História Por detrás das câmeras - Isulio - 02

Chapter 2 - Convites e reuniões 

Isabela Souza p.o.v

Eu estou na praia, com um fã, que se não me engano se chama Alex, e com minha irmã. Eles estavam se casando. Eu choro no ombro do meu pai, que se parece bastante com o Johnny Depp. O padre fala algo bonito, mas sua voz parece que está diminuindo. Ela vai sumindo aos poucos e no lugar, eu ouço o som irritante do toque do meu celular. O lugar desaparece e tudo fica claro. Quando abro os olhos, vejo meu quarto, e a luz que entra pela janela bate bem em minha cara. Droga, esqueci de fecha-la ontem à noite.

Procuro por meu celular, e quase o derrubo quando bato a mão de uma só vez no móvel ao lado da cama. Foco no nome que brilha na tela com dificuldade. Coço o olho e só assim, consigo visualizar o nome de Scott. Logo, o atendo.

   Chamada on

— Alô? — Minha voz falha, e coço a garganta, afim de que ela soe melhor na próxima vez que eu fale algo.

— Você está dormindo? — Ouço a voz alta de Scott perguntar com indignação. Franzo o cenho, e massageio a têmpora. Scott consegue ser tão temperamental as vezes.

— Bom, eu estava. — Eu me levanto e caminho até o banheiro — Até alguém me ligar e atrapalhar meu sono de beleza. — Tenho quase certeza de que ele está revirando os olhos. Paro em frente ao espelho e faço uma careta ao ver o meu estado. A dormida tinha sido boa.

— Isa, você precisa se arrumar bem rápido. — Ele fala em um tom mais baixo.

— Tá cedo. Esqueceu que eu só gravo de tarde hoje? — Eu estava tão feliz, pretendia dormir até tarde e acordar perto da hora do almoço. Meus planos foram pro ralo. Pego minha escova e a pasta dental, e começo a escovar os dentes preguiçosamente. Não acredito que Scott me fez acordar cedo em plena manhã de folga.

— Eu sei. E você? Esqueceu que tem reunião hoje? — Ele rebate me fazendo arregalar os olhos. 

Droga. A reunião. 

— Ai meu Deus, Scott. Me desculpa, me desculpa, me desculpa. — Eu digo rápido, quase me embaralhando nas próprias palavras — Eu já estou indo. Me perdoa, e não desiste de mim.

No meio do desespero, o drama sempre é bem vindo.

— Como se eu tivesse escolha. — Ele diz e logo desliga na minha cara.

Scott é um amor de pessoa, ele só não é de demonstrar muito. Mas não é nele que eu devo pensar agora. Estou atrasada.

Escovo os dentes - agora de maneira bem mais rápida -, faço minhas higienes matinais, tomo um banho, me visto e desço para comer alguma coisa. Tudo isso, em uma rapidez incrível. Eu até me daria um parabéns por ter sido rápida, mas não mereço, afinal, se estou atrasada é porque fui lerda o suficiente para esquecer da reunião.

Pego uma pêra e decido que a comerei no caminho, assim, economizo tempo. Logo fui para o local onde aconteceria a reunião. É lógico que eu tive que pegar um uber já que a senhorita aqui não tem carro próprio. Triste vida.

O caminho foi rápido. È possível que eu tenha irritado o motorista pedindo de segundo em segundo pra ele se apressar, mas não precisamos entrar em detalhes.

Quando chego no determinado local, corro em busca de Scott. Quando eu o encontro, ele está sério e com os braços cruzados, enquanto Mary, sua esposa, está ao seu lado com um sorrisinho nos lábios. Me aproximo sorrateiramente deles dois, como quem não quer nada. Ele me vêem e Mary abri um sorriso, enquanto Scott fecha mais ainda a cara. 

— Oi Isa! — Mary me cumprimenta e eu sorrio pra ela, logo a dando um abraço. A solto, e olho pra Scott. Ele descruza os braços e quando ele abra a boca para dizer algo, eu o abraço.

— Gosto tanto de você sabia? — Eu digo com carinho.

— Não vem com essa pra cima de mim. — Ele me corta. — Você foi muito irresponsável hoje Isabela. 

— Mas não foi minha culpa. — Eu digo ainda o abraçando. Sinto ele suspirar e logo seus braços me rodeiam. Dou um sorriso vitorioso.

— Na próxima vez, não quero saber de atrasos. — Ele diz sem mudar o tom de voz. 

— Prometo. — Eu digo e então me solto dele, que me olha e nega com a cabeça, mantendo a feição carrancuda, enquanto Mary solta uma gargalhada. E foi então, que a pedra virou gelatina.

Scott olha para a esposa naqueles segundos em que ela ria, e suspira fundo, e de repente, parecia que nada havia acontecido. A feição dele mudou de bravo, para um simples admirador discreto. E sempre foi assim. Não importa quão ruim o dia esteja pra Scott, não importa o quão bravo ele esteja, e nem o quão frio ele esteja, Mary sempre foi a sua âncora, sua calmaria, sua tudo. E sinceramente, é uma das coisas mais lindas que eu já vi em toda a minha vida. 

• • •

A reunião foi para analisarmos propostas de photoshoots, comerciais, patrocínio e essas coisas. Também fui avisada sobre entrevistas e sobre youtubers que nos chamaram para gravarmos vídeos, confesso que fiquei bem animada pelo último citado. Fui liberada assim que entraram na parte burocrática da coisa. Assim que termino de almoçar, vou direto para o estúdio, e me apresso para chegar no camarim, onde me “encontraria” com Bia. Depois de pronta, fui deixada só pelos profissionais de beleza e me peguei reflexiva. Não sobre mim, mas sobre Bia.

Sempre fui encantada pelas séries da Disney, e quando fui chamada para fazer Bia, já imaginava que a personagem traria algum trauma familiar, assim como suas antecedentes. O que eu não esperava, era ficar tão admirada como eu sou por sua trajetória. Bia já passou por muitas coisas, e já foi machucada injustamente muitas vezes. Mas ela sempre foi muito forte, e nunca deixou sua essência de lado. E convenhamos, no mundo corrupto em que vivemos, a essência é algo difícil de se manter. 

A porta se abre e eu viro a cabeça para ver de quem se tratava. Julio aparece passando a mão pelo cabelo, que estava levemente úmido. Solto uma risadinha pra ele.

— Esqueceram de arrumar o seu cabelo ou Manuel resolveu ser um pouco mais relaxado? — Ele só estava com as roupas do Gutiérrez. 

— O negócio lá que eu não sei o nome mas seca o cabelo quebrou, estão atrás de um que não esteja em uso. — Deu de ombros enquanto sentava no sofá.

O olho pelo espelho e chego a conclusão de que aquele estilo lhe caía bem. Muito bem, diga-se de passagem. Me levanto e me sento ao seu lado.

Ficamos em silêncio. Eu brincando com o anel em meu dedo, e ele com uns fios de cabelo. Sua presença era agradável. E era bem vinda. Eu era sortuda por ter pegado alguém tão legal como ele para ser meu par romântico. Éramos ótimos amigos... 

Mas por que a palavra amigos soou tão estranha? 

— Isa? 

— Sim? — Eu viro a cabeça pra olhá-lo. 

Está bem. Talvez olhar pelo espelho seja mais seguro. Estou com vontade sentir seus cabelos entre meus dedos. Será que ele estranharia? Não. Melhor não. Desço olhar, mas acabo descendo demais. Seu jeito relaxado o estava deixando mais atraente. Opa, melhor eu parar. Subo o olhar de novo, mas dessa vez para a sua boca. Péssima escolha Isabela. Julio tem a mania de umedecer os lábios com a língua, ele faz isso direto. O que resulta em uma boca vermelha. 

Tá quente aqui né.

— Você quer ver um filme comigo na sexta? — Ele me pergunta distraidamente — Eu não tenho nada pra fazer, e acredito que você também não. — Diz dando de ombros.

Maneio a cabeça para o lado, e torço internamente para que ele não perceba que eu estou o analisando. Deus, eu deveria ao menos ter vergonha na cara. 

E então, eu sinto algo na barriga. Estranho a sensação, e isso me faz tirar os olhos de Julio e focar no chão. A sensação continua, e chego a conclusão de que é nova, pois nunca havia sentido algo parecido antes. Será que comi algo estragado?

— Claro. — eu respondo simples. Mas logo fico nervosa. Não seria a primeira vez que veríamos um filme juntos, mas a ideia de nós dois sozinhos por horas, me animava e me preocupava ao mesmo tempo. 

Não que tenha algo pra se preocupar. Ou tem? 

— Ai está ele. — Alan diz abrindo a porta de uma vez só, fazendo com que levássemos um pequeno susto. Ele estava com o celular na mão, provavelmente estava gravando um Story — Depois de séculos procurando, achamos o príncipe perdido. — Ele finaliza o vídeo — Cara, estão te procurando, eu não aguento mais ouvir te gritarem por aí com o megafone. — Ele diz nos fazendo rir. 

— Tá, provavelmente acharam aquela coisa. — Diz Julio enquanto andava em direção a porta. 

— Coisa? Que coisa? — Ouço a voz de Alan antes de fecharem a porta.

Solto um riso sozinha com a situação e logo começo a repassar a cena que eu gravaria em alguns minutos.

• • •

— Isabela e Julio, precisamos conversar com vocês. — Raul nos chamou, e eu o sigo até chegar a uma espécie de escritório, onde já se encontravam Scott e Tom - assessor de Julio.

Olho para atrás e vejo que Julio entrava logo após de mim. Arqueio uma sobrancelha em sua direção, e ele parece entender o recado, pois deu de ombros, indicando que estava tão confuso quanto eu.

— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto apreensiva.

— Não, fique tranquila. — Tom diz com uma expressão relaxada e eu me acalmo — Quer dizer, nem tanto. — completa e eu o encaro esperando explicações.

— Digamos que, surgiu uma proposta um tanto... peculiar. — Começa Scott. Dito isso eu e Julio nos olhamos um pouco tenebrosos — Por favor, sentem-se. 

Sento calmamente em uma das duas cadeiras que estavam ali, sendo imitada por Julio. A curiosidade me consumia, ele não pode simplesmente abrir a boca e começar a falar logo?

— Vocês sabem que Bia e Manuel são um casal muito aclamado. — começou Raul — Os fãs são loucos por eles, e se pudessem fazer qualquer pedido provavelmente pediriam para que tivesse um beijo a cada capítulo.

Julio e eu soltamos um pequeno sorriso. Assim como os fãs, eu era completamente louca por Binuel, talvez até um pouquinho mais. E se eu tivesse de beijar Julio a cada capítulo gravado, eu iria amar. Não digo isso por Julio, mas sim por Binuel. Quer dizer, eu beijaria qualquer um que fizesse o papel do Manuel, afinal, este é o meu trabalho. 

Mas não posso deixar de pensar que, não havia melhor Manuel para Bia.

— A questão aqui é, — Continua Raul — nós estamos no mundo Disney, e vocês sabem que os beijos da Disney nada mais são do que... — Ele procura as palavras — Selinhos demorados.

Quem dera fosse mais. O meu consciente grita. 

Mas o que é isso Isabela.

Solto uma risada nervosa e acabo por receber olhares questionadores dos homens na sala. Droga, eu preciso aprender a segurar as coisas. 

— Então... — Julio começou a dizer chamando a atenção de todos — Eu imagino que vocês queiram um beijo mais... elaborado? — Ele questiona meio incerto. Arregalo levemente os olhos pela fala de Julio e sinto minha boca secar. Eu preciso de água. 

Procuro por alguma garrafa de água e acho em cima da mesa. Pego e encho um copo descartável que estava ali, e logo começo a beber. 

— Na verdade, não. — Nega Scott — Indo direto ao ponto, Bia e Manuel vão ter quase uma primeira vez.

Meus ouvidos se atentam, meus olhos se arregalam em surpresa e quando vejo, a água que estava na minha boca havia sido cuspida pra fora. Porém, uma boa quantia acaba por entrar sem permissão na minha garganta, fazendo com que eu começasse uma série de tosses. Tento respirar mas isso apenas piora tudo. Meus olhos lacrimejaram, mas tudo o que eu consigo pensar, era na fala de Scott. 

O mesmo veio em minha direção e começou a massagear as minhas costas. E no meio do desespero, olho pra ele incrédula. O cara solta uma bomba dessas, e depois ainda vem me acalmar. Vê se pode.

Depois de uns segundos eu finalmente consigo voltar a respirar novamente. 

— Isso é alguma espécie de pegadinha? — Julio pergunta. Eu olho para ele e ele estava estático. Em uma reação resulta de surpresa. 

— Eu sei que é difícil de acreditar. — Raul disse.

— Difícil? — Eu questiono — Isso é impossível, estamos falando da Disney. Da Disney! — Eu praticamente grito a última parte.

— Deixa eu explicar. — Diz Tom se levantando e andando pela sala — Como vocês já devem saber, a alguns poucos anos a Disney adquiriu a aquisição da Fox. Ou seja, além da Disney possuir muitos trabalhos da Fox, ela pode mesclar alguns certos trabalhos e personagens. Pensando assim, a Fox, que está produzindo uma série que em breve será lançada, achou que seria uma ótima ideia se Bia se juntasse a eles por um período, o que levaria os dois programas a ter uma visibilidade maior. Ou seja, o elenco de Bia vai participar de alguns episódios desta série. Certo?

Eu e Julio balançamos a cabeça freneticamente em concordância. Eu estava totalmente entorpecida com a notícia. Aquilo seria um máximo. Quer dizer, trabalhar em uma série fora do Disney Channel era uma loucura. Uma oportunidade incrível pra qualquer ator/atriz que se fez na Disney.

— Agora, ao contrário do Disney Channel, a Fox não é muito "santinha", vamos assim dizer. Então é lógico que os beijos serão mais elaborados, os abraços serão mais elaborados, resumindo, a relação de Bia e Manuel será mais elaborada. Mas isso não é muita coisa comparada a essa cena em específico. No decorrer da história os roteiristas decidiram que seria interessante colocar uma cena mais quente.

Sinto minha pele formigar e por mais que eu sinta vontade, eu evito olhar para Julio, pois sei que só ficaria mais constrangida.

Tom não disse mais nada. Os três homens apenas ficaram em silêncio enquanto nos encaravam. 

— Eu acho que meu pai não vai gostar muito. — Eu balbucio a primeira coisa que veio na minha cabeça. 

— Eu poderia ser comido vivo. — Julio fala e então eu o olho. Ele olhava pro nada, e franzia o cenho como se estivesse imaginando a cena com o meu pai. Foi impossível não rir.

— Iremos arriscar, só queríamos contar em primeira mão. Logo vocês receberão o roteiro da série. 

— E se nossos pais não concordarem? — Eu pergunto.

— A equipe já contatou os seus responsáveis, mas devo ser sincero em dizer que não pedimos a autorização, foi mais como uma informação. Já que vocês dois já são de maior e respondem por si próprios.

— Bom, agora que já encerramos o assunto. Podem ir pro estúdio três. — disse Raul — A próxima cena de vocês é lá.

Levanto da cadeira e viro pro lado dando de cara com Julio. Acabamos por nos trombar. Ele dá um sorrisinho e indica com a mão, para que eu passasse primeiro. Abaixo a cabeça e passo, caminhando ate a porta. Logo ele estava ao meu lado. Estávamos em um completo silêncio. O único ruído que ouvíamos era o de nossos sapatos com o chão. E pode ser que eu estivesse escutando a minha cabeça martelando, mas não quero parecer louca ao afirmar isso. 

— Você está bem com isso? — Ele pergunta quebrando o silêncio.

— Sei lá.— Dou de ombros, tentando mostrar indiferença — Eu sou atriz, faz parte.

— Olha, eu sei que você é uma profissional incrível, mas também sei que não gosta de se expor tanto assim em frente às câmeras e que se sentiu desconfortável sabendo que Bia e Manuel vão ultrapassar um pouco mais as barreiras.

A fala de Julio acabou por me deixar nervosa. Eu era atriz, e sabia que uma hora ou outra surgiria propostas como aquela. E o fato de ele notar o meu desconforto, acabou por me deixar tensa.

— Desculpa se você já está acostumado com tudo isso. — Paro de andar e o olho, vendo-o parar também. E pela primeira vez em muito tempo, consigo manter o meu olhar no seu.

— Isa... — Ele tenta falar mas eu o corto. 

— Você já é um menino crescido. — Dou um sorriso irônico — É normal.

Não era nenhum segredo que Julio Fernandez não era mais virgem. Ele era lindo, e seu corpo era quase tão perfeito quanto ele. Tinha uma bela carreira teatral, e muitas meninas e mulheres aos seus pés.

— Isa... — Eu o interrompo de novo. Minha mãe não gostaria da minha má educação, mas não acho que  o meu nervosismo aceitaria ouvir qualquer coisa que ele tenha a me dizer agora. 

— Eles não vão dar esse passo na relação agora, mas algum dia irão fazer, por mais que não seja mostrado para o público. Binuel é incrível e os fãs merecem isso. Eu vou cumprir meu papel e dar isso a eles.

Está bem. Me incomoda um pouco o fato de Julio ser um "menino crescido", como eu mesma disse. Mas não me pergunte o por quê. Pois eu não saberei responder. Não sei explicar. É como se não fosse certo. 

— Eu só estou dizendo que me preocupo com você. — ele diz um pouco baixo, dessa vez, evitando me olhar.

— E eu só estou dizendo que está tudo bem.