Ponto de vista — Philippe Coutinho.
Voltei para casa mais deprimido do que o burro do Ursinho Pooh. Abri a porta e nem me surpreendi mais com a mesma cena que estava quando saí: Danielle, Beto e André batendo boca com Leena, que ainda estava presa pelo cabelo nas mãos de Danielle.
Sentei-me no sofá enquanto todos se calaram ao me ver.
— Ela já foi. — foi tudo o que eu soube dizer antes de esconder o rosto com as mãos. Eu a perdi por minha culpa. Me lembro bem de quando ela pediu para eu não beber muito, e olha só o que eu fiz. Eu mereço mesmo isso.
— Bom pra ela. — André falou. — Agora responde, embuste: vocês dois treparam? — perguntou direto e eu nem sequer respondi.
Eu honestamente não lembro de nada.
— Não! Quer dizer, eu não sei, eu não lembro… — respondi e Dani riu forçada.
— Anda, vadia, responde. — falou para Leena. — Eu não tô brincando, se você não me responder nos próximos cinco segundos eu vou quebrar a janela com a sua cara e deixar ela mais deformada do que asfalto esburacado. — ameaçou e Leena cedeu, com medo de Danielle fazer mesmo aquilo. Era bem capaz, inclusive.
— Tá, tá, eu digo! Não fizemos nada. Só falei aquilo pra fazer raiva para aquela sonsa e fazer ela largar o Philippe. — respondeu e pareceu bem sincera e sem arrependimentos, o que fez Danielle perder completamente o controle e voar para cima dela, distribuindo tapas e socos, e logo as duas foram separadas por Beto e André.
Jesus amado.
— SUA QUENGA MALDITA DOS INFERNOS! — Dani vociferou irada, sendo levada para fora do apartamento por Beto. — Não me segura, eu vou acabar com essa cara de mico com dengue!
— Sai daqui agora e nunca mais apareça na minha frente ou eu não vou responder por mim. E tira a minha camisa. — me limitei a falar isso para Leena e ela me olhou com ódio, arrancando a camisa do corpo e literalmente deixando o apartamento só de lingerie e com as roupas em outra mão.
Meu Deus do céu, Berg.
Isso não tá acontecendo.
Logo depois, Beto voltou com Dani, agora mais controlada.
— Você é um porra, puta que pariu. — Beto se limitou a falar isso para mim, e eu apenas o ouvi. Eu não tinha direito de falar nada, e eu sabia muito bem disso. — A Catharina falou pra você não beber, mas você resolveu bancar a egípcia.
— Minha amiga não merecia isso, não merecia mesmo. — Danielle falou com a voz entrecortada. — De qualquer forma, aquela desgraçada pareceu dizer a verdade, mas isso não muda o fato de você ter agido como um merda.
— Eu sei, eu sei. Eu não irei atrás dela, ela tem todo o direito de me odiar agora. — falei. — Agora… vocês podem me deixar sozinho? — perguntei indo abrir a porta para eles. Eles apenas saíram e me permiti trancar a porta e me sentar no chão, chorando sem parar.
Oh, merda.
Ponto de vista — Catharina Bittencourt.
Eu estava de volta.
E eu tive que inventar a maior história para minha mãe depois que ela soube que eu e Philippe nos reencontramos e voltamos a namorar.
— Eu não acredito que precisei saber por sites de fofocas que vocês dois se reencontraram. — minha mãe dizia indignada enquanto batia a massa do bolo de chocolate que fazíamos. — E aquela sessão de fotos que fizeram juntos, então? Eu gostei.
— Tá mãe, mas isso é passado. Nos reencontramos, passamos um breve período juntos e acabou. — falei tentando mudar de assunto, mas minha mãe é um ser muito teimoso.
— O que aconteceu para vocês se separarem de novo? — perguntou curiosa.
— Eu já te disse, nós definitivamente não damos certo. Acabou e… acabou. — falei untando a fôrma distraída, e quando me virei, minha mãe me fitava com a espátula suja de massa de bolo a centímetros de meu rosto, me assustando.
— Maria. Catharina. Bittencourt. Alves. — falou meu nome completo pausadamente e eu juro que nunca senti tanto medo e apreensão em toda a minha vida. Minha infância e adolescência se passaram diante de meus olhos como se ela fosse me espancar com aquela espátula. — Eu sou tua mãe. Eu sei de todos os passos que tu dá nessa terra. Não mente pra mim.
— Mãe, a senhora tá me assustando. — falei baixo, amedrontada. — Tivemos muitas brigas, remoemos o passado inúmeras vezes e decidimos que seria melhor não tentar de novo, só isso.
— Uhum, sei. — falou se fingindo de convencida e logo buscamos conversar sobre outra coisa.
Dani e André apareceram em minha casa alguns dias depois.
Nem preciso dizer a algazarra que foi porque minha mãe simplesmente ama Dani e André como se fossem seus filhos. Muda completamente de personalidade quando tá com eles e fala 50 palavrões a cada frase dita. Meu pai já é mais centrado e só muda de personalidade quando o assunto é futebol e não admite que digam um “a” sobre o Flamengo. Dani adora fazer raiva pra ele.
— E aí, como se sente sendo conhecida internacionalmente? — minha mãe perguntou pra Dani enquanto ajudávamos ela a tricotar. Minha mãe tricotava lindamente, e seu ponto forte eram sapatinhos de bebês e tapetes.
— Me sinto maravilhosa, tia. — Dani falava entusiasmada. — Sério, a ideia de ser famosa ainda me assusta um pouco, mas é algo bom. Um sonho que se realiza.
— É, minha Marina deve se sentir assim também. — minha mãe proferiu olhando para mim. Marina. Só ela e meu pai que me chamavam assim. Uma junção de “Maria” e “Catharina” só podia resultar nisso.
— Com certeza, mãe. — sorri.
— E você, André? Fotógrafo em ascensão que fala, né? — minha mãe cutucou André que tentava tricotar um coração numa touquinha.
— Dona Fernanda, é algo mágico. Nunca largaria o que eu faço. — André dizia animado.
Ainda conversamos bastante antes de minha mãe sair com meu pai para fazer compras no mercado.
— E aí, como você tá? — Dani já perguntou e eu suspirei. Era a primeira vez que conversamos sobre isso desde que eles chegaram, cerca de quatro horas atrás.
— Tô na mesma. Ainda sem acreditar, mas um pouco feliz por ter me livrado dele. — brinquei com a bola de lã em minhas mãos.— Ele é um cretino, embuste, desgraçado, corno, filho da…
— Opa, calma, amiga. — André falou. — Eu sei que você tá com ranço dele. Todos nós estamos, até o Beto. Mas…
— A bruxa confessou que não fez nada com ele. — Dani o interrompeu, revelando tal coisa que me deixou atônita. — Tipo, ela aproveitou a deixa pra fazer você pensar que ele tinha te traído pra você largar ele.
— Como ela confessou isso? — perguntei ainda incrédula.
— Ah, a Dani ameaçou ela de tudo quanto foi forma e as duas saíram no fight depois. — André falou natural e Dani riu.
— Ela te chamou de sonsa, não respondi por mim. — deu de ombros e eu a abracei. Eu tenho a melhor amiga do mundo. — Mas agora a situação é: Philippe tá sofrendo bastante.
— É verdade. — André confirmou. — Beto dizia pra gente que toda hora ele ficava jogado nos cantos da casa se lamentando. E nos treinos ele tava igual um pedaço de merda ambulante. — falava e eu senti um involuntária pontada no coração. Droga, ouvir que ele tá desse jeito não é legal.
Se bem que ele merece por ter sido um babaca.
— Bom, não há nada que eu possa fazer, né? — dei de ombros, fingindo não me importar. Eu não me importo. Nem um pouquinho.
Não mesmo. Eu acho.
[...]
— Filha, você nem sabe o que eu fiz! — meu pai chegou mais feliz que formiga em tampa de xarope, entrando na minha frente e de Dani, impedindo que nós continuássemos a assistir Os Incríveis, bem numa das melhores partes do filme.
— O que o senhor fez, pai? — perguntei pouco curiosa e ignorando o fato de que eu tava perdendo o filme.
— Tu sabe que vai ter amistoso da seleção aqui, né? — perguntou e eu franzi o cenho e olhei para Dani. Amistoso? Que?
— Não, não sabia. — respondi ainda confusa. — Você sabia, Dani?
— Claro que sabia, Beto me falou. — falou naturalmente, enchendo a boca de pipoca.
— Brasil x Costa Rica, amanhã no Maracanã. — meu pai falava animado. — E eu comprei três ingressos.
Arregalei os olhos minimamente.
— Isso significa que…
— Nós iremos assistir ao jogo do Brasil amanhã. — meu pai completou, super entusiasmado.
Oh, merda.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.