∆
Horas antes...
Sakura havia atendido o último paciente quando Ino entrou em seu consultório com um sorriso enorme.
— Então... Como foi o jantar com a irmãzinha? — Disse se sentando na poltrona e arrumando o estetoscópio.
A rosada respirou fundo, terminou a evolução do prontuário e o arquivou junto com os demais. Levantou o olhar para a amiga sem muito humor, estava pensando em tudo o que aconteceu desde que saiu daquele restaurante e quase não conseguiu se concentrar no trabalho.
— Contei a ela.
Ino arregalou os olhos, porém manteve a postura.
— Moy dorogoy, me diga por qual motivo fez uma coisa dessas? Sua ideação suicida aumentou desde que voltou a Inglaterra?
A Haruno revirou os olhos com o comentário e continuou.
— Eu precisa contar a alguém — Sakura se recostou na poltrona e passou a mão pelo rosto — Hinata era uma das pessoas mais próximas a mim no período em que vivi em Londres... Eu precisava contar a ela... Precisava contar a alguém além de você.
— Se queria contar a alguém deveria ter feito isso há anos atrás... Certamente teria evitado alguns arrependimentos... E aliás, acho que falou com o Uchiha errado... Sasuke que tinha o direito de saber sobre o filho.
Sakura apertou as mãos.
— Eu sei... E tomei uma decisão. Vou procurá-lo e contar toda a verdade. Eu não voltei a Londres por causa dele, porém essa história é uma enorme âncora emocional que me impede de progredir. Durante todos esses anos eu não me permiti ser feliz com ninguém porque não me achava digna... Preciso contar a verdade a ele, não importa se ele irá me odiar, me culpar por tudo ou até mesmo me processar... Eu só preciso tirar esse peso do meu peito. Preciso me libertar dessa culpa.
Ino continuou observando a amiga e assentiu. Conviveu um bom tempo com a mulher para saber o quanto essa decisão a corroeu por dentro nesses anos.
— Toc toc — Gaara brincou ao abrir a porta, porém ao notar o clima estranho franziu o cenho — Hora ruim?
— Um pouco — Ino se levantou e parou ao lado do marido — Já terminou seus atendimentos?
— Sim ursinha, vim chamá-la para irmos para casa.
— Não me chame de ursinha no trabalho — Ela deu um tapinha no marido e depois sorriu — A não ser que esteja planejando alguma coisa...
— Eu sempre estou — Ele piscou para a esposa e depois se voltou a amiga — Vai ficar aí?
— Eu não quero atrapalhar o clima — Riu — Por favor, vão para casa e transem muito... Quero que vocês tenham muita satisfação, já que eu não tenho nenhuma.
— Ixi... Acho que a rainha do drama já voltou da Rússia — Brincou e colocou a mão na cintura da esposa — O que acha de deixar a Sakura mergulhando em sua tristeza profunda?
A loira encarou a amiga e lhe deu um sorriso reconfortante.
— Me avise se tomar alguma decisão. Sabe que abandono qualquer maratona de sexo se estiver precisando.
Gaara fez uma careta para Sakura e ela sorriu.
— Eu já tomei minha decisão e não quero atrapalhar os planos que o Gaara tem para essa noite. Não se preocupem pombinhos, eu irei sobreviver — Disse respirando fundo.
— Nesse caso me ligue depois que resolver e iremos beber até esquecer que estamos em Londres. Trouxe muita Vodka de casa, as melhores da Rússia.
A Haruno deu risada e assentiu. Observou enquanto se distanciavam e pegou o celular do bolso do jaleco. Sabia que a conversa com Sasuke não poderia ser adiada, então pegou sua bolsa, as chaves do carro e foi para casa. Tomaria algo forte e um banho demorado, iria dar um fim em seus fantasmas do passado e não poderia passar daquela noite.
.
.
.
Assim que entrou no saguão da enorme empresa se deparou com um segurança.
— Já encerramos o expediente senhora.
— Eu estou a procura do senhor Uchiha, acabei de falar com a Hinata e ela confirmou que ele está aqui — Disse mostrando a mensagem no celular — Sasuke está me esperando, não irei demorar.
O segurança encarou outro que estava parado próximo ao elevador e suspirou.
— Último andar moça.
— Obrigada — Sakura entrou no elevador e respirou fundo. Havia tomado duas doses de sua vodka preferida, porém sentia que toda a coragem estava se esvaindo de seu corpo. Olhou seu reflexo no espero e crispou os lábios... Poderia apertar o botão do térreo e voltar... Sasuke jamais desconfiaria que esteve ali, continuaria com seu segredo...
Hinata não contaria nada ao irmão, porém a consciência de Sakura era mais esmagadora do que qualquer ameaça de ser descoberta. O som do elevador a acordou de seus pensamento. As luzes do escritório indicavam que ele era o único que ainda estava trabalhando. O silêncio era preenchido pelo som dos saltos da russa e quando o viu parado na porta, engoliu em seco.
— Sakura? — Notou a surpresa no olhar do homem e sorriu de canto.
Agora podia observar melhor o quanto ele havia se tornado um homem bonito e desejável. Não que durante sua juventude o Uchiha deixasse de possuir uma beleza tão arrebatadora, porém agora sua presença esbanjava sensualidade e isso a deixava zonza.
— Olá, Sasuke.
— O que veio fazer aqui?
— Precisava conversar com você, então tomei a liberdade de perguntar a Hina onde você estava. Ela comentou sobre seu hábito de ficar até mais tarde no trabalho então eu decidi vir.
Havia pensado muito sobre como deveria abordar esse assunto, não tinha como prever a reação de Sasuke e qualquer uma seria justificável em sua opinião.
— Bom... Minha irmã está certa, sou um viciado em trabalho. Podemos conversar aqui ou prefere jantar em algum lugar?
Seus cabelos estavam levemente bagunçados por conta de todas as vezes que passava os dedos pelos fios com a intenção de se acalmar. Sua camisa social tinha o primeiros botões abertos e as mangas dobradas até o cotovelo. A essa altura ele não usava mais gravatas ou terno. Sakura respirou fundo tentando ignorar o quão sexy ele ficava com aquela expressão desleixada.
— Eu não sei... Pode ser aqui, se não for te atrapalhar.
Ele assentiu e deu passagem para que ela passasse por ele, porém quando ele sentiu o perfume que tanto amava não se conteve a puxou para seus braços. A princípio, Sakura ficou assustada e depois arfou em desequilibro, estava ali por um motivo e não poderia se distrair.
— Sasuke...
— Você ainda usa esse perfume... — Disse cheirando o pescoço da rosada a fazendo fechar os olhos — Eu adoro esse cheiro.
— Por favor, precisamos conversar.
— Mas estamos conversando... — As mãos grandes e fortes passearam pela lateral do corpo feminino apertando levemente suas curvas — Você é uma feiticeira...
— É claro que não sou — Disse concentrando sua consciência em algo sólido para não ser tragada pela tensão sexual presente no escritório.
— Então por que eu não consigo me desvencilhar de você?
— Porque nossa história ficou inacabada - disse firme e conseguindo forças de onde não tinha para se afastar do moreno — Por favor, o que eu tenho para dizer é sério e não pode esperar mais.
Seus olhos estavam bem abertos e transmitiam uma angústia que deixou o mais velho preocupado. Respirando fundo ele se afastou da mulher e caminhou até o sofá no canto da sala. Sakura permaneceu um tempo sem se mover, porém o seguiu após vê-lo sentar.
— No restaurante você me perguntou o por que eu estava em Londres — Ela o encarou — Você sabe que eu sou uma das psiquiatras mais requisitadas em Moscou devido minhas pesquisas e novas abordagens, por isso o memorial Britânico se interessou por mim, quando recebi a proposta fiquei em dúvida, por mais que ame a Inglaterra eu saí daqui por um motivo bem consistente.
— Sakura...
— Me deixe terminar — Ela engoliu em seco e tomou coragem — Éramos irresponsável naquela época, orgulhosos e imaturos. Obviamente nosso relacionamento não iria para frente se continuasse da forma que estava. Você exigia muito de mim e não entendia que eu também tinha prioridades em mente.
— Eu sei, foi por isso que não implorei para que ficasse, eu sabia que você teria um grande futuro de aceitasse a bolsa na faculdade de Moscou.
— Nossa última discussão foi terrível e eu guardei um grande rancor por anos... Porém isso não é o mais importante — Quando ele fez menção de falar Sakura continuou — Eu estava grávida Sasuke, descobri minha gestação depois de algumas semanas que estava na Rússia... E mesmo assim não pude voltar.
O bilionário tentou assimilar aquelas palavras em vão. Grávida? Ele era pai? ... Sua cabeça estava zumbindo e de uma hora para outra o enorme escritório ficou minúsculo.
— Um... Filho? — Ele a encarou — Porque não me contou?
— Eu não tinha como.
— Não existem telefones na Rússia?
A dor nos olhos verdes de Sakura o fez estremecer. Não era o olhar de uma mulher que havia simplesmente escondido o filho do pai durante dez anos...
— Sakura, o que você fez com nosso filho?
A ansiedade cresceu ainda mais no corpo da rosada.
— Eu não tenho palavras para justificar minha decisão naquele momento. Porém as consequências me assolam todas as noites nesses últimos anos.
Mesmo se esforçando ela não conseguiu impedir que os olhos ficassem marejados e a garganta doesse por causa do choro. Sasuke não sabia o que dizer, ainda não sabia a decisão final da rosada, porém estava começando a ficar implícito por suas palavras.
— No final de tudo acabei optando pela doação voluntária logo após descobrir a gestação — Disse de uma vez e por um segundo Sasuke suspirou aliviado, seu filho ainda estava vivo... — Eu tinha acabado de completar 19 anos e...
— Onde ele está?
Sakura não deixou as lágrimas caírem, as secando com os dedos antes que rolassem por seus olhos.
— Eu não sei — levantou o rosto, não era seu perfil demonstrar fraqueza — Eu me arrependi da decisão no instante que ele nasceu, porém você deve imaginar que o sistema russo não é tão maleável quanto os outros governos... Durante todo o período da faculdade eu procurei nosso filho, tentei falar com os órgãos que trabalham com adoção, porém tudo era completamente confidencial.
Sasuke a encarou com o cenho franzido. Não sabia como se sentir com relação a isso, era notório que Sakura sofria com a decisão há muitos anos, mas ainda sim... Era seu filho, o filho que havia sido privado de conhecer mesmo sem ter conhecimento de sua existência.
— Por quê não voltou? Porra Sakura!! Não se tratava mais de você ou de mim, era uma criança... Nosso Filho. Eu teria ido a Rússia no mesmo instante... Teríamos criado ele juntos...
Ela riu sem humor fazendo com que algumas lágrimas rolaram por sua face avermelhada.
— Eu já me fiz essas mesmas perguntas milhares de vezes. Se eu pensasse da forma que penso hoje, certamente voltaria... Ou não também, mas obviamente não teria entregado nosso filho para adoção. Porém não posso me justificar pelo meu eu de 19 anos que havia acabado de ser chutada pelo namorado, se mudado para o outro lado do mundo e tinha uma família que não apoiava suas escolhas.
O homem a encarou, ponderou suas palavras e fechou os olhos.
— Eu tinha o direito de saber.
— É claro que tinha, mas na época eu estava tão magoada que decidi tomar as decisões sozinhas... E aguentei as consequências até hoje sozinha. Eu não estou pedindo que me perdoe Sasuke, mas voltei a Londres e não podia deixar que esse fantasma me perseguisse pelo resto da vida.
— Quem mais sabe?
— Contei a sua irmã hoje durante nosso almoço, além de vocês apenas Ino e Gaara sabem.
Sasuke se levantou e caminhou até a mesa, começou a procurar nas gavetas alguma coisa e depois pegou o celular. Sakura estranhou a reação do moreno, esperava que ele brigasse, a xingasse ou qualquer coisa do tipo e não que simplesmente agisse como se ela não estivesse presente. Ele a encarou.
— Preciso que me conte tudo sobre a gestação, onde fez o pré natal, onde ocorreu o parto e tudo o que souber sobre as pessoas responsáveis pelo processo de adoção.
Sakura se levantou e caminhou até o bilionário.
— Sasuke... Eu já tentei de tudo.
Ele deixou o celular na mesa e se aproximou. O coração da Haruno estava tão acelerado que tinha certeza que ele poderia ouvi-lo.
— Eu ainda não sei como me sentir em relação a isso. Acho que a ideia de que temos um filho juntos ainda está pairando em minha cabeça. Eu não sou mais o moleque que você namorou há dez anos, sou um homem e sei que por piores que tenham sido suas decisões elas foram influenciadas por mim.
A russa se surpreendeu, dentre todas as pessoas no mundo Sasuke certamente seria a última que ela esperava que a compreendesse.
— Mas...
— Eu vou encontrar nosso filho, irei até o inferno para trazê-lo de volta e depois... - ele se aproximou ainda mais — Resolveremos a nossa história.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.