História Please Mr. Postman - Antes

- Johnny, você tem mesmo que ir? - disse Macca ajeitando a gola da camisa do marido

- Você sabe que sim, eu fiz o juramento de...

- "...ir aonde o socorro chamar sempre que precisar". Eu sei meu bem, mas nós somos recém casados, mal aproveitamos a nossa vida nova - disse o moreno piscando os olhos

- Paul, por favor, já faz um ano que casamos e também, vai passar rápido, você vai ver. Quando piscar estarei de volta - sorriu

- Minha nossa, não é que é verdade - disse Paul depois de piscar e fingir espanto, a brincadeira tirou uma gargalhada do ruivo.

Quando Paul aceitou casar sabia que estava aceitando a bagagem que a profissão de John trazia como plantões, noites sem dormir, súbitas emergências no meio da noite que faziam o ruivo pular da cama e num estalar de dedos estar no hospital, mas agora era diferente, ele iria pra outro país e passaria bem mais do que 48 horas longe de casa. Precisamente 365 dias em um lugar frio e bem distante da residência do casal. John ia passar um ano como médico responsável de um vilarejo no sul da França e só retornaria no Natal do ano que vem. Bem, não era exatamente ano que vem, e sim em dezembro desse ano, mas qualquer que fosse o tempo, ainda sim era muito difícil deixá-lo ir, mesmo que para um bem maior.

- Você promete que vai escrever todos os dias? 

- Prometo, meu bem. Todo mês o carteiro vem bater na sua porta entregando o pacotinho com as minhas cartas, que tal?

- Adorei, vou aguardar ansiosamente por ela - disse o moreno depois de dar um selinho nos lábios do outro 

- Certo, agora eu preciso ir, o vôo parte daqui a uma hora e eu não posso me atrasar - respondeu John recolhendo o casaco e a bagagem de mão.

Os dois caminharam em direção a porta, Paul a abriu e John, despedindo-se do local, olhou pra trás passando o olho por todo o imóvel e em seguida cruzando o olhar melancólico de Macca. Os dois ficaram em silêncio por um instante até o ruivo abaixar as malas e com as mãos firmes naquelas bochechas deixarando um beijo, o mais profundo e apaixonado beijo de amor.

- Até meu bem, volto logo. Não se esqueça de mim - disse voltando a recolher as coisas e olhando no fundo dos olhos de Paul

- Eu nunca te esqueceria, John.

Assim que essas palavras foram ditas, John cruzou o corredor e entrou no elevador, o táxi que o levaria até o aeroporto já estava lá embaixo esperando por ele. Paul correu para a janela e viu o ruivo depositando a bagagem no porta malas e em seguida batendo a porta do banco do passageiro, acompanhou com os olhos o carro amarelo seguindo a na estrada de terra e tornando-se cada vez menor até sumir no horizonte. 

Ele lembra de quando recebeu a notícia, estavam em casa, pouco tempo depois da lua de mel em Paris, John estava ao violão ajudando Macca em uma nova composição quando a tela do computador piscou com o novo email que tinha chegado avisando que ele havia sido escolhido para ser responsável pelo pequeno hospital de um vilarejo distante da capital da França. Assim que terminou de ler, John imediatamente abriu sorriso, era uma grande oportunidade de trabalho, mas tudo aconteceria logo quando ele e Paul estavam aproveitando a vida de recém-casados e sabia o quão difícil seria dar essa notícia, então respirou fundo, buscou as melhores palavras e contou. Macca parabenizou o marido pela conquista, entretanto, não conseguiu esconder a tristeza ao saber que passariam tanto tempo longe.

Nesse momento, o vento frio que entrou pela janela fez com que ele percebesse o seu rosto ainda molhado pelas lágrimas, passou a costa da mão no rosto e em seguida fechou a janela. Ao voltar-se para o imóvel, viu a casa no vazio e completo silêncio, nenhum sinal de vida, além dele e Martha que dormia no tapete da sala

                           ......

O casal morava nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova York, saindo de lá só havia uma parada até chegar no destino final. Durante a escala, em uma loja de disco, John escolhia um disco para levar consigo e um postal para Paul quando lembrou da ideia que manteria os dois conectados.

- Com licença, você teria papel e caneta? - perguntou ao caixa aproximando-se do balcão

- Claro, aqui está - respondeu o outro entregando os objetos

Agradeceu e encarou a folha por alguns segundos antes de desenhar os garranchos de médico no papel, a intenção era começar a escrever as cartas e assim que ela chegasse a Paul, o mesmo responderia e assim manteriam o fluxo de conversas até que John voltasse para casa. 

A carta dizia:

Caro Paul,

 Estou em Liverpool, pois é a única escala que o avião vai fazer antes pousar na França e de lá pegarei um carro até o meu futuro local de trabalho. Acredito que já tenha dito a você, mas na pequena não há sinal de telefone e como eu não aguentei de saudades suas resolvi escrever essa carta para que assim pudéssemos manter contato. No cartão-postal, vou deixar o endereço da casa onde ficarei para que assim possa enviar a resposta. 

 Já sinto sua falta, com amor, John.

Terminando de escrever, arrancou a folha, devolveu os objetos, pagou pelos itens e perguntou onde havia um posto de correio mais próximo, o funcionário apontou para um box mais em frente no corredor a direita, agradeceu e saiu da loja em direção ao local indicado.

Deu três batidas de leve na porta, escolheu um envelope rosa simples do mostruário, depositou tudo em cima do balcão e perguntou quanto custava enviar isso até Nova York. "20 dólares" respondeu a mulher do outro lado da mesa, John havia esquecido completamente do quão caro as coisas eram dentro dos aeroporto, sacou a carteira tirando dali uma nota de 20$ e entregou. Quando tudo estava certo, John depositou um beijo no pequeno envelope, entregou a mulher e saiu. Faltavam apenas 30 minutos para o embarque, então correu até o portão indicando e esperou a hora de partir em direção ao destino final.