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História Por Trás das Câmeras - Shoyo não veste Prada


Escrita por: shoyogurt e oid

Notas do Autor


Deve ter sido difícil pro Hinata vir pro Brasil nos tempos de desemprego de hoje em dia, ter que ir no banco toda semana resolver encrenca e lutar com a operadora de celular pra parar de roubarem os créditos dele

Capítulo 3 - Shoyo não veste Prada



Shoyo acordou com uma inquietação no peito e uma vontade de ver a luz do sol maior do que sua paixão por vôlei de praia. As memórias do dia anterior saltavam como impulsos elétricos em sua cabeça cansada, e seus cílios só piscavam o sono para longe dos olhos porque era desrespeitoso dormir até Deus-sabe-quando na casa dos outros. Havia deitado de mau jeito em cima do braço e babado como um animal no travesseiro que nem era seu.
Parecia que o imprint da cadeira do avião havia deixado cicatrizes, especialmente depois de passar vinte e quatro horas sem pegar no sono, eternamente condenado pela poltrona da classe econômica.

Seus pés caminharam automáticos até a porta entreaberta que só podia ser o banheiro, já que tudo ali tinha cheiro de sabonetes de bebê hipoalergênicos. A decoração barroca de corujinhas cravadas em cada azulejo azul-claro lembraram Shoyo que não chegou a falar com Akaashi na noite anterior, pois caíra no sono antes de ter a chance de procurá-lo casa adentro.

— Será que Akaashi-kun ainda gosta de nanohana refogada… — Ponderou, enquanto sentia a água quente adentrar suas juntas e se instalar nos músculos enferrujados. Ao sair do banho, calçou um par de meias com bananas estampadas calças de um azul desbotado como o dos azulejos. Sorriu para si mesmo e sua camisa amarela no espelho e quando se deu conta, já estava arregaçando a porta e se demorando nas vogais do primeiro nome de Bokuto para encontrá-lo.

— Bwah! Que casa… grande — Era difícil não reparar na escadaria imensa que dava para um segundo andar, ainda mais quando ouvia vozes familiares vindas lá de cima. Bokuto era um ator nos dias de hoje, e muito bem sucedido ao que parecia, pois a espaçosa sala de estar polida até o último piso não era muito econômica, ao contrário dos fundos monetários de Hinata. Akaashi descia as escadas vestido impecavelmente com um roupão de seda, e o ruivo precisou esfregar os olhos para ter certeza que estava tudo bem ser recebido… naquele lugar. Como não havia notado que Bokuto era tão rico, noite passada?!

— Akaashi! — Bokuto soava mimado como sempre ao se referir a ele, e alongava as vogais no nome do outro exatamente como Hinata se lembrava. Akaashi-kun não parecia a fim de dar uma resposta para o… amigo? Marido? Shoyo não fazia ideia de qual era a relação dos dois além de extremamente doméstica. Akaashi o fitou elegantemente, com uma xícara de café expresso em mãos e um jornal de notícias diárias, e Bokuto o perseguiu. — Akaashiiiii… Não me ignore assim!

Shoyo não havia comido praticamente nada ontem também, por mais que Bokuto tivesse insistido em pagar, e enrusbeceu quando o estômago roncou de maneira embaraçosa, enquanto perdia tempo tentando desamassar as roupas para não ser tão julgado pela presença esmerada de Akaashi. Concluía que ele definitivamente estava por trás da decoração elaborada da casa, como as cortinas pregueadas do quarto de visitas que não ousou tocar, em receio de estragá-las. Não que entendesse de bom gosto; Natsu sempre dizia que combinava terrivelmente as cores da comida.

— Akaashi-kun! Bom dia! — Ecoou, quase batendo a cabeça no chão com a rapidez que se curvou em cumprimentos na direção do outro homem.

Shoyo apertou os olhos antes de encará-lo, e quando os abriu notou então que agora ele tinha um novo corte de cabelo: uma franja partida ao meio de forma cuidadosa. Caía bem nele, e Shoyo se perguntava se ele teria um arsenal maior de expressões faciais estoicas também.
Precisou se conter para não sorrir, porque Akaashi o lembrava um pouco Kenma.

— Hinata — No canto dos lábios do estilista havia um fantasma de um sorriso, e o coração de Shoyo ficou apertado, pois sentia saudades de Akaashi e seus sorrisos não tão frequentes — Bokuto-san me avisou que viria em cima da hora. Sinto muito por não ter preparado nada especial.

— Hey, Hinata! Não se importe em pedir nada pra gente, desde que não seja um cachorro ou algo assim — Bokuto descia as escadas como um furacão, operando um milagre em não tropeçar e cair no processo, desferindo um tapa nas costas do outro, que engasgou com o ar. Akaashi parecia ter levado a pancada, a julgar pelo olhar repreensivo que afiava como uma faca na direção de Bokuto.

— Hinata. Se ele estiver te incomodando, não se segure para colocá-lo em seu devido lugar — Observou, segurando Bokuto pela gola da jaqueta como se fizesse parte de seu ritual matinal, ignorando as lamúrias de “Akaashi! Isso foi terrível de se dizer” vindos do ator.
Eram uma grande família, como sempre foram. A realização arrancou de Shoyo uma gargalhada. Não sabia por que estava preocupado com as coisas terem mudado entre seus amigos.

— Sim…! Eu posso fazer o almoço pra agradecer? — Bokuto repetia que era bobagem tanta boa vontade sem motivo, mas Akaashi sorriu satisfeito com sua oferta, assentindo. Agora sim, estava pronto para ir ao mercado.

E saiu porta afora para respirar novamente os ares de Tokyo.



 

 

 

 

O mercado estava tão lotado quanto o da sua cidade natal. Metade da fila que aguardava Shoyo finalizar seu pedido estava furiosa, mas sua mente estava absorvida demais na tarefa de inspecionar minuciosamente o peixe para se importar com os arredores.
Havia crescido na ilha de Honshu, mais especificamente em Sendai, capital da província de Miyagi, onde o mar salpicava sal nas pedras ilhadas, e os mais variados tipos de peixe coloriam seu cardápio quando criança. Sabia escolhê-los, e depois do Rio de Janeiro cobrir seus pés com a água do mar, insistia em escolhê-los bem.

— Só um minuto, eu devo ter algum trocado! — A voz aguda tinha uma pista de desespero para achar depressa, no fundo de sua carteira, notas que não fossem grandiosamente valorosas. Amaldiçoava as casas de câmbio por não repassarem valores monetários baixos. Era tão mais fácil receber balinhas no lugar do troco. Diria isso a Pedro mais tarde.

Yakiniku era a comida favorita de Bokuto; o que os brasileiros chamariam de “churrasco”, muito embora fossem preparados de modos bem diferentes. E Shoyo não perdeu a oportunidade de levar um pouco consigo.

Andar novamente nas ruas movimentadas de Tokyo era um tanto desconfortável essa hora do dia. O sol brilhava diretamente sobre sua cabeça, e as árvores não balançavam com o vento porque não tinha tantas assim no distrito de Hiroo. As ruas eram largas e os prédios residenciais baixos, de forma que todo o espaço restante que não era ocupado por veículos em movimento dava lugar à lojas comerciais, consideravelmente mais caras do que outros bairros. Era ali que Bokuto residia, e mais uma vez Hinata achava que podia ter sido feitura de Akaashi.

Pensou em ir até Chuo-ku, um distrito famoso por seu mercado de peixes — que era claramente uma armadilha para explorar turistas — e se tivesse um pouco mais de dinheiro no bolso, iria direto para lá provar moluscos a preços exorbitantes. Começava a perceber que Tokyo também era uma aventura, afinal não conhecia tanto assim a cidade que iria viver a partir de agora, e sabia quem seria alguém ideal para arrastar bueiro abaixo consigo.

 

De: Shoyo Hinata

Para: Tobio Kageyama 

— Kageyamaaaa!! Eu tô de volta em Tokyo. Me encontra quando tiver tempo. Vou trocar a operadora hoje, então fala comigo pelo zap

 

Conseguia imaginar Kageyama irritado sem motivo nenhum por sua chegada inesperada, mas riu mesmo assim, checando o celular por novas notificações, e então um garoto com os cabelos de girassol lhe cruzou a memória com tanta intensidade, que quase derrubou o aparelho no chão.
Kenma. Havia mandado mensagens para Kenma! Ignorou a resposta quase imediata de Kageyama para procurar o seu histórico de conversas recentes.

 

De: Tobio Kageyama 

Para: Shoyo Hinata

 — O que é um “zap”?

 

— Nenhuma… — Resmungou chateado, entrando num café movimentado que parecia ter wi-fi. Não havia mensagens novas de Kenma, e Shoyo emburrou-se como uma criança.
 

De: Shoyo Hinata

Para: Kenma Kozume

— Kenma! Eu acabei de chegar!!!!

— Não, pera.

— Eu cheguei.. Ontem?!?

— Sei lá, o fuso horário ta confuso

— Me liga se puder!!!

 

    As capas de revistas disponíveis para a clientela folhear lembraram-no que a imagem do ator estava em todas as fofocas de famosos, e era possível até que sua segurança estivesse comprometida publicamente. Sapateou os tênis ansiosamente no piso polido, se forçando a parar para fingir que não estava esperando uma resposta. Não era grande coisa, certo? Teve que se concentrar três vezes mais que o necessário ao escolher um doce, para animar o ator quando o encontrasse. Dorayaki. Kenma ainda gostava deles, certo? Será que ele ao menos havia visualizado suas mensagens? Estava surtando? Estava surtando.

O vácuo sempre fez parte do protocolo do amigo. Era só uma mensagem. Nada havia acontecido, cérebro. Nada. Mas sentia que iria explodir se não ouvisse algo a respeito dele, logo.
Seu celular vibrou.

 

Bokuto: Hey hey heyyyyy (9:55)

Bokuto: Tampinha, Akaashi e eu vamos tomar café sem você (9:55)

Bokuto: eu saio um minuto p ir malhar e vc desaparece (9:56)

Bokuto: [Emoji: carinhas chorando de rir]

Bokuto: [figurinha]

 

Certo. Estava lá para comprar coisas para o almoço, não dorayakis para Kenma! Precisava voltar, e evitar tocar no assunto para não parecer desesperado.

— Foco, Shoyo! — Dissera para si mesmo, estapeando suas bochechas para afastar o desgraçamento mental certeiro que acompanhava as pessoas que mandavam mensagem sem pensar direito nas consequências.

Admitiria que haviam pessoas melhores nisso de pensar antes de agir, e em particular, uma não saía da sua cabeça desde que o vira nas notícias.

Pedalou, sem pausa, até deixar de enxergar tudo em amarelo.

 

 

 

 — Eu fiz amigos bem legais no Brasil!

Akaashi não era de falar muito, mas assentia às palavras de Shoyo sobre a viagem com um sorriso no rosto.

— Como era a comida lá? — Shoyo sorria, atropelando as palavras com onomatopeias, para gesticular ao máximo o quanto havia gostado das quitandas brasileiras. Estava orgulhoso de ter feito Akaashi abafar um risinho atrás das mãos, e mais orgulhoso ainda por não ter mandado nenhuma outra mensagem agoniada para Kenma.
Precisava trabalhar seu autocontrole, e aparentemente se cercar de pessoas que quisessem falar de outras coisas funcionava bem.

Havia ajudado a lavar a louça, e especulado sobre qual dos figurinos incríveis de Akaashi Bokuto iria vestir no próximo filme, quando o mais velho vestiu o terno mais chiq que Shoyo já viu em vida, e saiu para o trabalho. Hinata acenou energeticamente, como uma imagem espelhada de Bokuto, exceto que ele agarrou Akaashi pela cintura antes e o beijou com tanta força que ele saiu tonto a caminho do carro. Shoyo virou para o lado para não corar de cinco tons diferentes na frente de Bokuto.
Ok. Eles definitivamente eram um casal hoje em dia.

Não mencionou nada sobre o ocorrido, até estarem na metade de um filme do Indiana Jones. Já se passava das quatro da tarde, e maratonar filmes clássicos de qualidade duvidosa com Bokuto era uma atividade interessante o bastante para desviar o foco da única mensagem que Shoyo estava esperando e nunca parecia chegar.

— Então… você e Akaashi-kun… — Ensaiou, desviando o olhar para a televisão. Podia sentir o olhar de Bokuto em si, genuinamente curioso para o que viria a seguir — Eu pensei que vocês dois nunca iam se declarar.

Shoyo riu sem jeito, mas Bokuto não estava rindo. Ou sequer sorrindo.
Começou a desconfiar que talvez não devesse assumir tanto assim da vida alheia, e se remexeu desconfortável na poltrona. Estava prestes a se desculpar, mas Bokuto tomou a frente antes que pudesse fazê-lo.

— Eu já tinha me declarado pra ele há muito tempo! — Foi a vez do mais velho encarar a televisão, mordendo os lábios. Era uma expressão que não combinava com ele, e Hinata engoliu seco, e o deixou prosseguir, com a voz subjugada — A família dele era… difícil de lidar. É difícil de lidar.

Hinata parou de tomar o chá, colocando a xícara de um milhão de reais em cima da mesa de estar. Quanto tempo fazia desde o ocorrido? Será que ainda estava morando no Japão, quando isso aconteceu? Sua boca estava seca e seu coração acelerado por ver Bokuto tão para baixo.

— Ele... conversa com eles? — Chiou, sem ter como fingir que aquela intimidade estava sufocant
e. Bokuto negou com a cabeça, deixando o peito de Shoyo ainda mais apertado. — Deve ser difícil para Akaashi...

— Hoje em dia não mais. Ele tem sua própria carreira, e como você bem vê a casa é quase toda dele. Não tem mais motivo pra discutir se ele tem onde morar e paga as próprias contas — Bokuto deu de ombros, com um olhar indecifrável. Ao que parecia, nem toda a riqueza do mundo significava que teriam uma vida livre de problemas.
Kenma certamente passava por problemas também, e Shoyo suspirou com a realização de que sabia pouco a quase nada sobre as pessoas que lhe foram, uma vez, próximas.

— Bokuto-san — Shoyo requereu, sério como poucas vezes se permitia ficar. — Vocês são incríveis.

Bokuto sorriu aos pouquinhos, e todos os dentes se juntaram ao canto dos olhos cerrados, numa risada cheia de graça.

— Obrigado, baixinho — Os olhos de Bokuto estavam encantados. E Shoyo sentiu que essa era uma conversa que só podia ter com o que chamam de família, pela primeira vez em muito, muito tempo.
 

 

 

 

Às oito da noite, uma notificação de mensagem chegou ao  celular sem previsão, fazendo com que Shoyo engasgasse com a água e assustasse o gato arisco que decidiu dar as caras depois de um dia inteiro. O timing era mais que perfeito. Bokuto havia saído, e Hinata estava a um passo de surtar por estar finalmente sozinho com seus pensamentos idiotas a respeito de um certo ator.


        Kuroo: [localização]


Bokuto ainda falava de Kuroo como se fossem melhores amigos, e por isso Shoyo achava que o homem conseguia fazer milagres. Esse era um deles.
Kuroo era um tanto assustador, com seus sorrisos perversos, mas era a pessoa mais próxima de Kenma que conseguia pensar, e havia acertado em pedir um endereço. Bokuto aparentemente tinha um ensaio agora, e iria ficar lá até tarde com Akaashi.

Shoyo assistiu quatro documentários interrompidos pela metade, mandado quinhentas mensagens curtas e aflitas para o melhor amigo de Kenma, e reparado que ao contrário de seu melhor amigo, Kuroo não pareceu ter um problema com sua digitação frenética. Kageyama sempre se incomodava quando ele não resumia tudo em uma só mensagem concisa.
Estava precisando de amigos novos.

Amigos menos cheios de grana, talvez. Pedalou até Omotesando — um dos bairros mais assustadoramente endinheirados que Shoyo teve o desprazer de pisar. E provavelmente estava sujando o chão, com seu tênis de corrida comum, cuja sola estava descolando para fora. Na verdade, agora que estava ali, transitando como uma batata desarrumada pelas lojas de luxo gigantescas, e desviando de pessoas com roupas de grife suntuosas, não sabia como ia fazer para sobreviver.
O nível de rico de Bokuto parecia uma piada para as regras desse lugar demoníaco. E todos os diabos dali vestiam Prada.

Parou em frente à localização que lhe foi enviada, sem ter muito discernimento de onde exatamente estava pisando, já que todos os cantos daquele distrito capitalista eram infiltrados de luxo. Mas aparentemente era ali que Kenma residia.
Shoyo se encolheu tímido em sua jaqueta esportiva. Câmeras cercavam o local como se o próprio Michael Jackson morasse ali, e de todos os lados possíveis, repórteres miravam seus olhos em Shoyo, que se encolhia com cada vez mais desejo de sumir. Eles o encaravam fixamente, boquiabertas e com olhos esbugalhados, por estar se convidando de bicicleta para a entrada da casa de Kenma. Tinha que… marcar horário ou algo assim?

Como Kenma iria sair de casa desse jeito?
E pior que isso… Ele iria atender a porta com todo esse assédio lhe esperando?
Shoyo queria morrer. Sumir. Desaparecer. Subiu firme os degraus de entrada e apertou firmemente a campainha, antes de perder completamente a noção e gritar a plenos pulmões.

— KENMA — Rompeu as cordas vocais, assustando todos os fotógrafos e jornalistas para correrem e ligarem seus flashes horríveis em cima da sua figura não muito intimidadora. Hinata bateu na porta como se fosse uma princesa em apuros, porque meio que era, e agarrou a bicicleta com força para que não fosse levada no meio do tsunami de entrevistadores — ABRE ESSA PORTA KENMA, ELES VÃO ME MATAR!!

Uma mulher esbarrou em cima de si, perguntando coisas ao mesmo tempo que outras cinco mil pessoas, e Shoyo precisou se afastar da porta antes de tentar compreender o que essas pessoas queriam. Gaguejou, horrorizado, pares de vezes antes de tentar gritar novamente pelo loiro, que aparentemente não estava em casa ou não estava nenhum pouco a fim de ganhar aquela luta por ele.

Shoyo não o culpava, tanto que saiu tropeçando nos próprios pés antes de conseguir subir na bicicleta e pedalou com o fôlego curto para o mais longe possível daquela horda de zumbis. Exceto que eram hienas carnicentas, que quase comeram sua sanidade mental de janta, e estava de repente tão oprimido por aquele lugar milionário e a realidade ofuscante que Kenma estava vivendo nos últimos dias, que não pensou duas vezes antes de buscar refúgio.

 

 


Hinata respirou fundo, agachado com as mãos nos joelhos e o fôlego curto. Já se passavam das nove da noite, e se isso era bom ou não para apaziguar a mídia, lhe fugia à compreensão.
Mas a casa que estava à sua frente agora não era mais a mesma de minutos atrás. Shoyo inalou mais um bocado de oxigênio antes de se convencer que essa era uma boa ideia, e que nenhum maluco iria pular nos seus cabelos como agora há pouco, e tocou a campainha, se apoiando na pilastra de pedra.

— Alô, não tem ninguém em casa, vão embora animais — A voz nada convidativa de Kuroo ressoou rua afora, e Hinata nunca foi tão grato por sua hostilidade através de um interfone.

— Kuroo! Sou eu! Me deixa entrar, eu preciso de água — Grunhiu, derrotado, apertando o peito pela corrida que fez até ali — Eu fui na casa do Kenma mas acho que ele não tá, e foi como blam, e pow, e eu pedalei até aqui, e—

O interfone desligou, mas não sem um grunhido amigável o bastante para demonstrar que não estava falando com as paredes. Shoyo encarou o portão e sua segurança máxima com cara de tacho, até notar que um bando de paparazzi estava escondido atrás da lixeira.

— Ei, vocês! — Apontou um dedo na direção da peruca mal encaixada que podia enxergar até no escuro do horário atual, com a outra mão na cintura — Tenham um pingo de respeito pela vida dos outros e vão caçar o que fazer!

Shoyo mostrou a língua a tempo de Kuroo abrir o portão e o atleta entrar correndo, com as pernas bambas em adrenalina.

Medo. Jornalistas davam tanto medo. Hinata levantou a cabeça devagar, despreparado para o sorriso de Kuroo, que estava claramente satisfeito com a cena que havia acabado de aprontar. Seu cabelo arrepiado continuava tão preto como o céu da madrugada, e parecia que tinha adotado o penteado “acabei de acordar” para a carreira. Fazia sucesso, se as câmeras disparando fotos de ambos significassem algo.

— Mais um buscando refúgio. Meu dia fica cada vez mais estranho — Mais um? Kuroo comentou, empurrando Hinata para dentro como se não fizesse mais de um ano que não o visse, e já gesticulando para o sofá (caro) para que se sentasse. Como uma mãe. Ele era como uma mãe assustadora que não penteava os cabelos. Shoyo agradeceu dez vezes a gentileza, e se desculpou mais dez, até levar um peteleco na testa.

E então, tudo aconteceu em câmera lenta.

Como se estivesse em um dos filmes terríveis que Bokuto gostava, uma silhueta consideravelmente mais alta que si, e mais baixa que Kuroo, saiu das sombras. Imitando um gato, rajado em amarelo e preto, que não estava acostumado a nenhum tipo de contato social ou visitas — ou responder mensagens.

Exatamente como Shoyo se lembrava de ver na TV, Kenma Kozume apareceu, sem nenhuma explicação aparente, diante de seus olhos.

Mais um, de fato.

 


Notas Finais


Qual vocês acham que era a operadora do Hinata aqui no Brasil? Será que o Kageyama procurou no Google o que é um "zap"? E vocês, já levaram um vácuo que deveriam se conformar e quase morreram de agonia também? Hehe;
Escrever esse capítulo foi tão divertido que não queria finalizar. O próximo a sofrer é ele, o próprio, Kenma Kozume VS O Mundo.
Até.


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