História Please, save me - Maldito destino

P.O.V JUNGKOOK
 

Já fazem dois dias. Dois dias que eu sai daquela faculdade, abandonei todos os meus amigos sem nem me despedir e me tranquei no meu quarto, pretendendo nunca mais sair. Se eu estava triste? Eu estava chorando mais que um bebê, mais do que quando minha avó morreu, mais que daquela vez nos primeiros dias de aula quando Jiminie me acolheu. Tanta água já tinha saído do meu corpo, que eu estava me sentindo uma casca de fruta desidratada com duas bolas de ping pong como olhos. Porque minhas pálpebras estavam tão inchadas que nem abri-las eu conseguia.
 

Que engraçado... no começo tudo que eu mais queria era viver sozinho, sem nenhuma pessoa, nenhum alfa. Mas agora, eu me sinto tão solitário a ponto de abraçar cada objeto do meu quarto, tentado cobrir esse buraco no meu coração. E pensar que eu mudei tanto... de um emo gótico das trevas, que se sentia preso a um só destino, que era obrigado a ser perfeito, eu me transformei em uma pessoa esperançosa, que descobriu que podia sim viver a própria vida, sem limites ridículos. 
 

É, eu realmente achei que tinha escapado do meu passado, que eu podia viver uma vida feliz com eles e com ele. Taehyung... como será que ele está?


FLASHBACK ON 
 

Acordei com o toque estridente do meu celular e resmunguei algumas palavras desconexas, antes de passar por cima do corpo de Taehyung com dificuldade, alcançando meu celular na mesinha. Minha visão estava meio turva, então não consegui ler o nome de quem estava ligando. Dei de ombros e arrastei meus dedos pela tela.
 

– Alô? – disse sonolento.
 

– Pensei ter dito para você se manter puro até o casamento. 
 

Aquela voz fria falou lentamente cada palavra, causando arrepios pela minha coluna. Ele tinha voltado.
 

– Como você sabe? – perguntei, sentindo minhas mãos tremerem.
 

Não, aquilo não podia estar acontecendo.
 

– Você acha que eu não ia descobrir? Eu sou seu pai, Jungkook. Pais sempre sabem de tudo.
 

Tudo que se passava pela minha cabeça era medo. Medo dele, do que ele poderia ou pretendia fazer.
 

– Saia desse quarto, você vai voltar para casa. Isso que dá, dar liberdade para aqueles que não sabem aproveitá-las bem. Foi um péssimo erro, eu devia ter contratado alguns professores desde o início.
 

– Eu não quero. – disse firmemente, olhando o alfa dormir tranquilamente do meu lado. – Eu vou ficar aqui e você não pode me impedir.
 

– Com quem você pensa que está falado?! – falou irritado. – Não acredito que você se transformou em um ômega tão desprezível a ponto de falar desse jeito com o seu progenitor. Saia agora ou eu vou ter que tomar providências.
 

– Não.
 

Ouvi uma risada sádica soar pelos meu ouvidos, mas para a minha surpresa não era só pelo telefone que eu conseguia ouvi-la. Congelei, sentindo aquele cheiro nostálgico invadir minhas narinas. Ele estava ali, bem atras daquela porta.

 

– Então você quer jogar difícil né? Você não sabe o que posso fazer garoto... com você, com seus amigos, com esse seu namoradinho do seu lado.
 

– O que você quer dizer com isso? – perguntei, sentindo minha voz falhar um pouco.
 

– Você se acha forte, filhote? Pois saiba que está errado. Kim Taehyung, esse é o nome da sua fraqueza.
 

Senti meu coração bombear mais rápido, enquanto meu corpo se encolhia inconscientemente e meus olhos ameaçavam sair lágrimas. Não, eu não ia deixar ele machucar Taehyung.
 

– Você não se lembra do que aconteceu com seu último "amante"? Você quer que o Kim termine igual? Se bem que eu devia dar uma lição nele de qualquer jeito... e em você também.
 

E como não me lembrar? Aquilo foi totalmente traumatizante! Ainda não me conformava que ele incendiou a casa do menino e depois faliu a empresa dos pais dele, só por causa de um beijinho na bochecha! Nós éramos apenas crianças na época e eu só estava naquele rolo para irritar os meus pais, mas eu me senti tão culpado que até hoje a minha consciência ainda pesa. Agora imagina o Tae?? É possível daquele louco até matá-lo!

 

– Tudo bem, eu vou voltar para casa, mas eu não pretendo obedecer qualquer coisa que você falar. E não ouse mexer com os meus amigos ou com o Taehyung, ouviu?
 

– Você vai obedecer no fim, Jungkook. Você vai acabar casando com qualquer alfa que eu escolher. E você sabe o porquê? Sua mentalidade é fraca assim como a da sua mãe. E quanto a seus amigos, não vou incomoda-los... por enquanto. Escreva um bilhete ou sei lá o que para o seu namoradinho, depois não quero ter a dor de cabeça de enfrentar um alfa jovem com os sentimentos à flor da pele.
 

Desliguei a chamada, sentindo aquelas palavras me abalarem por alguns segundos. Mas que droga, por que a minha vida tinha que ser tão problemática?! Me vesti rapidamente e peguei minhas coisas mais importantes, não me importando de deixar várias roupas para trás. Observei o alfa dormindo serenamente ao meu lado, sentindo aquilo apertar no meu peito. Eu ainda tinha que escrever a mensagem. Bom, no fim, acho que nunca escrevi tanta mentira em um pedaço de papel. Aquilo estava me corroendo por dentro, fazendo com que tinta borrasse pelas minhas lágrimas silenciosas. Maldito destino que me fez conhecer e me apaixonar por Kim Taehyung. E por amá-lo tanto que a última coisa que eu queria era vê-lo se machucando... se bem que ele nunca mais vai querer olhar na minha cara depois de ler isso. 
 

– Eu te amo Tae, estou fazendo isso por nós dois, por isso não me odeie, tá? – sussurrei baixinho, deixando um selinho em seus lábios. 
 

Peguei a blusa cinza do maior, escondendo-a no fundo da minha mala misturando minhas roupas por cima. Meu pai não podia saber que eu estava pegando uma lembrança do meu amante, certo? Limpei o resto das minhas lágrimas colocando minha expressão mais forte no meu rosto. Pelo menos eu tinha que parecer forte...


FLASHBACK OFF
 

Abracei a peça de roupa com aroma amadeirado contra o meu corpo. Eu realmente sou um masoquista por fazer isso comigo mesmo, por que retomar as memórias? Eu devia era enterra-las no fundo do meu subconsciente e nunca mais relembra-las, mas eu simplesmente não consigo esquecê-lo.
 

– Por que você não me marcou logo, idiota? – falei sozinho, acariciando os chupões roxos do meu corpo. – Aposto que você queria fazer alguma coisa fofa para me impressionar... mas se você não fosse tão romântico eu podia estar ao seu lado agora.
 

Balancei minha cabeça afastando esses pensamentos egoístas.
 

– Idiota sou eu... se ele fizesse isso aí sim que eu não ia conseguir protegê-lo.
 

Senti o cansaço abater meu corpo e me enfiei mais dentro dos cobertores, ligando o ar condicionado no mais frio possível. Eu não tinha comido nada desde a minha chegada, porém nem fome eu sentia. Além disso, eu estava pouco me fudendo pra aquele maldito do meu pai, que fica com todo aquele papo furado de "para de chorar, não foi isso que eu te ensinei" "não importo se você não comer, só esteja apresentável" "nenhum alfa vai te querer desse jeito". Porra! Eu tinha sim um alfa que me queria, ok?! Você tirou-o de mim e espera que eu esteja feliz com essa situação toda?! Era só o que me faltava... 
 

Minha mãe não se pronunciou em nenhum momento e eu espero que ela continue de boca fechada. Enquanto eu não tiver uma conversa com ela, menos as chances dela pirar e acabar me machucando. Porque é assim que funciona, minha mãe me destrói fisicamente e meu pai prefere usar as palavras como golpes. Que ambiente agradável, que é essa minha casa!
 

Como eu queria estar com o meu celular agora! Eu poderia mandar mensagens, pelo menos conversar com eles! Mas não... até isso ele tinha que tirar de mim. Acho que Jin e Jimin provavelmente estão loucos pelo meu sumiço, enquanto Namjoon, Yoongi, Tae e Hobi tentam acalma-los. Eu estou com tantas saudades deles... até das conversas pervertidas com o Jiminie ou o Namjoon fazendo aquela dança esquisita. Abri um sorriso pequeno com todas aquelas memórias boas, me arrependendo mais ainda por ter me apegado tanto assim.
 

– A culpa é de vocês, hyungs. Se vocês não fossem tão legais, eu não estaria sofrendo. – disse, rolando pela cama de casal.
 

– Jungkook... – ouvi a voz da empregada do outro lado da porta de repente, fazendo com que eu me assustasse um pouco . – Seu pai mandou avisar que vai acontecer uma festa hoje à noite e a sua presença é obrigatória.
 

– Eu não ligo! – respondi irritado, jogando um travesseiro contra a porta.
 

– Mas Jungkook, parece que vai ser a escolha do seu noivo...
 

Meu estômago revirou e se não tivesse nada dentro dele, eu já teria sujado todas as cobertas branquinhas de vomito. Que vontade de pular da janela e morrer ali mesmo! Porém eu infelizmente não posso fazer isso, não é?
 

– Quanto tempo eu tenho? – perguntei, me preparando mentalmente para sair da cama confortável e encontrar um bando de najas com sorrisos falsos.
 

– Uma hora.
 

Bufei estressado, me arrastando até o banheiro e ligando o chuveiro. Tomei um banho consideravelmente rápido, logo saindo e encarando minha imagem no espelho. Eu estava deplorável, realmente. Passei uma maquiagem qualquer escondendo minhas olheiras e dando um ar de vida ao meu rosto esgotado. Eu podia aparecer naqueles programas de "antes e depois" sério, nem parecia o garoto que se trancou, chorou mais que cachoeiras, mofou por dois dias e não comeu nada. Vesti o primeiro terno que eu vi, junto com os sapatos pretos básicos e dei uma borrifada do meu perfume favorito.
 

– Eu queria que o Tae estivesse aqui... queria que ele me elogiasse... – falei comigo mesmo, arrumando meus fios de cabelo ainda molhados. – Argh, para com essa carência, Jungkook.
 

Abri a porta do meu quarto, já conseguindo ouvir a música e pessoas conversando do salão de festas. Coloquei meu melhor sorriso, e inflei meu peito, caminhando graciosamente até as portas douradas. Encontrei algumas pessoas no caminho, cumprimentando-as educadamente, sendo recebido com um monte de elogios exagerados da maioria delas. Como me irritava fingir ser o ômega perfeito! Eu tinha esquecido dessa sensação porque, eu não precisava fingir ser ninguém lá, mas aqui? Aqui você precisa ser sempre impecável, engolir o seu orgulho e a vontade de estrangular aqueles riquinhos hipócritas, que te veneram até o momento que te dão uma facada pelas costas, roubando todo o seu dinheiro. E pensar que eu vou me casar com uma pessoa dessas me dá nos nervos. Ai, deuses, por que eu não podia ser uma pessoa normal? Que não precisasse viver nesse lugar obscuro cheio de pessoas loucas? Eu podia estar sendo feliz nesse exato momento com aqueles que eu realmente amo, mas não... 
 

Não entendo. Por que eu tive que nascer sendo Jeon Jungkook afinal?
 

Maldito destino.