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História Playing Pretend - A garota certa


Escrita por: Chrissy_RDC03

Notas do Autor


Oi oi oi

Capítulo bombástico, dramático e clichezinho, espero que gostem, flores do meu coração :)

LEIAM AS NOTAS FINAIS!!!

Boa leitura!

Capítulo 43 - A garota certa


Fanfic / Fanfiction Playing Pretend - A garota certa

 

*Lucille*

 

Era a minha primeira vez na Malik’s Corporation desde que viajei com Zayn para a Inglaterra, há quase cinco meses atrás. Fiquei um pouco nervosa quando recebi a mensagem dele, dizendo para mim vir até aqui para que pudéssemos sair para almoçar juntos, mas estou ainda mais agora, estando de frente para o prédio enorme e espelhado depois de tanto tempo e de tantas mudanças. Os seguranças pareceram me reconhecer e se atreveram a me lançar um sorriso simpático, o qual eu retribuí, apesar de aflita, enquanto as portas automáticas de vidro se abriam para mim. Usei o elevador, já sendo alvo de alguns olhares das pessoas que estavam na recepção, apesar de eu não ter passado tanto tempo com elas, e sim com os funcionários do andar de cima. Mas mesmo assim, eu sabia que eles sabiam sobre eu e Zayn. Não que ele tentasse esconder, aliás. Tenho a impressão que essa empresa inteira já sabe que eu estou esperando o filho dele. 

 

Assim que as portas metálicas se abriram para o andar o qual eu costumava vir todo santo dia para trabalhar, levou menos de três segundos para que os meus ex colegas de trabalho me reconhecessem na hora e se levantassem de suas respectivas mesas, me lançando sorrisos simpáticos. Abracei alguns, principalmente Paul, que era um dos meus melhores amigos aqui, e fiquei feliz por eles dizerem que sentiam a minha falta. Eu também sentia muito a falta desse lugar, apesar de só ter me dado conta disso agora. 

 

— Você deveria voltar a trabalhar aqui, Lucy! — Melanie, uma garota ruiva que eu fiquei sabendo que já teve um caso com Louis alguns anos atrás, disse. Ela sempre havia sido simpática comigo, apesar de eu saber que o meu irmão havia dito que não queria nada sério com ela e ela ter ficado, supostamente, arrasada. — Sentimos falta de te ver correndo com pressa atrás da máquina de café ou a de xérox. 

 

— É, eu sei, eu era o entretenimento desse lugar. — Eles riram, assim como eu. — Malik era mesmo muito maldoso comigo. 

 

— Ah, qual é, todo mundo aqui sabia que vocês iriam acabar juntos. — Paul disse. — Ele vivia pedindo pra você ir na sala dele, e quando você não ia, era ele que ia atrás de você. Uma vez ele me perguntou onde você tinha ido, e eu falei que era horário de almoço, como se fosse óbvio. Malik fez uma careta e disse que você estava demorando, e então voltou pra dentro da sala dele. Um dia depois, o horário de almoço foi reduzido de uma hora para meia hora. Aliás, muito obrigado por isso, Lucille. — Eu gargalhei. 

 

— Deve ter sido coincidência! — Me defendi. 

 

— George também é coincidência? — Louis berrou da sua mesa, fazendo uma careta, encarando a tela do computador. Eu apenas mostrei a minha língua para ele quando ele olhou para mim, o que fez todos rirem. 

 

— Mesmo assim, ficamos chocados quando descobrimos que vocês estavam juntos. Malik mudou muito depois que você apareceu por aqui, e do jeito bom da coisa, então só nos resta te agradecer por termos um chefe bem-humorado. — Eu sorri em agradecimento para Anna, outra funcionária. — E quando vai ser o casamento? 

 

— Bem, confesso que não falamos muito sobre isso. — Lhe ofereci um sorriso amarelo, coçando a nuca. — No momento, estou completamente focada na gravidez e na minha mudança para Londres. 

 

— Você vai voltar para a Inglaterra? — Poppy perguntou, e vi Louis erguer os olhos azuis da tela do computador para mim lá de trás, curioso e confuso. — Ah, meu Deus, Lucy! 

 

— É, é o que eu planejo, mas não sei quando ainda. Preciso resolver algumas...questões antes. — Desviei o meu olhar de meu irmão, pensando em Zayn e no que ele pensava sobre o seu país natal. Acabei suspirando, encarando a minha barriga e passando as minhas mãos por ali por puro instinto, mas logo ergui o meu rosto e tratei de pôr um sorriso no rosto. — Se der tudo certo, em alguns anos eu serei uma bailarina profissional e vocês poderão me ver até na televisão. 

 

A conversa rolou por mais alguns minutos e logo eu me lembrei que vim aqui por causa de Zayn. Fui até o lugar onde eu costumava trabalhar e encontrei a nova secretária de Zayn, uma mulher de cabelos pretos que parecia ser um pouco mais velha que ele. Ela sorriu de forma simpática para mim e disse que seu nome era Katie antes de perguntar o meu. Quando soube quem eu era, ela me disse que Zayn havia a avisado e que permitiu a minha entrada na sala dele, já que estava em uma reunião, e logo eu entrei na mesma. 

 

Era estranho estar ali sem ele, já que tudo naquele lugar esbanjava Zayn, tanto pelo seu cheiro quanto seus pertences em sua mesa. Eu sorri e me sentei em sua cadeira, pegando um post-it amarelo e uma caneta vermelha, escrevendo um recado para ele com vários coraçõezinhos vermelhos em volta por mais brega que fosse, tentando segurar a minha risada. Colei o papelzinho na borda da tela do seu computador, me levantei e fui até o sofá de couro que ficava mais afastado da sua sala em si, me deitando ali e aproveitando o tempo livre. Toquei a minha barriga já aparente, passando os meus dedos de forma delicada ali, pensando em tudo que Zayn me disse ontem, e involuntariamente um sorriso grande apareceu em meu rosto. 

 

— E aí, George? — Sussurrei para mim mesma. — Eu espero que você tenha gostado do seu nome. O seu pai gostou. 

 

Antes que eu pudesse continuar a minha “conversa” com o bebê, a porta da sala de Zayn foi aberta enquanto ele conversava com um homem também de terno, os dois com sorrisos nos rostos. Resolvi não me intrometer e continuei deitada ali, observando o moreno caminhar até a sua mesa, pegar uma pasta preta e de lá uma folha. 

 

— Então o acordo está fechado? — O homem grisalho lhe perguntou. 

 

— Está, Roberson. — Zayn sorriu. 

 

— Lembre-se de que o contrato começa agora e durará um ano e deveremos ter uma reunião antes de começar com os planos. Onde poderemos assinar o documento? Você ainda estará em Seattle no ano que vem? 

 

— Sim, estarei. Poderá ser aqui mesmo na Malik’s Corporation. 

 

Espera...

 

— Ótimo. É muito bom negociar com você, Zayn. — Os dois fizeram um aperto de mão, selando o que quer que fosse o plano dos dois. 

 

O plano que exigia que Zayn ficasse em Seattle até daqui um ano. 

 

Senti um pontada em meu coração e um no se instalou em minha garganta conforme encarava o sorriso despreocupado de Zayn ao oficializar algo que acabaria comigo com tanta facilidade. Ele disse ontem que nunca pediria que eu desistisse de ir para Londres, que nunca pediria para que eu desistisse dos meus sonhos e ficasse em Seattle, mas por quê ele está fazendo isso? Ele nem mesmo falou comigo. 

 

Por Deus, Zayn seria capaz mesmo de me convencer a ficar? 

 

Ou...

 

Ou eu iria para Londres...sozinha? 

 

Quando Zayn voltou a sua sala, suspirando de forma estressada e afrouxando a sua gravata, distraído, tratei de ficar em pé e no momento em que fiz isso, a lágrima presa em meus olhos escorreu pela minha bochecha e Zayn me notou ali. Ele apenas entreabriu a boca, surpreso, e então notou que eu estava chorando e a ficha pareceu cair para ele. O moreno ergueu uma das mãos na minha direção, como sempre faz quando estava prestes a pedir que eu me acalmasse. 

 

— Lucy...

 

— Você nem cogitou a ideia de ir para Londres, cogitou? — Eu limpei a lágrima teimosa do meu rosto e cruzei os meus braços, começando a sentir o meu rosto quente pela raiva. 

 

— Amor...

 

— Não me chama de amor! Não quando acabou de fazer isso comigo! — Apontei o meu dedo em sua direção, vendo que ele parecia ficar cada vez mais assustado. Vi seu pomo de Adão em movimento quando ele engoliu em seco, prestes a dar um passo em minha direção, mas eu não suportaria ter ele mais perto de mim. — Não se mexa! Eu não quero saber das suas desculpas, não quero ouvir a sua voz, não quero que você me toque! Só me deixa ir embora! — Tentei passar reto por ele, sentindo o meu coração batendo de forma rápida dentro do meu peito por pura raiva, mas ele me alcançou e segurou os meus pulsos com força, mas não a ponto de me machucar. Eu apenas tentei me debater o máximo que podia para sair dali, não suportando o seu toque quente em minha pele pela primeira vez, mas sem sucesso por ele ser muito mais forte que eu. 

 

— Lucille, me escuta! 

 

— Eu não quero saber, Zayn! Não quero saber! Me deixa ir! 

 

— Eu não vou deixar você ir à lugar algum nesse estado! Você precisa se acalmar! 

 

— Não, eu não preciso fazer nada! — Gritei, ofegante enquanto os meus olhos ardendo. — Eu não preciso fazer nada, é você que precisa para de mentir para mim! Precisa parar de tentar me iludir com as suas palavras bonitas! Precisa parar de dizer que me ama quando não está nem aí se o que eu mais quis a vida toda pode se realizar agora mesmo, embaixo do meu nariz! Precisa parar de tentar me prender, porque não vai conseguir! Por Deus do céu, Zayn Malik, eu juro que você nunca mais vai fazer a minha cabeça! 

 

— Lucy, me desculpe... — Percebi que os seus olhos claros estavam marejados e arregalados em desespero assim como sua boca continuava entreaberta, mas não me deixei levar por isso. Tentei me fazer o mais resistente possível para desviar o olhar dele. 

 

— Eu não posso... — Eu sussurrei, aproveitando de seu momento de choque para me soltar de seus braços, me afastando dele e correndo até a porta. — Eu não posso. 

 

Assim que saí da sua sala, podendo respirar melhor ao ver que a sua secretária não estava ali, limpei as minhas lágrimas e respirei fundo, tentando catar os meus caquinhos e me reconstruir. Meu peito ainda doía como o inferno, mas eu consegui ser forte ao passar pela mesa repleta de funcionários com um sorriso falso no rosto, que graças a Deus não foi percebido. Também agradeci por Louis estar tão distraído com alguns papéis que nem mesmo notou a minha saída apressada daquela empresa, e quando entrei no elevador, tentei não desabar. 

 

Eu estava acabada, terrivelmente triste, desacreditada que Zayn havia acabado com tudo assim, dessa forma, como se estivesse pisando em tudo que pedi a ele. 

 

Ele diz que me ama tanto, mas eu não conseguia acreditar plenamente depois disso. Afinal, o amor requer sacrifícios, não é? Como deixar os seus medos estúpidos de lado, sacrificar o que você tem agora e apostar todas as suas fichas no seu futuro com alguém, mas ele não fez isso. 

 

Por Deus, ele nem estava disposto à tentar! 

 

Isso me deixa tão...tão...brava! 

 

Saí a passos firmes daquele prédio e tenho certeza que a minha carranca poderia espantar até mesmo os seguranças da entrada, mas eu estava tão concentrada em sumir daquele lugar que nem me importei. Eu queria sair, queria ir embora, respirar novos ares que não me sufocassem, que não fossem tóxicos. 

 

Mas onde eu acharia isso estando em uma cidade como Seattle?! 

 

[...]

 

— Antoine?! — Assim que entrei pela porta de vidro da Classique, ofegante por ter corrido até ali, chamei pelo seu nome, rezando para que ela estivesse ali. — Antoine! 

 

Quando entrei no estúdio, ela estava sentada no pequeno sofá ali, vendo algumas fotos em um álbum, mas seu semblante se tornou assustado quando me viu. 

 

— Oh, Lucy, você está bem, mon amour? — Eu tentei segurar ao máximo, mas no momento em que me sentei ao lado dela, comecei a chorar. Escondi o meu rosto com as minhas duas mãos e logo senti os seus curtos e finos braços ao meu redor em uma abraço aconchegante. Solucei várias vezes, tentando eliminar tudo que havia de ruim em mim. Toda aquela tristeza e toda aquela raiva. Mas parecia impossível. — Houve algum problema, chérie? 

 

— Sim, eu... — Me afastei dela e limpei as minhas lágrimas quando vi o quão embargada a minha voz estava. — Eu quero tanto ir para Londres, Antoine. É o meu maior sonho, é tudo que eu sempre quis, e agora que eu posso, parece que o destino está querendo me pregar uma peça. 

 

— Ah, Lucy... — Ela tocou o meu cabelo de forma delicada e me olhou com os olhos castanhos preocupados. — Você já deve saber que se chegou até aqui e se fez tudo o que fez sozinha, sem ajuda nenhuma, não há destino que possa lhe pregar uma peça. 

 

— Como? 

 

— Você faz o seu próprio destino, docinho. Você pode fazer e ter tudo o que quiser. Enquanto você sonhar, é possível. 

 

— Mas...mas como? — Perguntei, confusa. 

 

— É alguma coisa com o bonitinho, não é? — Ela sorriu de leve para mim, se referindo à Zayn e tocando a minha mão. Eu apenas assenti. — Receio que sei o problema. Ele não quer te deixar ir, quer? 

 

— Não, Zayn não é possessivo dessa maneira, ele só...ele tem tanto efeito sobre mim, Antoine. Ele não gosta da Inglaterra e não pretende voltar para lá, nós tentamos conversar sobre isso ontem, até porque nós vamos ter um filho e precisávamos resolver essa situação, mas não havia um solução. E aí, hoje quando estava na sua sala, ele estava fazendo planos aqui para daqui há um ano. Ele nem mesmo chegou a pensar na possibilidade de ir comigo para lá, Antoine. E agora eu não sei o que fazer. 

 

— Você o ama, não ama? — A mulher de idade sorriu de maneira sugestiva para mim, erguendo o meu rosto pelo queixo com a sua mão. Eu revirei os meus olhos enquanto assentia, bufando. — Ah, doce Lucy, sabe quem você me lembra?

 

— Quem?

 

— Uma aluna que eu tive há muitos anos atrás, ainda na Royal Ballet School. O apelido dela era “passarinho”. Ela dançava maravilhosamente bem e era muito bonita, os homens quebravam o pescoço para continuar a olhando passar na rua. Muito parecida com você, menina Lucy, ela também era loira e tinha os mais claros olhos azuis que eu já havia visto. Apesar de ela chamar tanta atenção, era impressionante como ela não se importava com aquilo. Achava superficial. — Antoine parecia perdida em memórias, encarando as paredes gastas do estúdio com um sorriso nostálgico no rosto. — Até que ela conheceu um rapaz que era exatamente o oposto dela, mas ela odiava admitir que gostava do garoto porque os dois brigavam como cão e gato, mas adivinha só? Não se desgrudavam nem por um minuto! — Eu sorri de leve, olhando para o chão. — Depois de um tempo, ela veio correndo me contar enquanto chorava que estava grávida dele, que ele queria casar com ela, que ela o amava incondicionalmente, mas ela não queria largar o ballet. Lucy, você sabe o que eu disse à ela? — Ela me olhou, e mesmo que fosse uma pergunta retórica, eu neguei com a cabeça. Antoine segurou as minhas duas mãos e olhou dentro dos meus olhos. — Voe, passarinho. Vá para longe, para onde você quiser ir. 

 

Antoine tocou o meu rosto com carinho e sorriu para mim de leve, acariciando a minha bochecha. 

 

— Você é muito parecida com ela, mon chérie. E por isso deveria fazer o mesmo. — Ela semicerrou os olhos. — Voe. 

 

Foi a minha vez de sorrir de leve e assentir, me aproximando a pequena mulher e beijando as suas duas bochechas de forma carinhosa antes de sair da Classique. 

 

[...]

 

— Lucille, você não está pensando com clareza! — Bethany exclamou, assustada. 

 

— Ah, eu estou, sim! — Dobrei a última leva de roupas do meu armário e fechei a mala, sofrendo para fechar o zíper da mesma, que estava quase explodindo. Resmunguei alguns palavrões, apoiando o meu peso na mala marrom e velha até que ela enfim fechasse. 

 

— É claro que não! Você está brava! Está agindo de cabeça quente! Não vai dar certo! — A loira parecia desesperada, com os olhos azuis arregalados.  

 

— Vai dar, sim. Se eu estou brava? Pra cacete! Mas isso não quer dizer que não estou pensando. — Coloquei a mala no chão e abri outra, jogando alguns pertences aleatórios ali, tentando esvaziar o meu quarto. 

 

— Você está esperando o filho dele! 

 

— E isso não lhe dá o direito de tentar me prender em um lugar onde deixei claro que não queria ficar desde o começo! Ele que fique com o seu contrato idiota, com seus empresários idiotas e com a sua fortuna milionária idiota, já que parece que é só isso que ele consegue enxergar! Eu não preciso de nada disso, e também não quero! Ele deixou claro que não se importa com o que eu quero, e por que deveria ligar para o que ele quer?! 

 

— Porque vocês se amam, Lucille! Você não pode simplesmente pegar o primeiro avião para Londres desse jeito, com uma mão na frente e outra atrás! Por favor, não faça bobagem! Espere o seu irmão voltar do expediente e vocês vão poder conversar! 

 

— Eu não quero conversar, Bethany! Eu já estou decidida. — Eu bufei, ainda tentando guardar tudo o que tinha, o que graças a Deus não era muito. — Eu vou sumir daqui! E se Zayn quiser mudar as coisas um dia, ele que vá atrás de mim, porque eu cansei de tentar fazer tudo dar certo sozinha! 

 

— Como você vai viajar, Lucy? Onde você vai ficar? — Parei de andar de um lado para o outro quando percebi o seu tom de voz embargado, e mal acreditei quando a vi chorando. Eu achava que poderia ver tudo nesse mundo, menos Bethany chorando. Ela estava com um dos braços por cima da barriga de quase seis meses de gravidez, os olhos vermelhos e a mão sobre a boca, tentando controlar as lágrimas. — Eu estou tão preocupada! 

 

— Você não precisa se preocupar comigo, Beth. — Eu caminhei até ela e segurei os seus ombros, olhando em seus olhos. — Eu me virei sozinha a vida toda, não é como se eu fosse desaprender. Tenho dinheiro suficiente guardado e posso começar a trabalhar assim que chegar na Inglaterra. A minha bolsa na Royal School é gratuita, tem noção do tamanho da despesa que eu me livrei? — Eu sorri de leve, tentando não chorar também. — É por isso que eu preciso ir. Não posso perder essa chance de jeito nenhum. Nunca iria perdoar a mim mesma se não voltasse para lá. Por Deus, o que...o que a minha mãe pensaria de mim se eu ficasse aqui, Bethany? Se eu pudesse ter tudo o que eu quero lá fora, mas resolvesse ficar aqui? Ficar por alguém que não faria a mesma coisa por mim...

 

Sequei as minhas lágrimas com as mangas do meu casaco fino e preto, ainda olhando nos olhos azuis marejados de Bethany. 

 

— Não vai dizer nada? — Eu perguntei, frustrada. Precisava ouvir pelo menos uma palavra de uma das pessoas mais importantes que tive por aqui, por mais que soubesse que ela reprovaria tudo o que eu estava fazendo. Ela engoliu em seco e fechou os olhos por alguns segundos antes de suspirar. 

 

Vá. 

 

Eu arregalei os meus olhos e abri a minha boca, surpresa. Ela sorriu de leve pela minha reação, mas logo arregalou os olhos também. 

 

— Vá, Lucille, você não tem muito tempo! 

 

Eu sorri e sequei as minhas lágrimas, assentindo e voltando a guardar as minhas coisas na mala, recebendo, agora, a ajuda da loira também. Procurei qualquer coisa que parecesse útil pelo apartamento, já que não queria levar muito, mas não pude negar a dor que senti com cada presente ou vestígio de Zayn em meu apartamento. Ele parecia estar em toda parte, mas milhares de fotos nossas espalhadas pelos balcões, mesas e presas pelo ímã da geladeira, no buquê de rosas já seco encima da mesa de jantar, em cada vestido que ele me deu, em cada bilhete seu que deixou espalhado por ali para que eu lesse, em cada camiseta que usei como pijama para sentir o seu cheiro quando ele não estava na cama comigo, no cheiro do seu shampoo impregnado no meu travesseiro, nos jornais que eu nunca lia mas pegava toda manhã na portaria porque sabia que ele gostava de se manter informado, na comida na geladeira que eu havia feito especialmente para nós dois...

 

Eram tantas coisas que eu fiquei até tonta. 

 

Seria impossível esquecê-lo. 

 

Ainda mais tendo uma parte dele dentro de mim. 

 

Mas eu tentaria. Jurei para mim mesma que seria forte o bastante para tentar, para resistir e para não ceder. 

 

*Zayn*

 

Encarei a porta da minha sala escancarada por alguns segundos, ainda tenso e com a boca aberta. Tudo aconteceu tão rápido que eu não consegui nem mesmo raciocinar, e agora Lucille saiu chorando e correndo daqui. 

 

Exatamente como na primeira vez em que fui estúpido com ela. 

 

E eu prometi que não faria mais ela chorar. 

 

Eu sou mesmo um merda. 

 

Passei as minhas mãos pelo meu rosto e bufei, estressado, ainda um pouco perdido. Caminhei até a porta e tirei a minha cabeça para fora da sala, vendo que Katie não estava em sua mesa e que o elevador o qual Lucille havia usado tinha acabado de fechar as suas portas, descendo para o térreo. 

 

Tentei pensar se iria atrás dela, mas a loira parecia tão nervosa que precisava de um tempo para raciocinar sozinha, não precisava? Eu sei que havia feito algo ruim no ponto de vista dela, mas confesso que ainda tinha esperanças de que ela ficasse. Eu poderia fazer ela tão feliz aqui mesmo em Seattle, e estava disposto a mostrar que ela não precisava ir tão longe atrás da própria felicidade. 

 

Mas sinceramente, agora eu já não sei mais nada. Não sei para onde ela vai, o que vai fazer ou com quem vai falar, mas sei que preciso me redimir de alguma forma porque sei que fiz errado em fazer planos definitivos aqui em Seattle sem falar com ela antes, e agora que vejo dessa maneira, consigo entender perfeitamente o porquê de seu desapontamento. 

 

Por Deus do céu, eu estrago tudo mesmo. 

 

Passei as minhas mãos pelos meus cabelos e fechei a porta da sala, indo até a minha mesa e me sentando na cadeira de couro almofadada. Massageei as minhas têmporas na tentativa falha de amenizar a minha dor de cabeça, mas quando ergui os meus olhos para o computador, apostando na ideia de tentar me distrair por algumas horas com trabalho, parece ter levado um soco no estômago. 

 

“Você será sempre o meu príncipe. Eu amo você, Z.

Da sua Lucy” 

 

Porra. 

 

Aquele post-it parecia ter atravessado a minha alma e cortado cada órgão dentro de mim de forma dolorosa. Deus, eu não conseguiria me distrair porra nenhuma! Eu não iria conseguir aturar essa merda enquanto não ajeitasse a situação! 

 

Eu precisava ir atrás dela. 

 

E precisava ser agora. 

 

[...]

 

— Lucille?! — Entrei correndo em meu apartamento, rezando para que ela estivesse ali, mas não ouvi a sua voz em resposta. — Babe, vamos conversar!

 

— Zayn? — Ouvi a voz da minha avó na sala, e quando cheguei até lá, a mesma estava sentada na poltrona, de frente para a televisão enquanto tricotava o seu possível terceiro sapatinho de bebê. Dessa vez, era um par branco deles. — Aconteceu alguma coisa, meu neto? 

 

— Er... — Cocei a minha nuca, vendo que não conseguiria fugir de seu olhar curioso e preocupado. Acabei bufando, me rendendo e caminhando até ela e me sentando no sofá ao seu lado, encarando o chão. — Eu acho que eu...

 

Ergui o olhar para a minha avó, aflito. Eu sempre odiei reconhecer que errei, conheço muito bem o meu orgulho e sei quantas oportunidades, ocasiões e situações eu já arruinei por causa dele, mas mesmo assim, era difícil abaixar a cabeça. No entanto, se tratava dela. Se tratava de Lucy.

 

Ah, merda. 

 

— Vó, eu estraguei tudo. — Me rendi, fechando os meus olhos e sentindo o peso da culpa sobre meus ombros enquanto escondia o meu rosto com as duas mãos. — É só o que eu faço, é só o que eu sei fazer! 

 

— Zayn... — Ela me repreendeu, com a voz cheia de compaixão. Observei ela se apoiar nos braços da poltrona, se levantando, e eu fiz o mesmo, a ajudando a chegar até o sofá, sentando-se ao meu lado. Ela tocou o meu rosto com uma das suas mãos e a outra pousou sobre as minhas costas em um gesto de conforto. — É claro que não. O que foi que aconteceu?

 

— Lucy. Ela quer tanto morar na Inglaterra, mas...

 

— Mas...? 

 

— Mas eu não quero. Não quero voltar para lá, vó. Toda a minha vida está aqui, tudo o que eu construí, tudo o que planejei. — Bufei, me encostando no sofá. 

 

— Por que não quer ir com ela, Javadd? Eu pensei que você a amasse...

 

— Mas eu a amo! Eu a amo pra cace... — Minha avó me repreendeu apenas com um olhar. — ...pra caramba! Ela...meu Deus, ela é a mulher da minha vida! 

 

— Bem, isso é suficiente para que você vá para onde ela for. — A mulher deu de ombros, desviando o olhar de mim, mas ainda segurando as minhas mãos. 

 

— Não é só isso. Eu... — Suspirei, irritado. — Eu fiz planos que serão feitos daqui há um ano, aqui em Seattle, com um grande empresário o qual queria fechar negócios há tempos. E Lucille estava na minha sala e viu tudo. 

 

— Você o que?! — Pedi para que ela se acalmasse, preocupado com o seu estado de choque quando ela arregalou os olhos. — Zayn! 

 

— Eu sei, vó, eu sei! 

 

— E onde ela está agora?! 

 

— Eu achei que ela estaria aqui. 

 

— É claro que ela não viria até aqui, Zayn, por Deus do céu! — Ela me olhou como se desconhecesse quem eu era. — Ela não deve estar querendo te ver nem pintado de ouro! 

 

— Eu sei disso! — Disse, indignado. 

 

— E por que é que você não foi atrás dela ainda?! — Eu abri a boca várias vezes para responder, mas não consegui e apenas desviei o olhar, soltando o ar dos meus pulmões, rendido. — Zayn? 

 

— Eu não sei. 

 

— Você não está pensando em desistir dela, não é? 

 

— Vó, eu não vivo sem ela. — Disse o que é óbvio. — Lucille é tudo que eu tenho. Ela e George. 

 

— Eu vou te contar uma história. — Ela sorriu de leve pelo que eu disse. — Quando eu tinha dezoito anos, estava namorando o seu avô e por Deus, como eu o amava, Zayn. Ele era tudo para mim, mas meus pais não o aprovavam, então nós tínhamos planos de fugir de tudo e de todos, eu só conseguia pensar nisso o dia todo. E então tudo pareceu desabar quando o meu pai marcou um casamento arranjado com um homem que eu não amava. Se o seu avô tivesse desistido, se ele não tivesse corrido atrás de mim, se não tivesse batido de frente com o meu pai e não tivesse persistido, eu não seria a matriarca dos Malik, Zayn. — Minha avó apertou as minhas mãos. — Por favor, eu te peço, meu neto: não deixe a garota certa ir embora. Sei que às vezes pode parecer impossível de dar certo, mas e se der? Pense em tudo que vocês viveram juntos e em tudo que ainda podem viver. Pense... — A mulher morena pegou os sapatinhos azuis de crochê que já estavam prontos na poltrona e os colocou nas minhas mãos, fazendo com que eu direcionasse o meu olhar até lá. — ...pense em George. 

 

Encarei os sapatinhos delicados, pequenos e bem feitos. Imaginei pezinhos e dedinhos minúsculos, imaginei risadas gostosas, roupinhas pequenas, cabelos finos e lisos e até mesmo o choro e as fraldas sujas. Imaginei os olhos azuis tão claros como o céu de Lucille e o seu sorriso. 

 

Ah, meu Deus. 

 

O que eu estou fazendo parado aqui?! 

 

Me levantei em um salto, arrancando um sorriso de minha avó, mas então o meu celular começou a tocar no mesmo instante. 

 

— Alô? — Eu atendi o aparelho sem o mínimo interesse, pegando as chaves do meu carro encima do balcão da sala rente à parede. 

 

— Zayn? Pare o que está fazendo agora mesmo e venha correndo até o aeroporto! — Reconheci a voz alerta e aguda de Bethany. 

 

— Aeroporto? Por que? 

 

— Droga, eu estou sendo uma amiga de merda porque prometi que não iria falar nada, mas Lucille está a cerca de vinte minutos de pegar o primeiro avião para Londres. 

 

— Mas que porra...?! — Exclamei, arregalando os meus olhos e sentindo o meu coração esmurrando o meu peito. — Droga, cadê ela, Bethany?!

 

— Ela está no banheiro! Olha, você precisa correr se não quer deixar ela ir, ok? Eu tentei a convencer, mas ela está irredutível! Oh, e é melhor que você tenha um puta pedido de desculpas, ouviu bem?! Você precisa ser o melhor marido que já existiu na face do planeta Terra depois dessa grande burrada que você fez! 

 

Espera...marido?

 

— Marido? 

 

— É, o que você acha, Zayn?! Será que vai ser mesmo necessário eu dizer o que você precisa fazer para que ela não entre nessa droga de avião?! — Eu fiquei em silêncio, ainda surpreso e incapaz de pensar em qualquer coisa. — Você precisa pedir ela em casamento, porra! 

 

Lembrei de quando vi Lucille entrando pela porta da Igreja em Bradford, vestida naquele vestido maravilhoso que parecia apenas deixar aquele corpo ainda mais perfeito, sorrindo de maneira tímida para mim e me encarando com aquelas orbes azuis claras que pareciam me enfeitiçar. 

 

Eu definitivamente quero ver isso de novo. 

 

E ah, como eu quero. 

 

Corri até o meu quarto e vasculhei cada maldita gaveta em busca do maldito anel que Lucille deixou encima do vestido, na minha fazenda, depois do desastre que Amber causou na nossa primeira tentativa de casar, mas eu simplesmente não conseguia achar aquela droga! Foi quando eu abri a última e encarei o primeiro anel que comprei quando tudo o que tínhamos ainda não passava de uma fachada. Apesar disso, ele tinha tanta história para contar. Como quando perdemos a mala dela e fomos para o aeroporto mesmo assim, onde eu comprei o anel de três pedras de diamante, apenas tentando achar algo que fosse melhor do que o anel que Peter deu a Sharon. Peguei o anel que nunca deveria ter saído do dedo daquela mulher o guardei no bolso da frente da minha calça, saindo do quarto como um jato. 

 

— Zayn, onde você vai? — A minha vó perguntou à mim, me fazendo parar no batente da porta do apartamento, já ofegante. Lhe lancei um último sorriso de agradecimento antes de respondê-la. 

 

Estou indo atrás da garota certa, vó. 

 

[...]

 

Estacionei o carro de qualquer jeito no estacionamento e corri o máximo possível que pernas humanas poderiam correr. Via o vulto das pessoas passando ao meu redor e bati em diversos ombros, ouvi muitos xingamentos em várias línguas e quase tropecei quinhentas vezes, mas tudo que eu podia pensar era que a mulher da minha vida e a mãe do meu filho estava indo embora e eu não podia deixar isso acontecer de maneira alguma. 

 

O aeroporto de Seattle era gigante e eu não sabia para que lado correr, tentando desesperadamente achar Bethany e Lucille juntas e tentei impedi-la de fazer uma burrada enorme, mas perdi vários minutos até isso.

 

E bem, eu não achei Lucille. 

 

Encontrei Bethany e Louis lado a lado e de costas para mim, encarando um dos portões que dava acesso até um avião. Ele abraçava a cintura dela e a loira parecia esconder o seu rosto em seu ombro, e temi pelo pior quando não achei Lucille em lugar algum, nem mesmo sinal de alguma mala. Alcancei o casal e meus pulmões ameaçavam ser jogados para fora do meu corpo, mas mesmo assim precisei ter fôlego para falar com eles, já prevendo o pior. 

 

— Cadê ela?! — Foi o que consegui dizer, atraindo a atenção dos dois. 

 

Bethany estava com os olhos marejados e Louis parecia a consolar, mas estava com um ar abatido em sua face. Ele engoliu em seco e fez um leve movimento negativo com a cabeça enquanto a loira ao seu lado voltou a chorar, se agarrando no braço do namorado com força. 

 

Eu sinto muito, cara. — Ele sussurrou, ainda fazendo aquele movimento com a cabeça, os olhos azuis vidrados em mim. — Bethany me ligou desesperada, eu vim até aqui e tentei a impedir de todos as maneiras possíveis, mas ela não desistiu. Na primeira chamada de seu voo, ela saiu correndo e eu não pude fazer nada. 

 

— Como? — A minha voz saiu em um fio, os batimentos parecendo desenfrear de forma violenta, me causando um mal estar terrível. Tudo ao meu redor parecia estar girando, e eu juro que fiquei tonto. Tentei manter os meus pés no chão e engoli em seco. — Você está dizendo que ela...

 

Ela foi embora, Zayn! — Bethany exclamou. Seu rosto estava vermelho assim como seus olhos e suas bochechas estavam molhadas. 

 

Por Deus, isso não podia ter acontecido. 

 

Não aguentei o peso no olhar dos dois e me virei para trás, encarando o céu nublado lá fora no exato momento em que um avião levantou voo, e eu tive certeza que ela estava lá dentro. O anel dentro do meu bolso da frente parecia pesar dez quilos, me puxando para baixo enquanto sentia uma dor excruciante se instalando em meu peito. Era como se eu estivesse sendo dilacerado de dentro para fora. Era como se não houvesse mais chão e eu estava caindo, sabendo que não demoraria muito para atingir o chão. 

 

E seria uma queda feia. 

 

E por lá eu fiquei mais alguns minutos, com os pés colados ao chão enquanto assistia a garota certa saindo dos meus braços.

 


Notas Finais


Quero só ver os xingamentos que vão dar pro baby Zayn kkkkkkkkkk

Gente, deixa eu explicar pra vocês o que tá acontecendo: esse é como se fosse o último capítulo de uma primeira temporada, entenderam? A partir de agora a história iria mudar um pouquinho, mas o que me resta perguntar primeiro pra vocês é: vocês querem uma segunda temporada? Querem que eu continue? Acho que eu já sei a resposta, mas mesmo assim, precisava perguntar. Eu tenho muuuitas ideias boas ainda para Playing Pretend, estou amando escrever o enredo, mas preciso saber a opinião de vocês! Por isso, comentem!!!

Beijinhosss ❤️


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