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História Poção do Amor - Alcaçuz


Escrita por: paburidoki

Capítulo 3 - Alcaçuz


Fanfic / Fanfiction Poção do Amor - Alcaçuz

A expressão de Jisung chegava a ser cômica e Chenle quase - quase - se sentiu mal por tê-lo levado ali.

A cerimônia do chá era seu suplício diário, onde precisava controlar seu jeito naturalmente escandaloso e comportar-se "como o nobre que era".

O jovem chinês nunca se viu dessa forma. Mesmo tendo tantas coisas boas que o dinheiro podia comprar, ainda foi posto para ajudar no negócio do pai quando este recebeu o encargo dos correios na cidade. Enquanto a mãe ficava em casa e o senhor Zhong no escritório, o garoto sempre esteve com as roupas cheias de poeira na rua, os fios de cabelo claros de tanto sol, bochechas coradas de saúde e um brilho nos olhos.

O seu trabalho lhe permitia conhecer todas as famílias da vila e, sem dúvida, seu melhor presente tinha sido a amizade do filho dos Park. Jisung era apenas um pouco mais novo que si e mostrou-se uma pessoa gentil e divertida e, de vez em quando, Chenle gostava de testar a força dessa amizade.

Aquele era o caso.

O pobre loiro não ousava mover um músculo impensado, se restringindo a copiar os gestos do Zhong à risca. Nem o cheiro do chá mais refinado ou o gosto doce do açúcar serviam para tirar o tédio extremo que se instalava naquela mesa monótona e silenciosa. Não podia nem ousar relaxar os ombros, mantendo a postura ereta e etiqueta impecável ao longo da tortuosa uma hora.

Quando por fim o patriarca se deu por satisfeito, realizaram um curto ritual para o recolhimento dos materiais antes de fazer uma oração a um deus que Jisung sequer entendeu o nome, mas parecia ser "o deus do chá". Não achou estranho. Depois que descobriu existir o "deus da casa de banho", nada mais o surpreendia na religião da família de chineses.

Depois de se curvarem e finalmente serem liberados para brincar no quintal, o mais novo imediatamente beliscou o amigo, ainda suando pelo nervosismo recente.

"Mas que raios! Por que não me disse que seria assim? Minhas costas estão me matando, essa roupa coça e eu quase dormi na frente do seu pai!"

O Zhong, aproveitando que os trajes formais já lhe davam uma aparência superior, abriu seu leque de forma dramática apenas para fechá-lo em seguida num movimento rápido, apontando-o para Jisung.

"Meu caro aprendiz" - tentou personificar um sábio, falhando aos olhos do colega - "Se você soubesse quão difícil era, não teria tido nenhuma chance"

Poderia ter sido uma frase profunda e impactante, uma reflexão sobre os desafios que a vida nos proporciona. Entretanto, o loiro arrancou a fita que lhe prendia o abdômen.

"Isso não é desculpa para me fazer sofrer à toa!"

"Tsc. Jovem tolo e ingrato!" - continuou seu ato - "Nada foi à toa!" - se aproximou devagar, como um felino analisando sua presa e, quando estava bem perto do mais novo, lhe disse: "Agora que meu pai te aprovou dentro de casa, podemos jogar!!"

A risada escandalosa soou alto demais enquanto o Park se recuperava do susto e revirava os olhos. Chenle era mesmo uma criança.

Naquela tarde, se divertiram até a senhora da casa mandá-los retirarem as vestimentas luxuosas, pois as sujariam de terra.

Não podiam evitar, faziam muito bem um para o outro. Como as duas metades de uma laranja, como o ying e o yang. Chenle tinha a bagagem de um membro da corte, podia meditar, saber se servir com treze talheres diferentes e falava três línguas, mas era em momentos simples que se sentia verdadeiro. E era assim que gostaria de passar a vida.

A presença de Jisung havia se tornado uma constante em seu dia e o Park nunca menosprezou isso. Fosse nas aulas, fosse quando se encontravam pelas ruas, sempre o chamava e sorria.

Talvez, Chenle achasse que aquele sorriso fosse só para ele.

Quando precisaram despedir-se, o mais novo fez questão de andar até a metade do caminho da casa do outro, de forma que foi até a pequena ponte que dividia, de forma não oficial, o lado que as famílias de chineses habitavam.

A imagem de Jisung desaparecia à medida que o garoto caminhava de volta para o conforto de seu lar e ao encontro de sua mãezinha. Chenle suspirou e deu meia volta nos calcanhares. Passou pelas vielas, vendo a casa de Renjun com algumas lamparinas já acesas. Seguiu brincando de chutar uma pedrinha até seu local favorito de ver o pôr-do-sol, um pequeno monte entre a sua residência e a dos Liu.

Sentou-se confortavelmente na grama baixa, permitindo que seus olhos vagassem tranquilos e sem rumo pelo teatro da criação, apresentando o espetáculo dos últimos revérberos solares.

E se imaginou ali. Hora como nuvem, hora como pássaro, via as primeiras estrelas e constelações surgirem. Imaginava os desenhos que estavam ali e tantos outros mistérios que poderiam envolver aquele véu escuro que surgia sempre que o astro-rei adormecia.

Estava bem consigo mesmo. Aquele era um momento seu.

Repensou em como tinha saído de sua antiga casa, numa viagem que, na época, achou completamente sem sentido. Por que o pai estaria tão feliz de ser mandado para o país vizinho? Por que ele precisaria aprender uma nova língua? Toda aquela narrativa de que haviam sido designados para ser o posto do príncipe no novo vilarejo não lhe entrava na cabeça.

A mãe, como era de costume, nem foi considerada digna de ter uma voz sobre o assunto. O pequeno lembrava de perguntar-lhe "Mamãe, você gosta disso?". Mas a resposta que recebeu foi-lhe evasiva demais para seu gosto. "É o trabalho do seu pai, querido. Nossa família deve ficar honrada." Na sua inocência de criança, ainda repetiu consigo mesmo: "Mas mamãe não está feliz."

Aprendeu devagar a entender o lado da progenitora. A mulher entregava tudo si na tentativa de tornar a família a melhor possível, o casamento o melhor possível. Ela lhe ensinou o verdadeiro sentido de "amor".

Quem consegue encontrar alguém assim, alguém a quem abraçar e com quem fechar os olhos para o mundo, é uma pessoa de sorte. Mesmo que dure apenas um minuto, ou um dia.

E era grato por isso, por ter tido a oportunidade de crescer com um exemplo de força. Não força bruta, mas força de determinação e merecimento, pois graças ao ambiente pacífico, foi a ele permitido viver em seu próprio mundinho.

É como se todo mundo contasse uma história sobre si mesmo, dentro de sua própria cabeça. Sempre. O tempo todo. Que te torna quem você é. Nós nos construímos a partir dessa história.

E Chenle sempre se enxergou como o protagonista.

 

 

 

 

 

 

 

 



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