. Deduzindo de imediato de quem era, olhou para sala e notou o rapaz loiro sentado no chão, rente à mesa de centro, de costas para entrada. Tirou seus sapatos de qualquer jeito e os largou ali, se aproximando com um sorriso de lado. Ajoelhou-se atrás do irmão e abraçou as costas dele, cumprimentando-o com um beijo na bochecha, fazendo questão que pegasse no canto da boca.

— Tínhamos marcado hoje, amor? — Continuou abraçado.

— Sim. Tínhamos. — Hikari respondeu indiferente, parando apenas de responder o questionário, para passar a mão na bochecha e limpar o beijo do mais velho. — Que nojo, nii-san, não faça isso.

— Nojo está você, Hii-kun — constatou, farejando-o. — Está fedendo a suor, você não tomou banho? — Yoru reclamou, se soltando do garoto, notando que ele ainda estava vestido com o uniforme de treino do time de basquete da escola.  

— Não posso perder tempo, nii-san. E eu nem trouxe roupa para me trocar, eu vim do treino direto para cá. Se as minhas notas não melhorarem nessas provas, eu corro dois riscos: de ser expulso do time e de ser mandado para o colégio militar.

O mais velho se levantou e repousou as mãos na cintura.

— Nosso pai continua te ameaçando com essa besteira?

— Você conhece nosso otou-san melhor do que ninguém.

— É. O senhor Sasuke é complicado e sabe ser medonho as vezes — Yoru concordou com um suspiro e estendeu a mão para o mais novo. — Mas diferente de você, eu não suporto fedor. Vem, vamos tomar banho.

— Juntos? — o garoto perguntou, franzindo o cenho.

Em resposta, Yoru apanhou o pulso de Hikari e o puxou, forçando a ficar de pé.

— O que é que tem? Você não toma banho com seus colegas de time?

Yoru o puxou na direção do banheiro. 

— É diferente! — o loiro se defendeu rapidamente, não evitando sentir aquele ardor de vergonha na face. — Além disso, meus amigos não têm interesse no sexo oposto como você.

— Como você tem tanta certeza?

— Tendo.

— E você acha que eu, seu querido irmão mais velho, vou molestá-lo no banho? — inquiriu debochado, parando diante da porta do banheiro e encarando a face ruborizada de Hikari.   

— Acho — respondeu sério.

— Sim. Você tem razão, eu vou mesmo. Agora entre — ele abriu a porta do banheiro e empurrou Hikari pra dentro. Do lado dentro, puxou a camisa do uniforme sujo do irmão e o ajudou a tirá-la por cima da camisa.

— Eu sei tirar minha própria roupa, nii-san — o adolescente reclamou, tentando impedir as mãos do irmão que agora puxavam seu calção pra baixo.  

Yoru largou da roupa do irmão para tirar sua própria camisa por cima da cabeça, expondo o físico bem malhado das horas dedicadas à academia.

— E o que vou vestir? — Hikari perguntou em um resmungo, com um pouco de receio de baixar o calção, mas ao ver o irmão já todo despido, acabou afastando aquele pensamento idiota sobre incesto com um menear de cabeça e desceu o short junto com a roupa íntima.

— Algo meu. Apesar de que acho que tem roupas suas aqui.

— Tá.

O caçula virou para o chuveirinho anexo na parede, abriu a válvula e passou a se molhar, despejando água no topo da cabeça, enquanto Yoru preparava a banheira.  Não que achasse de verdade que Yoru quisesse fazer aquilo com ele, mas desde a semana passada, quando dormira vestido de Maid na casa dele, o irmão mais velho vinha agindo daquele jeito estranho, assediando-o com abraços, beijos melados no rosto e até selinhos. Sentiu enjôo, ao mesmo tempo em que sentiu os braços de Yoru o envolveram e as palmas da mão dele descerem apalpando seu tórax.

— Já te disse que seu físico está em cima.

Hikari não acreditou quando as mãos de Yoru deslizaram até chegar ao seu membro o qual ele teve o disparate de segurar. E não foi apenas isso, ele sentia o sexo dele esfregando na sua parte traseira.

— Niiiiiii-sannnnnnnnnnnnnnnnn! — tentou fugir e escorregou no chão molhado, Yoru o amparou e aproveitou para carregá-lo para banheira.  

— Larga de ser chato, Hii-kun. Venha pra banheira relaxar e brincar um pouquinho com seu onii-sama. Quando você era criança, não era tão reclamão.

— Eu preciso estudar! Pare com isso, nii-san! Eu não vou voltar mais aqui!

...

O saquinho de batata Ruffles foi deixado diante de Hikari da mesma forma que a Coca-cola em lata. O garoto ergueu os olhos do exercício e encarou, incrédulo, o irmão que continuava comendo desde que sentara ali. Para começar, foram dois sanduíches com um copo de leite, depois foi pudim, depois ele comeu duas bananas, agora era batata Ruffles com Coca-cola.

— O quê? — ele quis saber.

— Como é que você consegue manter a forma comendo tanta besteira, irmão?

— Isso não é nada, estava pensando em pedir pizza ainda agora.

Hikari balançou a cabeça em negação e se voltou para o caderno, mas estava difícil se concentrar com o celular piscando ao seu lado.

— Não vai abrir a mensagem?

— Não — respondeu sério.

— É alguma gata que você está dando gelo? Deixa eu ver...

Assim que o irmão estendeu a mão engordurada das batatas secas, ameaçando pegar o seu telefone, Hikari foi mais ágil e o apanhou primeiro, colocando entre suas pernas, embaixo da mesa.

— Pare de se intrometer na minha vida, nii-san, e me ajuda com esse exercício, eu não estou conseguindo entender.

Yoru voltou a enfiar a mão dentro do saco de batatas.

— Está tarde, você está cansado. Vá pra casa, amanhã continuamos.

O garoto percebeu o desinteresse do irmão em ajudá-lo e suspirou fundo, guardando o lápis e a borracha dentro do estojo e fechando o caderno. Havia até pensado em pedir para o irmão deixá-lo dormir no apartamento para estudarem até mais tarde, e pediria para Bara levar seu uniforme na escola pela manhã, mas ao notar a falta de interesse dele, achou melhor esquecer aquela ideia.

De repente, o som do toque de celular de Yoru irrompeu o silêncio. Era a terceira vez que tocava aquela noite.

— Não vai entender? — perguntou com um sorrisinho.

O mais velho percebeu que o caçula estava apenas devolvendo sua indiscrição de momentos atrás e mostrou o dedo do meio para ele. A música parou, e ele voltou a enfiar a mão no saco de batatas, enchendo-a com uma grande porção e enfiando tudo na boca de uma única vez.

Mais uma vez Hikari balançou a cabeça em negação. Havia bastado um mero espichar de olho para tela de LCD do Smarthphone sobre a mesa para ele perceber que o nome que se destacara era Sasori. Guardou os materiais dentro da mochila, e notou o telefone do irmão tocar novamente, desta vez, ele o atendeu em um pulo.

— Mamãezinha, flor da minha vida! — exclamou teatralmente, piscando um dos olhos para Hikari, que suspirou. — Como assim o que eu quero? Espera, espera, mãe, antes de me dar bronca, deixa eu explicar o que aconteceu.

Não era da sua conta, mas, de certa forma, Hikari concordava com Bara: o que Yoru estava fazendo com o cara com quem estivera durante mais de seis anos não parecia certo. Parecia mais uma vingança, um castigo, pelo fato de Sasori ter aceitado a bolsa de estudo e ido se pós-graduar na Academia de Arte Contemporânea de Paris.

O ruivo, animado ao dar a notícia para o irmão, propôs que os dois fossem juntos. Para Yoru seria simples transferir seu curso de história para outra faculdade, o oposto de Sasori, que não conseguiria se pós-graduar com professores de Paris ali no Japão. Mas Yoru não aceitou a proposta, disse que não tinha interesse algum na Europa, e se Sasori quisesse ir, que ele ficasse a vontade, mas que os dois não teriam mais compromisso algum um com outro no dia que ele pegasse o avião.

Foi então que Hikari e Bara acompanharam o desespero de Sasori e o quanto ele relutou, oscilou, chorou e se desesperou para entrar em consenso com o namorado. Era evidente o quanto o ruivo o amava e, ao mesmo tempo, se iludira ao desejar que Yoru e ele fossem a segunda dupla de Sasuke e Naruto. Evidentemente, o ex-namorado do irmão esperava muito mais daquela relação do que o próprio Yoru: ele queria casar, adotar filhos, dividirem as contas juntos. Mas, pelo que tudo indicara, o irmão só queria um pretexto para escapar daquele compromisso e, na primeira oportunidade, ele conseguiu.

Sasori quis desistir da viagem, mas graças a Naruto e a conversa que tiveram com Sai, ele optou por não abandonar seus sonhos. No entanto, era fácil perceber o quanto o ruivo ainda gostava do irmão e desejava reatar o relacionamento. Bara sempre intervinha a favor de Sasori, mas ele, Hikari, já havia desistido.

Se Yoru tivesse agido de forma diferente, poderia até pensar em se aconselhar com ele sobre o que vinha sentindo por Kinizuna, mas agora os conselhos do irmão não lhe interessavam. Não era do tipo que iludia e depois pisava nos sentimentos das outras pessoas, se não tinha interesse, era direto, e dizia a verdade. Alguns o consideravam frio por agir dessa forma, mas preferia ser realista e considerado arrogante, do que cafajeste. Porém, o que vinha sentindo por Kinizuna era diferente. Não queria começar algo que não pudesse levar adiante ou que oscilasse no meio do caminho. Por mais que a irmã pensasse que fosse do tipo conquistador cafajeste, só fazia pinta para despistar garotas que achavam que estavam apaixonadas por ele, só por ser popular.

— Eu já disse que te amo hoje, mamãezinha? Já disse que a flor mais bela de todos os jardins?

Hikari revirou os olhos, sentindo enjoo daquela conversa falsa e melosa do irmão com a mãe no telefone. Era óbvio que ele estava pedindo a ela algum favor. Levantou-se, puxando a mochila para o ombro, e fez um aceno para ele com os dedos, mas Yoru respondeu com um gesto pedindo que esperasse. Suspirou fundo. A despedida melosa e os adjetivos sempre com referência às flores, prolongou-se por mais alguns tortuosos segundos e quando o irmão desligou, ele se levantou em um pulo e comemorou com “Yosh!”.

— Ela vai conversar com a dona da Academia de Balé que é amiga dela, pelo que tudo indica, ela vai conseguir um emprego para mim lá dentro, Hii-kun!

O irmão mais novo percebeu o mais velho vir afoito em sua direção, segurar seu rosto com ambas as mãos e dar-lhe um beijo estalado nos lábios, concluindo:

— Isso não é ótimo?

Novamente, o adolescente loiro limpou a boca com as costas da mão fechada, e encarou o mais velho com a expressão vazia. Yoru reclamou.

— Já disse o quanto você é sem graça, otouto?

— Já, nii-san. E eu não sei do que está falando, e não quero saber. Posso ir? Não foi você mesmo quem me mandou embora?

— Eu não te mandei embora, disse que por hoje era o suficiente e que precisa descansar. Você está na puberdade, Hii-kun! Seu corpo consome mais energia e por isso precisa repô-la com mais horas de sono. Afinal, como você vai dar conta do basquete, dos estudos, dos deveres de casa, das gatinhas e daquele momento privado que só nós, rapazes, temos no banheiro?

Hikari revirou os olhos.  

— Nii-san, você é muito depravado.  

Yoru riu e foi até a sua estante, apanhando o molho de chaves e os documentos do carro.

— Claro que sou, eu sou gay.  

— Achei que fosse bi. E os nossos pais são gays e não agem como você.

— Estou entendendo bem? Um fedelho como você está querendo me dar lição de moral?

— Faz o seguinte, nii-san, não precisa me levar pra casa, eu pego o metrô. Amanhã eu venho as dezoito, vou nessa.  

Hikari calçou os tênis e saiu do apartamento, ouvindo somente que o irmão batia os braços ao longo do corpo. Na sua infância, Yoru era um tipo de ícone, o herói em quem queria se espelhar, por isso sabia um pouco como Sasori se sentia: também fora iludido e, assim como o ex-namorado, havia se desiludido. Olhou a mensagem de Bara: “Você vai demorar muito??”. Estava com preguiça de digitar a resposta, resolveu ligar.

— Estou saindo daqui agora, o que é? — perguntou assim que ela atendeu.

— Agora não faz diferença, ele já foi mesmo.

Hikari sentiu o estômago contrair só com aquela resposta, apertou a camisa no lugar que ficava o coração e reclamou: “Droga, que sensação é essa?”.

— Quem já foi, Bara? — fingiu desentendimento.  

—Quem, Hii-chan? Qual outro garoto que frequenta nossa casa sem ser você? Claro que estou falando do Hiro-chan.

— E o que é que tem ele?

— Nada. Volta logo pra casa, tá tarde pra ficar zanzando na rua, tchau.

— Certo, certo. Tchau, okaasan! — zombou ele.

Os dois desligaram ao mesmo tempo. Hikari guardou o telefone no bolso da bermuda e desencostou-se da parede do elevador assim que esse parou. Enquanto não soubesse desvendar aquele sentimento e como lidaria com ele, continuaria agindo como desentendido. 

  Olhou para cima ao atravessar o portão do prédio, e notou a luz acesa da janela do irmão. “Desculpe-me onii-san, mas prefiro aprender a lidar com os sentimentos, do que tratá-los de forma leviana. Espero que você também aprenda a lidar com eles. Ou encontre alguém capaz de fazê-lo compreender”.

Continua...

 

[1] Yui “Nascida ao anoitecer”; Yoru “Noite”.


Notas Finais


Eu chorei e vocês me encheram de review. Viu? Por isso amo vocês. <3 Mas tem gente pra caramba acessando e acompanhando a fic, Pintando O Sete e ela está chegando aos mil acessos desde que começou a ser cronometrado no Nyah, então saiam da moita e me digam ‘oi’, eu sei que vocês estão aí. Ù_ú

Quero fazer um pequeno esclarecimento. Teve alguns leitores que ficaram em dúvida com a cena do Hikari e Kinizuna na enfermaria. Então, não rolou nada entre Hii-chan e Kin-kun na enfermaria além daquilo que o Kin-kun contou. O Kinizuna é um garoto do tipo certinho e não iria aproveitar desse Hii-kun todo uke, fragilizado e drogado. >_< E além disso, eu não iria privá-los de vê-los se pegando. xD Então, não se preocupem, quando rolar algo entre Hikari e Kinizuna, será super explícito. xD

Agora dedicatória! Capítulo dedicado aos leitores aniversariantes de janeiro e fevereiro. A minha filhota de consideração, a Bruninha Uzumaki, que fez níver dia 25 de Janeiro. E a fofa da Mary que fez níver dia 20 de fevereiro. Se você fez, ou faz aniversário e quiser dedicatória também nos próximos, só deixar na review! Parabéns, suas lindas! /o\ Felicidades! E muito yaoi na vida de vocês sempre. <3

Eu fiz tanta choradeira por não ter recebido reviews, que fui até mimada com alguns fanarts! Gente que amo muito ver o Hii-kun de maid! Mas que foi uma visão privilegiada, temos que concordar, né, minna? Confiram! Os gêmeos Bara e Hikari, presente da fofa da Bruninha Uzumaki colorido pelo Akito. E Hikari de Maid desenhado pelo Shedo e colorido também pelo Akito! Obrigada por esse mimo lindo de vocês. Não tenho palavra para expressar o quanto amei essas imagens. Valeu, minna!!

Beijos, até o próximo! Comentem! /o\


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