1. Spirit Fanfics >
  2. Police History >
  3. E14X1: A Cela

História Police History - E14X1: A Cela


Escrita por: GiullieneChan

Capítulo 14 - E14X1: A Cela


Ano de 2011.

Em frente ao Bar La Luna, um rapaz olhava friamente para o estabelecimento, enquanto repensava os últimos acontecimentos envolvendo sua família.

Desde que Jean Michel e Louis Lefebvre chegaram à América vindos da França em meados de 1908, com suas economias e uma pequena soma herdada do avô, os irmãos se dedicaram às carreiras com as quais sempre tiveram afinidade. Criação de animais e um matadouro, com os quais forneciam carne para vários restaurantes e hotéis da cidade.

Treze anos depois, Jean Michel conheceu uma jovem americana e vieram a se casar. Seu sonho americano se tornou real quase vinte anos depois de colocar seus pés naquele novo país, com o nascimento de seu primeiro filho. Seu irmão logo seguiu seus passos ao contrair matrimônio.

Esse menino foi o primeiro Lefebvre a entrar para a Academia de Polícia, contrariando os desejos do pai de ficar na fazenda e ajudar na criação de gado de corte. Reno queria seguir a carreira policial, seus filhos vieram a seguir seus passos. E desde então, sempre houve um Lefebvre entre os membros da Polícia de Nova Iorque. Fossem honestos ou corruptos.

Alain, infelizmente, preferiu seguir o lado obscuro na carreira policial. Vinte anos servindo a força, vários se corrompendo através de suborno e propina. Tudo estaria bem até agora, se não fosse o novo parceiro dele. Quando indicaram o rapaz com sobrenome francês para ser seu parceiro, fizeram pela afinidade e por serem descendentes de imigrantes franceses no início do século XX.

Mas o rapaz chamado Camus Chevalier, foi a sua ruína. Incorruptível, ele não compartilhou do modo de vida de seu parceiro. E quando a corregedoria o procurou, concordou em ajudar a entregar vários policiais que haviam sido comprados por chefes do crime organizado, que praticavam extorsão. Alain Lefebvre era um deles.

Ele foi exposto. Expulso, julgado e preso. Mas a prisão não era para ele. Seis meses depois de ter sido sentenciado, Alain se matou cortando os pulsos em sua cela durante a madrugada. Ao menos essa foi a versão que seu filho Misty havia recebido.

O rapaz nunca se conformou com o ocorrido. Com apenas dezoito anos estava agora, sozinho no mundo.

Sozinho e armado com uma trinta e oito que seu pai havia deixado escondida na antiga casa de seus avós no campo, pronto para se vingar do homem que considerava o maior culpado de seu infortúnio.

Estava parado diante do bar que pertencia ao pai de Camus, pronto para matá-lo assim que ele saísse. Não se importava se iria para a prisão depois disso. Foi quando sentiu um aroma doce de rosas e percebeu que havia mais alguém ali.

—Pretendendo o que com essa arma escondida no bolso de seu casaco?

A voz suave indagou, fazendo Misty retesar o corpo ao esconder melhor a arma, virando o rosto para fitar a bela mulher loira que havia aparecido do nada. Ele ficou um tempo sem palavras, jamais havia visto alguém com uma beleza igual a dela, enquanto ela o fitava com seus expressivos olhos azuis, aguardando uma resposta.

A porta do bar abriu e alguns homens saíram rindo de dentro dele. Inclusive o alvo do desafeto de Misty, ajudando o pai a fechar o estabelecimento.

—Se o matar, o que acontecerá a seguir? –ela voltou a perguntar, olhando na mesma direção que a dele. –O sofrimento dele vai ser rápido, enquanto o seu vai continuar. Além de ser preso, perder os melhores anos da sua vida atrás das grades, ainda irá carregar a dor da saudade pelo seu pai que se foi.

—Quem é você?

—Eu o vi saindo da delegacia onde ele trabalha. Quero dizer, vi quando o retiraram dali em meio a sua raiva. –ela continuou a falar, observando Camus fechar a porta do bar e descer a rua acompanhando o pai. –Soube da sua história. Ele também é responsável pelo sofrimento de uma pessoa amada por mim. Camus tirou a única família que ele possuía nesse mundo.

—E o que você tem a ver com isso?

—Quero que ele sofra o mesmo tipo de dor que impôs aos outros. Que amargue as consequências de suas escolhas. –ela sorri, fazendo o coração de Misty bater mais rápido. –Acredite em mim, a satisfação será a melhor possível! Vamos conversar mais sobre isso? Meu nome é Deloateffi.

Misty acompanhou a bela mulher pelas ruas vazias do bairro, encantado tanto pela beleza quanto pela inteligência dela. Ela lhe contou sobre um amigo, um irmão a quem amava muito e que perdeu a pessoa que mais amava por culpa de Camus. Depois, combinaram de se encontrarem outras vezes, sempre falando do que ansiavam na vida, o que poderiam fazer para se vingar, e o que fariam depois.

Após dois meses de encontros diários, Misty ousou mais com Deloateffi. O rapaz estava definitivamente apaixonado pela misteriosa loira, e esta percebendo isso começou a traçar seu plano para conseguir o que mais desejava. Vingança.

Então, certa noite depois de jantarem, Deloateffi se convidou para conhecer melhor a casa da antiga fazenda que pertencia à família de Misty. O rapaz viu nesse gesto um sinal de que poderia revelar a ela o que sentia. Chegaram ao local, e Misty o mostrou à mulher, que parecia encantada com a construção, mesmo em abandono.

—Poderia morar aqui. –ela comentou. –Só precisa de um toque feminino e uma limpeza.

—Deloateffi... eu preciso lhe dizer uma coisa. –havia nervosismo na voz do rapaz e a loira sorriu de maneira sedutora para ele.

—Diga.

—Eu... eu acho que, não, eu tenho certeza. Eu preciso te beijar.

A loira correspondeu aos anseios dele, beijando-o com a paixão que ele ansiava. Quando Misty percebeu, já estavam no andar superior, em um dos quartos e ela retirava sua camisa, tocando em seu peito, fazendo-o sentar na cama antiga.

—Há algo que preciso lhe mostrar antes. –disse Deloateffi, baixando o olhar, como se sentisse vergonha. –Eu preciso mesmo te mostrar quem realmente eu sou, mesmo que me repudie, me odeie depois...

—Por que eu a odiaria? Você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida!

Ela começou a se despir, revelando seu corpo ao rapaz e em seguida leva a mão até os cabelos, retirando a peruca loira e revelando fios em tons azuis claros. Misty olhou a tudo com espanto e em seguida fitou o rosto do objeto de sua paixão, que desviava o olhar com medo, com certeza esperando alguma reação negativa da parte dele.

—Quando falou de seu amigo, cuja irmã aquele miserável matou... Gustav.... era você? –ele perguntou receoso.

—Sim. –desvirou o olhar. –Gustav não está mais aqui há um bom tempo.

—Você é linda! –Misty lhe disse, e Deloateffi o fitou surpresa.

Misty estendeu a mão a ela, que aceitou o convite. Naquela noite se amaram com intensidade e paixão, e estavam ainda acordados na alta madrugada quando o loiro confessou:

—Eu te amo.

—Verdade? –perguntou, traçando com o dedo o desenho do abdômen de seu amante.

—Sim. Não importa quem você é... eu te amo.

—Faria qualquer coisa para provar isso?

—Sim! Faria qualquer coisa por você, Deloateffi! O que me pedir eu farei!

Ela não respondeu, apenas sorriu.

Dias se passaram e Deloateffi mudou-se para a casa da antiga fazenda, Misty era o único herdeiro que cuidava dela. Os dias se tornaram semanas e em seguida meses, e Misty passou a morar junto com sua amada, e ali ela tinha a liberdade de usar tanto roupas femininas quanto masculinas.

Ali traçaram planos para que pudessem finalmente se vingar do homem que havia causado tanta dor a eles. Deloateffi convenceu Misty a entrar na academia de polícia, dizendo a todos que iria salvar o nome dos Lefebvre que fora manchado pelo pai corrupto. Com esforço, o rapaz venceu a desconfiança dos outros policiais e foi ganhando seu lugar na corporação, tudo para agradar sua amada e dar vazão ao plano que ela traçara tão sabiamente.

Misty devido ao trabalho na corporação ficava dias e dias em Nova Iorque, enquanto Deloateffi passava dias e dias na fazenda antiga estudando seus alvos, as pessoas que direta ou indiretamente haviam sido responsáveis pela sua dor, ou ia até a cidade comprar materiais de construção e os levava ao seu porão, pedindo que Misty não entrasse antes da hora. De algum modo, Misty sempre foi inclinado a obedecê-la cegamente.

Até que certa manhã, após um ano juntos, ela resolveu lhe mostrar o que fazia em seu porão. Ainda estavam apenas os alicerces do que pareciam ser um tipo de cela a ser construída, e Misty viu os planos feitos por ela para terminar a obra.

—Não é lindo?

—Para que isso?

—Para ensinar Camus a cuidar melhor das mulheres de sua vida.

 

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

 

Ano de 2016.

00: 47 de um sábado.

Ela só queria mesmo dormir.

Sabia que tinha sido um erro ter se deixado convencer pelas amigas para sair à noite. Não ter contado aos pais onde ia, nem à irmã. Não era do seu feitio agir assim, mas às vezes os pais eram tão super protetores que ela precisava esquecer que pertencia à família Alessandros. Cora, nesse momento, sentia vontade de se chutar por ter cedido em aceitar sair de casa.

Não imaginou que demoraria tanto, achou que estaria em casa antes das onze da noite. Era apenas para ir ao cinema e depois a um barzinho que elas haviam encontrado outro dia com outro grupo. E lá estava ela naquele bar.

As amigas haviam se empolgado com um grupo de rapazes da universidade que estavam ali. Queriam até apresentá-la a um calouro do curso de Direito. Ela não se empolgou com o estilo mauricinho e de ego inflamado do rapaz, que se gabava da família rica à qual pertencia. Como não era obrigada a nada, muito menos satisfazer a anseios das colegas para que ficasse com ele essa noite, pediu licença e saiu dali.

Do lado de fora, chamou o serviço de Uber há quinze minutos, mas ele demorava a chegar, e logo iria chover. Suspirou, só queria mesmo era vestir seu moletom e cair no sono.

Olhou ao redor pensando em como iria para casa. Parecia longe do metrô e não viu nenhum ponto de ônibus próximo. Foi quando percebeu um táxi ali parado há algum tempo. Fez um sinal discreto para ele, que acendeu os faróis e foi em sua direção, ignorando um casal que havia solicitado seu serviço antes, bem como as ofensas que o homem lhe dirigia, antes de ser arrastado pela companheira para longe.

O motorista estacionou, mas permaneceu sentado. Cora entrou no carro, e lhe deu instruções do endereço que queria chegar, através da divisória que a separava do motorista.

O táxi deixou o meio-fio em alta velocidade e logo depois descia pela rua.

—Que tempo, hein? –Cora puxou assunto com o calado motorista e reparou que ele tinha cabelos loiros presos a um rabo de cavalo e aparentava ser tão jovem quanto ela.

Ele não respondeu nada.

—Fala inglês? –ela insistiu. –Habla espanhol? Português?

Nada.

Cora parou de falar, não era a primeira vez que pegava um motorista calado e antissocial e puxou um celular, começando a teclar mensagens para Themis, avisando que havia pegado um táxi e estava indo para casa. Depois mandou outra para uma das amigas com a mesma mensagem. Depois, quando ia responder uma mensagem enviada pelo irmão, perdeu o sinal de internet.

—Que droga!

Guardou o aparelho e sentiu que o táxi estava muito quente. Estendeu a mão para o botão que abaixaria a janela, e percebeu que não funcionava. Estendeu a mão para o botão do outro lado e também estava com defeito. Só então notou que faltavam as fechaduras das portas. E as maçanetas, também. Notou que de seu lado também não havia a maçaneta, parecia que tinha sido serrada.

—Senhor. Poderia ligar o ar condicionado um pouco? –sentindo um pouco de medo e dando graças a Deus por ter trazido o chaveiro com spray de pimenta que o irmão lhe dera meses atrás.

Foi quando notou que ele estava pegando um caminho totalmente oposto do que havia indicado.

—Ei! –ela bateu na divisória. -Para onde é que está indo?

O motorista a ignorou, aumentando a velocidade por um desvio, se afastando da cidade. O táxi derrapou por uma rampa de saída para o Queens, entrando velozmente no distrito dos armazéns abandonados.

—O que é que você está fazendo? Merda!

O motorista apenas ligou o rádio, abafando a voz de Cora que sentiu um arrepio pelo corpo. Cora pensou no que poderia fazer, mexeu na bolsa procurando algo que pudesse usar, momentos antes de ele frear o carro bruscamente em um beco escuro, saltando de dentro do automóvel com uma semiautomática na mão.

—O que você quer? –Cora tentava não aparentar medo, mas estava tremendo.

O motorista inclinou-se para frente e Cora pôde ver que ele tinha um rosto muito bonito, algo que se assemelhava a um modelo. Mas o seu olhar arrepiou sua alma. Ele permaneceu ali parado, um bom tempo, depois abriu a porta e fez um sinal para que ela descesse, e outro para lhe entregar o celular. Cora obedeceu relutante, o motorista examinou o aparelho, e em seguida o jogou ao chão pisando várias vezes nele para quebrá-lo.

Em seguida, ele a segurou pelo braço, arrastando-a para um enorme e mal cheiroso prédio. Andaram por corredores escuros, viu que haviam roedores por todos os lados e o cheiro nauseante de carne podre lhe revirava o estômago.

Ele a empurrou para uma sala, após abrir uma pesada porta de metal e ordenou que ela se sentasse quieta com gestos, prendendo seu tornozelo com uma algema e correntes.

—O que quer de mim? –novamente ele nada respondeu. –FALA LOGO, MERDA!

Ele sorriu, saindo pela mesma porta pesada e fez um sinal para que ficasse quieta colocando o dedo indicar em seus lábios, fechando a porta em seguida. Cora ficou em silêncio, os olhos se acostumando à baixa claridade antes de determinar como poderia sair dessa situação e chamar ajuda.

Foi quando notou que não estava sozinha ali. Ouviu um débil gemido e se assustou, notou um homem caído do outro lado da sala, que também tinha o tornozelo preso a uma corrente. Se arrastou até ele cautelosa, até onde a corrente lhe permitia se aproximar, e o tocou em seu ombro.

—Ei! Está tudo bem?

Ele se virou, e Cora viu que era um belo rapaz de cabelos negros, que parecia que havia sido covardemente surrado pelos hematomas em seu corpo. Ele abriu os olhos, tão negros quanto a noite e a fitou antes de falar:

—O... un ángel? Eu morri?

—Ainda não. –ela olhou ao redor e depois voltou a fitá-lo. –Quem é você? Por que está aqui?

—Sou... aii.. –ele toca a fronte ao se sentar, parecendo sentir dor. –Sou um médico, meu nome é Shura Hernandez. E não faço ideia do porquê estarmos aqui. –ele a fitou, percebendo que parecia aflita com a situação. –Não faço ideia do que está havendo e por que nos quer mortos.

—Ele vai nos matar?

—Ele deixou que víssemos seu rosto. –Shura comentou. –O que acha?

 

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

 

9:00 h. Desse mesmo dia.

Meia hora depois de ter saído do Departamento de Homicídios, acompanhado pelos dois agentes do FBI, Gustav ouvia os dois agentes falando sobre casos antigos, parecendo não se importarem muito com a sua pessoa.

—Aí, eu tive que ficar naquele bairro chinês escondido por seis meses, de tocaia para pegar aquele traficante filho da puta! Eu não aguentava mais comer comida chinesa, cara. Estava louco para sair e comer um enorme x-burguer e uma cerveja gelada!

—Sério mesmo, Steve?

—Sério! Eu não sirvo para trabalhos assim.

—Senhores. Agente Keller. –Gustav perguntou com certo receio na voz. –Eu não deveria estar algemado?

—Deveria. –respondeu Keller. –Mas eu te conheço e sei que não é aquilo do que te acusavam, Bergman. Mas merecia ser algemado e levar um soco pelo trabalho que nos deu!

—Desculpe se o deixei preocupado. –respondeu com certo acanhamento. –Sei que durante anos fez de tudo para me manter seguro, mas... tente entender... descobri que minha irmã tinha morrido e nem pude ir ao seu enterro. Foi demais para mim.

—Eu entendo. –disse o parceiro de Keller. –Família mexe com a gente mesmo.

—Devia ter me comunicado isso.

—Aí você tentaria me demover dos meus planos. –Gustav sorri, reparando no agente Steve pelos brancos em seu paletó. –Desculpe.

—Tá, daqui uma hora estaremos de volta a Washington e de lá para sua nova vida e identidade, ok?

—Certo. –Gustav faz uma pausa e em seguida esfrega os olhos como se alguma coisa o incomodasse.

—Tá se sentindo bem? –Keller perguntou, olhando pelo retrovisor enquanto dirigia.

—Só uma dor de cabeça, agente. –ele suspira. –Oh, Deus... eu não acredito que eu a esqueci!

—O quê? –perguntou Steve.

—Eu a esqueci em casa. Eu não posso ir embora e deixá-la lá sozinha sem mim! Ela vai ficar perdida! –Gustav estava aflito.

—O quê?!

—Minha gata! –Gustav estava quase às lágrimas.

—Arrumou um gato? –Keller parecia não acreditar.

—Gata. Ela estava abandonada quando cheguei na cidade e desde então está sempre comigo. Por favor, agente Keller... podemos passar em minha casa para pegá-la?

—Não, nada de desvios do nosso itinerário.

—Por favor! Eu não vou demorar mais do que cinco minutos para pegar Rose.

—Vamos, Keller.  –Steve o apoiou. –Abandonar animais não é legal!

Keller suspirou e concordou, fazendo um retorno para ir até a residência que pertencia a Gustav, enquanto este suspirava aliviado.

—Eu sei de um atalho, chegaremos rapidinho. –dizia o rapaz. –Vire à esquerda no próximo desvio.

 Então, após alguns minutos chegaram em frente a um prédio velho de apartamentos, que parecia abandonado mas era habitado por pessoas de baixa renda, viciados e imigrantes ilegais. Os dois oficiais olharam para Gustav com desconfiança.

—Era o que eu podia pagar com o meu salário. –disse parecendo envergonhado.

—Tudo bem. –Keller estaciona o carro e abre a porta. –Vamos subir, pegar seu gato e irmos embora!

—Obrigado.

Entraram no edifício e subiram por escadas, uma vez que o elevador não funcionava, até o quarto andar onde ficava o apartamento que Gustav dizia morar. Vozes de um casal brigando e um bebê que chorava não incomodavam Keller mais do que o cheiro de urina pelo corredor.

—Mora mesmo aqui?

—Sim, infelizmente! Queria morar em outro lugar, mas não queria usar meu nome e ser rastreado por vocês. Mas... de que adiantou? Me encontraram do mesmo jeito.

Gustav retirou as chaves do dito apartamento dos bolsos e abriu dando passagem aos agentes.

—Vocês primeiro. –entrou fechando-a e caminhando até um quarto, chamando o gato.

Keller e Steve olhavam o local, bem arrumado e mobiliado em comparação ao restante do edifício. Curioso, o parceiro de Keller começou a olhar nas gavetas da sala e então abriu a porta de um armário e arregalou os olhos espantado.

—Keller... –ele afasta as portas para o parceiro ver.

—Mas que merda é essa?

Keller indaga olhando as centenas de fotos de Camus, Anne e de outras vítimas do Cinéfilo coladas pelas paredes do armário e nas portas deste. Caixas contendo DVDS com nomes de suas vítimas e um notebook. Steve leva a mão à arma por instinto enquanto Keller ligava o aparelho e, após alguns segundos, o aparelho mostrava cenas de um circuito interno de segurança, dividindo a tela em duas.

Em uma dela estava um casal acorrentado pelos pés em um tipo de câmara fria, na outra tela uma jovem desacordada em um tipo de cela.

—Meu Deus... –Keller murmurou.

Ouviram o som de uma arma sendo engatilhada e tiros são disparados atingindo a ambos antes que pudessem reagir. Os dois agentes caíram no chão, imóveis devido aos ferimentos que receberam.

—G-Gustav... o que... –ele o cala com um chute no rosto.

—Desculpe, Keller. –se aproxima, cutucando Keller com a ponta do sapato e sorri. –Gustav não está mais aqui.

Então, guarda a arma em uma mochila que havia trazido de seu quarto e pega o notebook em seguida, saindo dali rapidamente.

Os vizinhos não iriam chamar a polícia, tiros eram comuns naquele lugar devido aos viciados e traficantes que ali constantemente passavam. Até sentirem sua falta e a deles, teria algum tempo. Fechou a porta, saindo para a rua e caminhando algumas quadras antes de pegar um táxi para seu destino. No caminho, pega um celular descartável que havia adquirido há pouco e disca um número.

—Oi, amor... estou indo para casa. –disse, com uma voz suave e afeminada.

 

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

 

11:10 h. No Departamento de Homicídios.

Camus olhava para o copo de café diante dele, tentando digerir os últimos acontecimentos. Ele tinha total convicção de que Gustav Bergman tinha responsabilidade nos assassinatos, que era o Cinéfilo. Mas ao mesmo tempo, algo não estava certo em suas suposições.

Seu olhar desviou-se para seu parceiro. Milo conversava com os pais pelo telefone e parecia preocupado. As palavras de Gustav antes de sair do edifício mexeram com o rapaz, que passou os últimos minutos ligando para os irmãos e para os pais.

Seu parceiro desligou o aparelho e sentou de frente a ele em sua mesa, com o semblante carregado.

—O que houve? –Camus perguntou.

—Falei com meus irmãos, com a Themis e meus pais... mas não consigo ligar para a Cora. –deu um pesado suspiro. –Themis está ligando para as amigas com quem ela saiu ontem à noite.

—Ela tem o costume de passar a noite fora, na casa de amigos?

—Não. –Milo deu um sorriso nervoso. –Minha família é meio tradicional com essas coisas. –Camus ergueu uma sobrancelha em um claro “é mesmo?”. –E mesmo que ela tivesse dormido na casa de alguém, ela teria ligado ao menos para a Themis. São muito amigas! E Cora sempre foi uma garota inteligente! Ela não sai com qualquer idiota!

—Podemos pedir para Shaka rastrear o celular dela, se quiser.

—Isso não é invasão de privacidade? –Milo refletiu. –Liga pro loiro nerd! Não! Vamos esperar e... eu vou ligar pro Shaka!

Camus apenas estende para ele o próprio celular, que já tocava chamando o loiro. Milo pegou o aparelho, conversando em seguida com o hacker que acabara de atender.

Nesse momento, Aiolia e Marin adentravam o andar. A ruiva trazia um pacote selado em seus braços, colocando o embrulho na mesa de Camus, que a fitou sem entender.

—O que é isso? –perguntou, abrindo o pacote.

—Achamos coisas interessantes na casa onde prendemos Gustav Bergman. –a japonesa foi logo explicando. –Mandamos muita coisa para o laboratório da perícia.

—E enviamos uma unidade para um apartamento, cujo endereço achamos anotado em uma agenda que pertencia ao proprietário real da casa. –completou Aiolia, olhando uma caderneta onde fazia anotações. –Le-fe-b-vre. Nome esquisito!

—Lefebvre? –Camus indagou surpreso.

—Esse nome lhe diz algo? –Aiolia questionou.

—Foi meu parceiro antes do seu irmão. –Camus respondeu. –Ele foi preso por extorsão e outros crimes.

—Ele teria algo a ver com o nosso suspeito?

—Improvável! Ele se matou logo depois que foi condenado! Mas ele tinha um filho!

—Misty Alain? –Aiolia perguntou. –É o nome completo do dono da casa.

—Ele não seguiu os passos do pai. –Camus comentou. –Ele está trabalhando no 14º Distrito.

—Esse Distrito foi designado para fazer a segurança da senhorita Raccos. –comentou Aiolia.

—Aiolia, avisem para que uma unidade vá até a casa onde a senhorita Raccos está. –pediu Marin. –Camus, olha o que tem no pacote.

Camus o abriu finalmente, revelando em seu conteúdo uma peruca loira feminina e um vestido vermelho. A lembrança de ter cruzado com uma mulher loira outro dia ao entrar no distrito veio rapidamente à sua mente, bem como a imagem da expressão facial de Gustav que mudou de repente quando pressionado no interrogatório. De como o medo havia sido substituído rapidamente pela arrogância em seu olhar.

Rapidamente, Camus pegou o celular das mãos de Milo, desligando praticamente “na cara” de Shaka e discando várias vezes o número de Annie, em vão.

—O que Shaka lhe disse? –perguntou para Milo.

—Está triangulando as torres de celulares para determinar por onde Cora passou.

—Liguei agora para uma amiga na 14ª. –Aiolia começou a falar. –O capitão deles tá ligando para o nosso agora! Houve uma quebra de segurança na Casa segura.

—Annie? –Camus tentou conter a sensação de que algo terrível havia acontecido.

—Ela e um policial estão desaparecidos! Há um policial morto lá e a perícia está a caminho.

—Quem é o policial desaparecido?

—É... –Aiolia hesitou um instante antes de falar. –Lefebvre.

—Merda! Marin, chame o capitão, peça que entre em contato imediatamente com o FBI. –Camus virou-se para a ruiva. -Deixamos nosso assassino sair pela porta da frente com eles!

—Tem certeza?!

—Lefebvre é um cúmplice! Gustav e ele são parceiros nesse jogo!

Camus pegou seu terno, arma e distintivo pronto para sair dali quando o seu telefone começa a tocar. Olhou para quem chamava e reconheceu o número de Annie, atendendo na hora.

—Annie!

—Olá, detetive! –Camus cerrou os punhos, reconhecendo a voz do outro lado da linha. –Bem, acho que já deve estar juntando as peças... Ou sua mente primata ainda precisa de uma ajuda para entender o que está acontecendo?

—Onde ela está?

—Por favor, acesse seu e-mail. –e desligou em seguida.

Imediatamente, Camus pediu licença a um colega que digitava em seu computador e acessou a internet, precisamente seu e-mail. Viu que entre as várias mensagens que havia recebido, havia uma com o nome “Cora e Annie”.

Abriu a mensagem e a única coisa que havia ali era um link que o direcionaria para algum tipo de fórum. Sem hesitar, clicou em cima.

A tela imediatamente mudou e se dividiu em duas, exibindo as imagens de um circuito interno.

—CORA! –Milo reconheceu imediatamente a irmã, presa com uma corrente aos pés e tendo o médico desaparecido como companheiro. –Filho da puta!

—Annie! –Camus viu a imagem de Annie desacordada em sua cela.

—Olha os acessos à página! –Marin apontou em um canto da tela, onde os números aumentavam e abaixo dele um tipo de timmer que permanecia ainda zerado. –Melhor avisarmos o capitão!

—Vou chamar Shaka para rastrear isso! –Aiolia já ligava para o setor onde o loiro trabalhava.

—Ela está acordando. –Camus comentou, ao ver Annie sentando na cama, ainda um pouco confusa sobre onde estava. E de repente, o timmer ligou.

24:00:00 h ... 23:59:59... 23:59:58...

Escrito embaixo dos vídeos, uma mensagem de voz gravada. Camus hesitou um pouco antes de clicar em cima. Reconheceu a voz odiosa de Gustav que agora não fazia questão alguma de esconder quem era.

—O jogo começou. Façam suas apostas. Quem será que vai morrer? Quem será que vai viver? Essas jovens tem exatamente 24 horas de vida, a partir do momento em que seus pretensos salvadores acessaram ao link de nosso fórum. Em 24 horas elas irão morrer... quem chegará primeiro? Quem chegará tarde demais?

—Filho da... –Camus murmurou, mas se controlou para ouvir o que mais havia na gravação.

—Ah sim... Detetive Chevalier... esse bônus é para você. No momento em que decidir qual mulher da sua vida irá salvar, a outra irá morrer. Camus, meu caro... você só poderá salvar uma. Boa sorte!

 

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

 

11:23 h da tarde desse mesmo dia.

Anne acordou subitamente quando uma luz forte incidiu sobre seu rosto, obrigando-a tentar proteger a face com a mão. Demorou alguns segundos para tentar se lembrar o que havia ocorrido horas antes. De repente, as lembranças vieram a sua mente em uma violenta explosão de imagens e sons.

O policial... Não, seu sequestrador, que era tão belo quanto sádico, que havia matado seu parceiro com um tiro fatal. Ele a obrigou a entrar em seu carro e em seguida cobriu sua face com um lenço embebido com algum tipo de entorpecente, fazendo-a perder os sentidos.

Agora, isso. Acordava em uma cama que lembrava as usadas em prisões.

Fixou o olhar ao redor à medida que endireitava o corpo. Havia uma mesinha com água potável e comida, um vaso sanitário. Definitivamente, estava em algum tipo de prisão. Uma prisão de paredes de vidro, iguais às de um aquário.

Se levantou e foi até uma dessas paredes, batendo nela e percebendo o quanto era sólida.

—Olá! –gritou, mas não obteve resposta. –Alguém aqui?

Notou que havia uma câmera apontada diretamente para ela e sua cela, e uma televisão velha, voltou a chamar por qualquer um, olhando diretamente para o aparelho.

—Ei! Misty, não é? Por que está fazendo isso comigo? Me responda, droga! –perguntava batendo na parede de vidro em vão. –SOCORRO!

Além do silêncio perturbador de seu sequestrador e a perspectiva de que seu sumiço teria deixado todos aflitos, o que mais a incomodava era a sensação de familiaridade com o seu cativeiro. Era como se tivesse visto algo assim antes em sua vida e não se lembrava exatamente onde.

De repente o aparelho de televisão é ligado, assustando a jovem advogada. E cenas de um filme começaram a ser exibidas, e ela logo reconheceu ser o trailer de um filme de ficção cientifica que havia visto com o pai no cinema anos atrás. E sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha quando viu imagens de um aquário parecido com aquele em que estava, onde a personagem era mantida presa enquanto água o enchia, afogando a personagem em seguida. A televisão em seguida é desligada por algum comando remoto.

—Não... -Ela logo reconhece o que o homem, a quem a imprensa chamava de Cinéfilo, desejava.

Como se quisesse dar vazão aos pensamentos da refém, uma amostra do que a esperava, água gelada começa a jorrar abundantemente sobre ela, fazendo-a gritar tanto pelo susto quanto pelo o que o seu sequestrador lhe reservava.

—NÃÃÃOOOO! –Anne gritava e socava em vão o vidro, numa tentativa desesperada de quebrá-lo. –MALDITO! POR QUE ESTÁ FAZENDO ISSO COMIGO? O QUE EU LHE FIZ??

Ela sobe na cama que lhe era destinada, encolhendo-se e abraçando os joelhos, logo em seguida a água é desligada e Anne começa a chorar, murmurando um pedido de socorro, enquanto a tela da velha televisão é ligada novamente e um timer acionado: 24:00:00 ... 23:59:59... 23:59:58... 23:59:57...

—Camus... por favor... –ela abraçava ainda mais os joelhos, tremendo mais pelo medo do que pelo frio das águas. –Me ajude, Camus....

 

Continua....



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...