Novamente a noite caía e com ela o meu desespero, eu desejava estar desacordada para que não pudesse sentir ou lembrar das próximas horas. Fui para o quarto compartilhado me trocar, como todas as outras faziam, era uma bagunça de cores, tecidos e vozes.
Era sempre assim no distrito da luz vermelha.
- Se você não se apressar para se trocar a senhora vai ficar irritada, (S/N). – Tsuna disse baixo ao meu lado. Respirei fundo e busquei um dos quimonos de cores chamativas, a roupa escorreu pelo meu corpo e logo vesti o tecido rosado com detalhes floridos em vermelho.
- Posso te ajudar a colocar o obi. – Hinatsuru se ofereceu com o tecido já em mãos.
- Obrigada. – Me virei. Ela delicadamente prendeu o obi e sorriu em minha direção. – Como consegue sorrir tanto?
Hinatsuru era nova ali, fazia poucas semanas que ela apareceu ali pedindo uma vaga, estava cheia de dividas e não conseguia achar algum lugar para trabalhar, restando apenas a prostituição.
- Não é bem simples? – Ela acariciou minha cabeça. – Vamos sair daqui algum dia.
- Quando? – Perguntei. Hinatsuru era o tipo de mulher que eu conseguia me sentir confortável.
- Não posso te dizer quando, mas vamos sair daqui. Você vai poder ser feliz. – Segurei as lágrimas que pinicavam meus olhos. Ela era um ano mais velha, mas tinha a positividade de uma criança. Nem se passarmos vinte anos ali poderíamos sair, com o que iriamos nos sustentar? Ninguém contrataria uma ex-prostituta.
A senhora apareceu no quarto para ver se todas estávamos prontas para quando a casa começasse a funcionar, um pequeno sorriso nojento apareceu no seu rosto ao ver que estávamos todas ali.
- Hinatsuru, você vai servir o chá no quarto do oeste. – Puxou a mulher pelo braço, ela sequer pareceu se importar com a indelicadeza da senhora de cabelos grisalhos.
Fiquei sentada esperando ser a minha vez, meu coração nunca parecia se acostumar com a ansiedade, apesar de já fazer anos que sempre fazia a mesma coisa.
- (S/N), tem um hospede na parte leste, você vai fazer companhia a ele. – Minhas pernas lutavam para continuar se mexendo, passei pelos corredores e os olhares nada discretos dos homens seguiam qualquer mulher que passava por ali, como se pudessem nos engolir com seus olhos.
Minha mão tocou a porta deslizante de papel, tentei respirar mas tudo o que consegui foi dar um soluço assustado com o que estivesse me esperando do lado de dentro. Talvez ele fosse bom o suficiente e não me deixaria tão machucada, uma ilusão, eles sempre pareciam lobos famintos.
Entrei silenciosamente e não me atrevi a olhar para seu rosto, ou então eu teria pesadelos durante dias, talvez semanas. Fiquei sentada ali, eles não gostavam que falássemos desnecessariamente.
- Não lembro de ter pedido por uma estátua. – Sua voz grave soou no quarto. Quando isso acabaria?
A única coisa audível no quarto era a minha respiração desregulada, eu a segurei para que ele não percebesse. Eles gostavam quando eu demonstrava estar assustada, o que era um incentivo a eles para me bater.
- Não vai nem dizer seu nome? – Escutei ele se aproximar, podia sentir minhas mãos geladas.
- (S/N). – Falei baixo, mas alto o suficiente para que ele escutasse. Escutei o barulho de liquido sendo despejado no copo.
Levantei meu olhar e com desespero vi ele servindo a própria bebida.
- Eu servirei sua bebida. – Me apressei para retirar o jarro de suas mãos, mas ele apenas afastou a porcelana para longe. Só então percebi que havia me apressado demais, ele me bateria por ter ido ao seu lado sem sua permissão. – Me perdoe, por favor, eu serei mais cuidadosa.
Abaixei minha cabeça ao chão, implorando por seu perdão, eu era patética.
- Por que está pedindo desculpas? Eu posso servir minha própria bebida, tenho dois braços, afinal. – Permaneci com a testa no tatame até que um copo com álcool foi posto no chão, bem em frente ao meu rosto. – Quer beber?
- Sou proibida de consumir algo. – Me levantei devagar.
- Você é amiga da Hinatsuru, certo? – Com a surpresa acabei olhando para seu rosto. Perdi o folego com a visão do homem, ele tinha os cabelos grisalhos e parecia que o vento havia o bagunçado. Os lábios cheios mas o que mais me chamou a atenção foram seus olhos, um tom rosado, talvez fossem vermelhos.
- Conhece a Hina...? – Ele deu um pequeno sorriso.
- Digamos que sim. – Ele deu um gole na bebida e colocou sobre a pequena mesa de madeira. – Quantos anos você tem, criança?
- Fiz 21 no outono. – Falei simplesmente. Ele assentiu e pareceu ficar pensativo, poucos segundos depois ele se levantou e jogou seu haori no chão. Senti todo o meu corpo se tremer de medo, toquei meu obi pronta para solta-lo mas sua mão me impediu de faze-lo.
- Não acha que está animada demais? Não vamos fazer nada. – Olhei com espanto para o homem, ele não faria nada ou estava apenas brincando com a minha cara? – Pode dormir se quiser, não vão me deixar te devolver tão cedo.
Ele se acomodou no futon que tinha espaço para nós dois e ficou ali, sem fazer nada além de dormir. Não tive coragem de fazer algo além de ficar sentada no canto, encarava ele durante os minutos que se passavam, com o medo de ser algum tipo de armadilha para ele abusar de mim enquanto estivesse dormindo.
Ele despertou depois de algumas horas, já era bem tarde, quase de manhã e ele se assustou ao me ver ali, exatamente como eu estava antes dele cair no sono.
Seu olhar pareceu ficar nublado e ele me liberou logo depois de vestir seu haori verde, fiz uma reverência e deixei o lugar. Fiz meu caminho de volta ao quarto enquanto ignorava os gemidos dos quartos do qual eu passava ao lado, depois de tirar toda a maquiagem e roupa me permiti relaxar ao menos um pouco, cochilei por poucas horas.
Acordei com o barulho de tosse ao meu lado, Hinatsuru estava curvada sobre seu próprio corpo. O desespero tomou todos os meus sentidos quando vi o liquido carmesim manchando os lençóis.
- Hina...? – Toquei suas costas e ela pareceu notar que eu havia acordado. Seu rosto estava pálido e grandes luas escuras manchavam seus olhos que antes pareciam brilhantes.
- (S/N), me ajuda. – Ela desmaiou nos meus braços.
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