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História Poesia para os Envenenados - A Night Of Mischief


Escrita por: UruDucky e Tae-Chim

Notas do Autor


Carol (UruDucky): Oiii amores <33 voltamos! Não vamos abandonar nem vocês nem nossa filha Poesia ASHIOJOALK Esse capítulo tá grande, né? É porque acontece bastante coisa. mas já que estamos atualizando uma, duas vezes por mês durante nossas aulas, tem que ser capítulo grande pra valer a pena, né não? Espero que gostem! <3

Alice (Tae-Chim): A gente demorou, mas pelo menos o capítulo veio recheado. Espero que gostem (:
Desculpem se tiver passado algum erro, e votem no MAMA.

Capítulo 3 - A Night Of Mischief


Fanfic / Fanfiction Poesia para os Envenenados - A Night Of Mischief

Durante toda sua vida Hoseok já havia passado por muitos lugares e encontrado os mais variados tipos de pessoas. Apesar de não ter tanto contato com demônios, a sensação que os seres decrépitos das sombras passavam não lhe era algo inédito, aquelas aparências grotescas, intimidadoras e inescrupulosas eram características que descreviam muito bem os próprios clientes humanos com os quais se deitava.

O ruivo seguia os passos de Suga, tendo Taehyung em seu encalço. Não sabia se olhava para os lados, pois tinha medo de acabar encontrando o olhar de alguém e isso servir de motivo para lhe arrancarem as tripas e usarem em algum ritual. Sim, os demônios e todos os seres que habitavam o mundo não eram criaturas muito fáceis de lidar, sendo na enorme maioria das vezes imprevisíveis, fosse uma fada, um gnomo; ou um humano.

Numa parada brusca de Suga, acabou por bater com o nariz em sua cabeça. O menor se virou para trás o encarando com uma expressão neutra.

― Fica calado, aqui qualquer coisa é motivo pra levar um tiro. ― Avisou recebendo como resposta apenas os olhos arregalados do outro. Logo atrás Taehyung parecia tranquilo, afinal, não era a primeira nem a última vez que ia a um mercado negro.

Diferentemente da humilde lojinha que entraram, o comércio escondido no fundo era bem mais despojado e arrumado, apesar da fraca iluminação complementando o forte cheiro de álcool, se assemelhava de fato a um bar onde vendedores iam oferecer suas armas e artefatos mais requintados, e os compradores iam procurar pela melhor oferta.

Os três passaram por algumas mesas nas quais demônios de nível mais baixo, humanos, elfos e anões bebiam e negociavam. Todos carregavam um semblante agressivo. Se aproximaram de uma mesa bem aos fundos, com um homem de capa e chapéu, sentado sozinho.

― Desejam alguma coisa? ― Perguntou o homem por sobre a barba grisalha, levantando o olhar para Suga que estava à frente do trio, mas sem desfazer a pose relaxada na cadeira.

― Tem algo para oferecer? ― O homem riu com a pergunta, cutucando o ouvido com o dedo mindinho. Taehyung reparou nas unhas longas e um pouco apodrecidas que a mão carregava, aquilo poderia embrulhar seu estômago.

― Eu é quem pergunto, rapaz. Você tem algo para me oferecer?

Hoseok intercalava o olhar entre Suga e o homem, sem entender aonde queriam chegar com aquele diálogo. O mafioso sabia o que estava fazendo, ou todas as pessoas desse meio precisavam fazer perguntas estranhas para chegarem a respostas mais estranhas ainda?

― Tenho dinheiro.

― É claro que tem. ― Deu um sorriso capcioso se ajeitando na cadeira, dando permissão para que os três se juntassem a sua mesa.

― Você trabalha com armas especiais? ― Indagou Taehyung. Hoseok até se espantou pois o outro desde que saíram de casa, não havia aberto a boca para falar uma palavra que fosse.

― Por suposto, meu jovem. ― O homem respondeu, levantando o chapéu sutilmente com as pontas dos dedos, revelando um par de pequenos chifres na cabeça, dando a entender que se tratava de um demônio, e não um humano, como Hoseok até então imaginava. ― Tenho de todos os tipos. Pistolas, rifles, granadas, metralhadoras, o que quiserem eu tenho.

Suga e Taehyung se entreolharam discretamente, como se já soubessem o que precisavam pedir.

― Queremos ver as pistolas e os rifles. ― Respondeu o mais velho.

O demônio assentiu e com um estalar de dedos fez surgir uma maleta preta, ao abri-la retirou 5 pares de pistolas. Cada uma tinha um design diferente, não se pareciam com as que os humanos usavam no dia-a-dia. Possuíam habilidades únicas que com apenas um tiro, dependendo do seu nível de encantamento, poderiam dizimar mais de dez criaturas.

― Alguma dessas é boa contra demônios, vampiros, esse tipo de coisa? ― Quis saber Suga passando o olho cuidadosamente em cada uma.

O demônio apontou para a prateada em frente à Hoseok.

― Essa prateada é banhada com energia branca, retirada diretamente do sangue de uma fada da luz. É tudo que um demônio mais odeia. Acredite, eu sei. ― Suga fez um bico apesar da risada profunda do homem, não sabia se estava satisfeito só com aquilo. ― Não se acham fadas por aqui, muito menos o sangue delas. ― O mafioso olhou para o demônio ainda desconfiado da autenticidade daquele componente mais do que raro.

― E aquela vermelha ali com escamas? ― O ruivo apontou para a que se encontrava em frente à Suga.

― Oh, esta daqui é revestida com couraça de dragão, à prova de fogo, as balas são de prata.

Taehyung deu um sorriso com a resposta, aquela seria a arma ideal para ele. O outro ruivo não acreditava no que ouvia. Fadas? Dragões? Como os dois mafiosos poderiam acreditar mesmo na história daquele demônio? Não era regra desconfiar daquelas criaturas?

Mal sabia ele que Suga não acreditava muito naquilo, por suas próprias questões, ao contrário de Taehyung que acreditava até em Papai Noel, se este de fato não fosse um mito.

― Tudo bem, vamos querer as duas pistolas. Agora os rifles. ― Suga sempre falava de um modo impaciente, mas como ele era o cliente ali, e estava disposto a pagar o que fosse necessário, o vendedor não se incomodou, prontamente fazendo surgir uma nova maleta na mesa.

Os dois analisaram todas as opções que tinham, acabaram por escolher uma AWP que possuía uma pedra da lua, deixando-a capaz de combater criaturas das mais perigosas, como um vampiro ou um Chort. Contudo eles esperavam nunca se deparar com uma besta em que precisariam usar aquilo, mas por via de precaução, era sempre bom ter uma arma potente em mãos.

Suga pagou ao demônio todas as compras, cédula por cédula. O outro ficou contente com a venda, sua maior da noite.

Os três se levantaram da mesa e se preparam para partir, levando as armas da maneira mais discreta possível. Suga com as suas pistolas prateadas escondidas no coldre abaixo da jaqueta, assim como Taehyung com as suas armas escarlates, mas ainda carregando a AWP, afinal eles obviamente nunca confiariam uma arma daquelas à Hoseok, este que entrou mudo e saiu calado daquele barzinho que de inho não tinha nada.

Já passavam das 5 da manhã quando retornaram ao apartamento, cansados e sonolentos por demais. O apartamento além de luxuoso, era espaçoso e possuía três quartos, todos devidamente decorados e mobiliados. Todavia, somente dois deles seriam usados. Um seria o de Suga, o outro o de Taehyung, e o terceiro ficaria trancado.

― E onde eu vou ficar? ― Questionou Hoseok cruzando os braços indignado, não se via na posição de exigir nada ali, e de fato não estava, apenas gostaria de saber se seria melhor dormir no chão da cozinha, no do banheiro, ou no da sala.

― Pode ficar no quartinho de empregada... se você couber nele. ― Suga deu uma risada sarcástica dando as costas para o ruivo que nada respondeu, vendo-o levar as armas para o quarto no qual ficaria. Se pudesse, pegaria uma vassoura e enfiaria na bunda do mafioso, esse era o maior desejo do Jung naquele momento. Não aguentava mais ouvir as risadas desdenhosas e xingamentos do outro, e isso porque só estavam juntos há um dia. Mas uma vassoura comparada a duas pistolas com sangue de fada? Não parecia uma escolha sábia. Apesar de não saber o quão forte era aquele componente mágico, sabia que decerto uma reles vassoura não seria nada em comparação. Então preferiu se manter quieto para sobreviver mais um dia, como fizera sempre em sua vida. ― Nem pense em tentar fugir, pois o meu sono é leve, não vou ter pena de inaugurar minhas pistolas novas em você.

O dia passou, mas os habitantes do apartamento de luxo só foram despertar depois das 18 horas. Suga se espreguiçou na sua cama confortável e cheirosa, e tomou um susto ao ver Taehyung sentado ao seu lado no chão.

― O-o que faz aqui? ― Sentou-se vendo aqueles enormes olhos tristonhos voltados para si. ― O que foi? O que houve?

― É que não tem nada pra comer aqui... ― respondeu com a voz manhosa subindo na cama. ― Por que não avisou que não tinha nada na dispensa? Poderíamos ter passado no mercado para comprar algum lanchinho.

― E como eu ia adivinhar, hein? Eu só comprei o apartamento, nunca estive aqui para ter que fazer compras.

Taehyung fez um bico e deixou o tronco cair no colchão. Levantou um pouco a blusa passando a mão sobre a barriga, que estava vazia o suficiente para ser possível ouvir os roncos de seu estômago implorando pelo mínimo de alimento possível.

Suga odiava quando o mais novo ficava de manha, agindo feito um bebê, afinal ele era um adulto, e um homem. Contudo deixaria o sermão passar, também estava faminto, e só percebera isso agora que havia finalmente dormido em paz feito gente. Com o cansaço e a adrenalina da viagem, não havia se dado conta do quão desgastados estavam.

― Tá bom, vamos comprar algumas coisas.

O mais novo imediatamente se levantou com um sorriso quadrado no rosto, e como uma criança foi embora saltitando do quarto, já para preparar e sair atrás de comida.

Hoseok já havia acordado mais cedo, mas como não tinha muito o que fazer, preferiu ficar no sofá da sala esperando que algum dia os mafiosos acordassem e resolvessem qual seria a loucura da vez. Deu graças aos deuses quando os dois finalmente saíram do quarto.

― Vão sair? ― Perguntou ainda sentado no sofá, com o queixo sobre as costas do mesmo, vendo ambos colocarem as jaquetas e calçarem os sapatos.

― Estamos indo comprar comida. ― Respondeu Tae com certa simpatia. Estava tão feliz que iria comer, nem se lembrava do seu dever de ser o menos amigável possível com o ruivo intruso.

― Mas nós já voltamos, não pense em fazer nada, nem sair daqui. Quando voltarmos, quero te ver sentado aí nesse sofá. ― Suga, como sempre, foi o mais grosso possível, embora o aviso tivesse entrado por um ouvido e saído pelo outro.

Ao baterem a porta, o ruivo adornou um bico nos lábios.

― Quem aquele pintor de rodapé pensa que é pra me obrigar a ficar preso dentro de casa?

Suspirou pesado, jogando os braços ao lado do corpo. Finalmente, estava sozinho, e pôde parar para refletir o que estava acontecendo em sua vida. O semblante triste fazia transbordar sua insatisfação, e talvez também uma ponta de desespero. Não poderia simplesmente ficar ali sentado fazendo absolutamente nada, afinal, não sabia durante quanto tempo estaria sob o teto dos dois – agora ex – mafiosos.

Precisava conseguir dinheiro, temia que o acesso às suas economias tivesse sido rastreado ou bloqueado pelo pai, Jung Jaesung. Sim, Hoseok era filho mais novo de Jung, chefe do tráfico de drogas de Ahkia, a capital do país. Aquilo fora o suficiente para tornar sua vida – e dizia com suavidade – O próprio inferno. Ele nunca soube explicar porque o pai o odiava tanto, não compreendia, como pode alguém nutrir esse tipo de sentimento maldito por um bebê, fruto seu? Apenas se lembrava que desde pequeno, a sombra do pai – que raramente o olhava nos olhos – era escura e opressora demais para que pudesse suportar. Dificilmente se encontrava com o mesmo, quando o fazia, preferia não tê-lo feito. Um arrepio subiu por sua coluna somente com a recordação do olhar fundo e opaco de Jaesung, ah, ele certamente gostaria de nunca mais vê-lo, isso seria ótimo para sua saúde mental.

Com um suspiro pesado afastou as memórias negativas de sua mente, agora não era momento para se lamentar por ter um pai carrasco, afinal, já tinha idade o suficiente para ter se conformado com a vida que tinha, ou ao menos, isso era o que dizia para si mesmo sempre que era obrigado pela realidade a aceitar o peso da mesma. Levantou-se e correu os dedos por seus fios acobreados, andando a passos lentos pelo apartamento tentando avistar alguma saída, uma vez que aquele ET de varginha chamado Suga havia trancado a porta e levado as chaves consigo.

Levantou-se do sofá disposto a sair daquele apartamento. Não pensava em fugir para sempre, afinal, era muito provável que morreria mais rápido na rua do que com aqueles dois malucos, mas também não ficaria dependente das migalhas de dois desconhecidos, se é que seria digno de receber migalhas dos mesmos. Pegou a jaqueta e a carteira, seus únicos pertences, e ponderou por um momento. A porta estava trancada, mas qualquer prédio que se prezava, deveria ter uma saída de emergência.

Abriu uma das janelas da sala e debruçou o corpo para fora, avistando uma escadaria de incêndio que o levaria até o chão. Bingo! Bom, seria um tanto arriscado tentar se pendurar com metade de seu corpo para fora da janela na tentativa de alcançá-la, mas Hoseok nunca foi um homem de desistir de seus objetivos facilmente. Era obstinado até demais, e já havia percebido o quão em comum tinha aquele traço com Suga, só esperava que isso não causasse muito atrito entre os dois – porém tinha certeza de que causaria.

Pegou sua carteira, inspirou profundamente tomando coragem, e colocou a perna esquerda para fora da janela, sentando sobre o peitoril.

– Não olha pra baixo, Hoseok, não olha pra baixo. – E olhou. Um grito escapou de seus lábios, agarrou com firmeza na parede.– Ai meu paizinho pai de ciço. – Respirou rapidamente pondo seu corpo ainda mais para o lado de fora, esticando seu braço o máximo que podia até finalmente segurar a barra enferrujada da escada de incêndio. – Isso Hoseok, você consegue. Não esquece que você tem que se virar. – Riu sem humor.

Em uma manobra extremamente arriscada, fez com que seu braço sustentasse o peso de seu corpo e se jogou em direção a sua ponte para a liberdade. Se os vizinhos ouviram os gritos que deu no processo? Com certeza. Contudo ninguém apareceu para bisbilhotar, aquela cidade era deveras estranha, pensou após terminar de se jogar para o outro lado e estar sobre solo seguro. Sorriu para si mesmo com a mão sobre o peito, estava orgulhoso de seu feito.

Desceu em passos rápidos até que finalmente estava à beira da rua. Seu sentimento era de apreensão, sim ele escolheria essa palavra, era boa o suficiente para disfarçar o medo que corria por suas veias. O lugar era mesmo desagradável, aquela era para ser uma área nobre, não era? A julgar pelo tamanho do apartamento que havia acabado de sair. Entretanto, o muro alto que acompanhava o pavimento estava completamente pichado, os postes de luz muitos apagados e tortos. A cada passo dado Hoseok desistia da ideia de ir trabalhar por aquele lugar desconhecido e bizarro. Afinal, apesar de ser prostituto – odiava o peso da palavra –, só atendia clientes que conhecia, e costumava mantê-los por um longo período de tempo. Achava mais seguro e lucrativo desse modo. Assim que se virou para voltar ao apartamento, avistou um carro estilo sedã, negro de aparência razoavelmente cara. Seu coração disparou, mas lembrou a si mesmo da importância de conseguir o dinheiro para se manter, estava agora sem casa, sem dinheiro, sem cidade. O vidro do veículo se abriu e um homem grisalho, de aparência minimamente alinhada o encarou.

– Cobra quanto pela noite? Serviço completo. – A voz grave atingiu seus ouvidos, e Hoseok suspirou pesado, de certa forma, estava aliviado por ser de fato um cliente e não algum sequestrador relâmpago. Mas como que o homem já chegou fazendo essa pergunta? Se fosse qualquer outro iria se ofender, será que ele tira cara de piranha?

– Duzentos e sessenta. - Respondeu frio, jogou o preço um pouco mais acima do que esperava receber naquele lugar degradado.

– Tá achando que é quem hein, putinha de esquina? - Filho da puta. Bom, não deveria ficar muito enraivecido, afinal era o que o definia de qualquer maneira.

– Duzentos. Por menos que isso só faço boquete. - O homem grunhiu e pareceu pensar por um segundo. Abriu a porta do carro sem dizer uma palavra, finalmente aquele bastardo barato havia aceitado a oferta.

O caminho até o motel mais próximo foi curto, e Hoseok se sentia enojado, contudo a visão que teve do tipo de gente que perambulava naquelas ruas na noite o faziam agradecer pelo homem ao seu lado ter todos os dentes na boca.

Desceram do carro e entraram no local, o recepcionista barrigudo lhes entregou uma chave enquanto fumava um cigarro barato, dando uma olhada longa no corpo de Hoseok enquanto o mesmo seguia em direção às escadas. O local tinha uma péssima iluminação, a madeira das paredes estava manchada e apodrecida, onde diabos ele havia se metido? Balançou a cabeça em negação e se desfez de tais pensamentos. Ambos adentraram o quarto e o homem ao seu lado prontamente se pôs a retirar os sapatos e logo abriu o cinto.

– Mas já? – O ruivo sabia que não deveria ter feito uma pergunta estúpida como aquela, é claro que seria daquele jeito, afinal ele não passava de um objeto.

– Tá querendo que eu te dê uns beijinhos antes, princesa? - Riu em escárnio, terminando de retirar o resto da roupa, andou rapidamente em direção ao ruivo e arrancou suas roupas com certa violência. Hoseok fechou os olhos e respirou fundo, tentando esvaziar sua mente e nublar seus sentidos para suportar o que viria a seguir.

[...]

O homem já vestido sentado na cama de casal fumava um cigarro, sustentando um olhar duro, de sobrancelhas arqueadas, assim como estivera desde o momento em que encontrou Hoseok.

– Quanto que era mesmo? – Perguntou apagando o cigarro na parede e jogando a guimba no chão sem nenhum esmero.

– Duzentos. Serviço completo. – O ruivo estava deitado na cama ainda meio mole, despido.

– Hm. Sabe que eu acho que não mereceu tudo isso não? – Suas palavras foram como estacas de gelo no coração de Hoseok, será que o desgraçado iria tentar sair sem pagar? Ah, mas nunca que iria permitir, nem sob seu cadáver.

– Olha, eu acho que mereço muito mais. Mas opiniões são como bundas, não é mesmo? Cada um com a sua.

– Dizem que o cliente sempre tem a razão, então, toma aqui o merecido. – Com um sorriso sínico estendeu uma nota de vinte na direção do ruivo.

– Ah, mas você só pode estar brincando. – Riu em escárnio, nunca havia passado por tal situação, não sabia lutar, não carregava armas, como faria para receber seu dinheiro? Estava inconformado. – Se você acha que vou receber só vinte Drakmas por ter chupado esse teu pau seboso está muito enganado.

– É mesmo, princesa? E vai fazer o que, me dar o cu mais um pouquinho até eu mudar de ideia? – Essa fora a gota d'Água, Hoseok estava prestes a quebrar o jarro de flores que se apoiava no criado-mudo na cabeça do outro quando teve uma ideia melhor.

– Se fosse você, pensava duas vezes antes de falar como um porco comigo. Não sei se já passou por essa sua cabeça miúda que prostitutos andam com todo tipo de gente… eles têm contatos. – Ameaçou olhando diretamente nos olhos do outro, certa ferocidade pôde ser sentida em suas palavras, a raiva transparecendo através da pele, o homem pareceu hesitar. – Já ouviu falar do nome “Suga”? É familiar pra você? – Apostou na única carta que tinha, para falar a verdade, não conhecia muitas pessoas perigosas, não gostava de lidar com elas. Suga não precisava ficar sabendo desse episódio.

– S-suga? O que disse?

– Uhum, isso mesmo que você ouviu, pelo visto conhece. Que bom, irá me poupar esforços. – Uma onda de alívio o percorreu, seu blefe havia dado certo, graças aos deuses.

– E o que você tem com ele?

– Não lhe interessa, mas é íntimo o suficiente para que leve uma bala na cabeça daqui a dois dias se não pagar o que me deve. – Mentiu, com gosto.

– Se você quer tanto sua migalha, toma essa merda logo, puta. – Com isso o homem pegou as notas na carteira e as despejou em cima de Hoseok, saindo do quarto em um rompante.

Se aquilo fez o ruivo se sentir melhor, ou orgulhoso de si mesmo? Definitivamente não. Talvez um pouco mais aliviado, tendo o nervoso do momento passado. Mas foi deixado com um sentimento terrível, que o acertava em seu âmago dez vezes mais forte do que em todas as outras vezes as quais se prostituiu. Estava sujo, marcado, não somente em seu corpo, mas em sua alma, e não importava quantos banhos tomasse não conseguiria se livrar daquela imundice.

[...]

– Mais uma rodada para meus camaradas! – E urros puderam ser ouvidos em todo o bar, em agradecimento ao forasteiro de cabelos negros e jaqueta de couro que pagava a segunda rodada de bebidas para todos no bar.

– Suga, toma cuidado, a gente não pode chamar atenção! – Taehyung não podia acreditar que estava sendo o sensato daquela vez. O Min tendia a fica estranhamente caridoso quando tomado pelo álcool. – E você não acha que a carne vai estragar se a gente ficar demorando aqui? –Apontou para as várias sacolas de mercado apoiadas nos pés dos bancos altos que estavam sentados.

– Relaxa Tae, estamos à quilômetros daquele pau de vira tripa do Jung Jaesung, além disso ninguém aqui sabe meu nome, não tem problema pagar algumas geladas pros meus camaradas! – E uma nova onda de urros e canecas sendo erguidas seguiram o final da frase do moreno que foi dita em um tom alto, justo para que ouvissem.  – E essas carnes tão com tanto sal que é mais fácil fazer a gente ter um derrame quando comer do que elas estragarem. Mas afinal o que deu em você TaeTae, cadê a caneca cheia do meu dongsaeng? – Emendou uma frase na outra, um pouco emboladas.

–  Eu não estou muito afim de beber hoje... Passo. – O rosto sorridente de Dawon brotou em sua mente, a perda da moça era recente demais para que pudesse simplesmente se divertir por aí e ficar bêbado novamente, estava com medo de sair de seu juízo completo.

– O que é isso Taehyung? Olha... – Apoiou uma das mãos em seu ombro e olhou fixo nos olhos, um arrepio percorreu o ruivo que engoliu em seco, não costumava sustentar o olhar do outro tão de perto. Enrubesceu, felizmente para si não fora descoberto. – Eu sei que você ainda tá bolado com o que aconteceu com a garota, mas ela era doida, não foi sua culpa. Eu sei que posso falar que foi de vez em quando, porque você também teve sua parcela de burrice, nunca que eu teria deixado a– Olhou para o lado e sacudiu a cabeça de repente, havia perdido o foco do assunto, maldita bebida. – Enfim, ela era maluca e deu no que deu. Eu também seria maluco se fosse filho do Jung. Olha só, deve ser por isso que o doido do Hoseok se jogou dentro do carro, de repente tudo faz sentido. – Parou por um momento, pondo as duas mãos nos ombros de seu amigo, numa espécie de drama excessivo enquanto disse as palavras de maneira lenta e assertiva. – Você pode beber até cair. Eu te levo pra casa, te ponho na cama, o serviço completo.

­– Hyung... – Não podia negar que estava um pouco emocionado, afinal, qualquer carinho que o mais velho dirigia a si enchia seu peito de alegria, mesmo que muitas vezes fosse uma alegria agridoce. Sabia que não podia fazer nenhum movimento em falso, ou agir carinhoso demais, certamente Suga se afastaria sem pensar duas vezes, isso se não o jogasse na rua alegando não querer conviver com algum viado tarado. – Ok... – Suspirou. – Mas só um pouquinho, ok? Só porque é você quem tá insistindo.

– Eu sabia que meu ruivinho ia ceder às coisas boas da vida! – Riu alto, fazendo um breve carinho nos cabelos de Taehyung, seus olhos diziam “Bom garoto!”. É, se fosse por aquilo, Taehyung beberia um barril inteiro de cerveja. Tio Tin não havia lhe ensinado a ser tão otário, pensou se censurando.

E beberam em meio à risadas e conversas de bêbado, logicamente Taehyung não parou depois de um caneco, ou dois, ou três. Quanto mais se embriagava, mais ficava inconsequente e mais queria se embriagar. Até que um homem de bigode curvado para cima e músculos aparentes na camisa apertada demais disse o que Suga havia esperado a noite inteira para ouvir.

– Ei, compadre, por que não se junta a nós para uma partidinha de pôquer? – O moreno não tentou mas não conseguia conter o sorriso que teimava em surgir em sua face.

– Mas é claro, meu amigo! Separe minha cadeira e meu Whisky, por favor. ­– Puxou Taehyung em direção à mesa circular onde cerca de seis homens razoavelmente bem vestidos, com calças sociais e coletes, estavam sentados fumando seus charutos e conversando por entre os goles de cachaça. – Taehyung, abre bem essa tua orelha de Dumbo e põe ela pra serventia. Eu vou te mostrar como que se faz para conseguir comprar um Rolls-Royce em uma rodada. – Sorriu triunfante e se sentou à mesa, tirando sua jaqueta e jogando-a na cabeça do ruivo, que permaneceu em pé ao seu lado como observador, junto de mais alguns curiosos.

A mesa estava posta, o Croupier distribuía as cartas e fichas para todos ali, e como a fumaça dos charutos fumados, os sorrisos se desfizeram no ar. Não havia resquício algum de expressão no rosto dos participantes outrora tão alegres. A tensão começou a pairar pelo ar, era sentida até mesmo pelos observadores, não era a primeira vez de Taehyung observando uma partida do jogo, mas novamente se encontrou surpreso pelos milhares de Drakmas que cada ficha valia. Volta e meia seus olhos pairavam sobre o rosto de Suga, e se tinha algo em que o moreno deveria ganhar um prêmio por, era ter um rosto inexpressivo, aquilo não era esforço nenhum para o homem. Bom, tornava seus sorrisos bem mais especiais, não deixou de pensar o ruivo.

– Aposta aumentada para 100 mil, alguém cobre? – Disse o Croupier, organizador do jogo.

– Eu cubro. ­­– Um dos homens deu um gole em seu Whisky e empurrou uma quantia de mais 50 mil para a mesa, pelos cálculos de Taehyung, completando os cem mil necessários para que não fosse excluído da partida. O apostador era deveras atraente, possuía uma beleza predatória em si, com seus cabelos castanhos sobre a testa e olhos felinos. Se o ruivo não tivesse prometido se comportar certamente não tardaria em sair da seca, afinal com Suga só lhe restava admirar, e ninguém em plena juventude vive por muito tempo somente de admiração. ­– Alguém mais?

Alguns dos participantes se entreolharam e pareciam estáticos, até que um breve gargalhar, quase de escárnio escapou de um dos lábios.

– Não só cubro, como aumento. – E Yoongi deslocou fichas no valor de mais 300 mil para a mesa, fazendo com que os outros jogadores fechassem suas expressões em uma fúria contida. Em contrapartida, os observadores gritaram animados, atraindo ainda mais pessoas para entorno da mesa. Havia certamente mais de um milhão de Drakmas dispostos sobre a mesa, prontos para serem tomados pelo jogador com a melhor combinação de cartas na mão.

Alguns dos homens fugiram da partida, já amargurados da quantia que perderam ao desistir da rodada, porém temiam perder ainda mais, afinal, se o moreno baixinho havia apostado com tamanha coragem, certamente teria cartas muito boas em mãos. Suga estava certo de que com aquela última aposta retiraria todos da mesa ou ao menos pudesse finalmente revelar suas ótimas cartas – cartas essas que ele havia trocado com algumas em suas botas enquanto nenhum olhar estava sobre o mesmo. – acabando com a rodada.

Porém seu orgulho foi ferido quando um dos participantes, o mesmo de momentos atrás, encarou-o bem nos olhos e disse com um sorriso no canto dos lábios.

– Pode desfazer essa pose toda tampinha. – E a pose de Yoongi de fato se desfez, já que seu queixo quase parou no seu pé quando o homem empurrou todas as fichas que tinha para a mesa. ­– All in. – Impossível. Aquele homem não poderia estar apostando tudo que tinha. Agora, ou Suga também apostava tudo, ou perderia os mais de 500 mil que havia jogado até agora. Era arriscado demais, e pela primeira vez em anos não sabia que decisão tomar em um jogo. Mas se ele apostasse tudo, e perdesse? Sua mão era impecável, quadra de ás, uma das melhores do jogo.  Contudo, algo nos olhos divertidos do seu oponente o fazia hesitar. Ele escondia algo, disso tinha certeza. Mas não poderia fugir àquela altura do jogo, não perderia seus 500 mil Drakmas.

– Que se foda. All in. – Empurrou todo o restante das suas fichas para o centro da mesa, o sorriso do outro se alargou. Merda.

– Podem revelar suas cartas.

Min abaixou sua mão as vistas de todos, uma quadra de ás, como bem sabia. Não teve tempo nem para pedir a graça de algum deus e o outro abaixou a sua, um Royal Straight Flush. Simplesmente a maior combinação do Pôquer. Uma sequência de ás, Rei, Rainha, Valete e Dez, todas do mesmo naipe.

Suga nem ao menos se moveu, todos os observadores gritavam e faziam um escarcéu. Taehyung encarava igualmente embasbacado enquanto o vencedor recolhia todas as fichas e as entregava ao Croupier, esperando a quantia cair em sua conta. Ah, mas aquilo não ficaria assim, não mesmo, era impossível para Yoongi perder justo no pôquer, ele tinha certeza que havia sido trapaceado, e com o álcool lhe privando de todo seu juízo, levantou em um rompante e gritou com o dedo apontado na direção do de cabelos castanhos.

– Ele trapaceou! Eu tenho certeza, olhem as roupas dele! – Todos os olhares se viraram em sua direção, alguns de pena, a maioria curiosos, instigados por um possível barraco. O acusado riu, abrindo os braços, como se pedisse para que fosse investigado, blefava até nisso, pensou o ex-mafioso.

– Ele tá limpo. – O Croupier revelou após apalpar o homem. – Agora você, Senhor, como o acusou com tanta certeza? Está escondendo algo?

– Eu não estou escondendo merda nenhuma, e pra ele ganhar assim roubou, e digo mais, você está de conivência com ele! – Oh não, Suga estava indo longe demais. Taehyung segurou o amigo pelo braço em uma tentativa de puxá-lo dali, contudo percebeu que estavam cercados por alguns homens muito altos e musculosos, lhes encarando com uma expressão sádica.

– Ei, mermão, tu não pode acusar o Jeremias assim, ele é mais honesto que minha santa mãezinha, Deus a tenha. – Um dos homens, tatuado dos pés à cabeça falou agressivo enquanto estalava os dedos e se aproximava. Todavia, antes que Suga pudesse tirar suas pistolas do coldre mais dois sujeitos pularam sobre ele e lhe imobilizou no chão. Um terceiro fez o mesmo com Taehyung, eles eram espertos.

– Me soltem, seus imundos! – O moreno se debatia. Taehyung tentava encontrar seus olhos para lhe mandar calar a boca silenciosamente, mas falhou. Seu coração se apertou em raiva quando o outro recebeu um chute na cabeça, fazendo-lhe sangrar imediatamente.

– Deixem a gente em paz! Perdoem meu amigo, ele está bêbado! – O ruivo gritou, mas era em vão, os brutamontes já estavam a despir Suga afim de revistá-lo atrás de provas de trapaça, dessa maneira poderiam espancá-lo com a consciência limpa.

De súbito, como um anjo descido do céu, o mesmo acastanhado que havia lhe vencido adentrou o círculo com a mão estendida em um sinal para que parassem.

– Obrigado pela defesa, pessoal, mas não me senti ofendido pelas palavras do meu querido oponente. Bêbado quando perde é assim mesmo.

– É o que, seu trapaceiro de araque?! Não preciso da tua ajuda não, desgraçado! – Suga devia estar louco, se Taehyung pudesse lhe daria uma bicuda ele mesmo. Felizmente o outro pareceu achar graça das palavras e insistiu na ajuda.

– Vamos, pessoal, eu pago umas rodadas de bebidas para todo mundo se forem se divertir e me deixarem me acertar aqui eu mesmo.

Sem nem pensar duas vezes todos se dissiparam, afinal, uma cachacinha valia mais que socos num qualquer. Os mafiosos se levantaram e Taehyung se apressou em agradecer o mais alto.

– Muito obrigado, certamente salvou nossas vidas! – O ruivo fez uma reverência que foi aceita com agrado.

– Não foi nada, rapaz. Eu não gosto muito de brigas, sabe? Foi um bom jogo afinal. – Estendeu a mão para Suga que não a apertou, cuspindo sangue no chão. Taehyung estava pronto para se desculpar, contudo o moreno resolveu se lembrar do mínimo de educação que sua mãe lhe deu.

– É, foi um bom jogo. Tô te devendo uma. Mas vem cá, só entre nós, tu trapaceou não trapaceou? – Tae teve que rir, Suga era persistente como um maldito demônio. O acastanhado novamente pareceu achar graça, e balançou a cabeça para os lados, como quem lidava com um caso perdido.

– Qual seu nome, tampinha?

– Minha mão na tua cara, abusado.

– Ele é Suga, me chamo V. – O outro o olhou com os olhos em brasa, não poderia ter revelado seus nomes. Mas para Taehyung não havia problema algum, algo em si lhe dizia que o homem guardaria aquilo para si mesmo.

– Sou Kim Seokjin. Muito prazer.

[...]

Depois de mil e uma tentativas falhas de abrir a enorme porta de madeira maciça do apartamento, a mesma finalmente se destrancou após travar uma enorme briga com a chave que não encontrava a fechadura. Finalmente passagem foi dada para a dupla de bêbados que mal se aguentavam em pé. Desde que tiveram suas peles salvas por Kim Seokjin, beberam em comemoração até chegar em casa, o acastanhado havia até mesmo devolvido uma parcela do dinheiro que Yoongi perdera alegando não querer que o outro partisse chateado de uma partida tão boa. Apoiados um no outro, seguravam as sacolas de compras — Certamente sem nada inteiro ali, não sabiam nem como haviam as achado antes de rumarem à casa.

Taehyung largou três das que segurava num canto qualquer da sala, caindo sentado no chão para o lado oposto aos alimentos esparramados, rindo, bobo, aquilo lhe parecia engraçado e o seu corpo simplesmente reagia assim. Há muito esquecera da sua promessa de se controlar naquela noite.

Suga ainda em pé, e levemente mais controlado, ria da cena, colocando a sua única sacolinha num canto de modo a não atrapalhar a passagem.

Era sempre assim. Os dois bebiam a noite toda, mas Taehyung era o mais fraco para esse tipo de atividade, cabendo ao mais velho ficar de olho para que não fizesse nenhuma besteira com os outros e nem consigo mesmo. Em uma das últimas vezes que saíram para beber juntos, ainda em Ahkia – cidade a qual haviam fugido –, Yoongi se deu ao luxo de desviar a atenção do ruivo por cinco minutos, e quando deu por si, o outro já estava pendurado no lustre do bar. Não precisa ser um gênio para adivinhar que aquilo não acabaria bem. Sim, os fios não suportaram o seu peso e Taehyung caiu com lustre e tudo em cima de várias mesas e cadeiras, espatifando os móveis para todos os lados. Por sorte não havia nenhum cliente sentado, uma vez que todos estavam de pé assistindo à travessura.  Ganharam um prejuízo que doeu no bolso dos dois por meses e o mais velho ainda teve que negociar com o dono do local para não arrancarem a cabeça do amigo fora, mas em troca, eles nunca mais voltariam ali.

Pois bem, lá estavam os dois juntos novamente. Não que fizesse tempo desde a última vez em que saíram juntos para se divertir, mas toda essa fuga e adrenalina fez por um momento Suga pensar que jamais teria alguma memória boa com o mais novo outra vez. E se aquela fosse a última? Sacudiu a cabeça afastando os pensamentos negativos, embora já não estivesse mais tão sóbrio para pensar com clareza ― afinal de contas, havia bebido uma garrafa de cachaça inteira sozinho, somente do bar até o apartamento ―, a sua resistência era forte. Uma das poucas coisas boas que herdou de sua família, contudo não era imune ao álcool, longe disso.

Buscando a lucidez que não tinha, junto das forças quase inexistentes, puxou Taehyung do chão o fazendo levantar. Eles tinham um apartamento imenso e confortável, não iria deixar o mais novo largado no chão como um qualquer.

— Não quero tomar banho... — Taehyung falou embolado e arrastado, envolvendo os braços pelo pescoço do Min, este nem sequer cogitava aquela hipótese. Até parece que iria dar banho num marmanjo de 21 anos.

— Você vai dormir... É isso... — Respondeu igualmente ao mais novo, tentando empurrá-lo até o quarto, mas quem disse que Taehyung queria ir? Agarrou-se na maçaneta da porta do quarto de Suga, a abrindo, e os dois acabaram por adentrar o cômodo. — Aí não, Tae... Arg!

Suga tentava a todo custo levar o outro para seu devido quarto, no entanto Taehyung ria e se agarrava ao mais velho que por pouco não tinha a robustez para sustentar os dois em pé. Se aproveitando desse desequilíbrio, o ruivo o empurrou para trás, o jogando na cama.

O moreno olhava para o teto que agora parecia girar um pouco. Tantas movimentações desnecessárias faziam a sua cabeça virar uma bagunça, por mais que ainda tivesse seus resquícios de lucidez vez ou outra. Logo a imagem do teto giratório foi substituída pela face do mais novo, havia subido na cama ficando sobre o seu corpo.

Taehyung tinha um sorriso bobo nos lábios, os olhos brilhosos, parecia estar em outro planeta. Suga o encarava de volta, esperando que caísse logo em cima de si adormecido pela bebedeira, mas pelo contrário, ele estava bem acordado, apesar do corpo já não estar mais em seus plenos atos de consciência. No seu cérebro agora quem estava no comando não era mais o seu Ego, e sim o ID, campo responsável pelos desejos e prazeres guardados no fundo de nosso inconsciente. E eram nessas horas que o ruivo conseguia liberar o que guardava nas entranhas do seu ser.

Ao mesmo tempo que não tinha controle dos próprios atos não entendendo porque tudo parecia engraçado, sabia exatamente o que queria. Os olhos se esforçavam para manter o foco fixo no rosto de Suga, tão sereno e neutro, ansiando para saber o que diabos se passava na cabeça do amigo naquele estado tão ébrio.

O sorriso que antes parecia o de uma criança sapeca e indomável, agora diminuíra, transformando a expressão de Taehyung num misto de imprecisão e sisudez. Suga estranhou a mudança repentina, juntou as sobrancelhas em resultado da inquietude que sentia por ter aqueles olhos já tão vermelhos fixados em si.

— Tae? —Chamou baixinho um pouco impaciente, sem saber o que o outro queria com aquilo.

Mas o que Taehyung queria? A resposta era simples; e estava logo abaixo de si.

O Kim desde muito cedo já sabia da sua orientação sexual, e isso só se firmou após começar a trabalhar como um mafioso, no qual tivera contato com todos os tipos de pessoas, e não mais apenas com os seus parentes na cidade vazia e pequena onde morava.

O grande X da questão era por quem o seu coração batia, e batia justamente por Suga, aquele por quem se encantou logo nos primeiros dias de convivência. O mais velho não era um simples indivíduo que apareceu do nada e lhe ofereceu emprego, o moreno simplesmente mudou toda a sua vida. Lhe fez abrir os olhos para muitas experiências, como o próprio mundo em volta de si. Taehyung era grato, mas principalmente, apaixonado. Mesmo com o jeitinho bruto e impaciente, ele aceitava os defeitos do amigo por achar que suas qualidades eram o suficiente para sobreporem certos detalhes. Talvez fosse uma das poucas, senão a única, a conhecer os lados bons do Min, diferente de seus inimigos, que só conheciam o seu sorriso impiedoso e suas armas carregadas sempre prontas para serem disparadas.

Todavia, era por conhecer tantas facetas do mais velho, que sabia a impossibilidade de tentar algo com o mesmo. Sabia que revelar os seus sentimentos era arriscado, e por amar demais o outro, não queria que se afastassem, ou pior, que nunca mais se falassem ou criassem uma inimizade. Taehyung resolveu pegar todo aquele sentimento aflorado e guardar para si bem lá no fundo do coração, até se esquecer do que sentia e entender que jamais poderia ser algo mais além do que um amigo para Suga.

E era por tanto reprimir o seu amor, que agora estava ali. Encarando o Min com o mais puro desejo e desespero, quase como um animal apreciando a presa, mesmo sabendo que aquela poderia lhe fazer mal.

Quando seus instintos tomaram conta de vez, deixou que a cabeça pendesse para frente, aproximando lentamente os rostos quentes, misturando o bafo de álcool das respirações que se entrecortavam, levando os lábios até o pescoço branco e suado, depositando um delicado selar na região.

Suga imediatamente estremeceu da ponta dos pés à cabeça. Podia sentir o choque percorrer sua espinha, e fazê-lo ficar sem reação por alguns segundos que pareceram durar milênios em sua mente conturbada. Sentiu novamente o toque dos lábios molhados lhe beijarem agora com mais avidez o pescoço, região tão sensível que lhe causava certa aflição. Pensou por um instante que o mais novo estava brincando, afinal, alguns bêbados tinham personalidade própria. Entretanto percebeu a seriedade do momento quando as mãos de Taehyung passaram a percorrer seu corpo, entrando por debaixo de sua blusa buscando mais contato na ânsia de matar aquele desejo que o mais velho sequer imaginava que existia.

Um pane se deu na mente do mais velho. O que era aquilo? Taehyung o estava agarrando, justo ele, um homem? Se sentia traído pelo amigo e pelo próprio corpo. Estava achando tão gostoso como os lábios macios do outro chupavam seu pescoço, que nos primeiros toques da boca de Taehyung em si, perguntou-se se estava com uma mulher. Se estava tão louco a ponto de ter se esquecido que estava com alguma garota do bar. Mas não, não estava tão louco assim, aquele era Taehyung, o seu cabelo vermelho mesmo no escuro era inconfundível.

Ao chegar à conclusão de que de fato tinha o Kim sobre si lhe beijando e acariciando, tratou de afastá-lo brutalmente, empurrando-o de cima de si e lhe desferindo um soco na face, forte o suficiente para o ruivo perder o equilíbrio e cair da cama.

— Que porra é essa, Taehyung?! — Esbravejou com a voz cortando a garganta em fúria. O mais novo sentado no chão com a mão na face nada respondeu, ainda desnorteado com o murro. — Tá maluco caralho? Tá me estranhando?! — Vociferou ainda mais alto, transmitindo toda sua repulsa por aquele contato que fora tão rápido, mas que rendeu questionamentos para uma vida inteira. — Sai daqui! Agora! — Apontou para a porta indicando que Taehyung se retirasse, porém o mesmo só continuava ali parado, incrédulo e assustado com o tom de voz do Min.

Puto e furioso como não estivera há muito tempo, pulou da cama e agarrou na gola da camisa de Taehyung, o arrastando de qualquer jeito para fora do quarto. Tinha vontade de gritar ainda mais para obter uma resposta que explicasse que merda havia sido aquilo, mas tudo que conseguiu fora o choro esganiçado de Taehyung, enxotado quase a ponta pés do quarto, ficando trancado do lado de fora para que não tentasse mais nenhuma gracinha.

— Yoongie... Me desculpa... — pediu em meio ao choro, as lágrimas grossas e salgadas molhando todo o seu rosto, se misturando na boca em frases desconexas num pedido desesperado de perdão.

Dentro do quarto, Suga se sentou na cama, apoiando as mãos na cabeça. Que porra foi aquela? Taehyung havia bebido cerveja ou mijo para fazer um absurdo daqueles? Suspirou fundo por um momento, podendo ouvir dali mesmo o choro baixinho do outro trancado do lado de fora, imaginava que o mesmo estava largado no chão e provavelmente ficaria por lá mesmo. Mas não iria sair dali, não agora, tinha medo de mais alguma coisa ruim e estranha acontecer.

— Puta que pariu... — Praguejou para si mesmo. Toda aquela fuga só podia ter mexido com os miolos de Taehyung. Se ele mesmo não estava bem, imagine o outro? Sim, aquela fora a razão de todos aqueles toque e beijos. Taehyung estava fora de si, e a culpa de tudo era o estresse pela viagem e todo o medo que vinha lhe assombrando nas últimas horas.

Essa foi a conclusão de Suga, e cabia a ele ajudar o amigo. Sabia como era ficar necessitado, tanto de atenção quanto de abstinência dos desejos carnais, e, vivendo na máfia, aquelas questões eram resolvidas num estalar de dedos. Era disso que o ruivo precisava, mas não seria ele a aliviar seu problema, claro que não. A solução estava há duas quadras dali, e com o dinheiro que possuía, Taehyung nunca mais teria esses tipos de problemas enquanto estivessem refugiados em Aghanis ou qualquer outra cidade.

 


Notas Finais


Ai viadoooo, coitado do meu TaeTae nenémzinho </3 e agora o que lhe aguarda?
E vocês, já tem algum personagem preferido? Ou detestado? Hehe. O que vocês acharam da reação do Suga? Digam pra gente nos comentários, expressem seus anseios.
Até a próxima! <3

Drakma: É a moeda do país de Amaranthine, onde eles estão. O valor dela é igual ao do Real, achamos mais fácil ter noção das quantias assim.

All in: É quando no pôquer, um jogador aposta tudo que tem em mãos na rodada. É uma jogada muito rara por ser extremamente arriscada, se perder a rodada, o jogador perde tudo. E quando se aposta em milhares de dólares, já viram né? Mas o bom de fazê-la é que os outros jogadores ficam com medo e fogem, porque para cobrir acaba sendo um custo alto demais.

Croupier: Pessoa que dirige uma mesa de jogo, como Pôquer, Blackjack, Bacarat. Também conhecido como Dealer.

CRIAMOS UMA PLAYLIST PRA FIC! AAAAAAA ela tá boa demais meu deus, dêem uma olhada mesmo que vocês nem curtam ler ouvindo música KKKKK Passa a atmosfera da fic e de cada personagem... agora eu só escrevo ouvindo ela 😎
SPOTIFY: https://open.spotify.com/user/uru_ducky/playlist/5ed3dczwRCf6mHpG17u1DH
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