História Portas da Alma - Capitulo 44

Idris- Gard.

Maryse andava atrás de Helen e os guardas, tudo o que ela queria era que tudo isso acabasse de uma vez, antes que Robert voltasse ao normal e tentasse se vingar de Magnus, mas havia algo que não estava nos planos da mulher.

Aline.

Que vinha correndo em direção a mulher, mas tinha algo estranho no olhar de Helen, ela não parecia suportar a presença da esposa, como se ela quisesse se livrar dela na primeira oportunidade.

O que foi estranho aos olhos de Maryse, já que ela considerava que as duas eram, altamente, apaixonadas uma pela outra.

Foi então, que aconteceu o inesperado. Helen conseguiu livrar-se de um dos guardas e roubou uma das laminas do mesmo, cravando-a no coração da mulher.

                                      * * * 

Arredores de Alicate- Cabana de Ragnor Fell.

Alec estava encostado ao lado da janela, enquanto Magnus e Jace se encaravam. Jace acabara de chegar e os três estavam trancados no escritório, enquanto Clary e Isabelle estavam conversando na sala.

-Acho que erramos de pai. –Revela Jace, encarando Magnus.

-Então, agora concorda comigo? –Pergunta sarcástico. Alec suspira, observando o seu parabatai revirar os olhos, enquanto alisava o seu rosto.

-Helen não é tão inteligente... Ela parecia possuída. –Revela, desconsiderando o sarcasmo de Magnus.

-E pode estar mesmo, ela é metade fada. –Revela, levantando-se e seguindo em direção a uma estante de livros.

-O que acha que ele quer? –Pergunta Alec preocupado.

-Guerra. –Responde, olhando nos olhos do amado e soltando um suspiro.

Alec não tinha muitas lembranças das últimas guerras que ele participara, mas ele tinha uma única certeza, Magnus estava com ele nas duas.

-Temos que convocar os vampiros e os lobisomens. –Revela Jace suspirando. –Preciso que fale com Maia e Lily. –Manda encarando Alec, deixando-o confuso.

Lily? Maia?

Esses nomes eram familiares, mas ele não tinha noção do quanto essas duas pessoas eram importantes ou o que elas significavam para ele.

-Maia é a líder dos lobisomens de Nova York, Lily é a líder dos vampiros. Vocês formam um tipo de mediação com o Instituto de Nova York. –Revela Magnus, aproximando-se de Alec. –Fazem um trabalho importante e são amigos. –Garante, fazendo-o concordar com a cabeça.

Mesmo confuso, Alec sabe que ele tinha que seguir em frente, que as duas deveriam estar com saudades dele e que ele logo iria ter lembranças delas. Afinal de contas, elas deveriam ser bem importantes.

-Elas são mesmo amigas? Não são só parceiras de trabalho? –Pergunta, observando Magnus aproximar-se dele.

-Amigas, muito próximas por sinal. Tanto que todas as vezes que eu as chamo para lhe ajudar, elas vem prontamente, mas... Gostosinho, elas vão te ver ou falar com você. –Responde, alisando o rosto de Alec.

-Ok, vamos para Nova York. –Garante desencostando-se da parede.

-Calma, garotão. –Pede Magnus, rindo.

-Magnus, nós precisamos nos preparar. –Afirma seguro. –Clary fica com a Isabelle, já que a minha irmã não tem condições nenhuma de sair daqui. –Revela suspirando.

Isabelle e Clary estavam inconsoláveis, na verdade, todos do grupo estavam muito abatidos, mas eles não poderiam parar.

Simon era importante. Ele foi um herói e todos eles sentiriam falta dele, mas mais vidas podem estar em jogo.

Muitos podem morrer por causa do pai de Magnus e Alec não queria perder mais ninguém, mas ele sabia que isso era inevitável.

Era uma guerra e guerras sempre tem perdas.

-Vou falar com a Clary. –Revela Jace suspirando.

Jace sai do escritório, deixando os namorados sozinhos. Foi nesse momento que Alec percebeu algo em Magnus.

-O que foi? –Pergunta sussurrando.

-Simon morreu por minha causa. –Responde, olhando-o nos olhos. –Morreu porque tomou o meu lugar, morreu porque eu devolvi parte de sua memória. A culpa pela morte dele é minha. –Garante, desviando o olhar.

-Não. –Manda nervoso, puxando Magnus para os seus braços. –Simon morreu tentando proteger Isabelle. –Sussurra, no ouvido de Magnus. –Ele morreu porque ele não queria se separar da minha irmã. Ele escolheu todos os seus caminhos e mais uma vez morreu tentando proteger aqueles que ele ama. –Murmura, apertando-o contra o seu corpo.

-Mesmo assim, eu... –Interrompe-se, olhando nos olhos de Alec.

-Não pense nisso. –Manda, dando-lhe um selinho. –Vamos nos focar na guerra que está por vir, Magnus. –Pede, fazendo-o suspirar.

-Ok, eu sei. –Sussurra, encostando a sua testa na de Alec, que fecha os seus olhos.

                                * * * 

Idris - Gard.

Clary e Isabelle estavam sentadas no sofá da sala da Consuela, ambas olhavam para a janela sem realmente enxergar nada, Clary tinha lagrimas banhando seu rosto, seus olhos vermelhos e inchados olhavam para a paisagem da Cidade de Vidro pela primeira vez sem admiração, estava desolada, não conseguia acreditar que Simon se fora, seu Simon, seu melhor amigo, o melhor nerd que ela já conhecera, seu irmão. A culpa a assolava, sentia que a culpa era dela, afinal Simon só entrou nessa vida por ela, ela o arrastara para a morte! 

Isabelle estava ao lado da ruiva, mas diferente desta, ela não chorava, nem mesmo uma lagrima saia de seus olhos, ela simplesmente sentia que havia perdido sua alma, nada mais importava, nada mais fazia sentido, o amor de sua vida estava morto, ela queria morrer junto com ele, seu mundo havia desmoronado, sem Simon ao seu lado nada mais lhe causava algum tipo de emoção. 

Elas ficaram assim por um longo tempo, sem falar nada, apenas olhando a paisagem pela janela, cada uma perdida em sua própria dor, eram as duas pessoas mais próximas de Simon, apenas elas conheciam o quão maravilhoso aquele menino era, apesar de todos estarem sofrendo por ele, a dor delas era a mais acentuada, elas eram as que sentiriam mais falta daquele garoto nerd, desengonçado, mas com uma terrível coragem e um coração de ouro. 

Clary ouviu a porta se abrir suavemente, mas não esboçou nenhuma reação para ver de quem se tratava, não tinha mais animo e nem força para nada, percebeu que Isabelle ao seu lado também não havia se interessado em saber quem entrara na sala. Porém logo uma cabeleira loira aparece na porta chamando por elas. 

— Está tudo bem? - Pergunta Jace inseguro enquanto se aproxima das garotas. 

— Sim está Jace, vou para casa, preciso descansar. - Diz Isabelle indiferente saindo da sala.

Aquilo deixou o loiro pasmo e preocupado, Isabelle nunca agira tão calma ou serena, porém ele sabia que aquilo era uma serenidade falsa, por dentro a garota estava despedaçada e ele temia que ela nunca fosse se recuperar. Soltando um suspiro cansado ele olhou para a ruiva que continuava a chorar no sofá, sentou-se ao lado dela e a abraçou, Clary escondeu seu rosto na curva do pescoço do namorado e deixou-se embalar pelos braços do loiro. 

— A culpa é minha Jace, e-eu trouxe o Simon para essa vida, e-eu m-matei meu m-melhor amigo! - Disse a ruiva chorando desesperada. 

— Clary isso não é culpa sua, Simon te amava e ele era livre para fazer suas próprias escolhas, ele quis essa vida, ele quis estar aqui perto de você, da Izzy, ele sabia quais eram os riscos, nada disso é sua culpa! 

Uma súbita raiva invadiu Clary, Jace não entendia, Simon fora arrastado para lá por ela, era tudo culpa dela! 

— Você não entende, nunca vai entender, você nem ao menos gostava dele! Tudo o que sabia fazer era ridiculariza-lo na frente de todos, era faze-lo se sentir mal com tudo, você nunca soube pelo o que o Simon passou, nunca se interessou em tentar ser amigo dele! Então não me venha me dizer que ele sabia dos riscos, não é segredo que ele só veio para essa vida por minha causa e da Izzy! - Disse Clary com raiva se afastando de Jace. 

— Clary, me escute não é que eu não gostava do Simon, eu apenas . . . 

— Não me venha com desculpas Jace, não ficaria surpresa se descobrisse que o deixou para atras para que ele pudesse ser morto! - Disse Clary ríspida. 

A ruiva viu o garoto se encolher como se suas palavras o machucassem, ela sabia que estava sendo injusta e o fazendo sofrer, mas no momento não estava em condições de pensar o quanto suas palavras magoavam Jace, ela estava quebrada por dentro e queria que todos sofressem  tudo o que ela estava sofrendo no momento.

— Clary eu nunca . . . 

— Chega Jace, eu preciso ficar sozinha. - Dizendo isso a ruiva saiu da sala deixando um Jace desolado para atras. 

                                                              * * * 

Alec e Magnus estavam procurando por Jace para que pudessem ir até Lily e Maia, andavam tranquilos pelo longo corredor quando ouviram som de coisas quebrando, parecia estar acontecendo uma briga dentro da sala, Alec olhou assustado para o namorado que lhe devolveu o olhar, correram até a sala e viram Jace quebrando tudo o que tinha na sala da Consuela. 

O loiro parecia estar fora de si, jogava as poltronas na parede, havia quebrado as janelas e derrubado todas as prateleiras de livros, a sala estava um caos. 

— Jace! O que houve? O que você você tem? - Perguntou Alec preocupado se aproximando do parabatai. 

Jace se virou para o moreno e ele pode ver a dor, a magoa e a ira nos olhos dourados, Alec sabia que Jace estava sobrecarregado a dias, após sua runa parabatai ter sido reativada ele voltara a sentir a ligação com Jace e sabia a angustia e o cansaço que o loiro trazia no peito, ele podia sentir isso. 

— Não houve nada Alec. - Disse Jace tentando se recompor sem sucesso, as palavras de Clary o  magoaram profundamente.

— Por que está tão irritado? - Perguntou Magnus, mas bastou um olhar do namorado para perceber que havia feito a pegunta errada, embora Alec não se lembrasse de tudo relacionado ao parabatai, ele conhecia Jace e sabia que aquela não era a pergunta mais inteligente para se fazer ao loiro naquele momento.

— Por que estou irritado? Vejamos . . . - Jace fez uma pose pensativa. - O único amigo mundano que já arrumei na vida está morto, minha namorada me culpa por isso e acho que ela me odeia agora, minha irmã está em depressão profunda, meu padrasto queria acabar com o próprio filho, meu irmão e parabatai foi sequestrado e torturado por meses, não se lembra de mim e nem da sua família direito, estamos prestes a entrar em uma nova guerra, provavelmente um dos príncipes do inferno quer acabar com meu parabatai e o mais interessante é que pode ser o sogro dele, então eu acho que tenho motivos para estar irritado Feiticeiro. No entanto isso não sou eu irritado, não se preocupe! 

Ao dizer isso Jace sai da sala batendo a porta e deixando um Magnus atônito e um Alec preocupado para atrás. 

— O que foi isso? - Magnus perguntou para Alec. 

— Isso foi Jace tentado se conter. - Alec deu um suspiro cansado. - Vou ver como ele está. 

— Sim, mas tome cuidado, ele não me parece estar em seu juízo perfeito. - Disse Magnus dando um selinho no namorado. 

                                                                * * * 

Alec andava apressado por toda Alicante atrás do parabatai, já estava começando a ficar preocupado, não achava Jace em lugar nenhum, parou no meio da praça central e ficou observando ao redor na esperança de ver a cabeleira loira em algum canto, sem esperança de encontra-lo o garoto se preparou para voltar ao Gard atrás de Magnus quando um pequeno borrão dourado vindo do alto de uma das torres demoníacas lhe chamou a atenção, ativando a runa de visão de longo alcance o moreno pode definir a figura magra de Jace sentado no alto da torre, decidido começou a marchar até lá atras do irmão.

Quando chegou lá em cima Alec percebeu que Jace estava observando a cidade, seus olhos dourados não tinham brilho algum e isso apertou o coração do moreno, Alec se aproximou lentamente e sentou ao lado do loiro ficando em silêncio e olhando para a cidade assim como Jace fazia. Ele sabia que se Jace quisesse desabafar ele acabaria falando por si mesmo, não precisaria pressiona-lo Jace era assim, ele tinha que ter seu próprio tempo e espaço e precisava se sentir confortável para falar, ele não se lembrava, mas no fundo sabia que o parabatai era assim. Após alguns minutos de silêncio, a teoria de Alec de fez verídica e ele pode ouvir a voz de Jace quebrar o silêncio. 

— Veneza. - Disse o menino simplesmente. 

— Como? - Perguntou Alec confuso. 

— Quando tudo isso acabar vou levar a Clary para Veneza, vamos tirar férias, eu estou cansado, não aguento mais isso Alec, preciso de um pouco de paz, preciso de um tempo longe disso tudo. 

Alec olhou pasmo para o loiro que ainda olhava a cidade abaixo, ele podia não se lembrar, mas sentia que Jace não era o tipo que tirava férias ou se afastava da caça a sombras. 

— Isso é pelo Simon? - Perguntou cauteloso. 

— Sim e não. Se existia alguém inocente em nosso grupo, esse alguém era Simon, apesar das nossas diferenças, eu aprendi a respeitar Simon, ele era o mundano mais ridículo que já conheci, mas também  o mais corajoso, ele fazia de tudo por Clary e Izzy. . . Acho que vou sentir falta dele. - Disse Jace sentindo seus olhos arderem. 

— Tem mais não tem? - Perguntou Alec com a mão no ombro de Jace tentando passar conforto. 

— Como eu disse Alec, estou cansado, foram muitas coisas acontecendo num curto espaço de tempo, eu quase te perdi Alec, na verdade eu ti perdi, por meses, quando finalmente te encontro você estava quase morto e delirante, depois não se lembrou de mim e isso doeu, doeu muito, depois foram ataques e mais ataques de demônios, pessoas inocentes morreram, uma guerra está para começar e agora Clary me odeia. Estou cansado Alec, tudo o que eu queria era um pouco de paz. - Desabafou o loiro.

— Jace, Clary está magoada e sofrendo muito, mas ela não te odeia,o estresse e a dor foi o que fez com que ela descontasse em você. E quanto a mim, me desculpa, nunca quis te magoar, mas foram coisas que aconteceram, coisas que não tive como evitar. Sabe qual foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida? Foi quando minha runa parabatai reativou e eu senti um outro coração batendo em meu peito, aquilo foi incrível e maravilhoso Jace e eu me perguntei como consegui passar esses dias todos sem o meu parabatai. 

— Pra mim também foi incrível, foi como despertar de um pesadelo, pela primeira vez em meses eu estava completo outra vez, me faltava você, Alec, faltava meu irmão e parabatai. 

— Sabe, você tem razão, você precisa tirar férias, você mais que todo mundo precisa. Magnus não me conta os detalhes, mas em conversas anteriores ele me disse que você sacrificou e desistiu de coisas importantes para me manter seguro e eu te agradeço por isso Jace. E eu acho que você tem todo o direito a um descanso e aproveitar um pouco a vida. 

— É, acho que vou realmente tirar férias, mas só depois que eu arrancar a cabeça da Rainha da Corte Seelie e arrancar o coração do pai de Magnus. - Disse Jace decidido e Alec deu um pequeno sorriso. 

— Vamos fazer isso juntos. Agora eu tenho que ir, Magnus dever estar nervoso, nós vamos atrás de Maia e Lily, você vai vir com a gente? 

— Não, eu preciso de um tempo sozinho, se importa de irem vocês dois? 

— Tudo bem, descanse o quanto quiser, eu vou com Magnus e depois te digo o que aconteceu por lá. - Disse Alec dando um tapinha no ombro do parabatai e se jogando do alto da torre, Jace o observou por um momento e deixou escapar um pequeno sorriso, Alec apesar de não se lembrar de tudo, estava voltando a  antiga forma cada vez mais rápido. O loiro respirou fundo e observou o por do sol, os raios alaranjados o fizeram lembrar dos magníficos cachos de Clary e o rapaz se perguntou se algum dia a ruiva se curaria e o perdoaria por não ter salvo Simon.