História Por trás de portas fechadas - Sirius

Expresso de Hogwarts

– Você vai ficar assim até quando? – Harry perguntou a Rony, que mantinha a expressão carrancuda. O ruivo soubera há alguns dias do envolvimento de seu melhor amigo com Draco e desde então não parou de fazer beicinhos.

– Hermione soube de tudo antes de mim – ele disse queixoso.

– Mas agora você sabe e é hora de superar isso... – Hermione riu.

– Eu queria contar, mas eu precisava conversar com Draco antes sobre isso e com tudo que aconteceu, com a reação do pai dele... eu acabei deixando o tempo passar, me desculpa – Harry disse com sinceridade.

– E eu não toquei no assunto com Harry e nem te contei o que eu sabia porque não quis ser invasiva – Hermione justificou, sabendo que o ruivo também não estava feliz com o fato de ela ter permanecido em silêncio. – Mas como eu disse, agora você já sabe de tudo, trate de ser discreto. Eles ainda não estão prontos pra se abrir pra todo mundo.

– É claro que serei discreto! – Rony disse como se tivesse sido vítima de alguma ofensa. – Não sou fofoqueiro.

– Acho bom mesmo... – Hermione sorriu.

– Voltamos à normalidade então? – Harry perguntou. Não queria começar as férias com aquele clima estranho entre ele e Rony.

– Acho que sim... – Rony disse com um sorriso leve. – Só não me deixe de fora das novidades da próxima vez, eu me sinto rejeitado.

Harry riu.

Rony seria sempre Rony e ele o amava como a um irmão.

Chegando à plataforma, Draco olhou em volta procurando seus pais. Sabia que Lucius estava sendo muito sério quando cortou relações com ele, mas seu coração ainda tinha esperança que seu pai esquecesse aquela bobagem.

Mas obviamente isso não iria acontecer.

– Vai ficar tudo bem – ele se surpreendeu ao ouvir a voz de Rony, que parou ao lado dele. – Vai gostar do Largo Grimmauld.

– Vou gostar se Sirius não me envenenar.... – Draco disse e Harry revirou os olhos.

– Vocês vão ficar bem, são parentes distantes inclusive...

Draco suspirou, enquanto deixavam discretamente a estação. A última coisa que precisavam era chamar a atenção.

Largo Grimmauld

– Chegaram! – Sirius recebeu Harry e Draco, olhando com atenção os dois entrarem com suas malas.

– Vou ficar aqui um pouco, ajudando Draco a desfazer a mala, depois eu sigo para a casa dos Dursley – Harry disse com tristeza.

– Por que não fica logo aqui também? – Sirius perguntou, sem esconder a frustração em sua voz. Não se conformava com o fato de que seu afilhado teria de voltar a conviver com aquelas pessoas que não o tratavam bem.

– Eu preciso aparecer por lá ao menos... Mas pode ter certeza de que vou passar a maior parte do tempo aqui – Harry garantiu, olhando para Draco, que enrubesceu.

Sirius revirou os olhos e por um instante se questionou se seria uma boa ideia ter Harry e Draco juntos no Largo Grimmauld. Nunca teve contato com Draco e o fato de ele ser filho de sua prima com Lucius não lhe parecia promissor.

Pensou que teria de ficar de olhos bem abertos.

– Está bem, mas me avise se passarem dos limites com você... – ele pousou a mão no ombro do afilhado. Sabia que de forma alguma Harry se queixaria, já o conhecia bem para saber que ele tinha esse hábito de guardar algumas coisas para si. Mas mesmo assim tinha que assegurar a ele que estaria a seu lado e disposto a defendê-lo se precisasse.

– Eles não vão. Por mais desagradáveis que sejam, já entenderam que precisam me deixar em paz... – Harry assegurou.

Sirius suspirou.

Muitos não concordariam com ele, mas a verdade era que Harry havia puxado a personalidade de Lily. Apesar de às vezes reproduzir o fogo nos olhos e a revolta de James, no final era a personalidade doce de sua mãe que predominava.

– Vamos, eu vou mostrar o quarto de Draco... –Sirius disse e a dupla subiu com ele as escadas da casa.

Sirius abriu a porta do quarto e viu Draco entrar no cômodo seguido por Harry.

Parado na entrada, encostado ao batente da porta com os braços cruzados, ele observava a dinâmica dos dois. A forma como eles se olhavam levou Sirius a se recordar do passado.

Era assim que James e Lily se olhavam e isso assustava. Considerava Harry muito novo para ter aquele tipo de brilho nos olhos.

Ou de repente era ele que estava ficando velho demais.

Recordou-se do quanto Lily e James foram felizes, apesar dos percalços e do pouco tempo que tiveram para viver o seu amor.

Por pouco os dois não brigaram por causa dos ciúmes que seu amigo tinha de Severo. James era muito possessivo em relação à sua namorada e a seus amigos, e, por mais que Sirius o considerasse um irmão, desejava que Harry não reproduzisse os comportamentos do pai.

– Você precisa de mais roupas? – ouviu Harry perguntar. – Podemos sair pra comprar. Você nunca foi num shopping, aposto.

– Preciso de mais roupas, só não sei se quero conhecer esse tal de shopping, meu pai... – Draco ia dizendo, mas parou. Seu pai era passado agora, e não importava se ele gostaria ou não da ideia de ver seu filho comprando roupas trouxas ao lado de Harry Potter.

– Amanhã a gente vai, você precisa se distrair... E podemos tomar sorvete...

– Mas eu não tenho dinheiro...

– Eu tenho algum, você precisa de roupas novas.

Ouvindo aquela conversa, Sirius se convenceu de que Harry definitivamente havia puxado Lily.

Ele suspirou e deixou os dois a sós.

Chegando ao andar de baixo, colocou para si um copo de bebida. O passado às vezes pesava mais que gostaria, trazendo recordações de pessoas que ele não poderia mais abraçar ou por estarem mortas ou porque ele as afastou.

Lembranças.

Às vezes, é tudo que se pode ter, ele pensava ao entornar o copo de uma vez só.

Ficou sentado numa das poltronas, o copo vazio na mão, até que Harry desceu.

– Eu vou indo... Tem certeza de que vai ficar tudo bem?

– Tenho. E não se preocupe. Não vou destratar Draco, prometi que ele ficaria bem cuidado aqui e irei manter minha promessa. Você sabe que ainda não aprovo isso, Harry... Mas vou fazer o possível pra que ele fique confortável – Sirius assegurou.

– Eu gosto dele...

– Você já disse, Harry... Mas escute o que vou dizer, falo por experiência própria. Nem sempre gostar é o suficiente...

Harry franziu a testa e parou para refletir sobre as palavras de seu padrinho.

– Não sei como foi sua experiência, mas comigo e com Draco é diferente.

– E como pode ter certeza?

– Porque eu não pretendo desistir dele... Eu realmente preciso ir, até amanhã – Harry disse, abraçando o padrinho que permaneceu calado.

Harry definitivamente havia puxado Lily, agindo como se adivinhasse pensamentos e remorsos.

– Até amanhã – ele murmurou, vendo Harry deixar a casa.