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História Play for me - Gone Too Soon


Escrita por: BellaCherry e plutoniana

Notas do Autor


Olha quem apareceu com um capitulo fresquinho.
Capítulo de hoje é dedicado a maravilhosa da @Plutoniana que está de aniversário hoje. Mds como eu amo esse neném que agora tem 19 aninhos. 🎊💜

Pelo banner já dar pra imaginar o que vai rolar nesse capitulo né. 🌚

Boa leitura. ❤

Capítulo 14 - Gone Too Soon


Fanfic / Fanfiction Play for me - Gone Too Soon

“Como um cometa

Cruzando o céu ao anoitecer

Partiu cedo demais

 

Como um arco-íris

Sumindo em um piscar de olhos

Partiu cedo demais

 

Brilhante, cintilante

E esplendorosamente radiante

Aqui, um dia

Tornou-se em noite

 

Como a falta da luz do sol

Em uma tarde nublada

Você se foi muito cedo”

 

Sasuke

Vagando pelos corredores da livraria vintage, não tenho pressa alguma enquanto vou dando uma olhada nos livros e selecionando quais vale a pena levar. Fico olhando as resenhas na internet para fazer uma triagem. 

A moça fica até surpresa quando coloco mais de dez livros no balcão e entrego o cartão para ela. 

Paro numa cafeteria para tomar um chá quente que me dá força e motivação para o dia. Ainda está de manhã quando pego o trem que para perto do clube de campo dos meus pais. 

Tem pouquíssimos carros no estacionamento. Já estamos entrando no inverno rigoroso. Todos os associados preferem vir aqui no verão. Isso é bom. Significa que vou ficar tranquilo por aqui pelos próximos meses. 

A fachada de pedra rústica sustenta a enorme inscrição de rocha com o nome do clube. Entro na recepção e entrego a identificação para que eles saibam que sou da família Uchiha. 

Já faz alguns anos que não venho aqui, ainda mais no inverno. 

Caminho pelo corredor com a parede de vidro onde posso ver as piscinas vazias e fechadas. Alguns poucos funcionários estão lá fora limpando e varrendo a neve que caiu durante a noite. Um deles está podando os arbustos de cerca-viva antes que eles congelem de fato em poucos dias. 

Começo a procurar pelas salas privadas, tentando encontrar uma que tenha alguma mesa onde eu posso colocar meus materiais de estudo e passar o dia com a cara enfiada em meus livros e cadernos próximos. 

Ando pelo prédio das salas privadas. Entro em várias salas procurando por uma salinha de estudos. No terceiro andar, encontro uma sala que parece ser um estúdio de dança, mas a sala ao lado dela é finalmente a sala de estudos que eu estava procurando. Acho isso meio estranho já que a música provavelmente pode atrapalhar quem estiver estudando ali, mas como é inverno e sei que quase ninguém vai aparecer aqui, não esquento muito com isso. 

A salinha de estudos tem uma estante e um armário com chaves onde posso guardar meus materiais se quiser. Também tem umas mesas e cadeiras almofadadas onde posso estudar. Alguns pufes estão espalhados pelos cantos mas eu os ignoro e vou para uma das mesas. 

Começo a tirar meus materiais da sacola e arrumá-los ali em cima. Tiro o notebook de dentro da mochila e o ligo para abrir uma vídeo-aula no youtube. Acho que devo começar sobretudo com matemática, já que era a minha matéria favorita quando estava no ensino médio e a que eu me saía melhor também. 

Suspiro, me espreguiço e dou uma rápida olhada no celular antes de desligá-lo e me entregar totalmente aos estudos. 

 

Sakura

Acordo com uma sensação angustiante em meu peito. Ino foi embora pela manhã, alegando que precisava fazer uns trabalhos, mas eu sei que iria atrás do tal de Gaara. A Yamanaka não gosta de retardar as coisas. 

Mamãe está me ignorando. Sequer me olha no café da manhã, porém isso é até bom. Assim ela esquece a história de me casar com Sasori. Decido sair para distrair. O quarto que eu tanto amo hoje está me sufocando de uma forma que não sei explicar. Com isso, Yamato acaba me deixando no Moskva Elite, o clube que minha família é associada há anos.

Entro no clube sendo recebida por Moegi, a simpática recepcionista.

— Vai para o estúdio de ballet, senhorita Haruno? — Moegi é uma menina de no máximo uns 16 anos. Seus cabelos me lembram cenouras pela cor do ruivo desbotado. Seus olhos cor de jabuticaba me encaram esperando minha resposta.

— Hoje vou para a natação. — Moskva tem as melhores piscinas entre os clubes de prestígios da Rússia. 

— Ah, tudo bem. Qualquer coisa, é só ligar no ramal da recepção. — ela me encara como se me achasse uma doida por querer nadar em pleno inverno.

Agradeço e saio em direção ao extenso corredor para entrar de vez no clube. Há várias áreas de lazer espalhadas pela extensão do clube. Como era um espaço reservado para a alta sociedade, quase não se via pessoas perambulando por ali. Os campos de golf são enormes. Vez ou outra papai vem jogar com o governador Hyuuga. De esporte o que mais me interessava eram as quadras de tênis, papai sempre vinha acompanhado minhas aulas. Era o momento em que ele me dava mais atenção.

Tia Tsunade me deu a idéia de aproveitar o maravilhoso estúdio de ballet daqui, quando quisesse dançar sozinha e sem a interferência de dona Mebuki. Passo pelas salas de estudos que o clube disponibiliza, notando uma mesa cheia de livros. 

Alguém deve ter tido a mesma ideia do que a minha de vir se refugiar aqui hoje.

Com o maiô vermelho devidamente vestido, sento na borda da piscina, sentindo a água morna acolher meus pés. O bom de vir nadar em pleno inverno é que nessa área fica totalmente vazio.

A piscina daqui foi construída debaixo de uma enorme cobertura, o comprimento dela é de 50 metros com 25 metros de largura o que me dá uma boa margem para cansar. As raias brancas eram o total de oito e para mim nadar embaixo delas é maravilhoso.

A temperatura da água deveria estar uns 25° a 28° grau, ótimo para que eu não congele. Ajusto o maiô no bumbum para que não fique tão cavado, arrumo o cabelo num coque, mesmo sabendo que logo estará solto. Hoje minha vontade é de nadar livre, sem touca ou óculos de natação.

Deixo o celular na beirada, com a voz de Lana Del Rey saindo melancólica e preenchendo o local. “Summertime Sadness” é minha religião.

 

“Me beije intensamente antes de ir

Tristeza de verão

Eu só queria que você soubesse

Que, amor, você é o melhor”

 

Mergulho começando com um nado livre, posicionando meu corpo para o fundo da piscina, enquanto lentamente eu começo os movimentos com os braços e as pernas. Ao fundo a voz da Lana era cantada com toda sua glória e meus olhos focam no azulejo azul brilhante fazendo um contraste interessante com o reflexo do meu corpo.

 

“Estou me sentindo elétrica esta noite

Dirigindo costa adentro, indo a uns 99 por hora

Tenho meu amor ruim ao meu lado paradisíaco

Eu sei que se eu morrer, eu vou morrer feliz esta noite”

 

Às vezes penso que morrer é fácil, porque no final das contas viver que é difícil. Perco a noção do tempo que estou no fundo sem respirar. Meus dedos estão enrugados e sinto que meus pulmões protestam por ar, mas não quero subir. Depois da necessidade de ar ter me vencido, subo e de cara noto que alguém está me observando. Coturnos pretos estão perto da escada. Puxo o cabelo para trás e nada prepara meu coração que começa a bater como um baterista de rock metálico ao ver Sasuke me encarando com seus olhos ônix. 

Quando eu o encaro ele me dá um sorriso de canto, deixando em evidência suas covinhas em sua perfeita bochecha. E devo confessar que todo aquele sentimento ruim que estava sentido some quando esse garoto sorri para mim.  

 

“Ai meu Deus, eu sinto isso no ar

Os fios de telefone lá em cima estão chiando como um tambor

Querido, eu estou em chamas, eu sinto isso em toda parte

Nada mais me assusta”

 

Sasuke

Minha cabeça está explodindo. Passei da matemática para sociologia, em seguida física e depois literatura. Nunca queimei tantos neurônios quanto agora. Estou começando até a ver estrelas na minha frente.  

Ligo meu celular de novo para ver se consigo me distrair mas nem pensar direito estou conseguindo. Meu cérebro demora alguns minutos para raciocinar o suficiente para conseguir responder as mensagens da minha mãe avisando que estou bem. 

Resolvo sair para tomar um ar fresco. Uma bebida também seria bom. Saio da sala de estudos e começo a andar pelo clube, tentando me recordar onde costumavam ficar as máquinas automáticas. Um refrigerante e um sanduíche quebrariam meu galho infinitamente agora. 

Vou caminhando devagar respirando fundo e tentando fazer minha cabeça voltar a funcionar direito. Números e letras tomaram conta do meu cérebro. Estou exausto mentalmente. Uma leve enxaqueca está começando a se formar no alto da minha cabeça. 

Vou caminhando devagar pelas áreas de lazer externas do clube. Passo pelas quadras de basquete e futebol, observando o campo de golfe ali perto que está fechado devido à neve se acumulando devagar no gramado. O ar frio vai aos poucos preenchendo meus pulmões e me mostrando o quanto estou cansado. Dormir seria uma boa agora. 

Começo a pensar se deveria voltar pra casa. Eu fui bem para um primeiro dia de estudos, não? Chegar nos meus limites não é uma escolha. Abusar de minhas próprias capacidades antes me fez recorrer à porcaria da heroína. 

Certo, eu tinha que encerrar por hoje. 

Exatamente nesse momento, me recordo que as máquinas ficam perto da piscina, na área coberta ali perto. 

Vou tranquilamente até lá, torcendo para ter um bom refrigerante lá que me mantenha acordado enquanto estiver no trem de volta pra casa. 

Chego na área da piscina e logo noto que uma das piscinas está ligada. Dá pra sentir a temperatura mais quente da água aquecendo a área. Está tocando uma música bem melancólica, aliás. 

As máquinas estão no final da área, e enquanto caminho até lá, vejo o celular perto da piscina de onde vem aquela música. A água se movimenta. Quando passo perto, reconheço o celular. É o mesmo modelo do meu.

Uma teoria surge na minha cabeça. Paro imediatamente no lugar. Quais as chances de ser Sakura? Pequenas, claro. Considerando que todos os ricos do Moscou devem ter um iPhone igual a esse no momento, mas mesmo assim, fico parado ali perto da escada esperando a pessoa nadando emergir. 

E quando a garota de cabelo rosa emerge, eu não consigo segurar o sorriso embora consiga segurar a risada. 

— Vai me dizer que você também é nadadora profissional? — pergunto achando a cara de surpresa dela engraçada. 

— O quê? — ela pergunta ainda meio em choque. 

— Só um profissional seria apaixonado o suficiente por piscinas para entrar em uma quando se está fazendo 5º C.

— Ah, não. — ela parece recobrar o dom da fala. — A piscina é aquecida. A água está quente. O que você está fazendo aqui? 

— Meus pais são associados.

Ela fica surpresa novamente. 

— Os meus também. 

Por que será que não estou surpreso? 

— Você também veio nadar? — ela indaga ajeitando o cabelo molhado. 

— Não curto piscina nessa época do ano. — respondo me endireitando para continuar o caminho até as máquinas. — Nem nas outras. — resmungo a última parte bem baixinho. 

Chego na máquina no fim da área e não preciso me virar para saber que Sakura está saindo da piscina. Posso escutar o barulho da movimentação na água. Eu quero me virar imaginando-a sair da água apenas de maiô, mas consigo não fazer isso. 

Meus olhos vão passando pelas opções disponíveis na máquina de refrigerante. A maioria diet. Eu não posso tomar um negócio diet depois de passar a manhã inteira estudando que nem um louco. Todas as opções foram feitas para os riquinhos de dieta saudável que frequentam o lugar. 

— Pega a Diet Pepsi. — Sakura diz do meu lado. Pulo de susto ao notá-la ali. — Todo mundo sabe que é o mesmo gosto. Eles só colocam um pouquinho menos de açúcar e muito mais sódio. 

Já está protegida por uma toalha. Não sei se eu saberia disfarçar meus olhares. Aperto o botão da Diet Pepsi e coloco o dinheiro na máquina. 

Um silêncio estranho se forma entre nós enquanto fico ali parado na frente da máquina esperando meu refrigerante cair e Sakura fica parada ao meu lado, me encarando. 

— O que exatamente você veio fazer aqui? — ela pergunta depois que a latinha cai. 

— Eu vim estudar. — respondo me abaixando e pegando. 

— Você que estava na sala de estudos então? 

— Acho que sim. 

Olho pra ela. Está me encarando de um jeito estranho. 

Ela sabe. Droga, ela sabe. E eu quero confirmar só para ter certeza. 

— Você falou com Suigetsu sobre mim, não é?

Ela continua me encarando daquele jeito firme. Talvez pensando nas palavras certas para usar. 

— É, falei. — responde no fim. 

— Certo. — abro a latinha e me viro para ir embora. 

— Ei, onde você vai? 

— Pensei que a conversa estava encerrada. — dou de ombros. 

— Sasuke! — o jeito imperativo como ela diz meu nome me faz parar e virar para olhá-la de novo. — Por que você está fugindo de mim?

— Achei que fosse óbvio. Não precisamos fingir que está tudo bem agora que você sabe que sou um viciado. 

— Você ainda é viciado? Karin me disse que não era mais. 

Ótimo, então ela falou com Karin também. Que maravilha, que esplêndido! 

— Viciado. Ex-viciado. Faz alguma diferença? 

— É óbvio que faz. — ela falou como se eu fosse uma criança. — Você não tem respeito pela sua própria luta, não é? 

— Luta?

— Eu sei sobre os três anos na clínica. — ela explicou. — Eu não tenho problemas com isso, Sasuke. Eu te respeito muito pela sua força de vontade em mudar sua situação. Eu já convivo com Karin tempo suficiente para saber o quão forte precisa ser para assumir o próprio vício e tentar sair dele.

Estávamos falando de Suigetsu em questão. Pelo visto, elas tiveram uma conversa bem longa. 

— Tudo bem, eu sabia que você era estranha desde que te vi presa naquele portão. — admito fazendo ela morder os lábios. — Mas o fato de você não se importar de eu ser um ex-viciado já é demais. Estou começando a me preocupar com o estado das suas faculdades mentais. 

Ela ri. 

— Palhaço. — escuto-a murmurar. 

Sinto meus músculos relaxarem e só aí percebo estava tenso e nervoso perto dela. 

— Então você vai contar mais sobre isso? — ela indaga ainda sorrindo. 

— Contar o quê?

— Eu já ouvi a versão de Suigetsu e a versão de Karin sobre você. — ela diz. — Mas ainda não escutei a sua própria versão da história. 

— Não sou do tipo que tagarela sobre a própria vida.

— Não pode abrir uma exceção pra mim? — ela sorri de um jeito meigo. Algo dentro de mim começa a rachar. 

— O que há com você? Está tão entediada que quer escutar uma historinha barata de drama? — pergunto fazendo-a sorrir mais. 

— Pode-se dizer que sim. 

Suspiro, meio derrotado. 

— Tá, mas é melhor irmos para um lugar mais quente que esse. 

— Eu vou me trocar. Encontro você na sala de estudos. — ela confirma. 

E eu me vejo voltando para a sala de estudos. Minha mente voltou a trabalhar. Não vejo números ou letras. Palavras não conseguem mais se formar. Eu nem sei o que vou dizer. 

Me sento à mesa e fico olhando meus livros, cadernos, as folhas com as contas de matemática e física que fiz nas últimas horas. Tolstói poderia me ajudar agora mas não consigo me recordar de nada do livro dele que estava lendo. 

Vou tomando a Diet Pepsi aos poucos. Sakura entra na sala quando estou dando o último gole. Ela senta na cadeira à minha frente e observa rapidamente as coisas sobre a mesa antes de seus olhos verdes se voltaram pra mim. 

— O que você quer saber? — pergunto sem saber por onde começar. 

Ela dá de ombros. 

— Fale o que você acha importante. 

Tento pensar. Nada me parece importante mais. Tudo me parece burrice, na realidade. 

— Sei lá. Eu tinha talento pra música. Minha mãe apostou alto. Precisei usar heroína pra ficar acordado e fiquei viciado. 

— Tudo se resume nisso? — ela questiona gentil. 

Não. Mas é estranho ter que contar isso pra alguém que queira ouvir de verdade. 

Suspiro enquanto a dor de cabeça estagna. Eu não quero falar sobre isso mas não posso simplesmente dispersar a curiosidade de Sakura. Tudo bem, se eu falar tudo agora, não vou precisar repetir isso de novo. E estou com sorte, já que ela quer me ouvir e não me mandou à merda. 

— Eu descobri que amava tocar piano aos oito anos. — comecei. — Foi numa peça da escola, me fizeram decorar uma partitura fácil para tocar rapidamente. Mas eu tinha talento e não quis mais parar. 

Ela está atenta. 

— Na verdade, ninguém da família queria que eu parasse. Eu aprendi a tocar piano e isso se tornou a minha vida. Ele foi o meu melhor amigo desde então. Mesmo depois que eu fui aprendendo a tocar outros tantos instrumentos, o piano nunca me deixava me afastar tanto. 

Engulo em seco lembrando daquelas noites durante tantos anos, sozinho no meu quarto, decorando e treinando partituras. 

— E eu comecei a ficar famoso por conta disso. A minha família é meio influente e isso provavelmente ajudou, mas vários críticos e especialistas de música assistiam minhas apresentações e diziam que o meu futuro estava naquilo. Aos quatorze anos, a minha vida já era a música. Não existia outro caminho pra mim sem ser aquele. 

Subi o olhar para Sakura e percebi que ela totalmente concentrada no que eu dizia. 

— Quando entrei no ensino médio, conheci Suigetsu, Karin e Juugo. — percebi que a menção daquele último nome fez algo mudar na postura de Sakura. — Você provavelmente já ouviu falar do nosso quarteto. Eles se tornaram meus melhores amigos durante aqueles anos. Não tínhamos nada em comum exceto o faro e a disposição para nos meter em confusão. 

Ela sorri. 

— Mas foi nessa época que minha mãe começou a colocar mais pressão ainda sobre mim. Depois do ensino médio, ela queria que eu entrasse na GITIS, a melhor academia de música do país. E pra isso, eu precisaria impressioná-los durante aqueles anos. Eu virava noites e noites ensaiando para nunca errar uma nota sequer nas competições escolares, para continuar mantendo a atenção deles em mim. 

Fiz uma pausa para respirar fundo, chegando numa das partes mais difíceis. 

— Juugo era mais velho que nós. Ele já tinha um certo envolvimento com drogas. Eu estava destruído com o estresse e o cansaço, e aí comecei a pedir dele uns cigarros e outras coisas para me fazer relaxar. Mas quando a coisa ficava muito feia, eu pedia dele heroína porque sabia que isso me manteria acordado e com disposição para ficar dias sem dormir. E foi muito legal por um tempo até que eu percebi que não conseguia mais tocar sem estar sob efeito de heroína. 

Dá pra perceber que Sakura começa a ficar desconfortável. 

— Eu ficava exausto e confuso quando o efeito passava, então sempre precisava de mais se quisesse continuar tocando. Minhas mãos tremiam tanto que não conseguia mais tocar nas teclas sem aquela porcaria fazendo efeito no meu corpo. — faço outra pausa. — Quando o ensino médio acabou, nós quatro acabamos nos afastando um pouco. Cada um foi para um lado. Suigetsu e Karin estavam pensando seriamente se iriam para a faculdade e eu estava obcecado em entrar na GITIS. Nenhum de nós notou que o vício do Juugo já tinha passado do ponto. 

Estou tão concentrado que nem percebo quando a mão de Sakura toca a minha sobre a mesa. 

— No dia da apresentação que seria decisiva pra mim para entrar na GITIS, Juugo teve uma overdose. Karin estava se inscrevendo para a Universidade de São Petersburgo. Quem o encontrou foi Suigetsu. Levaram ele por hospital mas não conseguiram trazê-lo de volta. Aquilo ficou na nossa cabeça durante semanas. Todos nós nos culpávamos por não estar com ele naquele momento difícil. Só que alguns lidavam melhor com a culpa que outros. 

Ela soube que não estava falando de mim. 

— Suigetsu evitava falar no assunto. Karin ficou segurando as pontas e cancelou a matrícula na faculdade para ficar mais perto dele e vigiá-lo com mais força, tentando-o convencer a largar aquela merda também. E eu me afundei em arrependimento. Estava furioso comigo mesmo e com a porcaria do piano. Peguei uma barra de ferro e comecei a bater e destruir o piano no meu quarto, até empurrei ele e joguei pela escada. Depois disso fui até o apartamento do Juugo e usei o máximo de drogas que consegui para tentar me matar e não deu certo. Karin me encontrou tendo uma overdose e conseguiram me reanimar no hospital. 

Sakura aperta minha mão. Tentando passar força, acho. 

— Quando me recuperei, vi o estado em que tinha deixado minha família e meus amigos. Aí resolvi que precisava mudar as coisas. Pedi para ser internado numa clínica de reabilitação e depois daí você pode imaginar como foram os últimos três anos. — suspiro. — Mas eu acho que a pior parte de todas é a que eu estou vivendo agora. Eu não posso mais voltar a tocar. Eu sei que eu não consigo mais. E é por isso que eu não sei mais o que fazer. O piano era minha vida e agora eu não posso mais tê-lo. A música era a melhor parte de mim e agora não posso mais voltar sabendo que ela vai ser um gatilho para voltar para a heroína também. 

Sakura está quieta. Seus dedos tocam as pontas dos meus, tocando os calos que eu adquiri dos tempos do piano. 

— Não existe um Sasuke Uchiha sem o piano. Eu sinto que não existo sem a música. Eu estou tendo que me redescobrir, tendo que encontrar outros caminhos para o que fazer agora.

— Por isso os estudos? — ela pergunta olhando os livros. 

— Esse é o caminho que eu estou vendo agora. Acho que só me restou ir para a faculdade no momento e tentar me encontrar lá. 

Sakura continua em silêncio por uns minutos. Eu lhe dou esse tempo para absorver tudo. 

— Sinto inveja de você às vezes. Provavelmente nunca vai precisar passar por uma situação traumática dessas. — digo exausto. Vou para casa assim que essa conversa estiver encerrada. Só quero dormir e esquecer que tivemos esse diálogo. 

Mas algo na postura de Sakura muda quando digo isso. 

 

Sakura

Ouvir a história ser contada por Sasuke me fez entender tudo de uma forma ainda mais profunda. Minha vontade é de abraçá-lo até que essa dor que ele sente possa ser partilhada comigo, porém sabia que seria algo que no momento eu não teria coragem. Ele diz que sente inveja de mim por não ter passado por algo traumático como isso. Será que todos que me veem, acham que tudo é unicórnios e arco-íris?

Ajeito minha postura para começar a falar. 

— Eu passei por algo parecido. Perdi uma pessoa que eu amava demais. — instantaneamente a imagem dela vem em minha mente. — Ela se chamava Konan, era minha prima, filha da minha tia Tsunade, dona da escola de dança que Karin e eu frequentamos.  

Sasuke me olha com seus olhos ônix surpresos. A forma que ele se ajeita na cadeira entrega o quanto ele está pasmo por ter feito uma suposição errada. 

— Sabe quando temos aquela pessoa favorita em nossa vida? Que tudo o que ela faz te inspira… Konan era essa pessoa para mim. — falar de minha prima abertamente para alguém depois de tanto tempo me dá uma vontade enorme de chorar, mas ao mesmo tempo, uma sensação de alívio por estar compartilhando a dor com alguém que entenda o significado de perder alguém. — Ela era a pessoa com a alma mais linda e pura que eu pude conhecer em minha vida. Konan era um espírito livre e foi por ela que aos 3 anos eu comecei a dançar.

Eu era apenas uma criança que estava começando a ter o equilíbrio mais a paixão que ela emanava dançando ficou gravado em minha mente, e ao passar dos anos, eu tive a certeza que queria dançar com a mesma paixão que ela colocava em seus passos.

— Sabe, meus pais desde cedo sempre ditaram exatamente o que eu teria que fazer. “Sakura vai entrar na natação”, “Sakura você tem que ser fluente em pelos menos 4 idiomas diferentes”, e eu não entendia o quão isso era controlador ao extremo. Mas para mim tudo bem, porque depois dessas aulas eu podia ir para o ballet e dançar e dançar.

— Isso é uma merda. — sua voz rouca preencheu a sala. Sasuke está com a atenção toda voltada ao que eu falava.

— Sim, é uma merda. — tenho que concordar. — E ao contrário de mim, que se deixava controlar, Konan fugia disso, ela fazia tudo o que sentia vontade, desde colorir o cabelo de azul até se encher de tatuagens. — minha mãe e tia Tsunade ficavam loucas ao ver que Konan fugia dos “padrões” expostos por elas. — Eu sempre quis ser como ela, sabe? — suspiro fundo, confessando ao garoto à minha frente o que sempre guardei apenas para mim.

— Queria viajar como ela fazia, ver novos lugares, desde Maui no Havaí até as muralhas da China. — Konan adorava fazer mochilões e tio Jiraya sempre apoiou as ideias da única filha. — Eu queria sentir a adrenalina e não a vida monótona que eu levo. — Sasuke se mexe inquieto na cadeira como se quisesse me perguntar o que realmente aconteceu com ela. Olhando para ele de perto, notei uma tatuagem que eu não havia reparado antes, era um band aid com 3 cifras musicais tatuado na dobra do seu braço esquerdo. 

— O que aconteceu com ela? — sua voz me tirou do transe em que estava.

— Konan e Yahiko, seu namorado decidiram fazer uma nova viagem, e isso deixou todos apreensivos, mas ninguém conseguia explicar o porquê. — ah, se ela tivesse ouvido os protestos de minha mãe... — No palco ela era toda delicada, mas fora fazia todas essas loucuras e ninguém era capaz de pará-la. — lembrar de uma das pessoas que eu mais amei na vida fazia meu peito se encher de uma angústia sem fim. — Ter a coragem e a alma livre dela era meu desejo, meu sonho sempre foi viver essas aventuras com ela, mas toda vez que eu pedia para ir sua resposta sempre era: “Você ainda é um bebê, Cerise” — senti que estava prestes a chorar, Sasuke segura minha mão, sinto um pequeno choque ao sentir sua pele.

— Se você não quiser mais falar sobre isso, tudo bem. — é incrível o quanto esse garoto em minha frente se tornou uma das minhas pessoas preferidas em tão pouco tempo.

— Eu havia acabado de completar 15 anos na época dessa última viagem dela, conhecer a Grécia era seu maior sonho. Tia Tsunade e mamãe não queriam deixá-la ir, mas Konan já tinha 21 anos então já era responsável por si. — lembrar do dia em que ela saiu e eu pedi para ir e sua resposta foi “ Quem sabe na próxima, priminha tola”, foi o estopim para as lágrimas descerem como torrentes por meu rosto. — Recebemos uma ligação dizendo que ela havia mergulhado de um penhasco, não calcularam a queda direito e ela acabou batendo nas pedras — minha voz saiu embargada.

— Porra. — Sasuke me encara passando a mão pelos cabelos.

— Não houve o que fazer, Yahiko tirou seu corpo sem vida do mar, ela quebrou o pescoço. A pior coisa que aconteceu com minha família foi essa notícia. Isso destruiu o casamento dos meus tios. Eu fiquei sem dançar por quase 3 anos e se não fosse a Karin jamais teria voltado. — comecei a chorar novamente, era difícil controlar tudo o que eu sentia. Eu não queria que as coisas fossem assim.

Mamãe e tia Tsunade começaram a despejar em mim tudo o que sonhavam para ela. Acredito que esse foi o começo de todo controle sobre minha vida. Como dizer não e querer ser livre? Se a liberdade trouxe a morte de Konan.

— Desculpa por ter falado que você tinha sorte. — Sasuke arrasta sua cadeira para mais perto de mim.

— Não tinha como você saber. — falar sobre Konan era algo que eu não costumava falar. 

Konan sempre me dizia que: “A liberdade só será possível quando você estiver tão inteira que também possa enfrentar a responsabilidade de ser livre. Quando você descobrir isso, Sakura, o mundo será pequeno para você”.

Começo a chorar tudo o que estava segurando há tempos. A pressão para ser a filha e a bailarina perfeita, a saudade de Konan que correu os alicerces da minha família, choro até mesmo por lembrar que Sasuke perdeu alguém importante para ele também. 

Sasuke me abraça, permitindo que eu molhasse toda sua camisa no processo. Me afastei dele sabendo que meu nariz estaria vermelho e meus olhos inchados pelo choro.

— Você é uma pessoa linda, Sakura. — Sasuke acaricia minha bochecha. — O fato de achar que deve levar o mundo nas costas e mesmo assim ter essa expressão forte e carinhosa é algo tão raro. — sinto seu hálito quente bater em meu rosto, levanto meu olhar notando o quão perto ele estava. Perto demais. . 

Faço uma ideia do que vem a seguir. Eu poderia me afastar, mas no momento tudo o que eu queria era que ele estivesse ainda mais perto.

Os olhos negros se fixam na minha boca. Entreabro meus lábios para que ele perceba que tudo bem avançar. 

E ele percebe. Porque fecho os olhos no exato momento que seus lábios tocam os meus. 

Algo dentro de mim começa a explodir como fogos de artifício. Seu beijo é lento e delicado. Seus dedos tocam suavemente minhas bochechas. Ele pede passagem com a língua e eu cedo. Milhares e milhares de borboletas voam sem controle no meu estômago. 

É quando percebo que beijar Sasuke foi uma das coisas mais maravilhosas que já fiz na vida. 

"Como um castelo

Construído na areia da praia

Partiu cedo demais

 

Como uma flor perfeita

Que está fora do seu alcance

Partiu cedo demais

 

Nascido para alegrar, inspirar, encantar

Aqui um dia

Partiu à noite

 

Como um pôr do sol

Morrendo com o nascer da lua

Partiu cedo demais"

 


Notas Finais


Esse sem duvidas para mim foi o capitulo mais lindo até agora. Estava tão ansiosa para esses dois terem esse momento. Espero que tenham gostado. 😍

Leiam essa One https://www.spiritfanfiction.com/historia/minha-garota-para-sempre-17706422 feita em especial ao aniversário da @Plutoniana 😍

Não deixem de ouvir a Playlist da fanfic. https://open.spotify.com/user/22vvofsveuodcptgwswgsur7i/playlist/37NSpglqm8iRXagiXlowAO?si=J1LON63MSlOzBxHUt1f2WA

Até o proximo <3


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