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História Por entre estrelas cadentes e sonhos cor-de-rosa - Febre


Escrita por: StardustWink

Notas do Autor


/tira poeira da coleção/ olá! adivinha quem foi a autora que esqueceu de terminar de upar as drabbles que ela já escreveu aqui? Exatamente! Sou eu. /gota

Quem não gosta de uma fic em que pessoa A tá doente e é cuidada por outras?? eu gosto, pelo menos. e é isso que vocês vão encontrar aqui www também foi uma oportunidade de escrever mais a Opal, que é uma das melhores coisas de pokémon swsh wwwww

Essa fic é pós-canon, então cuidado com spoilers!!!

Boa leitura!

Capítulo 6 - Febre


Bede odiava ficar doente. 

Fora sempre assim desde que ele era pequeno. Toda vez que acontecia, seu corpo ficava mole, seus pensamentos mais lentos do que ele gostaria, e por mais que se cobrisse o melhor que podia, arrepios subiriam por sua espinha e um calor desconfortável se instalaria sob a sua pele. 

Resfriados no orfanato queriam dizer que ele virava uma presa fácil, e que as outras crianças estavam livres para retribuir todas as brigas que ele havia ganhado antes. Significavam ele sozinho encostado contra a parede da cama, envolto num lençol e com os olhos atentos à porta, mal podendo fechar os olhos. 

Depois que fora acolhido por Rose, eles passaram a se igualar à um inconveniente. Reações demoradas queriam dizer mais derrotas em batalhas, e mais relatórios não satisfatórios que ele tinha que entregar. Se quisesse provar para o presidente que ele era a pessoa certa a se investir, Bede não poderia gastar seu tempo deitado em uma cama enquanto seus adversários continuavam avançando. 

Bede nunca tivera ninguém para cuidar dele nessas horas, então tivera que aprender a cuidar de si mesmo - e o garoto julgava ter feito um bom trabalho, considerando a ocorrência rara de seus resfriados naqueles últimos anos. 

Mas a rotina puxada de seu período de treinamento no ginásio tipo fada e sua posterior promoção ao novo líder tinham aparentemente levado seu corpo para além do limite. Pois numa manhã de inverno, o garoto acordou com a sensação familiar de nuvens em sua cabeça e um desconforto na garganta. 

Ele conseguira disfarçar a doença o máximo que pudera - havia dois participantes do torneio que teriam suas partidas naquele dia, não era tempo de descansar em casa - mas Opal só precisara olhar uma vez para Bede para perceber que havia algo de errado.  

Ela notara seu rosto vermelho e sua respiração irregular, e suspirara fundo. 

- Eu cuido dos treinadores de hoje, criança. Agora volte para casa e descanse. 

- Mas-! É o meu dever como líder de ginásio, eu não posso abandonar o meu posto assim! - Bede tentara rebater, mas era inútil. A senhora o direcionara um olhar severo, o cortando de qualquer outra palavra que ele poderia dizer. 

- E como sua superior, eu devo lembrar que é dever do líder de ginásio receber seus oponentes em sua melhor condição física para uma batalha. Eu não vou me repetir, Bede. - Ela dissera de uma forma que tornara impossível discordar, e o garoto teve de trincar os dentes antes de dar meia volta. 

Òtimo. Além de pegar um maldito resfriado, ele ainda levara uma bronca de sua superior. Que boa maneira de começar o dia. Bede estava tão irritado que, quando chegou em casa, mal lembrou de liberar seus pokémons antes de voltar mais uma vez para o seu quarto. 

Ele jogou sua luva por cima da escrivaninha, quase errando o alvo. O movimento brusco, no entanto, deixou sua cabeça ainda mais desorientada, e o garoto teve de se apoiar na parede para não tombar para o lado. 

- Reene…? - Hatterene flutuou para perto de seu treinador, preocupada. Bede levantou uma das mãos num sinal para tranquilizá-la, e esperou sua tontura passar para ir sentar-se na cama. 

- Droga. - Ele murmurou, bagunçando o cabelo com uma das mãos enquanto massageava as pálpebras com a outra. 

Durante seu treinamento, ele já se desentendera várias vezes com Opal. Em meio a testes sem sentido e a rotina ríspida de estudos, tiveram muitos momentos em que o garoto pensou em desistir, antes que sua teimosia e própria consciência pesada o fizessem voltar. 

...Mas aquela era a primeira vez que ele via um olhar realmente desapontado partindo dela. 

Bede desceu a mão de seu cabelo, encarando seu pulso que de repente parecia leve demais, quase como se houvesse algo faltando nele. Fora tão fácil ser jogado fora uma vez; bastou um erro seu para que Rose se recusasse a vê-lo novamente. 

E se isso acontecesse de novo?  

- ...Tsc. 

O garoto tirou o pensamento da cabeça, apressando-se para debaixo das cobertas. Era inútil pensar numa coisa dessas agora. Caso Bede quisesse continuar a mostrar seu valor para a antiga líder de ginásio tipo fada, teria que primeiro melhorar desse estúpido resfriado. 

Ele fechou os olhos e tentou dormir em meio aos seus pensamentos conturbados, caindo eventualmente num sono inquieto. 

xxx

 

Quente. O ar estava abafado ao redor de si e era difícil respirar, como se um peso estivesse alojado por cima de seu corpo. Ele moveu os braços, tentando se livrar do que poderia ser o problema, mas sem sucesso. 

Ele odiava isso. Era quase como se Bede fosse uma criança de novo, tossindo enquanto se escondia inutilmente por debaixo de um lençol fino demais sozinho no quarto do orfanato. A dificuldade de respirar, de se mover, de abrir os olhos. 

Por mais que ele tentasse levantar sua voz, ela saia rouca, quase muda. Dentro daquele lugar, não havia ninguém que poderia responder à suas preces. 

O pequeno garoto se encolhera contra sua cama, fechando os olhos, comprimindo-os tão apertados que lágrimas escaparam para deslizar por suas bochechas. 

Dói. Está quente demais. Ele não conseguia respirar. 

Alguém. 

Não importa o quanto ele chamasse, ninguém viria por detrás daquela porta. Fora assim desde muito, muito tempo. Era inútil desejar para que fosse diferente. 

Alguém, por favor. 

Mas, ainda assim… Ele não queria ficar sozinho. Ele não queria desperdiçar a sua vida numa doença boba quando tinha tanto à provar ainda. 

Por favor...

Quando finalmente achara um lugar que poderia ser seu-!

- Bede! 

Uma voz soou próxima ao seu rosto, seguida de um toque gelado em sua testa que trouxe um alívio instantâneo à sua pele. O garoto comprimiu os olhos, custando à abri-los depois de piscar algumas vezes, e se deparou com o rosto preocupado de Gloria enquanto ela jazia sentada na borda de sua cama. 

- Ah, você acordou…! Eu estava ficando preocupada. - A garota abriu um sorriso largo, se aproximando ainda mais o rosto dele e movendo sua mão delicadamente de modo a afastar a franja de olhos ametistas. - Quando a Sra. Opal me disse que você estava doente, eu não imaginava que fosse tão sério… 

- Glo...ria? - Ele murmurou, testando a sua voz ainda rouca de sono e da doença. A garota desceu seu outro braço para trás das costas dele na cama, indicando levemente para que ele se sentasse. 

- Eu mesma! Desculpe por entrar do nada, mas você não respondeu a campainha e seus pokémons me deixaram entrar, então… - A garota tinha um olhar meio sem graça no rosto, mas não parecia nem um pouco arrependida. Buscando algo na mesa de cabeceira, ela ofereceu um copo d’água para o jovem ao seu lado. - Aqui, bebe um pouco. 

Ele a obedeceu sem protestar, sua mente ainda tentando entender como a Campeã fora parar ali em seu quarto num dia como aquele. Quando Gloria a perguntou se ele se medicara mais cedo e o garoto balançou sua cabeça em negação, ela lhe entregou um comprimido com um suspiro. 

- Você tem que tomar mais cuidado, Bede. Uma gripezinha dessas pode virar algo sério se você não se cuidar direito. - A garota tomou o copo das mãos dele depois que o mesmo havia tomado o remédio, pegando em seguida o termômetro para medir sua temperatura. 

O garoto obedeceu às ordens dela sem protestar, olhos fixos em seu rosto. Gloria, enquanto esperava o tempo do termômetro, finalmente retornou o seu olhar tombando a cabeça para o lado numa pergunta silenciosa. 

- Por que você está aqui? - Foi o que deixou os lábios dele enfim, depois de segundos pensando numa pergunta. 

- ...Eu já falei, não? A Sra. Opal me contou que você estava doente quando eu passei no ginásio, e eu resolvi vir aqui para ver como você tava. - Gloria levantou uma das mãos para coçar a bochecha. - Err… eu costumava ficar doente muitas vezes quando era mais nova, então pensei que podia ajudar em qualquer coisa… 

- Por quê? - Ele insistiu. Apesar de rivais e de se encontrarem para batalhas uma vez ou outra, eles não eram necessariamente próximos. Não o suficiente para que ela tivesse a obrigação de cuidar dele numa situação dessas. E, ainda assim, lá estava ela. 

A garota piscou mais uma vez. 

- Eu não queria que você ficasse sozinho, oras. 

Os olhos dele se arregalaram então. Gloria, que falara aquilo como se fosse óbvio, corou levemente para o garoto que a encarava surpreso sem dizer nada. Ela desviou o olhar para a malha da cama, um sorriso sem graça de volta em seus lábios. 

- E foi bom que eu vim, né! Porque você tinha esquecido o remédio, e seus pokémons estavam bem preocupados quando eu cheguei, e você parecia estar tendo um sonho horrível também, então eu só… 

- ...Gloria. 

- S-sim! - A garota interrompeu a si mesma, endireitando-se de uma vez só na cama do quarto. 

Bede abriu a boca para dizer mais alguma coisa - um agradecimento, uma resposta fraca, ou algo que ele certamente se arrependeria de falar caso estivesse recuperado - mas o bipe agudo do termômetro interrompeu qualquer fala que ele poderia fazer. 

Com o momento desfeito, Gloria sorriu sem graça enquanto ele, com o rosto vermelho se intensificando, entregou-lhe o aparelho. A garota olhou para o display, suspirando para os números. 

- Está quase em quarenta… isso não é bom. - Ela o empurrou levemente em um dos ombros para que ele deitasse de novo. - Dorme mais um pouco, ok? Eu trouxe algumas coisas para fazer sopa, e acho que seria bom colocar algo úmido na sua testa para diminuir a febre. Ah, e mais cobertas seria bom também… 

Gloria logo estava se embolando com seus pensamentos novamente, contando os afazeres com os dedos enquanto buscava apoio na cama para levantar. Antes que ela pudesse fazer isso, no entanto, foi impedida por uma mão segurando a sua. 

Bede tinha os olhos virados para o lado oposto, o vermelho de seu rosto pela febre parecendo ainda mais vibrante na luz do quarto. Ele não conseguiria pedir para ela ficar mesmo se quisesse. Sua boca não abria, e admitir aquilo em voz alta seria constrangedor demais mesmo em seu estado febril. O garoto não conseguia nem olhar para ver sua reação. 

Mas a sua mão segurou a dela mais forte, e logo depois, ela retribuiu o gesto. 

- ...Mas eu acho que posso esperar mais alguns minutos. - Gloria tinha a voz doce, e certamente um sorriso ainda mais gentil em seu rosto. Bede queria ter a coragem de poder vê-lo de frente. 

No fim, ele teve que se contentar com a mão que deslizou para seu cabelo, gentil em seus cachos como a voz dela que, murmurando uma melodia baixinho, o levou até o mundo dos sonhos mais uma vez. 

xxx

 

Na segunda vez que Bede acordou, a floresta de fora de sua janela já cintilava em tons de laranja e o início de púrpuras acompanhando o pôr-do-sol que adentrava por entre as copas das árvores. Felizmente, ele já estava se sentindo bem melhor - um sinal de que o remédio provavelmente começara a fazer efeito.  Uma mão estava em sua testa medindo sua temperatura, mas o rosto de Gloria adormecido que ele vira assim que abrira os olhos o confirmara de que havia outro integrante no quarto. 

O garoto só pôde constatar isto até que a proximidade que seu rosto tinha do de sua rival o fizesse prender uma exclamação de susto em sua garganta, e jogasse sua cabeça para trás. 

- Shh. Cuidado para não acordá-la, criança. - Uma voz o interrompeu de falar qualquer coisa, e Bede finalmente olhou para além da garota que dormia ao seu lado na cama para a sua superior no ginásio de fada, que encarava a cena com um sorriso no rosto. 

- Sra. Opal…? - Ele ainda estava um pouco rouco, e o garoto tossiu mais uma vez antes de continuar. - Por que você está aqui?  

- Não é óbvio? Eu vim cuidar do meu pupilo displicente que pensa não haver problema em aparecer no ginásio quase desmaiando de febre. - Opal ainda tinha o tom repreendedor em sua voz, mas este estava acompanhado de um sorriso gentil. - ...Mas, pelo visto, eu não precisaria ter me preocupado muito. 

A senhora direcionou um olhar para a garota adormecida, e Bede engoliu em seco. Foi aí que ele percebeu a mão que ainda segurava a sua por cima das cobertas. 

- Parece que ela não queria soltar a sua mão, não é. - Opal deu uma risada baixa por trás de uma das mãos, e as bochechas do jovem se intensificaram em vermelho. - Ah, um romance juvenil é tão rosa! Essas coisas não acontecem tanto depois que você envelhece, sabe. Aproveite enquanto pode, querido. 

- O-o que você quer dizer com isso? - Bede gaguejou em resposta - sua mente ainda estava travada na palavra romance - mas a senhora apenas riu novamente em resposta. 

...Depois, o sorriso de Opal tornou-se menor, mais suave. Ela buscou um pano úmido de uma pequena bacia ao lado da cama e o espremeu um pouco, antes de colocá-lo delicadamente por cima da testa do garoto. 

- Você deveria aprender a depender mais das pessoas que se importam com você, criança. - Opal passou uma mão levemente pelo seu cabelo, antes de afastá-la. - Porque eu posso contar pelo menos duas aqui neste quarto que viriam assim que você chamasse. 

Bede tentou procurar palavras para responder, mas estas ficaram presas junto ao nó que de repente formara-se em sua garganta. Ele abaixou o olhar para a coberta, ouvindo mais um risinho de Opal antes que ela se afastasse da cama. 

- Você não comeu nada até agora, não? Eu vou preparar alguma coisa. Descansem mais um pouco enquanto isso. - A senhora falou por último antes de ir em direção à cozinha. Bede percebeu Hatterene ao lado da parede, que o deu um sorriso antes de sair atrás dela e fechar a porta. 

Ele voltou os olhos para Gloria, então, que continuava a dormir em meio à tudo aquilo com uma expressão boba em seu rosto. O garoto encarou suas mãos entrelaçadas mais uma vez, e sorriu. 

Anos atrás, ele estaria sozinho com seus pokémons naquele quarto, mas agora… 

Bede definitivamente não admitiria para Gloria que estava feliz em tê-la conhecido, não ainda. …Mas um agradecimento, isso ele podia tentar. 

Talvez ficar doente não fosse mais a pior coisa do mundo. 

 


Notas Finais


/aquele momento em que você percebe que postou uma fic de alguém ficando gripado e falando para não subestimar uma "gripezinha" no meio de uma pandemia/

......... olha, pra minha defesa, essa fic tá escrita desde fevereiro! Eu não sabia que estaríamos nessa situação agora sfhkdf De repente foi o meu inconsciente falando, haha;;


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