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História Por que justo você? - Não tem mais por que me render.


Escrita por: SVBdS

Capítulo 7 - Não tem mais por que me render.


- Sabe Tom... Eu não entendo o que te faz tão diferente.

- Talvez o fato de eu não ser igual?

- Você não é bom com as piadas.

- E quem lhe disse que isso era uma piada?

- Eu não lhe entendo.

- Ninguém me entende.

- Você é difícil.

- Vocês que são difíceis.

- Você nunca foi uma criança normal...

- Queria que eu fosse só mais um neste mundo?

- Não foi isso que eu quis dizer...

- O que é que você quis dizer então?

- Quis dizer que você não fala com as pessoas, não tem amigos.

- Eu sou a ovelha negra desta família.

- Falando assim você parece um depressivo.

- Não sou um, não se preocupe.

- Eu sei que não.

- Mãe?

- Sim.

- Sabe qual é a pior parte de sentir algo?

- Não...

- Não saber o que se está sentindo.

- Mas você está sentindo algo?

- Sim... Eu acho...

- Pelo menos você não é um robô.

- As pessoas gostam de se referir a mim como um robô. Não gostam?

- Você da o motivo.

- Não é minha culpa se eu nasci com erro de produção.

- Eu sei, é minha.

- Não é sua. Não é culpa de ninguém.

Ela me encarou e eu saí de casa.

Fiquei andando sozinho, nada diferente do normal. Por que as pessoas ficam usando a palavra "amor" como força? Será que é porque o amor dói; então você precisa ser alguém forte para aguenta-lo?

Acho que todos estão errados, ódio não é igual à tristeza. Pessoas sem amor não são pessoas tristes, apenas pense: Se você ama alguém você tem medo de perder essa pessoa, fica triste se ela está triste, não quer que fiquem perto dela, quer ela só para si, se torna um ser egoísta, mas se você não ama ninguém você não tem essas preocupações, então você não tem motivo para ser triste.

Mas você também não tem motivo para ser feliz.

Então, resumindo, é impossível ser feliz sempre, mas não é impossível ser triste sempre, que tipo de mundo é esse? Um mundo que nos abriga a viver na mesma situação, que nos obriga a chorarmos, é como se ele dissesse: "Se mate, você nunca vai ser feliz de qualquer forma".

É louco pensar nisso.

- Bom te ver por aqui.

Olhei para traz, era Luka, já devia ter imaginado.

- Então, está bem?- Eu sorri.

- Sim, você?- Ele sorriu também.

- Não sei o que é "estar bem".

- Agora eu entendo porque as pessoas não falam com você.

- Desculpa se eu sou uma pessoa difícil.

- Prefiro assim.

- Então é melhor que eu seja uma pessoa complexa?

- Talvez, mas você poderia tentar falar algo que faz sentido.

- Como alguém que não faz sentido fala algo que faz sentido?

- Não sei.

- Se você não sabe imagine eu.

- As férias são muito paradas.

- Quer o que? Vamos para uma festa de piscina com uns amigos para ficar olhando as garotas de biquíni pulando na piscina enquanto nós comemos churrasco e bebemos bebidas alcoólicas ouvindo funk.

- Para uma pessoa que nunca fez isso você entende muito bem como as coisas funcionam.

- Eu assisto filmes.

- Você diz que odeia esses filmes.

- Você já percebeu que eu não sou normal?

- Já.

- Mesmo assim, não gosto de funk, nem de ficar vendo garotas de biquíni.

- Você acabou de humilhar toda a "cultura" brasileira dizendo que não gosta de funk. E sobre as garotas? Você é gay mesmo.

- Não fale assim.

- Como assim?

- Essa palavra "gay" ela é estranha.

- Por quê?

- É como se você estivesse... Sei lá... Tipo, dizendo que eu faço parte de algum grupo social.

- Tipo chamar alguém de negro, ou branco?

- Sim.

- Mas qual o problema de participar de um grupo social?

- O problema é o simples fato de se estar participando de um grupo social.

- Não quer se render a sociedade?

- Não. Recuso-me a ser um cidadão.

- E a mim? Você se renderia?

- Safado.

- Mas eu não disse nada.

- Continua sendo safado.

Ficamos sorrindo um para o outro, quando nós beijamos de novo. Por algum motivo... Eu gostei de ser chamado de "safado".

Tenho que admitir, sou apenas mais um ser humano normal neste mundo. Não tem mais por que me render.

- Pelo visto eu sou tudo que não queria ser...

- Como assim?

- Sou uma pessoa normal. Com uma vida normal, que tem sentimentos que todos têm.

- Você não é normal.

- Como não?

- Não são todos que conseguem sentir as coisas desse jeito. Não são todos que entendem o que quer dizer "sentir" alguma coisa, normalmente, eles apenas sentem.

- Foi você que me fez entender o que é "sentir" alguma coisa.

- E foi você quem me fez querer entender o que é "sentir" alguma coisa- ele sorriu.

- Mas... Por quê?

- Porque eu queria entender o que eu sinto por você.

- E você entende?

- Ainda não, mas sinto que eu não preciso entender.

Um garoto que teve as respostas de todas as minhas perguntas está me dizendo que não quer entender algo que eu gostaria de ter uma resposta?

- Pensei que você tinha todas as respostas.

- Pois se enganou.

- Ainda sim... Não sei por quê... Mas... Acho que... Amo-te.

- E por que você precisa saber o motivo?

- Eu gostaria de saber- eu sorri.

- Não tem problema em não saber o motivo. Nós nos conhecemos, e ainda não sabemos o porquê.

- Mas... Será que realmente tem um por quê?

- Eu não sei. Por que deveria ter?

- Essa conversa é um mar de confusão.

- A vida é um mar de confusão, isso a faz bela.

- Você ama a vida?

- Acho que tudo deve ser amado. Não há nada que não mereça amor.

- Mas e se for um estuprador que matou e torturou mais de cem pessoas?

- Bem... Pode parecer ignorância, ou horrível, mas sim, ele também merece amor.

- Mas... Por quê? Olha tudo que ele fez.

- Todos nós erramos.

- Mas nem todos fazemos isso.

- E deveriam existir pecados maiores que os outros?

- Não é como se ele tivesse quebrado um copo.

- Sim. Mas se nós pensarmos desse jeito, pedir desculpas não vai reconstruir o copo, ou seja, ninguém deveria ser perdoado.

- Cara...

- Entende? Nada faz sentido.

- Acho que faz sim. Só nós que não fazemos sentido mesmo.

- As pessoas complicam as coisas tentando facilita-las. Esse é o problema de questionar as coisas.

- Você sempre diz isso.

- Sabe por que você acha que eu tenho todas as respostas?

- Por quê?

- Porque eu nunca me questiono de nada.

- Isso não é ser ignorante?

- Isso é não querer piorar tudo, você acha a resposta sem procurar ela. Todos os sábios fazem isso.

- Então quer dizer que você é um sábio?

- Não. Apenas finjo ser.

- Agora eu só tenho certeza de uma coisa.

- Do quê? Da morte?

- Não. Que eu te amo.

- Como sabe que é amor?

- A palavra "gostar" é pouco para descrever. E... Eu não vivia de verdade antes de te conhecer.

Minha vida começou com ele, quero que acabe com ele também.

- Tenho... - ele abaixou a cabeça- medo de que sejam apenas palavras em vão...

- Não são. Eu juro.

Mas... De certa forma, todas as palavras são em vão, afinal, no fim, isso não vai fazer a menor diferença, vamos morrer e isso vai ser só mais uma coisa jogada no vazio.

A vida é um ciclo, tudo que você faz e diz vai virar apenas mais uma coisa jogada no vazio.

Mas ainda sim, eu não me arrependo de amar.


Notas Finais


Até semana que vem 👋


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