Justin Bieber P.O.V.
Já faziam certos minutos que também estavam se tornando insuportáveis - juntando todos os problemas -, que um som, em específico, começou a trazer incômodo aos meus ouvidos.
Era irritante a forma como era extremamente agudo e persistente. E, como não parecia que nunca teria um fim espontâneo, não dava para eu simplesmente virar o meu rosto para o lado e dar um fim a tudo aquilo, já que, para tanto, teria que sair da minha cama e, pelo menos, descer as escadas, porque, bem, aquilo tudo estava vindo lá de baixo e, também, parecia aumentar a cada instante.
O choro infantil incessante e todos os gritos - que eram uma mistura entre uma voz adulto e outro - com certeza me faziam querer gritar.
Então, coloquei-me a descer os degraus, cada vez mais curioso e impaciente, para, dessa forma, tentar entender o que estava acontecendo.
ㅡ Deus do céu ㅡ Khalil tornava a chacoalhar um bebê, o qual se encontrava em seus braços - o mesmo parecia que, como o imaginado, nunca acabaria com o escândalo que fazia ㅡ Fica quieto.
Ele parecia estar entrando em desespero com toda aquela cena, ainda mais quando tornou a olhar para mim e, assim, pude notar que ele compartilhava algo que eu também sentia - no caso, raiva.
Não sabia do que se tratava aquilo e nem por que estava acontecendo na minha casa, mas tinha que acabar agora.
ㅡ O que é isso? ㅡ apontei para o que se passava ali e, por sorte, fui ouvido em meio a todo aquele barulho.
Khalil voltou a desviar o olhar - rapidamente - logo quando me escutou. Então voltou a sua atenção para o bebê ali enquanto bufava.
Deveria haver alguma razão para que aquilo estivesse acontecendo ou que, pelo menos, não continuasse a se desenvolver. Não é possível que não tivesse outro lugar para Khalil levar uma criança, ainda mais para tentar controlá-la melhor, já que, visivelmente, o mesmo não conseguia fazer isso sozinho.
Eu já tinha bastante coisa para lidar depois dessa última semana. Só queria respirar um pouco depois daquela turbulência.
Então, suspirando, Hailey apareceu e, franzido o cenho, ela passou por mim timidamente, para olhar melhor toda a situação. Também parecia um tanto incomodada.
ㅡ Finalmente ㅡ murmurou como uma expressão de alívio e, juntando assim, ignorou tudo o que eu já havia dito. Sharieff, dando de ombros, andou em nossa direção e, quando achei que ele fosse simplesmente ir embora, resmungou algo que não pôde ser escutado e parou em nossa frente - mais perto que antes -, afastou o bebê do próprio corpo, o oferecendo para que Hailey o pegasse ㅡ Eu sei que as mulheres têm essas coisas de instinto maternal e tudo mais... ㅡ gesticulou, enquanto praticamente empurrava a criança.
Hailey abriu a boca, e eu senti que logo ele iria contestar algo sobre a última frase dele, mas, pouco antes, ela desistiu e apenas lhe confirmou:
ㅡ Ah, eu... Tudo bem ㅡ balançou a cabeça em sua direção, tirando - suponho eu - algum peso de seus ombros. E, ainda um tanto confusa, ela pegou o bebê no colo e o acomodou em seus braços.
ㅡ Você pode... ㅡ apontou para a situação logo quando lhe faltou palavras, enquanto também se esticava para pôr em mãos uma bolsa que estava largada no sofá e, de lá, tirar uma mamadeira ㅡ Faz, por favor ㅡ era mais como uma súplica em forma de sussurro.
Khalil não podia nem estar tentando fazer isso. Seja lá qual fosse a sua responsabilidade com aquela criança, ele não podia jogar isso para cima da Hailey.
Não era o momento certo nem para simplesmente cogitar algo assim.
ㅡ É seu filho? ㅡ ainda em voz baixa, Hailey continuou, de sobrancelhas arqueadas. Voltou a olhar para o bebê, que tinha a sua cabeça apoiada no ombro da Hailey.
Uma das maiores questão ali também, era como que Hailey havia feito para que aquele ser conseguisse calar a boca. Foi mesmo surpreendente, porque, em menos de um minuto, ele só resmungava e, enfim deixava o cômodo mais silencioso.
ㅡ Foi o que o teste de DNA disse ㅡ deu de ombros outra vez, um pouco mais impaciente.
Bem, até onde sei, ninguém estava muito interessado em sua história de vida como pai - até este exato instante -, sendo assim, por mais óbvio que fosse, a dúvida do porquê de eles estarem ali mexia com a minha cabeça.
Khalil não o traria aqui por nada e, além do mais, já estava em minha mente o ponto mais óbvio disso tudo.
Sobre tudo, nem me parece uma surpresa ele ter conseguido um filho desse jeito.
ㅡ E o que você está fazendo aqui? ㅡ agora perguntei.
ㅡ Daphne deixou ele comigo ㅡ disse como se fosse um absurdo extremo ㅡ, e eu não sei cuidar de criança. Bem, Hailey parece disposta a me ajudar
Não era nem um pouco válido. Ele deveria estar na casa dele, arrumando uma maneira de ele mesmo controlar isso.
E Hailey nem ao menos havia notado por completo a situação que Khalil queria colocar ela.
ㅡ Qual o nome dele? ㅡ subi o meu olhar para o rosto dela no momento em que a mesma levantou a dúvida.
ㅡ Otto ㅡ retraiu a face, mostrando-se um pouco contrariado ㅡ Não foi eu que escolhi.
ㅡ É bonito ㅡ comentou enquanto tornava a fitar a criança.
Estava na cara quando ele preferiu redirecionar o assunto antes que o mesmo chegasse a mim, já que sabia que eu iria interrompê-lo. Então, da forma principal, o motivo era desviar até que nem precisasse pedir para que Hailey ficasse com a criança e o deixasse ali sem nem falar nada, a permitindo ficar sem escolha.
Mas, se Hailey não havia o compreendido, as coisas já estavam expostas a mim.
ㅡ Contrata uma babá, Khalil ㅡ me inclinei levemente para o lado, trazendo o bebê para mais perto de mim, no ponto em que eu pudesse segurá-lo e, no mesmo momento, consegui entregá-lo para Khalil.
ㅡ Eu posso ficar com ele, Justin ㅡ deu de ombros minuciosamente. De fato ela queria aquilo, coisa que me irritava mais ㅡ Está tudo bem.
ㅡ Não, não está ㅡ murmurei ㅡ Essa não é sua responsabilidade.
Não só mais uma vez, ele respirou fundo, virou-se para mim e me lançou um sorriso forçado - que, de cara, ja pude perceber a ironia do seu quase arrependimento. Khalil revirou os olhos em um rápido segundo, acenou para Hailey e, assim, se retirou do cômodo.
Ele não poderia querer mesmo usar Hailey desse jeito.
Bem, ainda não como se eu tivesse entendido muito bem sobre toda essa situação de Khalil - sobre ele ter um filho -, pois, obviamente, ele nunca fez questão de deixar essa parte clara - o que já agradeço por partes. Mas que seja, não é algo importante assim. Eu só fiquei minimamente receoso com o fato da Hailey se interessar pela criança - de qualquer forma, eu sabia que ela gostava. No entanto, quem sabe, seja pela descoberta de dois dias atrás, onde ela possivelmente não pode ter um bebê. Essa parte toda era uma confusão tão grande que, desde lá, nem sei o que pensar ou o que supor.
É óbvio que eu quero - será uma ligação maior com a Hailey -, como foi sempre, contudo ainda é assustador, ainda mais por eu simplesmente odiar olhar para uma criança, odiar a birra delas, quando choram, odiar o quão são grudentas, o quão são dispensáveis e odiar, principalmente, quando gritam de tão mimadas que são.
ㅡ Babe ㅡ já voltei a dizer, tentando, assim, fugir dos meus próprios pensamentos - ou da parte dele, a qual estava me deixando louco -, e me afundar na malícia, da qual eu imaginava antes de Khalil chegar, ou a qual eu planejava também.
Não demorei muito a estender a minha mão para ela e para, logo, conseguir agarrar o seu braço assim que se encontrou perto o bastante, para que eu pudesse a guiar escada a cima.
Hailey olhou-me de relance, demonstrando toda a sua frustração, ainda enquanto subíamos.
Talvez ela estivesse assim apenas por todo esse momento envolvendo crianças. Talvez a tivesse lembrado sobre o assunto.
Não a queria triste ou pensativa demais sobre isso - como a mesma estava nesses últimos dias -, portanto qualquer que fosse a sua decisão sobre esse problema - se é que posso chamar assim - teria que apoiar... mas sobre as minhas circunstâncias, claro.
Tudo que fosse possível para vê-la mais confortável eu o faria - ou concordaria. Ou, pelo menos, tentaria isso. De qualquer forma, já tinha a noção de que Hailey não passaria de nenhum limite que eu mesmo impus.
Hailey voltou a entrelaçar nossos dedos, para, então, fazer com que eu soltasse totalmente o seu braço e, assim, a mesma conseguisse ficar mais confortável.
ㅡ Hm? ㅡ resmungou, junto a um suspiro ao se sentar sobre a cama e, rapidamente, virar a sua cabeça em direção - na qual estava a janela posicionada, do outro lado do quarto.
Desde aquela descoberta, não era nem um pouco difícil de notar uma Hailey pensativa - e em qualquer momento. Ela parecia ainda estar unindo os fatos ou, somente, tentando fazer a ficha cair.
Se para mim não estava sendo fácil - por causa de todos os planos que eu fiz para tudo isso que, aparentemente, foi e será totalmente frustrado -, não era bom imaginar como era para ela, já que - na minha percepção -, como se trata de seu corpo e não é algo que possa fazer tanta mudança, a aceitação deve estar sendo bem mais preocupante.
ㅡ Hailey? ㅡ chamei-a, tomando um pouco mais de coragem para ter a sua atenção virada para mim no momento seguinte ㅡ Eu vou com você.
Era nitido do começo ao fim que estaria aqui até quando fosse preciso - até quando esse assunto machucasse ou fosse uma pauta válida de um problema. Mas, bem, se era problema, tinha que haver solução.
ㅡ Ah ㅡ torceu o lábio para o lado um tanto confusa ㅡ Do que você está falando?
ㅡ Se você decidir fazer aquele exame ㅡ complementei ㅡ, eu vou com você.
Tinha uma ideia do que poderia acontecer nesse teste - de modo algum deixaria que fizessem mais do que eu acho que seja necessário em tal ponto, por isso eu vou estar lá para me certificar de que não ocorra algo que me faça arrepender. Claro, quero dar apoio.
Se algo de ruim rolar depois - ou durante -, tenho que ficar vidrado em seus sentimentos. Hailey precisa de cuidados até nas partes pequenas - e que, antes dela, eu descrevia como sem importância.
ㅡ Claro ㅡ confirmou. Hailey ajeitou a própria postura, tornando a sua face pensativa - que antes tinha virado um pequena surpresa ㅡ Ainda não decidi e, também, não é algo que realmente me preocupe no momento ㅡ sorriu fraco ㅡ Não planejo uma gravidez agora e, bem, não quero uma confirmação de que, futuramente, teremos problemas com isso por culpa minha, então apenas não quero mexer nisso por enquanto. Não quero me frustrar, me angustiar por agora.
Ah, não sei bem se essa era a melhor ideia.
ㅡ De qualquer forma, eu vou fazer acontecer ㅡ disse tentando ser seguro das minhas palavras ㅡ Não importa o resultado, eu quero e vou ter essa ligação com você.
Independente de como fosse.
Ela olhou diretamente em meus olhos, prendendo os seus lábios entre os dentes para se manter como estava e, suspirando outra vez, soltou um pequeno sorriso sem graça, como se não entendesse muito bem o que eu estava falando.
Talvez ela pudesse não ter entendido, mas eu sei o peso das minhas palavras.
ㅡ Justin, não sei se tem necessidade disso agora e nem se parece uma boa ideia no momento, mas... ㅡ deu de ombros lentamente ao desviar para outro assunto - também me dizendo, por ali, que aquele outro ponto em que eu tocava não era tão confortável ㅡ Preciso te avisar que, hm... Eu vou viajar, não sei quando...
Poderia estar, sim, a deixando perdida com as minhas palavras - ou só a assustando -, mas ela tinha que abordar algo assim agora.
Não que fosse um problema gigantesco, ou algo muito ruim que não pudesse ser controlado. É só que... aquilo parecia mais como uma desculpa para evitar outras coisas - mesmo que, no fundo, não fosse.
Hailey não pode viajar e, ainda mais, - pela forma como ela me fez acreditar agora - sozinha.
ㅡ Viajar? ㅡ franzi o cenho ㅡ Quando você decidiu isso?
Me parece que toda essa droga está tão assustadora que até de mim ela quer fugir.
ㅡ Tem alguns dias ㅡ murmurou ㅡ Eu e Shawn decidimos, porém com tudo o que aconteceu com ele, vamos ter que adiar ㅡ sua voz ficava mais baixa com o passar das palavras ㅡ Não sei bem para quando, mas queria te avisar, para não deixar de última hora.
A parte tranquila disso é que, de cara, Shawn ainda vai demorar muito para se recuperar, então isso não é algo que eu tenha que pensar agora. Também é bem provável que, até que ele se recupere, ela se esqueça de toda essa coisa.
[...]
ㅡ Você não considerou a ideia de ela ter ido trabalhar?
Era a coisa mais óbvia e mais idiota de pensar no momento, diante das circunstâncias agora.
ㅡ Não, Calvin ㅡ bufei, para, logo em seguida, suspirar lentamente, na fraca tentativa de me controlar ㅡ Hoje é sábado ㅡ tive que adicionar ㅡ Eu não a vejo desde quinta à noite... Pensei que ela tivesse ido trabalhar mais cedo quando acordei ontem, mas ela ainda não voltou.
Era assim, e parecia simples. Desde de então me encontrava confuso com onde procurar, ou por onde faria sentido olhar.
Hailey não sairia assim sem me falar. Depois dos últimos acontecimentos - e das partes mais marcantes deles - não é difícil achar que algo aconteceu a ela - e que alguém o fez -, já que por pouco não queria nem sair de perto de mim.
ㅡ Eu não sei... ㅡ bufou demonstrando o seu cansaço ㅡ Eu não sei, Justin... ㅡ recostou-se na cadeira ㅡ Se Hailey sumiu, então, chegamos ao consenso que, não, ela não o fez sozinha, certo?
Era exatamente o que eu estava tentando me convencer tem tempo já.
Também era quase 8 horas da manhã e eu ainda não tinha conseguido dormir nem por um instante. Não havia tido nenhum tipo de informação sobre ela, e se eu não conseguir algo logo, sei que vou simplesmente ficar louco.
Preciso que Hailey apareça. Juro que já não aguento mais, é tempo demais para mim.
ㅡ Você não está com ela, está? ㅡ ignorei sua conclusão, por estar óbvio demais. Segui na parte em que me levantou suspeita desde o início - e aquilo, sim, era duvidoso. Ergui o meu olhar assim que a ideia bagunçou ainda mais a minha mente - forte na possibilidade ㅡ Você não fez... ㅡ preparado para lhe lançar uma ameaça, vi Calvin franzir o cenho antes de me interromper.
ㅡ Acha mesmo que eu vou me envolver entre vocês? ㅡ ele arqueou as sobrancelhas de modo irônico ㅡ Eu não a "esconderia" ㅡ fez aspas com apenas uma mão ㅡ de você, a menos que tivesse feito algo... Você fez algo?
ㅡ Calvin, onde está Hailey?
Por mais que aquela minha pergunta fosse por pura pressão, era nítido a questão em si. Só queria ter a certeza. Não sei bem se Calvin - já que a conhece a muito tempo - faria algo assim por ela, ainda mais quando a mesma com certeza não pediu - não a fiz mal para que ela quisesse isso.
Hailey não pode ter desejado fugir de mim. Eu não sou uma ameaça para ela - mesmo quando, às vezes, digo que vou fazer algo de ruim. Nunca vou fazer esse tipo de coisa com ela - é da boca para fora quando é direcionado a Hailey.
ㅡ Eu não sei! ㅡ exclamou rapidamente. E eu podia entender a sua honestidade, embora relutasse para o contrário ㅡ Ela deve estar com o Shawn ㅡ murmurou, voltando a entonação pensativa, como se estivesse muito na cara.
A ideia de Calvin já havia surgido na minha cabeça antes, junto também do arrependimento de não ter feito aquelas cicatrizes com as minhas próprias mãos, para assim tê-lo matado de uma única vez - resolvendo problemas. Shawn - como ela já me disse que era como seu irmão, e eu prefiro pensar assim do que qualquer outra coisa, senão ele definitivamente não estaria vivo, apesar da ideia de eu somente ser sua família ainda me rondar - havia levado alta uma semana atrás, depois de ficar quase um mês no hospital - pelo menos -, então eles poderiam, sim, estar juntos. Porém eu já havia descartado isso mais cedo.
ㅡ Ela não está com ele ㅡ resmunguei ao dar de ombros, ainda me sentindo um tanto aéreo. Nada parecia ser a solução - ou ao menos estar perto dela ㅡ Definitivamente ela não está com ele.
ㅡ Como sabe? ㅡ tornou a elevar as sobrancelhas.
ㅡ Eu fui até aquela droga de casa.
E mais de uma vez até, cheguei até a entrar em quase todas. Não havia ninguém, nem mesmo o Shawn - mas ele poderia estar trabalhando... por mais que eu não acredite tanto na possibilidade. O atestado dele era enorme.
E também só de pensar em olhar para lá de novo me dava enjoo. Não aguentava mais ir e voltar de um lugar só.
Hailey não parecia estar em lugar algum.
ㅡ Ah, sim ㅡ voltou a resmungar.
ㅡ Que eu saiba, ele ainda mora lá ㅡ ao menos isso.
Se ele não estivesse trabalhando então, onde ele estaria enfiado agora todo esse tempo? Ele vivia lá, ele morava lá ainda.
Eles poderiam estar mesmo juntos...
Levei minha mão até o rosto para conseguir esfregá-lo, como se aquilo fosse aliviar o estresse e o cansasso de alguma forma - coisa que com certeza não dava certo, e também não deu certo das últimas vezes que o tentei.
ㅡ E o Paul? ㅡ ao levantar a cabeça, Calvin perguntou um pouco mais alto e com um pouco mais de, perceptivelmente, confiança.
ㅡ O que tem o Paul? ㅡ só percebi o meu raciocínio baixo quando a ideia do Calvin - não tão dele - se encaixou em minha cabeça, me fazendo arregalar os olhos e, logo, levantar a cabeça para olhá-lo novamente.
ㅡ Ele pode ter feito algo com ela.
Então, de novo, notei o quão eu precisava dormir. Considerar essa ideia absurda era mesmo um aviso de falta de inteligência ou de, pelo menos, um pouco de ignorância.
Paul tem, com certeza, coisas mais importantes. Temos basicamente os mesmo desejos - ao menos eu penso assim, embora nem nos conheçamos direito - em relação a vida profissional - ou criminal -, sendo assim, sequestrar a namorada do outro não era bem algo que eu consideraria.
O inimigo mais estranho que tive.
ㅡ Paul não faria isso ㅡ voltei a encostar meu corpo no estofado da poltrona em que estava sentado ㅡ Para que ele faria isso? Acho que até eu já passei da idade de ficar brincando assim ㅡ fechei os meu olhos, o que durou poucos segundos - já que sabia que se continuasse, dormiria ali mesmo ㅡ Não tem sentido, Calvin. Ele tem dinheiro, tem tudo que precisa, aliás. E também não tem problema algum comigo.
ㅡ Mas o Fitzalan tem.
Então fez sentindo - ao menos um pouco.
Paul é praticamente pai do Fitzalan - reparei isso quando os vi várias vezes juntos, como se tudo dependesse só dos dois, sendo que, bem, a única coisa que o Alex faz são infantilidades, coisas que não ajudam, o que é extremamente diferente do seu "pai", só por Paul pensar antes de fazer algo.
Calvin também me ajudou muito bem a saber mais sobre os dois, ainda mais após eu quase contar para ele sobre um encontro um tanto esquisito que tive com Paul ainda na adolescência - não tirei muitas informações disso (pelo menos não mais do que eu já tinha), mas foi bom de qualquer forma. Bem, ainda me questionava como aquela coisa toda havia acontecido. Era estranho pensar na maneira em que nos conhecemos e que, inevitavelmente, ele me ajudou - e era exatamente esse ponto que me fazia ter um pouco mais de empatia com ele.
Ah, também não sei se Fitzlan e Paul ter algum tipo de laço familiar signifique algo para que ele quisesse me enlouquecer ou simplesmente satisfazer os pedidos do seu "filho" mimado.
ㅡ Já disse que Paul passou da idade dessas coisas ㅡ sinceramente eu nem entendia por que o defendia - não éramos nem amigos, nunca fomos. Não deveria o fazê-lo, apesar de tudo.
ㅡ Estamos falando do Fitzalan agora ㅡ enquanto caçava a sua nuca, Harris falou ㅡ Você sabe que ele tem coragem.
ㅡ De fazer tudo sozinho? ㅡ indaguei em tom sarcástico ㅡ Acho que não.
ㅡ Ele teria coragem, Justin ㅡ rebateu.
ㅡ Sem a permição do Paul? ㅡ ri fraco, descartando completamente a possibilidade ㅡ Com certeza não.
O silêncio reinou na sala por longos segundos, tudo ficou um aberto eco de pequenos sons que se espalhavam pelo cômodo, sons esses que me incomodavam a cada momento passado, até o momento em que enfim ele se foi.
ㅡ Quando tiver algo mais sólido... ㅡ Calvin já murmurava. Não parecia muito disposto a receber uma repreensão ㅡ Me liga ㅡ fez alguns gestos com as mãos ao acrescentar ㅡ Também estarei procurando por ela, e farei o mesmo se eu conseguir achar algo.
Hailey Baldwin P.O.V.
Claro que eu estava extremamente animada com a situação. Era um tipo de desespero sem fim que me fazia ficar inquieta para rever e conversar com Karen e Manuel, como não pude fazer da última vez e como tanto queria antes - mas que também não fui permitida.
Depois de tanto tempo, simplesmente parecia uma ideia insana só estar na Carolina do Sul novamente e com a ideia de que tudo seria em paz - mesmo que nem tenha demorado tanto tempo desde a última vez, mas mesmo assim parecia que fazia séculos. Estar na cidade em que morei praticamente minha vida toda, é completamente excitante e... reconfortante de alguma forma, sem dúvidas.
Sei que também parece louco, por antes eu estar morrendo de medo de dar as caras aqui por conta de Alex e, logo quando ele aparece, eu justamente estar fazendo o que eu não fazia por medo de ele aparecer. É estranho, é contraditório e angustiante de alguma forma.
Nada disso quer dizer que eu ainda não esteja com medo disso tudo. Eu estou e sei que, de alguma forma, não vai passar. Só estou... aproveitando a situação e confiando no meu melhor amigo.
Até considerei descartar a ideia do meu amigo, por eu achar necessário ele ao menos ficar um pouco em casa antes de viajar depois de tanto tempo no hospital. Mas quando eu o liguei - pelo celular do Carl -, ele inventou tantas desculpas para sair de Atlanta que eu não tive como negar. Também eu me sentia culpada pelo seu acidente - exatamente por eu não estar lá, só na esperança de ajudar -, então sentia que deveria recompensar de alguma forma. Afinal eu também vim pra cá com Justin e não me senti tão inquieta - o ponto é que, claro, eu me sentia e ficava muito mais segura com Justin, tinha que admitir.
Bem, eu também desejava muito que Justin estivesse aqui também, no entanto ainda me parece que meu amigo queria algo "mais intimo" - isso em suas palavras -, algo para a família. "Então, não para o Justin".
Mas, de qualquer forma, Justin é a minha família também. Entretanto ainda posso entender quando Shawn fala que pra ele não é a mesma coisa, já que os dois mal se falam - seria uma situação incômoda. Sendo assim, é melhor como está.
ㅡ Você vai mesmo ficar assim de novo, Hailey? ㅡ Shawn bufou entre os primeiros segundos em que entrou no quarto ㅡ Se lembra que concordou em vir?
ㅡ Não é isso, Shawn.
Não era só esse o ponto, afinal eu queria, sim, visitar os meus tios. Além de todo esse último assunto principal, pensar em Calvin às vezes era inevitável, ainda mais quando era para ele estar aqui com a gente e terminando com toda a agonia que era não saber sobre o seu paradeiro - que, bem, só eu e Shawn sabíamos qual era (isso se formos contar com as pessoas que era da família e que também achava que ele estava morto).
ㅡ Como não? ㅡ para dar destaque em sua pergunta ele balançou a cabeça suavemente ㅡ A viagem inteira você ficou desse jeito ㅡ apontou para o meu rosto ㅡ Pensei que quisesse vir visitar meus pais... nós combinamos isso.
Se eu fiquei eu nem havia notado - e nem notaria se ele não tivesse dito agora - e, também, pensando melhor, não parei de imaginar a possibilidade de Carl estar junto de nós. Claro, também tem essa parte em relação a Justin.
ㅡ Eu sinto saudades disso tudo ㅡ gesticulei, referindo-me a não só a casa, mas também a cidade e as pessoas daqui ㅡ É só que...
ㅡ Não parece ㅡ assim ele me interrompeu.
Tinha esquecido como era difícil dialogar com Shawn quando o mesmo está chateado, curioso ou só minimamente irritado.
ㅡ Eu sinto, Shawn ㅡ reafirmei.
ㅡ Então por que você está assim? ㅡ agora sua feição estava desconfortavelmente perdida ㅡ Quer me falar? Quer conversar sobre? ㅡ sua voz ia ficando mais calma com o passar dos segundos.
Sabia que ele não estava fazendo por mal, só não encontrava a forma certa de se expressar ou, como acontecia raramente, estava guardando aquilo a muito tempo. É estranho vê-lo assim, de qualquer forma.
ㅡ Eu só estava pensando ㅡ incialmente tentei ocultar o motivo principal, mas logo vi que não teria tanto sentido ㅡ No Carl ㅡ dei de ombros, por mais apreensiva que estivesse ㅡ Pensei em contar, sabe? ㅡ levantei o olhar quando me senti mais confiante, notando-o, então, completamente estático ㅡ Hoje no jantar, eu estava prestes a contar tudo sobre ele ㅡ soltei um longo suspiro para ter um tempo para pensar melhor ㅡ Calvin disse para eu não falar nada e... Eu não sei por que, mas eu não vou fazer nada que ele não queira, ainda é a vida dele ㅡ deixei claro as coisas que se passavam em minha mente nos últimos minutos e horas - e as quais eu também já tinha concluído (não fazia sentido enrolar em alguma coisa se eu já sabia o ponto final dela) ㅡ Eu o amo muito, e não vou decepcioná-lo.
ㅡ Você devia ter contado ㅡ enquanto esfregava o rosto, Shawn murmurou - agora voltando ao seu estado firme aos poucos.
ㅡ Já disse... ele me pediu e...
ㅡ Verdade, é claro ㅡ soltou um riso fraco extremamente baixo ㅡ A obrigação é dele, mas, bem, já que ele é covarde para dar pra trás, seria ótimo se um de nós dois acabassemos com isso, certo?
Não. Mil vezes não. Aquilo fora praticamente uma promessa com Calvin. Eu não iria voltar a discutir com Carl por conta disso - apesar de fazer parte do meu desejo mudar a sua decisão e essa ser exatamente a forma que teria algum efeito. Era algo que ele teria que pensar com o tempo e chegar em uma conclusão com o tempo.
Não posso me meter, embora queira. Tenho que deixar que essa parte ele mesmo resolva - mesmo que machuque um pouco -, como ele quer.
ㅡ Meu Deus, Hailey! ㅡ exclamou assim que percebeu que já não prestava atenção no que ele falava - e nem foi proposital ㅡ Nós estamos falando do Carl!
Logo depois que Shawn saiu do hospital, quando nos falamos, eu tentei esclarecer tudo que eu ainda não havia dito nas últimas três visitas rápidas que eu e Justin fizemos a ele lá, e Calvin foi um dos tópicos. Eu esclareci e coloquei um ponto em várias das coisas que agora ele queria questionar de novo.
Shawn não entendia que, apesar de fazermos minimamente parte dessa história, não somos nós que devemos contá-la - e eu demorei um pouco pra entender isso também.
ㅡ Ele é o meu primo... quase nosso irmão ㅡ adicionou rapidamente ㅡ Ele tem família e a familia dele está lá embaixo ㅡ sua voz aumentou o volume fazendo-me desviar o olhar. Quando Shawn se descontrolava, eu me sentia culpada - muito aliás, sempre. E também não havia necessidade alguma de gritar, principalmente quando eram onze da noite ㅡ Você sabe da luta que todos nós temos desde o momento em que ele saiu à noite e nunca mais voltou! ㅡ e continuava a gritar ㅡ Ah, meu Deus! ㅡ pareceu dar-se conta de algo ㅡ Por que estou discutindo com você? Eu mesmo posso fazer isso ㅡ então ele se virou, coisa que me fez ter uma explosão de pânico.
Não posso o decepcionar. E temo que já fiz isso, só por ter falado tudo para o Shawn, sendo que eu e Calvin havíamos combinado que mais ninguém além de mim e seus amigos saberiam, especialmente a sua família - e Shawn fazia parte da sua família.
ㅡ Não! ㅡ exclamei a primeira coisa que me veio em mente naquele desespero ㅡ Você não vai fazer isso! ㅡ minha respiração estava um pouco descontrolada, portanto tive que ficar alguns instantes parada para regulá-la novamente ㅡ Por favor, Shawn, quem tem que decidir isso não é você.
ㅡ Me surpreende muito você não ter feito isso antes ㅡ seu murmuro deixou-me aliviada por algum motivo desconhecido. Bem, parecia indicar que, ao menos, mais calmo que eu ele estava.
ㅡ Eu não posso, como você também não pode ㅡ adicionei logo quando ele se calou ㅡ Isso não se trata de você, não se trata de nós, se trata dele. Ele tem que escolher se vai fazer isso.
Shawn podia estar certo quanto estivesse e eu podia estar concordando com ele no nível mais alto possível, mas, de qualquer jeito, estávamos falando dos sentimentos de outra pessoa - basicamente. Se Carl não queria contar - emocional como conheço que é -, com certeza havia algo estranho por trás e fazia parte de seus sentimentos e das coisas coisas que ele não queria lidar.
ㅡ Ele está escolhendo deixar a família dele continuar sofrendo, Hailey, você não entende? ㅡ por alguns momentos pensei que ele continuaria calado, como ficou por pouco segundos, de costas para mim, no entanto virou-se e tornou a falar ligeiramente quando soltei um suspiro ㅡ Aliás, se trata da família, do sofrimento dela ㅡ voltou a exclamar, levando-me a fechar os olhos, assim que basicamente reformulou a minha frase ㅡ Todos pensam que ele está morto.
Sim, Calvin estava escolhendo deixar a família aflita por mais tempo ainda. E eu só queria escolher a parte em que havia um motivo maior para isso.
ㅡ Ele não está morto ㅡ disse ao sentir subitamente um arrepio passar em uma grande parte do meu corpo ㅡ Não fale assim.
ㅡ Viu, Hailey? Todos pensam desse jeito.
E era outra verdade, todos pensam que o Calvin não está vivo, por ter muitos anos que ele "está" desaparecido.
ㅡ Por que... ㅡ passei levemente uma das minhas mãos em um dos meus braços, tentando amenizar a sensação que o arrepio deixou ㅡ Por que nós não falamos para todos quando Calvin decidir que quer falar para todos? Podemos fazer isso juntos... mas apenas quando ele estiver pronto ㅡ deslizei minha unha do indicador na palma da minha mão em uma mania que criei faz um tempo - mas que, ainda bem, já estava indo embora ㅡ, ele pode só não estar pronto.
ㅡ Isso é tão grave, Hails, tão grave... ㅡ murmurava ㅡ Você não pensa, tipo... Ele supostamente não está pronto para falar com a família há 6 anos... E se ele decidir que nunca estará pronto? ㅡ arqueou as sobrancelhas ㅡ Nada disso é normal.
É, ultimamente as coisas parecem esquisitas. Se formos levar em conta também que Calvin agora é um criminoso, basicamente.
ㅡ Ele também é um adulto agora. Na verdade, ele já é adulto há um tempo. Não temos que decidir isso por ele.
[...]
Já fazia um bom tempo que estávamos aqui, e eu ainda não havia decidido se as coisas realmente haviam mudado, ou se a esperança de que isso tivesse acontecido estava mexendo com a minha cabeça a ponto de eu me apegar até nesse ponto.
Talvez até estivesse mesmo igual, mas a sensação com toda certeza era diferente.
Podia ser pela carência que Shawn tanto colocava para o momento e a mínima sensação de nostalgia. Era uma mistura que, de um modo, me fazia sentir culpada.
Culpada por ter demorado tanto para vir aqui - por basicamente nada, se for olhar por agora. Culpa por saber que Shawn estava desse jeito pela óbvia falta da Camila. Culpa por sentir falta do Justin até quando estava matando saudade da minha família, só porque isso me fazia querer voltar para casa invés de aproveitar totalmente.
Queria ao menos passar algum tipo de tranquilidade a mim mesma - afinal, Justin não iria a lugar algum e nem os meus familiares -, então estava só tentando que qualquer conclusão muito firme e negativa não me atingisse.
Também não só tinha que cuidar da minha mente, já que - reforçando - do meu lado estava o meu amigo extremamente preocupado - de repente mais do que o normal.
Para completar, sobre toda essa angústia, eu não podia deixar que seus pais percebessem o que estava acontecendo internamente. Se estamos aqui, não quero preocupar ninguém - pelo menos não mais do que já o fiz.
Na esperança de melhorar o clima, segurei a sua mão por baixo da mesa, fazendo-o, assim - momentos depois -, encostar a sua cabeça em meu ombro, após fazer um carinho de poucos segundos em seu cabelo.
Faz tempo, muito tempo que não o vejo assim. Shawn não namora desde a adolescência (como eu), então há muito tempo que não tem uma desilusão amorosa.
Então tornei a correr o meu olhar pela sala de jantar, para conseguir observar a mãe e o pai de Shawn do outro lado da bancada da cozinha.
ㅡ Sinto falta dela ㅡ sussurrou apenas suficientemente alto para que somente eu conseguisse ouvir. Já era a quarta vez que o dizia.
ㅡ Eu sei... ㅡ soltei um suspiro enquanto abaixava a minha cabeça para poder olhá-lo ㅡ Prometo conversar com o Calvin. Ele provavelmente deve saber exatamente onde ela está.
Quando eu pedi para Carl ajudar Camila, a primeira coisa que realmente pensei foi que ele teria, pelo menos, uma mínima ideia de onde deixar ela, já que ele resolveria o problema. Sendo assim, o mais óbvio a se fazer - do que ficar tentando adivinhar - era questionar ao mesmo.
Não é possível que ele não saiba.
ㅡ Só espero que ela esteja bem.
Depois de anos, logo a primeira que ele decidiu se relacionar tem mais problemas do que o normal e, ainda mais, a maioria deles é diferente.
Espero, com todas as minhas forças, que, apesar de tudo, ela se encontre bem, de fato. Embora a gente não se conheça, ela ainda é uma pessoa importante para Shawn, e eu tenho que me preocupar, especialmente quando me sinto culpada ou quando é alguém que faz parte da família. Ela é a namorada do Shawn, é família.
ㅡ Meus pais estão planejando fazer uma festa no seu aniversário ㅡ comentava, ainda mantendo o tom baixo, para pular para outro tópico ㅡ, como antes, sabe? ㅡ olhou-me de relance por poucos segundos, já que, daquela posição, não o dava para me fitar muito bem ㅡ Mas eles acham pouco provável que você esteja aqui de novo daqui a alguns dias. E é verdade.
Também tem o Alex. Não queria ter que correr o risco de encontrar com ele. E sei que os meus familiares chamariam a sua atenção, mesmo sem querer.
ㅡ O que foi? ㅡ voltei o meu olhar para Alex, fitando outra vez os seus olhos ao ouvi-lo murmurar ㅡ Tudo bem?
ㅡ Sim, está ㅡ disse simples ao franzir o cenho ㅡ É só que... ㅡ soltei um suspiro ㅡ É que o Calvin está um pouco estranho nesses últimos dias.
Já havia tentando de várias formas conversar com Adam, tentar entender qual era o problema da vez, mas ele sempre arrumava uma desculpa e dizia que era apenas coisa da minha cabeça. Realmente quero que ele esteja certo.
É que, ainda mais ultimamente, ele não gosta de falar sobre os seus problemas, já que também não gosta de incomodar ninguém para obter ajuda. É preciso insistir um pouco para que alguém possa compreender a sua angústia, ou pelo menos que outra pessoa - a não ser ele - tenha a iniciativa primeiro.
Normalmente ele se abre comigo com extrema facilidade, mas por agora tem sido difícil olhar para o lado que ele realmente quer e precisa. Ele parece querer disfarçar e dispersar tudo.
ㅡ Não se preocupa com ele ㅡ então deu de ombros como se não fosse um assunto importante ㅡ Deve estar tudo bem. Talvez ele só esteja em outra fase da vida ㅡ apenas assenti. Não queria me aprofundar nesse assunto com Alex. Sabia que não era a pessoa certa para tal coisa, ele quem não entenderia muito bem. Também nunca compreendeu a minha conexão com Calvin e com Shawn ㅡ Seus pais já chegaram?
Ao menos ele via que não seria algo para se comentar em uma festa de aniversário, onde a primeira coisa que deveria acontecer era a aniversariante estar minimamente feliz sobre - e, bem, eu estava. Pelo menos minimamente.
Só que a questão disso tudo e o problema dele é que, falar sobre os meus pais e a ausência deles, não era o melhor ponto para agora.
Pelo menos o último não parecia tão ruim quanto esse - por agora.
ㅡ Eles... ㅡ com um tanto de esperança, olhei em volta, esperando que a pergunta de Alex fosse mais uma afirmação ou que, ao menos, se confirmasse por si só naquele instante ㅡ Eu acho que não ㅡ neguei. Não havia nem sinal deles ㅡ Eles me falaram que não poderiam vir.
E era só o meu aniversário de 16 anos.
ㅡ Que pena ㅡ torceu os braços ao me abraçar de lado. Parecia mesmo senti-lo ㅡ Vamos focar no que está acontecendo agora.
Amava a forma como ele tentava me fazer esquecer das coisas que me deixavam triste, mesmo que não tivesse sucesso. Bem, poucas pessoas se esforçavam por mim - talvez nem o façam por mal, é claro - e, seguindo assim, pequenos gestos já me fazia feliz, só de ter a intenção.
Mesmo que os meus melhores amigos fizessem o mesmo, nem sempre eles estão por perto, e o Alex... ele está, o tempo todo - tirando quando ele escolhe um dia da semana para visitar os seus pais.
Depois de completar um ano de relacionamento há poucos meses, eu havia me acostumado em não conhecer a sua família. Meu namorado sempre dizia que não era uma boa ideia ou que não era um bom dia pra isso, então sempre tento não contestar nada. A decisão é dele - apesar de eu, às vezes, rebater a sua conclusão.
ㅡ Hailey! ㅡ levantei a minha cabeça, na procura da voz que estava me chamando, sentindo, então, as mãos de Alex em minha cintura e, virando-me rapidamente para frente, ele apertou-a com um pouco mais de força. Assim, de costas para a piscina, ele colou minimamente o meu corpo no seu para poder me abraçar direito.
ㅡ Sorria ㅡ franzi o cenho ao sentir o seu hálito quente batendo contra o meu ombro, causando-me cócegas. Foi impossível não sorrir, por mais confusa que estivesse.
No momento seguinte, assim que consegui relacionar tudo que estava em frente ao meus olhos - após também ter uma pequena crise de risos -, observei a mãe de Calvin com uma câmera em mãos. Provavelmente ela estava tirando fotos de nós dois.
Parecia inevitável não pensar nesse dia. Eu o classificava como um dos melhores dias da minha vida, apesar das pequenas frustrações nele.
Soprei o ar lentamente. Não costumava ter lembranças que eu considerava "ruim" quando o assunto são os meus pais. Não queria ter que lembrar deles dessa forma, e essa era outra razão pela qual eu evitava vir para Carolina do Sul. Queria manter em minha mente coisas boas sobre eles e vir aqui tornava esse desejo difícil.
Me forcei a deixar de pensar nas palavras de Shawn. Era melhor que o fizesse, já que, com apenas um assunto aparentemente inofensivo, lembranças não tão boas - por mais que sejam - invadiram a minha mente.
ㅡ Acho que não é uma boa ideia ㅡ voltei a comentar após um pequeno intervalo.
Era melhor pensar nas coisas atuais e nos futuros problemas atuais.
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