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História Plano Veneza - Ibiza


Escrita por: planoveneza

Notas do Autor


SURPRESAAA!!
Nós ficamos TÃO feliz com as demonstrações de carinho que recebemos de vocês tanto pelos comentários como pelo Twitter que resolvemos surpreende-los com esse capítulo bônus.
Estamos de verdade muito GRATAS por cada comentário, divulgação, cada "surto" vindo de vocês, afinal é para vocês que o Plano Veneza existe!

Capítulo 3 - Ibiza


Fanfic / Fanfiction Plano Veneza - Ibiza

—Se eu fosse vocês, não tentaria nada de errado! —disse o homem em prontidão já segurando o cabo da pistola e mirando na direção deles.

—Calma, podemos resolver isso com uma conversa! — disse Sérgio enquanto ele e Raquel colocavam as mãos em riste.

—Vocês não estão em posição de pedir nada! Eu não tenho tempo para conversinhas. —disse o homem com voz firme.

Raquel leva as mãos até os cabelos e o homem levanta a arma colocando na direção de seu rosto. —Calma! Eu só preciso prender o cabelo. —disse, enquanto fazia um rápido coque com as mãos sentindo imediatamente a falta de um lápis.

Ao seu lado, Sérgio a encarou com os olhos incrédulos e o homem ficou indignado no mesmo momento. —Você está brincando comigo? Por acaso eu tenho cara de palhaço?

Raquel abriu a boca para falar mas Sérgio se apressou. —Não, ela não está brincando! Ela só… ela só tem essa mania. —disse, olhando irritado para Raquel que simplesmente deu de ombros.

—Escute! —Sérgio começou e levou a mão até o rosto para tocar seus óculos, esquecendo novamente que estava usando lentes. Raquel não conseguiu se conter e soltou uma gargalhada.

O homem visivelmente irritado aumentou o tom de voz intercalando a arma entre os dois: —Eu não sei qual é a porra do problema de vocês, mas se vocês acham que eu estou brincando, vocês estão completamente enganados. —Sérgio e Raquel ficaram sérios sentindo o medo aumentar mais uma vez.

—Vocês se acham muito engraçadinhos e espertos, sempre achando que são invencíveis, que podem driblar e enganar a todos. Mas deixe-me dizer uma coisa, senhores, eu sou muito diferente daqueles policiais amadores que estavam monitorando vocês durante o assalto. Comigo não tem essa de manobra de distração e nem tampouco a palhaçada de me deixar amarrado à uma cadeira.

Sérgio e Raquel trocaram olhares, seus corações batendo dolorosamente forte. —Com tanta inteligência que vocês julgam ter, vocês realmente acharam que ninguém encontraria a inspetora Alícia Sierra? Vocês são patéticos! —soltou uma risada irônica. —A polícia tem muito o que conversar com Sierra, mas tem muito mais para conversar com vocês! Por isso, vocês irão me acompanhar agora até a delegacia e não tentarão nenhuma estupidez.

O Policial tirou um celular do bolso, discou rapidamente alguns números e o colocou na orelha ainda apontando a arma para ambos. Quando alguém respondeu do outro lado da linha, ele falou: —Aqui é o Policial Lacerda!

A cabeça de Sérgio e Raquel estava fervilhando, tentando pensar em uma maneira de inverter a situação mais uma vez. O Policial parecia realmente não estar de brincadeira e qualquer atitude errada poderia causar grandes danos, mas pelo visto esse era um pensamento apenas de Sérgio, porque assim que o policial começou a falar Raquel só conseguiu pensar em uma coisa.

Em um impulso, ela segurou a arma que estava nas mãos do homem na tentativa de desarmá-lo. O homem tropeçou e caiu no chão levando Raquel juntamente consigo. Ela estava por cima dele, praticamente deitada enquanto lutava para tirar a arma de suas mãos.

Ouvi-se um tiro e o coração de Sérgio parou no exato momento. Em seguida, Raquel levantou-se rapidamente deixando o policial no chão se contorcendo de dor com um tiro de raspão no ombro.

O barulho do tiro alertou as pessoas do restaurante, que saíram desesperadas tentando entender o que estava acontecendo. Quando viram o homem caído no chão, várias pessoas o rodearam oferecendo ajuda e ligando para a polícia e a emergência.

Em meio ao caos, Raquel segurou Sérgio pelo braço tirando-o do transe e puxando-o rapidamente em direção ao carro de um de seus contatos que os estava esperando do outro lado da rua. Suas mãos estavam geladas e ele estava suando frio.

Entraram no carro com a respiração totalmente acelerada e os corpos trêmulos. Uma tensão pairava no ar, havia sido por pouco! Em questão de minutos, a noite perfeita se transformou em uma grande confusão, que poderia facilmente acabar em mais ferimentos e também em uma prisão. Enquanto a cabeça de ambos borbulhava com centenas de pensamentos, um silêncio pesou no ar.

A viagem foi rápida mas não conseguiram prestar atenção em nada a não ser no que tinha ocorrido há pouco. Quando se deram conta, o carro já estava na garagem do motel e tinha estacionado em frente ao acesso que os levava até o quarto deles.

Saíram do carro com os corpos tensos e ainda em completo silêncio. Quando por fim entraram no quarto, Raquel soltou um suspiro aliviado. —Por que a maioria dos nossos planos tem sempre que ter tanta adrenalina assim? —ela riu com um pouco de humor e um pouco de desespero.

—Você só pode estar brincando comigo! —Sérgio falou andando de um lado para outro visivelmente nervoso e irritado. 

—Calma, Sérgio! Já foi, já passou, acabou! —ela tentou acalmá-lo fazendo o máximo de esforço para manter uma voz serena. 

—Você não pode me pedir calma quando você age desse jeito, Raquel! Você ficou louca? Você podia ter levado um tiro! —disse socando a parede. —Você é impulsiva, age sem pensar, quer fazer as coisas do seu jeito e isso ainda vai nos ferrar. Mais uma vez! —quando ele percebeu já era tarde demais, as palavras já tinham saído de sua boca.

Os olhos dela encheram d'água, entendendo perfeitamente o que ele queria dizer.

—Então quer dizer que a culpa de ter sido pega foi minha? Por conta da minha "impulsividade"? —ela respondeu num tom irônico, sua voz mais embargada do que ela queria demonstrar. 

Ele tentou fazer alguns exercícios de respiração na tentativa de controlar o mix de sensações que estavam dentro de si. Sua garganta estava completamente seca e ele disse num sussurro: —Eu não quis dizer isso!

—Sabe qual é o seu problema? É que você tecnicamente nunca quer dizer nada, mas sempre descobre isso na hora errada! —ele abriu a boca na tentativa de falar alguma coisa, mas ela não deu a chance.

Apontando o dedo na direção dele, ela continuou: —Se você não tivesse sido tão frio e calculista mandando a Tóquio transar com o Rio mesmo sendo um momento inoportuno, nós poderíamos ter saído logo daquele lugar, poderíamos ter visto aquela porra de drone se aproximando. —ela levantou abruptamente da cadeira onde estava sentada.

—Que droga, Raquel! Eu não quis dizer que a culpa foi sua. —ele passou as mãos trêmulas pelo cabelo. —É só que...É só que não é assim que funciona! Você não pode simplesmente tomar uma decisão e sair agindo sem me informar antes. Nós somos uma dupla, Raquel! Somos um casal!

A risada irônica que ela soltou causou arrepios por todo seu corpo e o olhar que ela deu à ele demonstrava claramente o quão fodido ele estava.

—AAAAAH, então quer dizer que não podemos tomar decisões sozinhos sem informar o outro porque somos um casal? É isso mesmo? —ela esperou uma resposta mas ele simplesmente afirmou com um leve balançar de cabeça, totalmente incerto sobre o que viria a seguir. 

—Interessante saber disso! —ela respondeu pensativa. —Mas só me responde uma coisinha... Com que moral você fala isso sendo que nem você mesmo cumpre essa regra, "Sr. vou doar meus espermas para ter um filho com outra e não avisarei isso para a minha mulher!"? 

Banco da Espanha 

"—O Professor foi baleado. —respondeu Raquel, ainda tentando assimilar o ocorrido." 

Estocolmo entrou na sala no momento em que Raquel respondeu a pergunta de Tóquio e Palermo e correu imediatamente para o lado da amiga.

Raquel estava pálida, os olhos marejados e o coração batendo freneticamente. Estocolmo puxou uma cadeira que estava por perto e a empurrou suavemente para baixo fazendo-a sentar.

As vozes a sua volta eram como sussurros, tudo extremamente distante enquanto ela só conseguia ouvir o barulho do tiro ecoando de novo e de novo. Agora ela sabia exatamente o que Sérgio sentiu quando pensou que ela havia sido executada e o sentimento era devastador.

A voz doce e suave de Mônica a trouxe de volta para a realidade quando a mesma colocou um copo de água diante de seus olhos.

—Raquel, bebe um pouco, isso vai te ajudar a se sentir mais calma.

—Ele levou um tiro, Mônica, um tiro! —sua voz era um angustiante sussurro e Mônica só conseguiu entender porque estava ao lado dela.

Antes que Estocolmo pudesse continuar consolando Raquel, a voz de Tóquio soou mais alta: —Ele levou um tiro aonde? Como que isso aconteceu? Ele corre algum perigo?

—Eu não sei Tóquio, eu não sei. —Raquel respondeu em outro sussurro passando uma mão trêmula no rosto para secar as lágrimas que não paravam de cair.

—Como assim não sabe? Você estava no telefone com ele e não sabe? Ficou surda do nada? —Tóquio insistiu exigente. —Você estava ouvindo tudo, Lisboa, você tem que saber! —Tóquio segurou os ombros de Raquel dando um chacoalhão e no momento seguinte Raquel estava de pé e gritando com ela.

—TIRA AS MÃOS DE MIM! EU JÁ DISSE QUE NÃO SEI, PORRA! A ALÍCIA ATIROU NELE, EU O OUVI GRITAR DE DOR E ELA DESLIGOU, FOI ISSO QUE ACONTECEU! A ÚNICA COISA QUE EU SEI É QUE O HOMEM QUE EU AMO ACABOU DE LEVAR UM TIRO E ESTÁ MORRENDO DE DOR EM ALGUM LUGAR COM UMA PSICOPATA! TÁ SATISFEITA AGORA?

Tóquio se preparou para dar uma resposta, mas foi interrompida por Mônica que a empurrou para trás. —Chega Tóquio! Assim como nós, ela não sabe o que aconteceu e ficar fazendo perguntas só vai piorar a situação.

—Minha querida Estocolmo, deixa as menininhas brigarem, devem estar de TPM ou alguma coisa do tipo, pare de interromper o show. —sentado em uma cadeira do outro lado da sala a voz irritante de Palermo soou pelo ambiente enquanto ele sorria descaradamente se divertindo com a situação.

—CALA A BOCA, PALERMO! —o grito em uníssono das três fez Palermo arregalar os olhos e levantar as mãos em defesa, calando a boca imediatamente.

Raquel sentou-se novamente na cadeira bebendo o resto da água e tentando se acalmar, mas como sempre, Tóquio não era a melhor pessoa para ajudar com isso.

—Olha aqui, você não é a única pessoa preocupada com o Professor, então abaixa a guarda e vê se aprende a controlar esse seu humorzinho.

Lisboa respirou ainda mais fundo, tentando a todo custo manter-se focada na doce voz de Estocolmo que dizia palavras de força e coragem para ela. Quando o telefone tocou, Raquel praticamente voou para atendê-lo, medo, desespero e esperança tomavam conta dela naquele momento.

—Raquel? 

[...]

"—Inicie o Plano Veneza! 

Raquel assentiu de imediato, sentiu-se aliviada ao saber que Sérgio estava vivo e agora também em segurança. Estava mais que animada para dar o início ao plano. A adrenalina que corria por suas veias desde o início do assalto agora estava em uma proporção muito maior, mas Raquel estava gostando daquela sensação."

Raquel desligou o telefone com o rosto banhado de lágrimas, mas agora eram de alegrias. Ela imediatamente abraçou Mônica enquanto repetidamente dizia: —Ele está bem! Ele está bem! —Mônica sorria e abraçava Raquel com força enquanto respirava aliviada. 

Quando se desfez do abraço, Raquel contou tudo o que tinha acontecido com Sérgio e Palermo saiu da sala logo em seguida.

Ainda chorando e comemorando com Estocolmo, ela pôde ouvir quando Tóquio com as mãos levantadas disse: —E a paz e o humor voltam a reinar novamente! 

—O que você disse? —Raquel perguntou.

—Que a paz e o humor voltaram a reinar novamente! O Professor tá com um buraco na perna mas tá vivo, então agora você pode relaxar e voltar tratar as pessoas decentemente. —respondeu Tóquio dando um sorrisinho irônico para Raquel.

—Você é uma das pessoas mais frias, ridículas e egoístas que eu já conheci em toda minha vida! Você sempre quer ser o centro das atenções e acha que só a sua dor importa. Você é deprimente! —Lisboa respondeu com uma cara de total desprezo.

—Você não ouse me chamar de fria e egoísta quando eu perdi o amor da minha vida e praticamente acabei de perder a minha melhor amiga, um pedaço de mim! —Tóquio respondeu com ódio nos olhos, se aproximando cada vez mais do rosto de Raquel. —E você? Me diz, quem você já perdeu, inspetora? Quem caralhos você já perdeu? 

Raquel se preparou para responder mas Tóquio ainda não havia terminado. —VOCÊ NÃO PERDEU NINGUÉM! Enquanto nós estávamos aqui dentro, você e o professor estavam lá fora, longe de todo perigo, nos dando comandos como se fossemos uns bonequinhos de vídeo game. Eu não sei como caralhos você e o Professor foram pegos, mas um tiro na perna não se compara nem um pouco com a dor que eu estou sentindo agora pela falta da Nairobi. —ela disse aos prantos.

—Eu sinto muito pela morte da Nairobi, ela não era apenas sua amiga, ela era amiga de todos nós! E a culpa dela ter morrido está longe de ser nossa, Tóquio! A culpa não é de ninguém! Eu imagino a sua dor, assim como todos conseguem imaginar, mas não me venha com essa de querer medir as dores como se a sua fosse a maior de todas. O Professor escutou os tiros de uma falsa execução minha, você tem noção do quão desesperador foi isso? Eu escutei um tiro ecoar do outro lado da linha e não fazia A MÍNIMA IDÉIA DO QUE ESTAVA ACONTECENDO, VOCÊ TEM NOÇÃO DO QUÃO DESESPERADOR FOI ISSO? —toda tensão estava sendo descontada naquela conversa e isso com certeza não poderia levar à um bom lugar.

Estocolmo tentou por diversas vezes separar as duas e acabar com toda aquela discussão, mas as vozes de Tóquio e Lisboa sempre soavam mais altas que as dela, impedindo-a de completar seu objetivo.

—MAS VOCÊ AINDA ESTÁ VIVA! ELE AINDA ESTÁ VIVO! E A NAIROBI? NÃO, A NAIROBI NÃO ESTÁ VIVA!!! —Tóquio respondeu no mesmo tom que Raquel, mas as lágrimas começaram a rolar com mais intensidade e ela diminuiu o tom de voz. —Ela estava planejando todo um futuro! Ela queria conseguir a guarda do filho novamente, ela queria construir uma família! Todos os sonhos dela agora estão naquele caixão, principalmente o sonho de ter um filho. —ela olhou para Raquel antes de continuar: —Filho esse que ela teria com os espermas do seu querido namoradinho.

Raquel sentiu-se paralisada. A garganta seca e os olhos completamente confusos. —O que?

—Devo presumir pela sua cara de espanto que você seria corna e nem ao menos sabia disso, estou certa? —Tóquio soltou uma risada debochada mas seu sorriso foi imediatamente apagado quando Raquel sem pensar deu um tapa em seu rosto.

Dessa vez Mônica conseguiu intervir a tempo de puxar Tóquio para trás e impedir que as duas iniciassem uma briga que com certeza não teria fim.

—Você é louca! Louca e corna, é isso que você é!

Raquel pensou em mil maneiras de acabar com aquela conversa e com aquele sorrisinho debochado de Tóquio. Seria Sérgio realmente capaz de fazer algo desse tipo com ela? Seria Nairobi tão insensível a ponto de pedir algo dessa magnitude para ele sem antes conversar com ela? Se Tóquio tinha como objetivo encher a sua cabeça de dúvidas, ela com certeza tinha conseguido, mas Raquel não tinha tempo para questionamentos e nem tampouco tempo para respostas agora.

Precisou um esforço enorme para Raquel dar lugar à Lisboa e retomar o controle da situação! Ela respirou fundo e aproximou-se de Tóquio novamente. Sua voz tão fria que chegava dar medo.

—Se você acha que eu vou cair nesse seu joguinho deprimente de tentar me desestabilizar, você está muito enganada!

Em sua mente ela ouviu novamente a voz de Sérgio: "Inicie o Plano Veneza!".

Ela com certeza tiraria satisfação com Sérgio sobre esse assunto, mas para isso ela precisava sair e sair com vida dali. Ela caminhou até a porta e virou para Tóquio e Estocolmo que a encaravam confusas.

Sentindo a adrenalina tomar novamente conta do seu corpo, "confiante, avisou aos 2 companheiros que dividiam aquela sala com ela: —Vamos dar início ao Plano Veneza!" e saiu de lá com passos firmes!

Motel Santo Amaro

Sérgio paralisou! Sua mente ficou nublada e o coração batia num ritmo tão frenético que chegava doer.

Ele pretendia contar para ela sobre essa decisão, claro que pretendia! (Ou não!). Ele só estava esperando pelo momento certo, se é que existia um momento certo para ele. Mas de todas as coisas, a última que ele imaginava era que Raquel descobriria isso antes dele ter a oportunidade de conversar com ela.

Parte de Raquel esperava que aquilo tivesse sido mesmo uma brincadeira de muito mal gosto de Tóquio. Mas ali, cara a cara com ele, o vendo empalidecer e gaguejar... Ali ela sabia que tudo era verdade e sentiu a ira crescer dentro de si.

—Olha, eu posso explicar… – ele tentou retomar a fala, mesmo sentindo que no fundo ainda restava bastante nervosismo. —Essa situação está muito além de uma simples doação. 

—É essa mesmo sua justificativa?

—Raquel, por favor. Vamos esclarecer isso como pessoas civilizadas, estou cansado de sempre haver algo em nosso caminho para gerar discórdia!

Um estalo soou pelo quarto quando Raquel bateu em sua face. —Enfia a civilização no seu … —ela respirou fundo e passou as mãos pelos cabelos.

Mesmo à contragosto, ela acabou cedendo. Sentou-se em uma cadeira no outro canto do cômodo e cruzou os braços, esperando assim que ele ficasse à sua frente e começasse a tentar elaborar uma retratação. 

—Estou esperando. —estreitou os olhos. —Pode falar.

—Ágata falou comigo no monastério... —começou. —No primeiro assalto, como já disse inúmeras vezes, a regra era não haver relações pessoais e a verdade é que tudo foi bem contrário a isso! Nos tornamos uma família! A Nairobi sempre falou de seu sonho de recuperar o Axel, você mesmo ouviu... E a verdade é que quando ela me pediu era como se dependesse disso, como se sua felicidade não estivesse completa enquanto ela não arranjasse uma forma de suprir a falta do Axel. E ela me pediu isso, ressaltando a admiração que tinha por mim e toda essa questão de fazermos algo uns pelos outros…eu não consegui negar, Raquel. — tinha a voz embargada. —Não consegui! Não consegui negar porque nos arriscamos juntos na primeira vez cada um por seus interesses, mas desta vez todos nós estávamos colocando nossa vida em risco pelo outro. Eu sei que eu não deveria ter aceitado isso sem te dizer nada, mas no momento eu queria que todo nosso foco estivesse naquele assalto, sem nenhuma distração. Quando tudo acabasse conversaria com as duas para esclarecermos isso como se deve.

Quando ele parou de falar, Raquel estava balançando a cabeça negativamente como se não pudesse acreditar na explicação dele. —Raquel, você estava escutando pelo menos alguma palavra do que eu disse? —ele perguntou com uma enorme sensação de angústia crescendo em seu peito.

—Sim, é que eu demoro um tempo pra processar tanta estupidez de uma vez! —ela sorriu ironicamente para ele. —Já acabou? —ele apenas deu um aceno positivo com a cabeça. —Ótimo! Minha vez!

Raquel levantou e agora foi a vez de Sérgio se sentar. Ela começou a falar levantando um dedo: —Primeiro: se você não me contou porque não queria nenhuma distração durante o assalto, por que você não deu exatamente essa mesma justificativa para a Ágata? Porque ao meu ver, não existe distração maior do que falar sobre filhos e doações de espermas. —ele abriu a boca para falar mas o olhar que ela deu a ele fez com que se calasse no mesmo momento. Ela levantou outro dedo: —Segundo: Eu não sou uma filha da puta insensível, Sérgio! Eu entendo completamente o desejo gigantesco que a Nairobi sentia de recuperar o Axel e imagino o quanto a falta dele era difícil pra ela. Eu sou mãe e entendo melhor do que ninguém sobre isso!

Ela respirou fundo e continuou:

—Entendo também que vocês estavam arriscando suas vidas uns pelos outros com o intuito de salvar o Rio, mas e eu? E eu, Sérgio? Eu deixei a minha família para trás mais uma vez, deixando minha mãe e minha filha sob o cuidado de pessoas que eu nem sei direito quem são e não me venha com aquela sua frase ridícula de “eu não pedi que você viesse” —debochou. —Porque mesmo que você não tenha pedido, eu fui com você porque tenho experiências como policial e poderia ajudar em muitas coisas, mas principalmente eu fui por você. POR VOCÊ, SÉRGIO! —ela gritou e as lágrimas começaram a rolar.

—Eu não sei qual é a sua visão sobre relacionamentos, mas na minha visão, os casais fazem coisas um pelo outro, eles não abandonam, eles pegam para si as dores, as lutas e as dificuldades. Na minha visão de relacionamento, casais compartilham as coisas um com o outro, não importam as circunstâncias! —ela sentou-se na cama se sentindo derrotada e esgotada. Sua cabeça latejava e doía de uma forma inexplicável.

Sérgio queria desesperadamente abraçá-la e pegar toda dor que ela estava sentindo para si. Em sua mente ele só conseguia pensar no quão infeliz ele era por mais uma vez ter magoado o coração da mulher de sua vida.

Ele queria dizer algo mas não sabia como começar e ficou extremamente grato quando uma batida na porta quebrou o silêncio ensurdecedor daquele quarto. 

Olhando pelo olho mágico, ele viu Estevão, seu contato, e abriu a porta. Sem dizer nada, o homem apenas lhe entregou uma sacola com perucas e roupas novas para disfarce e Sérgio o agradeceu com um leve balançar de cabeça. Seu coração extremamente grato por trabalhar com pessoas eficientes e que entendiam o que precisava ser feito mesmo sem ele dizer uma única palavra.

—Aqui! —disse ele estendendo as roupas e peruca para Raquel. —Troque-se por favor, precisamos sair daqui. —Raquel pegou o disfarce de suas mãos e levantou-se para se vestir sem dizer uma única palavra.

Sérgio estava novamente com seus óculos, usando uma peruca de fios castanhos, boné, macacão e tênis preto. Enquanto Raquel usava uma peruca ruiva e de comprimento até os ombros, calça larga, camisa de manga comprida e botas também na cor preta. 

Quando Sérgio e Raquel estavam devidamente trocados, era hora de ir. Lisboa saiu na frente pois o clima entre eles já se tornava insuportável devido a conversa que tivera com o Professor- se é que poderiam chamar aquela quase terceira guerra mundial que aconteceu de conversa- ficar no mesmo ambiente que ele.

Palawan

Faziam duas semanas desde que Raquel estava em Palawan, mas ela sabia que precisava voltar para casa. Aqueles dias ali com Sérgio fez com que ela conhecesse outro lado dele, lado este que ela estava adorando cada dia mais. Estavam sempre grudados, os corpos e as bocas nunca se separavam, varavam a noite fazendo amor e não podiam estar mais felizes.

Porém, a saudade da família e a preocupação com o que Alberto poderia achar de seu sumiço repentino, a fizeram acordar numa manhã com uma decisão tomada: iria voltar. Preferiu não comunicar a Sérgio antes que as malas estivessem prontas porque sabia que ele iria achar um jeito de convencê-la a ficar, mas ela não podia.

Se levantou curiosamente antes dele -coisa muito rara de acontecer- e logo se dirigiu até a mala que estava bagunçada, tratando de arrumar todas as suas roupas no lugar. Ao acabar, se encaminhou para o banheiro tomando uma ducha e quando voltou, encontrou um Sérgio sonolento tateando o seu lado de dormir na cama à sua procura, mas logo ele sorriu a observando somente de toalha e com os cabelos úmidos parada a sua frente.

—Bom dia!— ele disse com uma voz rouca. Raquel se aproximou da cama sorrindo fraco e depositando um beijo que era para ser rápido em seus lábios, mas Sérgio fez questão de intensificar o contato, agarrando sua cintura e a fazendo soltar um gritinho quando sentiu suas costas no colchão. —Acordou cedo, fez algum plano para nós hoje, inspetora? —ela riu balançando a cabeça negativamente.

—Bom dia pra você também! Sim eu fiz um plano... —ela mordeu o lábio inferior, o sorriso se desfazendo aos poucos quando lembrou que tinha que dar a notícia para o Professor.

—Quer me contar ou vai ser uma surpresa? —Sérgio perguntou distribuindo beijos pela pele sensível de seu pescoço, Raquel estremeceu com o contato e precisou se esforçar em se afastar dele para poder ficar séria e dizer o que queria.

—Que passa? Fiz algo de errado? —o Professor tornou a perguntar, visto que ela recusou suas investidas.

–Sérgio eu... —ele a olhou em expectativa. —Estou indo embora hoje.

O Professor sentiu o mundo dar um giro de 360°. Era isso então? Ela estava o deixando depois de todos aqueles dias de promessas e juras de amor? E o que aconteceu com o que planejaram?

—Eu preciso ver minha filha e minha mãe, nós precisamos nos organizar e eu juro que num piscar de olhos estarei de volta, sim? Não vai dar nem tempo de você sentir minha falta, eu prometo. —o homem ainda se encontrava levemente paralisado e Raquel suspirou, sentindo seu coração se partir em mil pedaços por ter que deixá-lo novamente, mas era preciso. —Mira cariño...—ela tocou o rosto do Professor fazendo com que seus olhares se encontrassem. —Preciso ir porque é necessário que eu converse principalmente com Paula, vai ser tudo muito novo pra ela, entende? —Sérgio assentiu.

—Raquel…não quero ficar longe de você nem mais um minuto. —Sérgio finalmente começou a falar. —Esses dias que passamos juntos foram os melhores da minha vida. —ela abriu a boca para responder mas ele continuou: —Mas eu entendo que tenha que voltar e agora me deu provas mais do que o suficiente que não esqueceu da nossa promessa. Não vejo a hora de ver sua mãe e sua filha aproveitando essa praia com a gente. —ela sorriu e ele acompanhou.

—Eu também não vejo a hora, Sérgio! Paula vai ficar tão feliz em vir morar na praia, eu tenho certeza! —Raquel diz e cola seus lábios ao dele iniciando um beijo profundo. Se afastam pela falta de ar. —Volto logo, é uma promessa!

Sérgio quer muito fazê-la mudar de idéia e convencê-la de que tem um plano melhor para que isso funcione, mas não o faz. Ao invés disso, acredita firmemente na verdade de que em breve ela retornará agora com toda a família para que eles finalmente sejam felizes.

 Raquel informa que só irá embora a tarde e eles aproveitam a manhã para conversarem mais- coisa que menos fizeram nos últimos dias- e claro, para se amarem e se beijarem muito já que, agora que experimentaram um pouquinho mais sobre os toques, não conseguem mais parar de fazê-lo.

Mais tarde, Raquel começa a se arrumar e a tensão pega Sérgio de uma vez. E se ela não voltar? Pensamentos invadem sua mente, mas ele logo tratou de afastá-los. Sim ela voltará, eles tem uma promessa e ela vai cumprir, tudo isso não foi em vão.

Raquel sai do banheiro já pronta e caminha em direção a mala fazendo menção de pegá-la e Sérgio rapidamente se levanta de onde está a ajudando com a tarefa. Juntos eles caminham até o porto onde está atracado o barco que os levará até a cidade e seguem o caminho no mais puro silêncio, novamente a tensão toma conta do lugar.

Quando chegam à cidade, Raquel decide que quer seguir sozinha dali em diante e Sérgio deixa porque sabe: ela não quer se despedir dele e tampouco ele quer fazer isso.

—Vou voltar, ok? —de mãos dadas ela sussurra baixinho só para que ele escute. Sérgio assente vendo uma lágrima teimosa escapar dos olhos de Raquel e logo trata de limpar, passando o dedo cuidadosamente pela pele de sua bochecha.

—Não se preocupe, Raquel. Eu estarei aqui esperando por você, hum? Nós ainda não começamos a nossa história. —ele sorriu triste e ela se aproximou passando os braços por seu pescoço e ficando na ponta dos pés. Seus lábios a centímetros de se tocarem.

—Estoy contigo! —ela diz baixinho e ele lhe aperta a cintura mais firmemente antes de colar seus lábios ao dela num beijo já com gosto de saudade.

—Estoy contigo! —ele devolve quando ela se afasta segurando sua mão e começa a andar puxando a mala.

Raquel não quer olhar para trás e não quer dizer adeus. Quando sua mão e a de Sérgio não podem mais se tocar, ela se vira rapidamente para não ter que olhá-lo nos olhos. Ao contrário do que ela esperava, um sorriso surge em seus lábios quando pensa que em poucos dias poderá voltar para cumprir a promessa que fizeram, dessa vez, para começar uma vida nova junto de sua mãe e sua filha.

Motel Santo Amaro

Sérgio recolheu a muleta que o auxiliava a andar e saiu do motel vendo Raquel caminhar a sua frente e uma memória lhe invadiu a mente. Lembrou-se do dia em que ela foi embora de Palawan levando um pedaço de si consigo de volta a Madrid.

Diferente daquela época, Sérgio não pôde segurar sua mão e dizer que tudo ficaria bem e mais um monte de palavras reconfortantes, pois não sabia se existiria um "eles" daqui pra frente.

 Raquel olhou para trás diferente do dia em que o deixou em Palawan seu rosto não carregava um sorriso e sim um semblante totalmente fechado e também uma dor de cabeça infernal. Bastou seu olhar cruzar com o de Sérgio que vinha caminhando atrás de si para que seu peito doesse e a garganta queimasse.

Queria tanto ajudá-lo, cuidar dele e estar perto mas estava machucada demais. Se sentia traída e a mulher mais enganada do mundo, todo esse assunto envolvendo Ágata e a porcaria da doação do esperma a tinha levado numa situação de stress máxima e se pudesse sumir, o faria.

Raquel entrou no carro que os esperava e esperou que Sérgio se acomodasse ao seu lado, indicando para o motorista dar partida e assim ele fez. Seriam alguns bons minutos ali dentro que para ambos seria uma eternidade.

Trocaram olhares mas não ousaram dizer uma só palavra. Sérgio até tentou abrir a boca para dizer alguma coisa mas as palavras não saiam, não tinha força para tal ato. Já Raquel não fez o mínimo esforço para tentar falar algo e ele entendeu como um sinal para não tentar mais nada pois, tudo o que fizesse, só pioraria a situação.

Sérgio se sentia um lixo. Sabia que tinha tomado a decisão de cabeça quente e não teve um momento sequer que não se sentisse culpado e quisesse dizer tudo sobre o assunto para Raquel, mas sempre perdia a coragem por medo da sua reação. O medo.

Era isso que ele sentia mais do que nunca agora. Ela estava ali mas e se depois não quisesse estar mais? Porque claro, depois de tudo isso era impossível que ela o perdoasse ou o olhasse do mesmo jeito de antes. Tinha traído novamente a sua confiança e a troco de quê se agora nem Ágata estava ali para ter o que queria? Havia sido um tolo.

Com seus pensamentos, Raquel também refletia sobre todos os acontecimentos. Pensava que com Sérgio as coisas iam ser diferentes pois já tinham prometido antes que nessa nova etapa de seu relacionamento seriam sem mentiras e na primeira oportunidade que ele tem de ser sincero, não o faz.

Pelo contrário, mente, mente e omite coisas que poderiam ser facilmente resolvidas se tivessem conversado juntos. Mas ele não sabe, é claro que não tem nem noção de como fazer isso e ela sente que tudo que tentou ensiná-lo sobre o que é uma vida a dois foi em vão.

Raquel o olha de soslaio e tudo que encontra é um Sérgio em silêncio derramando lágrimas e lágrimas e não sabe se chora por que sabe que é culpado ou por medo de perdê-la mas, concretiza: é sobre os dois.

Sérgio já perdeu demais. Primeiro seu pai, depois seu irmão e ainda no assalto pensou que a tinha perdido também, mas quando soube que não, prometeu a Deus e a qualquer divindade que a faria a mulher mais feliz do mundo porque a amava muito. Porém não teve tempo de fazer isso, a havia quebrado novamente como naquela vez em que ela descobriu tudo e quase o ferrou.

Mas ele sabe, não vai desistir assim tão fácil dela. Lutou e esperou tanto tempo não foi atoa, quer que ela o perdoe e vai fazer por merecer. Nem que demore mais 10, 20, 30 anos… ela vai confiar nele novamente. Ele sabe e ela também, lá no fundo, sabe que o amor que sentem um pelo outro supera todas as barreiras e isso somado ao tempo, se torna um remédio natural.

Vai sarar. Eles sabem que vai. Hora ou outra tudo vai se resolver. Mas precisam focar no agora e o foco de agora é estarem seguros e bem longe de toda essa confusão de assalto.

21:35h

Depois de 20 minutos de viagem de carro em um silêncio angustiante, o carro estacionou no Farol da Gibalta, onde um pequeno e discreto barco já os esperava. Eles entraram no barco e navegaram mais ou menos uns 50 metros até ficarem em mar aberto.

Raquel estava completamente confusa, sem saber ao certo o que estava acontecendo e nem tampouco o que iria acontecer. Com toda discussão que tiveram no quarto, não sobrou tempo para esclarecer as dúvidas e conversar sobre o que viria a seguir.

Sua confusão aumentou ainda mais quando de repente algo gigantesco começou a sair de dentro do mar, algo com aproximadamente uns 20 e poucos metros de comprimento. Quanto mais subia, mais seus olhos ficavam arregalados. Ela olhou para Sérgio e completamente chocada, perguntou:

 —Mas que carajos é isso?






Notas Finais


E chegamos ao final de mais um capítulo!
Capítulo tenso esse, não?

Como vocês viram, nós ADORAMOS a INTERAÇÃO de vocês.

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