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História Por Entre Baias - Único


Escrita por: SailorWinks

Notas do Autor


Se eu enrolei pra acabar isso? Um bocado, mas tudo bem, acontece. Se você leu isso antes de estar concluido, me perdoe, foi o desespero que não deixou eu editar direito.
Mas enfim, passada a correria de terminar isso em três dias, porque duas semanas não foi o suficiente e eu SEMPRE enrolo pra escrever, mesmo sabendo que não me dou com prazos, eu espero que esteja valendo pelo menos o esforço.
Btw, 7mil e quinhentas palavras de pura confusão, mas o que vale é a intenção <3


Ester, Bia, essa é pra vocês, gatas!

Capítulo 1 - Único


O barulho alto dos braços se chocando contra a água abafavam os gritos enlouquecidos das pessoas na arquibancada. Os pulmões já ardiam por conta do esforço excessivo, mas ainda precisava continuar, precisava ir mais rápido e ganhar.
Por um segundo, lembrou-se do quão tudo aquilo o desagradava, nenhuma daquelas pessoas vestidas em roupas perfeitamente alinhadas e caras se importavam com o queria ou achava, nem mesmo os próprios pais.

Tomado pela raiva e pelo conhecimento do que aconteceria caso perdesse, do olhar decepcionado e treinos ainda mais intensos, nadou mais rápido, mais rápido do que os outros cinco competidores, mais rápido do que jamais fora antes.
No final, soube pelos gritos e comemorações ainda mais altos, pelas pessoas de sua comissão que pulavam entusiasmados e pelo sorriso discreto do treinador, que havia ganho. Todavia, não sentia em si mesmo sequer um gota de toda aquela alegria, não compartilhava da felicidade estampada no rosto de sua mãe ou do orgulho transbordando dos olhos do pai, havia apenas o vazio, a frustração que não condizia com a situação, mas que já o era característica, e o medo de ser quem realmente era.

Não sorriu ao subir ao pódio, o rosto permanecera, se possível, ainda menos expressivo do que de costume, e se alguém percebeu, ninguém comentou, ninguém se importava de fato com o que ele pensava, apenas a medalha em seu peito era importante.
Há anos não sabia mais o que era realmente fazer algo que lhe trouxesse o genuíno sentimento de realização, o prazer de algo que lhe agradasse sem precisar se esforçar muito, sentia saudades das brincadeiras de menino, onde qualquer coisa diferente era uma aventura, sem nenhum tipo de pressão ou medo.

Lembrava-se de quando era mais novo e ansiava pelo sábado, onde comportava-se a semana toda para que, quando o fim de semana chegasse, seus pais o levassem ao clube. Vivia de um lado pro outro na enorme piscina infantil e quando aperfeiçoou a forma como nadava, criando seu próprio jeito de ir e vir mais rápido que os outros garotos, migrou para a mais funda, fazendo outros amigos mais velhos e que, igualmente, se impressionavam com a facilidade com que guiava o corpo na água. 
Sequer demorou muito até que os pais, ainda loucos por medalhas que não ganharam nas próprias carreiras, o impusessem ao treino árduo, transformaram seu hobbie em  obrigação, já não era mais a brincadeira de uma criança e sim a responsabilidade de um adolescente triste e frustrado. 

O problema sempre esteve no medo, sendo este o sentimento que regeu a vida do jovem por todos os seis anos de sua adolescência, tinha medo de decepcionar aqueles que sempre davam tudo por si, medo de não corresponder às expectativas, de não alcançar os sonhos de seus pais. Deixara-se de lado há tanto tempo que nem sabia mais o que, de fato queria, com o que sonhava, e nem mesmo conseguia se importar com isso.

Pessoas tiravam fotos por todos os lados, sentindo-se tomadas por um falso patriotismo, um orgulho que sequer era da conta deles, mas que, provavelmente, estaria estampado nas capas dos jornais do dia seguinte sob a manchete de "Família Oh finalmente volta ao pódio", e um sorriso imenso tomaria o rosto de sua mãe, ainda seguindo o clima de comemoração excessiva que não alcançava o próprio garoto, seu pai provavelmente convocaria seus sócios e amigos de anos e conversariam sobre o quão brilhante e talentoso seu menino era. 
SeHun sentia-se nadar para longe de si mesmo, pouco a pouco, e sequer conseguia reagir.








 

Do outro lado do quintal, uma garotinha corria pela chuva catando algumas poucas peças de roupas que alcançava do varal, a maioria não estava sequer perto de estarem secas e sabia que a mãe não brigaria por não recolher essas. 

O céu tomava a cor de um cinza profundo, e se a menina e o irmão não soubessem o quão ruim era aquilo, provavelmente parariam para olhar e sentir o vento gélido bater no rosto, mas precisavam correr e guardar o máximo das coisas que possuíam no galpão ao lado da casa.

Os pingos começavam a, gradativamente, cair mais fortes e ambos sabiam que aquele nunca era um bom sinal por conta da estrutura fraca do telhado, o garoto já sabia que pela manhã teria de fazer consertos, por isso apenas entrou em casa e tentou distrair a irmã.
O frio ia aumentando assim como a chuva, entretanto aquilo só servia para melhorar o aconchego e as histórias que eram contadas para a menina ao seu lado, sob as cobertas e em frente à lareira antiga, ambos sentiam-se alheios aos problemas da vida, à preocupação de não saber onde estariam os pais e porquê não mandaram notícias nós últimos três dias. Era sempre assim, criavam um mundo novo onde só existiam eles e nada mais interferia se não quisessem.

Nunca tiveram condições de bancar coisas luxuosas, o trabalhos dos pais na fábrica nunca era o suficiente, sempre precisavam recorrer à venda das coisas da horta, alimentos que também os sustentavam, e que, dependendo da época, eram trocados no mercado municipal por roupas ou alguma outra coisa que fosse necessária. 

Às vezes, Minseok sentia-se um peso, quase dezoito anos na cara e sequer trabalhava, claro que cuidar de Minsoo era considerado uma ajuda e tanto, mas não trazia o dinheiro que precisavam, não ajudava a pagar contas no fim do mês e não havia nada que odiasse mais do que ouvir os pais chorarem em segredo por não poderem os dar mais do que já faziam. Perdera a conta de quantas vezes aquilo o fora negado, quantas vezes praticamente implorara para que o deixassem ir e contribuir, mas tudo o que recebia como resposta era que precisava estudar.

E ele o fazia. Estudava quase o dia todo, não tinha outra vida além de viver enfurnado em casa com um livro na mão, decorando fórmulas e mais fórmulas, tempos verbais, estruturas humanas, um idioma que não tinha afinidade nenhuma e, no final, nada daquilo tinha a ver com o que realmente queria. Sonhava em ser mais, sonhava com medalhas decorando o centro de seu peito, com a pele marcada pelo tempo no sol, os músculos cansados após um dia de treino ou competição, mas aquilo tudo estava muito longe da realidade, muito distante do que precisava fazer para ajudar a família a sair daquela situação. Escolhera Direito, então.

Decidira, depois de muito tempo tentando convencer a si mesmo de que não poderia transformar um hobbie em profissão, que haviam outras coisas que gostava também, que seu enorme poder persuasivo e capacidade de detectar mentiras seria extremamente útil no ramo jurídico e que dali poderia fazer o que quisesse quando tivesse dinheiro o suficiente.

Enganava a si mesmo com esse pensamento todos os dias de manhã antes de sair de casa rumo à escola, reforçava o quanto poderia, sim, ser feliz fazendo outra coisa, e quando pensava que não, jogava em si mesmo que arranjar um treinador, entrar em um clube, conseguir um time e patrocínio eram coisas além de sua realidade, mantinha em mente que precisava ser racional em meio aos devaneios e sonhos de sua família. 

Era sempre assim, os pais nunca entendiam que havia uma linha tênue entre o sonho e a realidade, mandavam que ele acreditasse mais nas coisas boas, que fosse positivo, incentivavam Minsoo a querer mais da vida, a querer ir atrás do que quer que fosse, que acreditasse na satisfação do que fizesse e não apenas que buscasse bens financeiros, exigiam que ela fizesse o que trouxesse felicidade em primeiro lugar, mas negavam quando Minseok pedia para buscar um emprego. Sentia que, de alguma forma, precisava compensá-los por serem sempre pessoas tão boas, sabia que eles apenas queriam que os filhos tivessem a vida que eles mesmos não tiveram, idealizavam os sonhos de suas crianças para que realizassem seus próprios sonhos, que era a felicidade.

Minseok, porém, via a vida de forma diferente e não se deixaria convencer por sonhos e coisas passageiras. Era uma pessoa com uma personalidade forte de mais, mas cheio de medos infantis, uma criança que tinha anseio por crescer, sempre fora.

Isso se provava a cada trovoada mais alta, sentia-se encolher contra a irmã, a voz falhando um pouco enquanto o coração corria uma maratona, de tão rápido que batia. Às vezes queria chorar por ser tão criança, por não conseguir superar aquilo medo bobo, sabia que trovões eram apenas barulhos de nuvens muito carregadas se chocando, sabia que a teoria era exatamente isso, mas algo em seu cérebro não associava a teoria ao fato, não entendia que aquilo não representava perigo e que só o atrapalhava dentro do papel de irmão mais velho e responsável a cada estremecer que cruzava o corpo pequeno. 

Minsoo, porém, nunca riu disso, nunca jogara seu medo contra ele, e Minseok sabia que era porque ela entendia exatamente porque também tinha suas próprias fobias; altura e lugares cheios. Tinham uma relação tão forte de confiança e proteção um com o outro, que até mesmo eles se surpreendiam, porque, geralmente, o esperado seria serem implicantes e chatos, mas sequer conseguiam discutir direito sem alguém terminar chorando por ter magoado o outro. Ela apenas o abraçava mais forte a cada vez que sentia o mais velho fraquejar, demonstrava seu amor e devoção pelo irmão incrível que só ela tinha.

E ali ficavam até bater fome e precisarem decidir no par ou impar quem iria buscar algo comestível e Minseok sempre ia, mesmo quando ganhava porque "era o mais velho". Daquela vez, quando ia rumo à cozinha, ouvira a porta ser aberta e por ela passarem duas figuras encharcadas trazendo consigo metade da água que caía do lado de fora, praticamente inundando a porte da frente da casa por deixar a água entrar.

A notícia que tinham não era exatamente boa, mas significava um avanço ao rapaz baixinho e delicado.





 

Mais uma vez, não conseguira dormir. Não mais pela preocupação de uma vitória incerta, mas pelo medo do que viria depois. Sehun se conhecia de mais pra negar que tinha medo do futuro, sabia que algo estava prestes a mudar de forma drástica e estava apavorado por não saber o que era, por não conseguir pressentir se viria algo bom ou apenas mais um problema para sua coleção.

Era triste, desanimador, estava a se esforçar tanto, havia até dado o primeiro passo rumo ao sonho de sua família e sequer tinha certeza se depois ainda seria o mesmo. Tinha medo de mudar por conta da fama que seria atribuída à si agora, era bem egocêntrico, vaidoso, narcisista mesmo, mas fora ensinado a ser assim, nascera pra ser o melhor, e os pais apenas o enchiam com coisas que reforçassem essa ideia.

Queria um dia de folga, mas, pelo visto, ganhar a competição fora apenas o começo de treinos ainda mais puxados, uma dieta ainda mais rigorosa e Sehun não tinha mais paciência para nada daquilo, queria só sumir por horas e fingir que era alguém normal, deitar em algum lugar e dormir como há muito não fazia, relaxar olhando o céu sem a pressão de ter que voltar pra casa e já ter de sair em seguida para ir ao clube.

Levantou sem vontade nenhuma, se arrumou o mais rápido que pode e saiu de casa sem sequer cruzar com os pais. Tinha aula naquele dia, sabia que seria apenas chegar aos portões da escola que já teria diversas garotas se jogando em cima de si, implorando para que aceitasse seus sentimentos e lhes desse uma chance, assim como viriam meninos também, perguntando sobre o que fazia para manter a forma, passar o tempo, tentariam puxá-lo para junto de si no intervalo e, sinceramente, fugiria o máximo possível, mesmo que as pessoas estranhassem e julgassem.

Geralmente, amava atenção, adorava ser olhado e que sussurrassem sobre si por aí, afinal, era um Oh, e a sociedade olhava para sua família com expectativa, gostava da sensação de ser invejado, mesmo que, na maioria da vezes, risse da ignorância alheia por não saber o que ele passava, grande parte dos alunos daquela escola jamais aguentariam uma semana em seu lugar, vivendo a pressão de ser e estar perfeito. Perfeição era a palavra que regia a rotina de sua casa e se algo saísse dos limites dela, isso significava problemas.
Sehun sequer conseguia colocar em ordem seus próprios pensamentos, estava tão cansado de tudo, de todas aquelas aparências e de ser alguém que não era o tempo todo, porque nada do que fora previamente descrito representava quem realmente queria ser, apenas quem precisava ser.

Agradeceu aos céus pelo dia estar chuvoso e pelo engarrafamento que pegara no caminho, estar atrasado significava não ter de lidar com pessoas logo cedo e nem ter que assistir o primeiro horário de química com a professora irritante. Estava tranquilo, aproveitado o vento gelado que batia contra o rosto enquanto caminhava pelo pátio molhado, o céu escuro dava a nostalgia que precisava para se acalmar e, naquele momento, só queria poder dar meia volta e fugir pra bem longe.

Mas tinha aula, e depois teria treino, e então voltaria pra casa e estudaria até a exaustão.







 

O senhor Kim não sorrira naquela manhã. O "bom dia" não tinha a sinceridade de todos os dias e o clima pesado se dissipava pela casa. O café também não parecia tão gostoso, era o mesmo de todas as manhãs, mas estava diferente. Não havia luz devido a chuva do dia anterior, por isso as cortinas estavam todas abertas, mesmo que o dia lá fora estivesse escuro. Nenhuma piada fora feita, nenhum sorriso trocado, apenas silêncio. Incomum e assustador.

O que havia de ser dito, o fora pela noite. Todos os "daremos um jeito" foram cortados pela triste realidade a qual teriam de se acostumar. A fábrica estava falindo e com ela o sustento de, não apenas eles, mas diversas outras famílias.
Minseok chorara enquanto segurava a mãe, Minsoo dormia no sofá e o pai secava os rastros da tempestade, repetira tantas vezes que encontrariam uma saída, mas nenhuma delas parecia real, não havia nada que pudessem fazer, a não ser:

- Eu vou procurar um emprego! 

A voz saíra baixa, carregada de um desespero incomum, um medo que ele escondia há meses, mas decidida, firme o suficiente para deixar claro que não aceitaria abjeções. O olhar duro do pai e a expressão incrédula da mãe não abalaram o semblante sério. Viu que ela abrira a boca para protestar, mas fora cortada pelo levantar da mão do  homem sentado à ponta da mesa, de repente, Minseok sentia-se cinco anos mais novo, como quando calava-se esperando um veredicto do pai.

- É sábio de sua parte que queira ajudar, e, devido a situação, não vou impedi-lo. É quase um homem agora e precisa saber sobre responsabilidade, mas não desvie o foco dos estudos, não se esforce de mais e não siga um caminho que não o agrada. Dinheiro não é tudo, meu filho.

E aí já não era mais só ele, era por toda a família, guardara aquelas palavras no mais íntimo de sua alma e cultivara a realização de, finalmente, estar tendo uma chance. Saíra para escola naquele dia sentindo-se segurar uma flor em meio ao caos.

Estava no último ano, logo teria de prestar vestibular e mantinha a decisão de já ter escolhido seu curso. Exigia de si uma grande quantidade de esforço, um tempo mínimo de estudos à fio e concentração. Não era sempre que tinha essa última, porque, querendo ou não, tinha uma enorme falha em se manter em algo por muito tempo, por mais que fosse do tipo de pessoa calma e quieta, se entediava muito rápido.

A escola era longe, tendo em vista que morava mais perto das montanhas, estava, inclusive, surpreso pelo rio não ter alagado tudo ainda após a tempestade, porém em breve isso mudaria, o céu já anunciava sinais de chuva e teria de correr se quisesse chegar à tempo de assistir aula. Não era como aquelas instituições dos ricos, não tinha salas enormes e ventiladas ou recursos diversos, era, basicamente, apenas intencionada em passar o conteúdo necessário para que, com muita sorte, conseguissem uma vaga na universidade federal.

Muitos não se importavam, sonhavam alto, mas não corriam atrás, aceitavam que a realidade era aquela e que não mudaria apenas porque entraram num lugar onde era destinado a eles, mas dominado pelos ricos, outros apenas iam por ir, certos de que dariam algum tipo de golpe do baú e se dariam bem, tinham os que só iam para encontrar os amigos e passavam a aula papeando ou namorando e tinha ele, que ninguém notava porque estava sempre ocupado estudando. 

Também não tinha amigos e nem alguém que gostasse, sempre fora muito tímido para se aproximar de qualquer pessoa e, aparentemente, realmente sua presença não era perceptível, ninguém nunca tentara vir e fazer contato. Todavia, enganava a si mesmo dizendo que não precisava de mais ninguém, que se bastava e não teria paciência para lidar com problema alheios, mas era óbvio que, às vezes, queria ter com quem conversar sobre qualquer coisa estúpida que viesse à mente.

As ruas estavam cheias e molhadas, pessoas iam e vinham com pressa pela calçada de pedra, e aí descer do ônibus, tornou-se uma delas também. Minsoo ficara com a mãe naquele dia, o senhor Kim saíra a procura de emprego e preferira deixar a menina a fazer companhia para a mulher. Minseok não se importava, gostava de poder andar sozinho em dias como aquele.

Ajeitou o casaco de forma confortável e adentrou o prédio vermelho e velho que ficava no meio de um quarteirão movimentado, sem portões ou grades, ninguém era obrigado a permanecer no prédio, ficava quem tinha interesse. Não estava atrasado daquela vez, pode ficar tranquilo.








 

Os corredores do clube estavam sempre impecavelmente limpos, as janelas grandes permitiam um ambiente claro e arejado. Nada disso importava a ele, porém. 

A piscina era grande e a temperatura amena, como fazia um dia frio, provavelmente estaria aquecida, se levar em consideração as tecnologias caras que agora eram usadas ali. A manutenção custava caro, assim como a mensalidade do lugar, mas ninguém reclamava porque dinheiro não era problema.

Sehun gostava de saber como funcionavam as coisas, gostava de estudar a tecnologia que ia nascendo conforme os anos passavam, gostava de saber com o que lidava, mas não tinha tempo de realmente ir a fundo em nada. 
Trocou-se rapidamente e ficou enrolado no roupão até avistar o treinador, sorrindo como se houvesse ganhado na loteria e, de fato, era quase isso. Siwon era um cara legal, entendia o que o rapaz passava e era o único amigo que tinha, fazia sua parte como profissional, mas nunca ia além do que o garoto podia ir, respeitava os medos dele e tentava ao máximo ajudá-lo, mesmo que não houvesse muito a ser feito.

Não trocavam palavras antes ou durante as horas em que precisava ser o menino prodígio, era apenas a relação esportiva ali, vez ou outra haviam gritos e reclamações, mas nada que os abalasse.

- Você foi ótimo hoje! Ainda no espírito da competição? - perguntara o mais velho no vestiário.

- Apenas fiz o que devia fazer.

- Não seja tão duro, Sehun-ah, breve vai se acostumar, sabe disso.

- Não quero mais isso, hyung, você sabe! - Olhava diretamente ao espelho, enxergando as olheiras e a pele pálida de mais, a água do banho recém tomado descia pelos fios escuros e caíam em gotinhas na pia. Estava cansado e o barulho do chuveiro aberto para o banho do mais velho o distraía um pouco. -Acho que vou pintar o cabelo, as pessoas das revistas agora vivem fazendo isso, é moda na Europa, se não me engano. 

- Devia fazer isso, quem sabe não se anima um pouco com as coisas, mudar os ares é sempre bom.

E, de fato, sabia que mudaria, só não tinha certeza se essa mudança alcançaria seu coração.








 

Não tinha um currículo, só por aí já havia começado mal. Nenhum lugar pagava bem por alguém como ele, podia ser pior, claro, mas não tinha ideia do que fazia bem além de cuidar de criança e limpar coisas.

Talvez não tenha sido à toa que, ao passar pelo clube, tenha se dado conta de que seu jeito metódico era ótimo para lugares que exigissem limpeza, e qual outro lugar poderia ser tão bom para ele quanto o que o ligava à sua maior paixão? Sequer se importaria de ser um faxineiro qualquer se pudesse ficar e ver, vez ou outra, os nadadores treinarem e competirem entre si, vê-los a mostrar uma desenvoltura que nascera com eles e que era aperfeiçoada naquele lugar. 

Entrou respirando fundo, torcendo os dedos para que desse tudo certo, que o recebessem e ajudassem, e quase chorou ao ser aceito. Ficaria responsável pela manutenção da piscina e dos vestiários da arena, trabalharia no turno contrário à escola e o salário era bom, suficiente para não morrerem de fome.

Duvidava que em algum momento já tivesse se sentido tão feliz, tão realizado e agradecido, mais ainda pela família ter compartilhado de seu momento, por terem comemorado consigo e dado força. Via o orgulho transbordar dos olhos de seu pai, nos sorrisos largos de sua mãe e nos abraços apertados da pequena Minsoo. 

O primeiro dia fora tranquilo, aprendia rápido, era esforçado, não fora complicado entender o funcionamento das máquinas e como devia organizar as coisas por lá, o difícil mesmo fora resistir à tentação de entrar na água transparente que ele mesmo tratara, mas estava escrito no contrato que isso causaria sua demissão imediata, então o que restava era ir limpar os armários do vestiário masculino.








 

O inverno agora era mais rigoroso, então todos os dias tinham aquela dificuldade para levar cedo, piorava aquela falta de vontade de viver e sentia-se cada vez mais dormente, menos emotivo, quase morto.

Ouvia os sussurros encantado das garotas sobre si pelos corredores e já não mais gostava, não era mais agradável, pensara que mudando o cabelo as coisas voltariam aos eixos e seu ego gigante voltaria a se inflar. Mas os fios agora descoloridos o mostravam que, na verdade, nunca fora quem pensava ser. 

Repetitivo, talvez, mas a realização daquilo era tão impactante que tudo o levava de volta ao fato de que tinha dezessete anos e não se conhecia, não era alguém autêntico e único, era um fantoche nas mãos dos pais e acabava por descontar aquilo mas outras pessoas.

Estava irritado, qualquer pessoa que aparecia pela frente recebia olhares feios, se vinham falar consigo eram maltratadas, respondidas de forma seca e ignorante, porque Sehun não gritava, jamais alterava o tom de voz, era a expressão que dava medo, o semblante escurecia e se tornava ameaçador e as pessoas geralmente atribuíam isso ao estresse, porque sabiam que ele não era mal de verdade. Por vezes, naquela semana se irritara com Siwon de forma grave, o outro nem havia feito nada de mais, mas a frustração acumulada e a proximidade excessiva, fizeram dele o alvo mais direto.

- Você precisa ir pescar, esse estresse todo não pode ser normal!

O mais velho nunca se importava com as ignorância alheias, até achava graça e aquilo irritava ainda mais o loiro. Saíra da piscina cego pela raiva, sequer viu o garoto baixinho que estava a vir em direção ao ginásio, esbarrou com tudo nele, quase indo ao chão junto com o menor. Não é necessário comentar o quanto de sua ira fora despejado gratuitamente contra o outro.

- Você não olha por onde anda não? Não presta atenção no que faz? Olha o caminho, garoto, se você ver que tem alguém vindo, você desvia entendeu? 

- A culpa não foi minha! Para de gritar comigo! E você não devia olhar por onde anda também? Por que só eu? 

- Você sabe quem eu sou? Você devia me respeitar! 

- Eu não sei, e nem quero, seu arrogante idiota! 

Estava paralisado com a audácia do garoto em desafiá-lo, em respondê-lo quando, claramente, estava soltando fogo pelas ventas, mas, estranhamente, não estava mais irritado, era como se, por um segundo tudo o que sentia tivesse sido deixado de lado, a ousadia alheia o havia levado a um patamar diferente de frustração, mas não de um jeito ruim. Nunca fora afrontado antes, não sabia distinguir aquele sentimento estranho, mas era isso, estranho.








 

A semana se passara lenta, o medo de ser demitido o perseguira por todo tempo, não conseguia dormir direito por conta disso e os pais já começavam a desconfiar que algo estava errado.

Lembrava das vezes que saía para nadar durante a noite, havia tanto tempo que não visitava o lago dentro do bosque ao pé da montanha, que temia ter esquecido como usar corretamente a trilha que o levaria até lá. Aquele lugar o trazia uma paz que não sabia por onde começar a explicar, uma calma conforme o vento ia passeando e acalmando tudo, tudo em si gritava para que apenas se jogasse na água e nadasse o mais rápido possível, nadasse como quando era criança e competia contra si mesmo, contando o tempo na cabeça e se esforçando para ir mais e mais rápido, sem perder a postura ou dobrar qualquer parte que não fosse precisa.

Mas estavam no inverno e, provavelmente, o lago já estava congelado, também não poderia se arriscar a sair naquele frio e ficar doente, seu trabalho exigia uma condição cem por cento apresentável, e não podia se dar ao luxo de faltar, principalmente quando não sabia se continuaria no emprego.

Sentia-se estúpido por ter respondido o garoto loiro, ele devia ter por volta de sua idade, quem sabe um ano mais velho, e era sócio do clube, visto que havia acabado de sair da piscina, ele tinha poder o suficiente para tirá-lo de lá com um simples estalar de dedos, como se não fosse nada. Todavia, Minseok nunca fora do tipo que abaixava a cabeça enquanto levava bronca, justamente porque na maioria delas não havia motivos para que ele fosse culpado, nunca fazia nada errado e não admitia que alguém o ofendesse por algo que não havia feito.

De fato, quem o rapaz loiro era, não fazia diferença, só esperava não cruzar com ele tão cedo, e que ele já tivesse esquecido de si. 





 

Mal sabia ele, que Sehun lembrava, mais até do que gostaria de admitir, mais do que poderia ser certo, e culpava o menor por ser tão desastrado. Não sabia se havia sido o bico adorável que o hipnotizara, ou a voz doce carregada de raiva, os olhos bonitos também eram encantadores, e se perguntava como raios havia decorado as feições alheias tão rápido e por que continuava pensando naquilo mesmo depois de duas semanas. Era ridículo.

Nunca pensava em pessoas por mais do que dois dias, seu interesse nunca durara mais do que isso é era estranho que agora se importasse tanto com alguém que havia gritado consigo e o chamado de "arrogante idiota". Oras, quem aquele baixinho gordo pensava que era? Aliás, quem, de fato, ele era? 

Não contara a Siwon o que houve, não tinha mais saco para ser enchido com as baboseiras do mais velho, por mais que aldeasse seu hyung e as coisas que ele dizia para acalmá-lo. Entretanto, era óbvio que ele notaria que algo estava errado, Sehun não era do tipo sucinto, não sabia guardar emoções, por mais inexpressivo fosse seu semblante. 

- O que houve?

- Nada!

E ali terminava a conversa, porque não bastava saber que algo estava errado, o difícil era descobrir o que exatamente acontecia, e o loiro sabia ser teimoso e implicante. 

Jogara-se novamente na piscina, ignorando o ardor dos músculos, queria apenas esquecer, fechar sua mente outra vez e fingir que nada acontecera.

Nadara diferente, com menos desenvoltura e graça, não havia ali o padrão de competição que nunca abandonava, não se importava com o tempo, apenas ia e vinha, usando o máximo de força possível, ignorando a respiração descompassada e errônea. Era apenas ele, tentando desesperadamente matar todos os demônios que rondavam sua cabeça e atormentavam seu raciocínio.

Estava tão farto de tudo, tão cansado de tentar tanto por quem não merecia nada e acabava se perdendo cada vez, porque a cada sorriso que dava à um patrocinador diferente, menos sentia vontade ou motivo para fazê-lo, a cada aperto de não ou abraço forçado em quem vinha "cumprimentar", o levavam a beira do choro. Mas se segurava. Segurava firme os pedaços que restavam e não os deixaria cair.






 

Siwon nunca fora do tipo de pessoa invasiva, nunca atravessara fronteiras que não tinha permissão e não se impunha perante a decisão alheia. Dias depois de ver o menino que acompanhara por anos, de enxergá-lo através da máscara que ele, tão insistentemente, colocava todos os dias, presenciava outro momento parecido, com uma pessoa diferente.

Fazia exatamente um mês desde que o novo garoto havia sido contratado, um mês em que se esforçava para ajudá-lo como fosse necessário porque o brilho nos olhinhos alheios ao observar os treinos escondido atrás da arquibancada, encantavam o técnico. Se tinha algo que aprendera com o passar dos anos, era reconhecer a paixão pelo esporte, saber quando havia a chama que alimentava o desejo de crescer dentro de uma modalidade específica e que havia morrido dentro de Sehun.

Certamente desconfiava da vontade alheia de querer estar ali com os outros rapazes, mas, em dia confuso, após o expediente, o destino o levara de volta ao clube, sabia que estaria fechado e que ninguém estaria lá, por isso voltou para buscar as chaves que deixara no armário, o barulho característico das braçadas brutas na piscina principal o levara até a cena que parecia se repetir como deja vu.

Era bonito de se ver, para ele que entendia, que estudara e competira a vida toda, estava diante de um talento que jamais poderia ser negado, independente da condição financeira do garoto, pagaria para treiná-lo se fosse possível, o levaria consigo, mas faria dele o que todos gostariam que o menino Oh fosse.

Parou exatamente onde sempre ficava observando os garotos na piscina e fez o que fazia de melhor; gritou ordens.

- Não sobre tanto o braço, isso te atrasa, ondule mais o corpo, sua velocidade depende disso!

O desespero por ter sido pego e olhar assustado, quase o levaram a se afogar por ter de para muito rápido, Siwon riu um pouco, achando a situação engraçada, mas genuinamente preocupado com o que havia levado o garoto que, tão fielmente, seguia as regras, à quebrar a mais importante delas.

Um milhão de perdões lhe foram implorados, lágrimas corriam pelo rosto delicado e se misturavam às gotinhas de água e cloro, acalmou-o com um sorriso e um abraço, sem se importar em se molhar ou qualquer outra coisa. A tristeza não combinava com ele, definitivamente eram feições muito bonitas para serem tomadas por sentimentos ruim.

E, com certeza, sabia que ele não merecia as coisas pelas quais passava, tinha sonhos bonitos de mais para que fossem ignorados, sonhos tão parecidos com os do próprio Siwon quando mais novo, um amor por estar fazendo o que gostava, mas tendo de renunciar porque muitas coisas dependiam dele.

Minseok chorava por sentir-se perdido, fraco, cansado. Sehun chorava pelo mesmo motivo, mas eram separados pela força de seus sonhos. Minseok ainda sonhava, guardava em si seus anseios, Sehun sequer sabia sonhar.

- Enxuga esse rosto e levanta a cabeça, você não vai deixar isso de lado! 

- O-o que?
 

-Vai ficar todos os dias depois que acabar o expediente, me esperando lá fora, prepare suas coisas para treinar, venha vestido se puder ou se troque antes que eu chegue! E esteja pronto para ralar!

As lágrimas agora eram de alegria e o sorriso que decorava o rosto alheio era de genuína felicidade, o abraço que recebera de uma gratidão que recompensava qualquer coisa. Os problemas daquela criança o compadeceram e sabia que no final... No final valeria a pena.







 

Os dias ficavam cada vez mais longos conforme o frio aumentava, mas aguentava sem reclamar. A parte exaustiva eram os esbarrões que levava de Sehun, a cada vez que se viam, ele fazia questão de diminui-lo e humilhá-lo, tentava não se importar com as palavras duras do outro, mas sempre fora sensível de mais. 

O senhor Kim havia conseguido um trabalho definitivo na fábrica de automóveis recém-aberta, e passava os dias longe, a mãe e Minsoo continuavam a trabalhar com a horta e outros trabalhos para fora, e ele continuava a ser "servidor" do clube. Não contara a ninguém sobre os treinos, mas o pais estranharam o fato de ter passado a chegar mais tarde, ficaram preocupados, mas não perguntaram o que estava acontecendo, ficara grato por aquilo, estavam o tratando como o adulto que se mostrava ser. De certa forma, tinha medo de contar, era óbvio que não ficaria contra si porque sabiam que amava o esporte e não estava sendo cobrado pelos treinos, mas ao mesmo tempo, sabia que não aceitariam por ser caridade da parte de Siwon. Se importava? Não, por isso mantinha em segredo. 

Era fácil se encaixar no que era exigido, passara anos se adaptando aos moldes profissionais, mas não abandonava seu estilo próprio, sentia o orgulho do treinador com seus resultados e compartilhava com ele a alegria pelos bons números. Vez ou outra, os elogios eram dispensados, principalmente quando fazia marcas melhores do que os próprios membros, Siwon apenas comentava por alto, como se tivesse medo de que Minseok se deixasse, de alguma forma, fraquejar com aquilo. 

Todavia, era o contrário, apenas se impulsionava a melhorar cada dia mais e mais, buscava inspirações e tentava como podia. Ansiava pelo verão, quando os dias ficariam mais quentes e o lago finalmente voltaria a ser seu lugar favorito. 

- Vou te inscrever nas estaduais.

Viera como uma notícia comum, num tom normal como que pedia água, como se aquele não fosse um dos passos mais importantes rumo ao maior desejo da vida alheia, como se não fosse causar um choro incessante de gratidão. Minseok terminava de se vestir após um treino exaustivo, e saíra do ginásio com o maior sorriso possível, tomado pelo sentimento de uma realização pessoal única. 

- Precisamos de patrocínio para chegar às nacionais, então vamos treinar ainda mais até o primeiro campeonato, eles precisam ver do que você é capaz!







 

Quando o verão chegou e os dias nublados já não mais traziam conforto, Sehun tomou coragem para discutir sobre seu futuro com os pais. Passara uma semana inteira pensando sobre o que e como falar, que palavras usar e qual seria a resposta, se seria ouvido.
E não foi nenhuma surpresa quando fora cortado antes mesmo de explicar como se sentia, e nem como não lutou contra a decisão de se inscrever nas estaduais e comprar um novo uniforme. Sentia que jamais poderia ir contra o que eles ditavam e impunham, estava escravo dos sonhos dos próprios pais eternamente.

Chorara por um bom tempo no banheiro do vestiário vazio, o clube estava fechado há alguma horas e sabia que poderia sossegar ali, saiu decidido a se jogar na piscina e fazer o que sabia de melhor até a exaustão.

Fora por entre braçadas largas e desesperadas que notara, pela primeira vez, o rapazinho que adorava provocar, emergir do outro lado, estava em outro mundo assim como ele mesmo, vivendo pelo que fazia no momento. 

Mergulhara um pouco e o observara,  indo e vindo, e não era difícil de ver que aquele menino era o melhor que já havia visto. E sorriu. Porque o bico que ele fez ao parar e achando não ser satisfatório, fora adorável. Não era de agora que Sehun o notava, o corpo curvilíneo chamava atenção do loiro, não era plano e travado como o da maioria dos jogadores, as pernas roliças era bonitas de se olhar e por diversas vezes se pegara pensando qual a sensação de poder apertá-las. Estava louco, definitivamente havia enlouquecido em meio a todos os problemas que surgiam na vida.

O problema viera quando ambos se notaram no acesso de raiva que tivera, e mais uma discussão começara, cada um em uma baia gritando coisas sem sentido e que eram, supostamente, para machucar o outro. 

- Se no espelho, garoto! Você não se encaixa no padrão da Liga, não tem o corpo ou a altura de um atleta profissional, eles nunca vão te aceitar, você é gordo e baixo, desiste de uma vez e...

- Chega!

Minseok estava calado, chocado irado, mas, sobretudo, triste, decepcionado. A voz de Siwon soara pelo ginásio como um trovão, nenhum dos dois jamais o havia visto gritar, não combinava com a personalidade alegre e acolhedora. O loiro sabia que estava errado, mas não era ele ali, era a pessoa frustrada e triste que assumia sob situações estressantes, não aceitaria  que o único e melhor amigo tomasse o lado do estranho que acabara de chegar, não fazia sentido.

- Você não pode permitir que ele continue aqui, ele é um faxineiro, não pode entrar na piscina!

- Não, Sehun, ele é um nadador, assim como você, é meu pupilo e merece respeito!

- Como assim "pupilo"? Você não pode estar falando sério!

- Se não é capaz de respeitá-lo então não merece meu respeito.








 

Fora uma confusão quando os treinos foram descobertos, por muito pouco não fora demitido e por menos ainda não teve de desistir de Minseok. Não tinha sido fácil convencer o CEO e os sócios do clube, a maioria deles ainda consideravam sua decisão de treinar um garoto pobre um equívoco, não havia nada que ele pudesse os oferecer, mas insistira, apostava no talento do baixinho tão insistentemente que eles permitiram que ficasse e continuasse trabalhando durante o dia e depois treinasse.

O problema mesmo era a forma como o garoto começara a agir, estava tão afetado pelas palavras ofensivas de Sehun que, mesmo após semanas, ainda via o semblante tristonho, tão insatisfeito consigo mesmo que entrou em uma rotina exaustiva de malhar e viver a base de água, buscando perder o máximo de peso possível e adquirir o máximo de corpo que pudesse. Terminava as tarefas o mais rápido o possível e ia até a academia até dar a hora de se encontrar com o treinador.

Não podia culpá-lo, de fato, a estrutura física era importante para a Liga, mas o principal era o talento, era se estava ou não ganhando as competições e Siwon sabia que ele era mais do que capaz, só não apoiava a forma como estava se conduzindo ao "adequado".

Os resultados melhoravam cada vez mais, e, agora que conhecia os pais do garoto, tinha a confiança de que tudo caminhava para uma vitória mais do que merecida. 

 

Foram quatro meses sem encontrar com o menino Oh, e seu garoto estava pronto de uma forma que o outro jamais estaria. 

Pode ver o choque nos olhos de Sehun ao ver Minseok pela primeira vez desde a briga, e entendia porque era tão estranho. A imagem do menor era, literalmente, diferente, músculos de mais para um rosto tão delicado, mas ninguém se importava desde porque continuava a mesma pessoa gentil e simpática de sempre, Minsoo até gostava dos gominhos na barriga do irmão, segundo ela, ele parecia um de seus idols bonitos.

O Campeonato Estadual chegara trazendo grande comoção. Haviam oito competidores, o Oh e o Kim entre eles, as famílias estavam na arquibancada, bem longe uma da outra, casa uma torcendo por seu menino de sua forma. 
Os cinquenta metros daquela piscina nunca foram tão longos, Siwon observava a desenvoltura dos outros garotos sem sequer olhar para Minseok, muito nervoso para sequer torcer. 

Enquanto isso, o garoto contava silenciosamente os segundos que tinha, agarrava-se na vontade de jogar ao mundo sua vitória, de mostre mais do que o que era esperado, calar a boca daqueles que não acreditavam em si, e foi nisso que pensava ao ir cada vez mais rápido, mais longe, rumo a ponta que determinava que, sim, ele havia ganho, e, sim, havia chegado ao topo do pódio pela primeira vez como um campeão acima da expectativas, mesmo que tivesse que ter ao lado o loiro que tanto ocupara seus pensamentos nos últimos quatro meses. 

Vibrava em orgulho, não pode deixar de abraçar o senhor Kim enquanto Minseok recebia a medalha, o sorriso no rosto do garoto era tão grande, tão bonito, não conseguia conter o sentimento de estar fazendo algo que não fizera pelo próprio filho antes que o perdesse. Via naquela família a sua própria quinze anos antes, os perdera em um acidente causado por um motorista rico e bêbado, jurou então, que recompensaria pelos sonhos perdidos naquele lugar, e agora cumpria.







 

O abraço repentino que receberá no vestiário ao se trocar, o surpreendera. Os braços longos e fortes o rodeavam como se fossem feitos para aquilo e, quem sabe, realmente fossem. Por um segundo, quis lutar, afastá-lo de si, mas não podia, havia aceito há algum tempo que Sehun tinha um efeito estranho sobre si, e descobrira, enquanto conversava com os pais em uma noite qualquer, que aquilo significava que estava apaixonado pela primeira vez. Jurava que seria expulso de casa quando contou por quem era, mas apenas recebera um sorriso carinhoso, um abraço terno e a promessa de que, independente de quem escolhesse amar, seria sempre o filho precioso deles. Chorara um pouco, talvez muito, pela sorte de tê-los.

- Me perdoa, eu não sei o porquê de ter tratado você daquele jeito aquele dia, eu não... Não era eu, nunca foi, era só...

- Eu sei... O hyung me contou, mas mesmo assim me machucou, você não devia agir assim com as pessoas Sehun, não pode sair descontando suas frustrações nos outros!

- Sei disso, me perdoe. E se não conseguir ou quiser, tudo bem também, eu entendo.

- Já o perdoei há muito tempo... 

O olhos do loiro brilhavam diferente, se pudesse ver, saberia que os seus próprios também, veria o quanto havia reciprocidade os rodando e o quanto aquele momento era precioso. Ambos os corações batiam na mesma frequência acelerada quando os lábios se encontraram de súbito, Sehun não vira os olhos arregalados em surpresa do menor, não queria pensar na rejeição que sofreria, ia se afastar quando foi tomado pela nuca e convidado a aprofundar o contato.

Estivera com inúmeras garotas, mas naquele momento era especial, Sehun sentia que não estava mais solto, mesmo que o outro o recusasse, havia caído feio pelo sorriso infantil e gengival, pela simplicidade e gentileza daquele ser maravilhoso, e, mesmo de longe, alimentara o desejo de cuidar para que ele fosse sempre feliz.

Demonstrou o máximo de carinho que pode ao tomá-lo nos bancos do vestiário vazio, reforçava o quão precioso ele era com beijos suaves pelo pescoço e dorso, já não haviam mais as curvas bonitas e as coxas agora eram músculos firmes e definidos, detestou-se por saber que era culpa sua, mas não deixou de amar cada centímetro do outro, de fazê-lo sentir, experimentar, descobrir. Foi delicado ao prepará-lo como pode e ao preenchê-lo, esperou o tempo dele, sussurrando seus sentimentos mais íntimos para que só ele soubesse, tentando fazê-lo ajustar-se a si e, finalmente, tornando um. 

Minseok sentiu-se querido, pela primeira vez soube o que era ter alguém e esperava, sinceramente, que o Sehun que deixara tocá-lo, não era o mesmo Sehun que o fizera chorar. Talvez, tivesse se entregado fácil e rápido de mais, mas fantasiara muito com aquilo para simplesmente ter medo.







 

A parte difícil mesmo, fora se impor, de verdade e pela primeira vez, aos pais que ainda não haviam aceitado a prata do ultimo campeonato, inconformados por perderem, sem condições de manter uma conversa seria e civilizada, o silêncio só veio quando Sehun gritou, em alto e bom tom, que estava cansado, que não ia mais tolerar ser usado, censurado e proibido das coisas que gostava e queria fazer, e que se não aceitassem quem ele era e o que queria ser, então não precisavam se importar mais em ter um filho, que daria um jeito de se virar na vida, mas não continuaria com pessoas manipuladoras. Teve de ouvir sobre sua sexualidade ser errada, que estava apenas confuso, quem sabe doente, e dali saiu carregando tudo o que tinha, lançando um último olhar magoado àqueles que deveriam amá-lo antes de qualquer coisa.

A mudança de favoritismo da sociedade, foi clara. Kim Minseok foi escolhido como representante do país nas olimpíadas e Sehun ficara extremamente orgulhoso dele. Havia conhecido a família do outro no dia das nacionais, morrendo de medo do que aconteceria e não muito confiante em si mesmo ou nas palavras de aceitação que o menor o contara, era difícil, principalmente porque a opressão e o preconceito ainda eram extremamente fortes, e tinha medo de acontecer com o outro o que acontecera consigo. Todavia, não sabia o que tinha feito até pedir em voz alta ao senhor Kim se poderia namorar o filho dele antes mesmo de Minseok descer do pódio. Vermelho como um pimentão, mas feliz por ter redimido seus erros e poder ter a quem tanto gostava ao seu lado, abraçou forte seu pequeno campeão comemorando a maior de todas as suas vitórias. O amor.





 


Notas Finais


Sentido? O que é isso? é de comer? hsuahshasu sério pelo tempo perdido da sua vida, o negocio é que eu não sei plotar pra one shot, aí eu acabo me ferrando com o tanto de ideia que eu sinto que tenho que escrever pras coisas fazerem sentido e aí eu acabo tendo que correr com a história e fica uma bosta, que nem esse final sem noção. Se tiver alguma dúvida pode perguntar, se quiser saber o que vem depois também hauhssahsuha
Enfim, obrigada por ler e, mais uma vez, me perdoe.


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