História Por detrás das câmeras - Isulio - Deslize

Isabela Souza p.o.v

Acordei com o som estridente do despertador. Desliguei-o e levantei ainda sonolenta da cama, indo em direção ao banheiro. Fiz as minhas necessidades e tomei um banho para acordar mais. Enquanto me arrumava lembrei de Julio e de ontem à noite. Ele voltou para o seu quarto depois que vimos um filme, quer dizer, dávamos atenção mais um ao outro do que ao filme mas tudo bem.

Depois de pronta, sai em direção a recepção do hotel. No caminho, fiquei conversando por mensagem com algumas pessoas. Os fãs estavam loucos por notícias, eu ri com isso. Decidi que iria ser ativa nessa viagem, vou postar varias coisas afim de deixar eles felizes.

O elevador abriu e vi o moço legal lá. 

— Bom dia moço legal. — eu disse com um sorriso enquanto entrava.

— Bom dia moça legal. — ele respondeu também sorrindo — Espero que esteja gostando da sua estadia aqui no hotel.

— Até agora não tenho do que reclamar, na verdade, tenho até o que elogiar. O morango de vocês é divino. — eu disse e ele riu.

— Buscamos oferecer o melhor para os nossos clientes. — ele disse se apoiando na parede.

— Nossa, o seu chefe deve ter orgulho de você. — eu disse pelo modo que ele falava do hotel.

— Ele tem que ter, eu sou obrigado a falar essas coisas. — ele disse me fazendo rir. 

O elevador se abriu e nós saímos, olhei em volta e avistei todo mundo em uma mesa no canto. Os olhos de Julio se encontraram com os meus o que fez meu coração aquecer.

— Então eu posso lhe dizer que você está cumprindo muito bem com as suas obrigações. — eu disse rindo pra ele.

— Bom, eu preciso ir. Nós nos vemos por aí senhorita Souza. — ele também tinha o maravilhoso sotaque de espanhol. Olhei pro pequeno crachá em seu uniforme e soube o que dizer.

— Nos vemos por aí senhor Ortiz. — eu acenei com a cabeça pra ele e sai em direção a mesa dos meus parceiros de trabalho — Bom dia pessoal.

— Bom dia!! — eles responderam em uníssono.

Sentei ao lado de Gastón Gualco, um dos produtores que estava nos acompanhando, ao lado também de Mary, e de frente para Julio.

— Vou te falar em Mary, a sua massagem de ontem fez efeito. — eu disse pegando uns churros para comer. Aqui na Espanha o churros não vem com recheio como estou acostumada, mas sim, cobertos de açúcar.

— Eu tenho mãos abençoadas. — ela disse enquanto fazia uma pose de santa, nos fazendo rir.

Peguei meu celular, e gravei um Story, passei a câmera do celular pela mesa do café e depois mirei na cara de Julio.

— E ai Julito? Sentiu saudades? — eu perguntei. Ele olhou pra câmera e sorriu.

— Acho que não quero mais ir embora. — ele disse e eu fiz um som transparecendo surpresa.

— Então é isso? Você vai nos abandonar? Que coisa feia Peña. — eu disse e terminei o vídeo — Tu não é nem louco de ficar aqui.

Postei o vídeo e logo desliguei o celular, afim de desfrutar do café.

— Quem vê até pensa que sentiria minha falta. — ele disse fazendo drama.

— De você não, mas do Manuel sim. — eu disse e ele tacou um guardanapo em mim — Vai deixar ele sair da série assim Raul? — Raul estava na ponta da mesa.

— A nossa sorte, é que ele tem um contrato pra cumprir, se não, eu teria que usar outros meios de obrigá-lo a ir. 

— Acho que esses meios envolvem força e socos. — disse Gaston do meu lado — Só acho.

— Fica no ar. — disse Raul voltando a comer.

Uma conversa aleatória e agradável começou enquanto eu me deliciava com o churros. Mary que estava ao meu lado, havia pedido uma Tortilla de batata, que logo chegou. Assim que o prato foi colocado na frente de Mary, o cheiro veio de encontro ao meu nariz, e meu estômago reclamou.

— O que é isso? — eu perguntei enquanto tampava o nariz com uma mão e passava a outra na minha barriga.

— É um negócio feito de ovos e batatas.

Tentei respirar normalmente, mas aquele cheiro era forte demais. Senti meu estômago embrulhar e pedi licença, indo em direção ao banheiro mais próximo. A questão é, onde é o banheiro mais próximo? 

Vi um garçom passando por ai, e educadamente o alcancei, perguntando a ele onde eu poderia encontrar um banheiro. Ele pôs a mão com o caderninho pra trás e me pediu pra acompanho-lo. Assim que chegamos eu o agradeci, e esperei que ele fosse embora para então, avançar para dentro do banheiro.

Joguei pra fora tudo o que havia comido no café, e no momento de desespero esqueci de tomar o devido cuidado. Ao me prostrar sobre o vaso sanitário, esqueci que meu corpo não está totalmente sarado. Senti a dor nas minhas costas e na minha barriga, mas não pude fazer nada. Quando o mal estar passou, eu sai do banheiro indo direto para o meu quarto.

Passei pela recepção, e recebi olhares preocupados de Mary, Julio e Raul. Mas eu não parei para falar com eles. Continuei indo em direção ao quarto. Assim que cheguei fui até o banheiro e lavei o rosto. 

Eu não entendo. Eu não costumo passar mal desse jeito, sequer lembro da última vez que cheguei a vomitar. 

Escovei os meus dentes e passei uns cinco minutos revirando um enxaguante bocal na boca. Pensei no café posto naquela mesa e soltei um suspiro frustrado. Nada me parecia atrativo. Mas eu precisava comer alguma coisa. Não podia passar a manhã sem nada pra me sustentar. A única coisa que eu acredito que me cairia bem agora, era aqueles morangos de ontem... É isso.

Depois de lavar mais uma vez o rosto, voltei para a cantina. Assim que me aproximei da mesa, Mary já foi logo me questionando.

— Isa, você está bem? Aconteceu alguma coisa?

— Não se preocupe Mary, estou bem, eu só senti uma dor repentina mas já passou. 

— Está bem mesmo? — questionou Julio. E eu concordei com a cabeça lhe lançando um sorriso reconfortante.

— A propósito Isa, precisamos falar sobre isso. — disse Raul me fazendo olhar pra ele — Hoje nós vamos fazer uma sessão de fotos e gravar algumas cenas, mas eu preciso saber que você vai estar bem. No momento em que você sentir qualquer dor, qualquer coisinha, você nos avisa, que a gente dá uma pausa, tá bom? 

— Não se preocupe, se eu sentir algo, eu aviso. — eu disse.

Chamei o garçom com a mão e logo ele veio até mim.

— Você pode me trazer um pote de morangos? — ele acenou com a cabeça — Obrigada.

Olhei pra Julio que me lançou um sorriso discreto, me fazendo sorrir de volta pra ele.

Assim que o pote chegou eu os ataquei. Acho que eles estão ainda melhores do que ontem à noite. Simplesmente divinos. Fechei os olhos e suspirei após uma bela mordida em um dos morangos. Acho que estou apaixonada por morango.

— Nossa, alguém parece gostar muito de morango. — abri os olhos e vi Gaston me vendo devorar a fruta.

— Você não tem ideia. — eu respondi. 

Quando deu o horário, nós fomos para o carro. Iríamos para uma espécie de estúdio para tirar fotos e fazer vídeos promocionais. No caminho, admirei um pouco da Espanha pela janela. Não era muito, mas já era alguma coisa. Mal posso esperar para irmos gravar. Afinal, vamos gravar nas ruas e em alguns pontos turísticos.

Chegamos no estúdio e fomos direcionados a uma sala que continha um painel branco esperando por nós. Seria onde faríamos as fotos.

— Isabela. — Mary me chamou — Vem cá.

Fui até ela e entramos em um lugar que descobri ser uma espécie de camarim. Tinha uma penteadeira, e algumas roupas nas araras. Sentei na cadeira e começaram a fazer a minha maquiagem. Eu já fui logo me entrosando com o pessoal dali. Eles ficaram me paparicando por conta do meu sotaque, sendo que era eu quem estava quase babando pelo sotaque espanhol deles.

Depois que a maquiagem e o cabelo estavam prontos, fui trocar de roupa. Eu estava com um macacão azul bebê, que era justo ao meu corpo na parte de baixo, e soltinho na parte de cima. Meu cabelo estava solto, com algumas ondas nas pontas.

Sai para a sala onde as fotos seriam tiradas e fui correndo até Julio, pulando em suas costas. Havia um homem com uma câmera na sua frente, não entendi.

— Então, eles querem saber o que vamos fazer agora. — Julio disse me ajeitando em suas costas. Então eu entendi, fariam um vídeo sobre a nossa viagem.

— Agora nós vamos tirar umas fotos, gravar uns vídeos, e mais umas coisinhas ai. — eu disse fazendo mistério. 

— Sim. Então se nos derem permissão vamos ir ao infinito, e além. — ele disse saindo correndo pela salinha me fazendo “voar”.

Ri com a idiotice dele. Julio parou de correr e eu desci de suas costas. O fotógrafo veio falar com a gente e trocamos umas ideias bem legais. Eu e Julio fomos para as nossas posições. E esperamos o comando.

— Okay, pra começar, quero que fiquem de frente um para o outro, sem sorrisos, quero que transmitam o amor pelo olhar.

Assenti com a cabeça e me virei de frente pra Julio. Assim que nosso olhar se chocou, senti vontade de sorrir, mas segurei. Não foi muito difícil transmitir sentimentos pelo olhar, já que nós sempre fazíamos isso quando nos olhávamos.

— Se aproximem.

Dei um pequeno passo pra frente e Julio fez o mesmo. Nossos olhos estavam vidrados um no outro e agora eu já não sentia mais vontade de sorrir. Seu olhar era intenso, eles me penetravam e senti que Julio poderia até mesmo ler os meus pensamentos com aquele olhar.

— Ótimo perfeito, agora, quero que se abracem de lado. — ele disse nos fazendo quebrar o contato visual.

Julio passou o braço pelo meu ombro e eu passei o meu pela sua cintura. Ele me puxou mais para si, fazendo com que minhas mãos espalmassem em seu peito e eu risse, sendo acompanhada por ele.

— Isso, perfeito. Agora, Julio, abrace ela por trás.

Julio veio pra trás de mim e me envolveu em seus braços.

— Isabela, deita a cabeça no ombro dele.

Descansei a cabeça no ombro dele e virei um pouco a cabeça pro lado, fazendo meu nariz virar pro seu pescoço, respirei fundo sentindo seu perfume.

— Sorriam. — o fotógrafo pediu com um tom risonho, ele devia estar gostando — Agora, fiquem a vontade para fazerem o que quiserem.

Julio cutucou a minha cintura me fazendo rir pelas cócegas. Ele fez de novo me fazendo gargalhar.

— Não. — eu choraminguei e me afastei dele.

Julio estendeu a mão pra mim e eu a peguei. Ele me girou e me puxou para si, em um movimento firme, tudo sem quebrarmos o olhar.

Estávamos próximos, nossas respirações se misturavam, e nossos olhares estavam entrelaçados um no outro. Abri um sorriso e ele também. Sem perceber, fomos nos aproximando um do outro, seus olhos desceram para os meus lábios e ele umedeceu os seus próprios. 

Nos aproximamos mais, ao ponto de nossos narizes se tocarem. Julio fechou os olhos e respirou fundo. Fechei os meus também esperando pelo que viria.

Mas parei assim que ouvi Mary gritar:

— Que lindos!!!

Abri os olhos e Julio abriu os seus também. 

O clichê de “o mundo desaparece quando estou com você” nunca foi tão real.

Abri um sorriso e virei pra onde Mary estava na intenção de disfarçar o que havia acabado de acontecer e Julio fez o mesmo. Olhei pra Raul de relance, ele estava de braços cruzados, seu rosto não tinha expressão.

— Sabemos que somos lindos. — disse Julio colocando a mão no queixo e olhando pro além. Eu o segui, colocando as mãos abaixo do meu queixo e olhando pro além também.

— São mesmo. — elogiou o fotógrafo com um sorriso enorme no rosto. Ele encarava as fotos na câmera e passava elas — Essas fotos ficaram simplesmente incríveis. Parabéns pessoal, isso aqui vai ser um sucesso.

Abri um sorriso e bati palmas empolgada. O fotógrafo foi até Raul e a outro homem da produção para mostrar as fotos. Raul as olhava com atenção.

— Ei vocês dois. — Mary veio até nós com um sorriso no rosto — Será que vocês podem se controlar mais um pouco? — ela disse entre dentes — Essa foi por muito pouco.

— Obrigada Mary. — eu agradeci com um suspiro, olhei pra Julio que estava levemente corado — Isso não vai acontecer de novo.

— Assim eu espero. Porque a situação já não está legal pra vocês, se continuarem assim ela pode piorar. — ela disse e saiu. Suspirei fundo e me virei pra Julio.

— Acha que eles vão falar alguma coisa? — eu perguntei, e estranhei quando Julio abriu um sorriso satisfeito.

— Não. Eles não vão.

— Como tem tanta certeza? 

— Eles não vão dizer nada. — ele reforçou — Confia em mim. — e piscou com um olho, passando por mim e indo até o fotógrafo.