Após os seguranças recolherem os pedaços de Foxy, eu fiquei um tempinho lá perto dos meus irmãos, os vigiando, mas minha cabeça estava em outro lugar...
Um filme das cenas de Foxy sendo "mutilado" por aquelas crianças passava pela minha cabeça... Cenas da caixa de voz de Foxy falhando devido àquelas mãozinhas pequenas terem sabotado os fios do objeto. Das crianças rindo, achando que é a coisa mais engraçada e divertida do mundo. Eu vi naquelas crianças o grupo de valentões que eu tanto odiava, que amedrontava e amedronta a minha mente.
— Ugh... - Sussurrei para mim mesmo. — Esquece essa merda, Jack... Eles são passado! Sim... Passado...
— Jack? - Ouvi uma vozinha masculina e calma, porém infantil. Era Daisuke. — Tem uns meninos que querem falar com você. Eles dizem conhecer você.
Eu pensei que fossem alguns colegas que andam preocupados com minha saúde atual e que vieram só para me abraçarem ou saber como estou... Mas eu estava enganado.
Era aquele trio de meninos que acompanhavam o irmão de Chris, aqueles com as máscaras! A única diferença era que agora eram adolescentes de 16 ou 17 anos e não usavam as máscaras, então eu podia ver perfeitamente seus rostos. Todos eles eram agradáveis, até lindos de se verem, mas eu não liguei para essa qualidade e amarrei a cara na hora em que pus meus olhos castanhos e puxados naqueles adolescentes.
— O que é que VOCÊS querem? Não tenho nada. Ah, não respondam. - Eu fiz a expressão mais irônica que consegui. — Vieram só para estragar minha vida outra vez? Para me derrubarem ainda mais? Para esfregar sua força na MIMHA CARA, é isso?! - Eu quase gritei na frase final, até algumas crianças olharam para nós, assustadas, porém curiosas.
— Não, Jack, calma... Deixa a gente explicar. - Um dos garotos que, pelo que eu me lembre, utilizava a máscara do Bonnie, era um cara de cabelos negros, pele meio pálida, traços asiáticos assim como eu e minha família e olhos negros. — Faz nove anos desde que o Nick se foi, lá naquele incidente, o das crianças... - Dava para ver claramente que ele queria chorar. Devo admitir, me deu pena. - E... Antes de morrer, Nick sempre quis se entender com você, mas você sempre fugia dele. Ele sempre vinha desabafar conosco, até chorava...
— Aaaah... Agora entendi... - Eu o interrompi. - Vocês querem que eu o perdoe, não é?
— S-se você quiser... - Disse um loiro, que usava a máscara da Chica. Eu ri.
— O AMIGO de vocês matou o Chris, o próprio irmão, MEU amigo, o amigo que eu mais amava, até mais que o Foxy! - Tornei a berrar. — Isso... Não. Tem. Perdão... - Falei meio separadamente por causa da minha respiração ofegante, eu estava me segurando para não avançar em cima daqueles desgraçados. Eu era bem menor e mais novo (e mais magricela) que eles, mas não importava.
— Mas... Nós... - O "Bonnie mascarado" falava, amarelo e humilhado. - Podemos pelo menos ser... amigos?
— Vou pensar no seu caso. - Eu falei em um modo meio frio.
— Por que o seu rosto...? - Um carinha que vestia a marcará do Freddy perguntou-me.
— O que tem o meu rosto?
— Ele... Está tão magro...
— Ah, tá. Deu para reparar na magreza de meu rosto agora? Está fazendo faculdade para ser nutricionista? - Retruquei, admito que fui meio rude.
— Desculpe... - O menino parecia constrangido. Eu quis me desculpar, mas desisti. Agora, tínhamos trocado de posição, nove anos atrás eram eles que nos intimidavam, naquele dia era EU quem era o intimidador e eles meras criançinhas frágeis.
— Ei, Jack! Crianças! Hora de ir para... - Papai reparou na presença dos garotos. Diferente de mim, ele pareceu satisfeito. — Finalmente você se entendeu com eles, né?
— Mais ou menos, papai... - Respondi, indo até ele, deixando os "ex-valentões" ali.
— Entendo... Que tal antes de ir para casa, fazermos um lanche? Você foi o único quem não almoçou.
— Ok... - Respondi, quando, na verdade, depois DAQUELA cena, eu não estava com vontade de comer nada. Sério, estou começando a achar que eu sou anorexo...
1 semana depois
Como a casa de um dos garotos (o loiro) ficava perto da minha, eu pude ter um pouco de contato com ele e com os demais. Eles se reuniam todo dia às 14:09. Um dia, o "Freddy" me chamou para uma dessas reuniões, eu desconfiei, mas aceitei.
E foi naquela tarde de sábado que pus pela primeira vez os pés na casa de quem um dia fora meu agressor. Era meio grande... Mas mesmo assim me senti meio desconfortável, a mãe do "Chica" me guiou até o quarto do filho, que era cheio de cartazes de bandas de rock, daquelas com o som rasgado e ensurdecedor.
Eu comecei calado, como sempre, mas aos poucos fui me descontraindo. Talvez... Eles estejam mesmo dispostos a esquecer o passado... A serem perdoados... Eu... Fui muito duro e cruel com eles...? Mas... Até hoje nunca tive a oportunidade de me desculpar pela frieza e rudeza com qual os tratei todos esses 10 anos. O motivo? Vocês vão saber, já, já.
Ao voltar para casa, eu comecei a sentir sensações estranhas... Sensações ruins... E MUITA dor de cabeça, era como se um monte de cacos de vidros tivessem a perfurado, seria aquilo uma previsão, ou só uma dor de cabeça comum? Não... Era só uma dor comum, não é? Sim... Em breve ela iria passar...
Mais uma noite em claro para a coleção... Eu simplesmente não conseguia dormir e mais uma vez tive de ficar vagando pela minha própria casa igual à uma alma penada, explorando cada detalhe que eu já sabia como era de cor, enquanto eu via a luz do sol clareando a sala de estar. Voltei para o quarto antes de tudo mundo acordar e finji dormir.
Outra vez eu fui ao trabalho do papai, a pizzaria sempre me trazia uma paz, um antídoto para acabar com minha ansiedade e medos... Mais uma vez, lá estava Foxy, novamente desmontado. As crianças passaram a desmontá-lo todo santo dia, como se ele fosse um brinquedo de desmontar e colocar de volta, e foi isso que ele se tornou. Cansados de ter de re-montar Foxy de novo e de novo, resolveram transformá-lo em um brinquedo de desmontar e colocar de volta, agora eles o chamam de... "Mangle", acho, e agora era comum eu vê-lo todo desmontado.
— Bom dia, Foxy. - Falei, como se ele pudesse me ouvir, só recebi um ruído de estática como resposta.
Me coloquei sentado em sua frente, pude ver seus olhos dourados com cílios longos me olhando.
— Eu queria que falasse novamente... Nunca tive a oportunidade de ouvir sua voz nova... - Mais uma vez recebi um ruído de estática como resposta. Eu coloquei a minha mão sobre seu rosto liso e com alguns relevos e o acariciei por uns segundos. Eu não sei porque... Mas eu sentia outra presença... Uma presença de uma criança, mas a pizzaria estava fechada, além disso, à essa hora, nenhuma criança estaria acordada, tenho de admitir, aquilo me deixou com medo.
Meu medo aumentou quando vi a cabeça de Foxy se elevar até o ar, como uma cobra hipnotizada por uma música, vi claramente sua dentição afiada, além da de seu endoesqueleto em uma boca aberta, pronta para dar uma mordida...
Em um movimento rápido, ele mordeu minha cabeça, cravando seus dentes nela, quase a esmagando, tentei lutar para me livrar da mordida, mas vi meu mundo ficar completamente escuro e meu corpo amolecer...
Eu acordei no que pareciam segundos. Era um lugar escuro, parecia mais que era todo pintado de preto...
Um pontinho iluminado e colorido estava na minha frente... Era um menininho de aproximadamente 6 anos, usava uma camisa preta com listras cinzas e shorts azuis, tinha cabelos castanhos... Chris...?
Mas na hora em que ele pôs os olhos em mim, começou a piscar uma lanterna em mim, mesmo em um gesto completamente infantil, a luz queimava-me os olhos. Chris parecia desesperado.
— S-SAIA DAQUI!!! - Gritava ele ao piscar a lanterna contra mim. Eu usei os braços para proteger meus olhos. Mas, não eram os MEUS braços, eram braços de um urso animatrônico laranja totalmente desgastado.
— Não! Chris, espere! - Minha voz também estava diferente. Era monstruosa, maligna e grossa.
— N-N-NÃO!!! SAI!! POR FAVOR! - Gritava Chris, chorando de tanto desespero.
— Não, Chris! Sou eu, Jack! - Respondi, percebi que minha voz foi voltando ao normal, assim como os meus braços, eles voltaram a ser extremamente magros e pálidos. Eu usava uma roupa de hospital.
— J-Jack? - Chris largou a lanterna no chão e correu até mim, nós encontramos em um abraço, o impacto foi tão forte que caí para trás com ele em cima de mim.
— Jack... Eu... Eu estou tão cansado... Eu... Só quero dormir... Sem esses monstros... - Ele molhava a minha roupa com lágrimas que teimavam em escorrer de seu rostinho adorável. Eu não sabia quem eram esses "monstros"... Mas não importava, meu velho amigo estava ali, inteiro e vivo.
— Shh... Acalme-se, Chris... - Eu acariciava a minha mão em seus cabelos castanhos e macios, o acalmando aos poucos.
Eu olhei por cima de sua cabeça, lá estava cinco crianças. Usavam roupas roupas manchadas de sangue, a pele deles era pálida e seus olhos parecían dois buracos fundos de tão negros e fundos e um líquido saía deles e pingava em suas roupas, elas tinham máscaras dos animatrônicos, porém não as usavam, só ficaram tapando um lado da cabeça. Eram duas meninas e três meninos... Um deles eu o reconheci como o irmão de Chris, Nicholas Afton, usava uma roupa diferente da que me lembro, era um casaco com bolsos, camisa, short jeans e tênis.
— Quem são vocês? - Perguntei.
— Eu... Eu os vi quando cheguei aqui. Eles me acolheram. - Respondeu Chris. — O Nick... Ele...
— Oi, de novo, Jack... - Nick me encarava sorrindo, mas não aquele sorriso maldoso que atormentava minha mente e sim um sorriso bondoso, carinhoso. — Eu pude finalmente me entender com Chris e... Quero me entender com você também.
Eu sorri, um dos poucos sorrisos sinceros que eu fazia.
— Desculpe por tudo que fiz esses anos... - Seu sorriso se apagou, dando um lugar à uma expressão triste, e me abraçando.
— Você faz parte de nossa família agora. - Disse a menina com a máscara da Chica, sorrindo.
Eu retribuí o sorriso, porém, para todos eles.
(FIM)
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