O céu estava bordado por estrelas mais brilhantes do que o habitual naquela noite. Luzes multicoloridas vagando pela sacada, enquanto a casa era escura e a cidade era clara. Latas de alumínio estavam espalhadas por todo o piso ao mesmo tempo que seus olhos dopados estavam quase se fechando, mas ainda olhando para a paisagem noturna: contando cada ponto esbranquiçado no topo do mundo. Foi o que o distraiu de dormir abaixo das nuvens da Flórida, que pareciam muito mais escuras do que qualquer outro lugar do Japão. Aproximadamente dois aviões já haviam sobrepujado o apartamento, um pouco além do que ele imaginou, embora ainda tão perto, mas ainda tão longe.
Um ruído comovente tocou seus tímpanos, o volume mais elevado em seu aparelho tecnológico enviando ondas sonoras de alta frequência que o ensurdeceram. Foi a confirmação do sucesso, ou o prelúdio do fim.
Rohan estava ainda mais brilhante do que todos os pontos dourados no céu. Seus olhos em foco: duas joias translúcidas que fizeram de Josuke um gemólogo. Ele podia ver além de cada movimento lento, de cada movimentação rústica. Como as ondas na baía e como a areia em seus pés. Nada semelhante ao toque do artista em sua pele, mas semelhantes ao calor de seus braços fortes. O abraço do mar.
O mangaká balançou, consternado; uma saudade impossível de se afogar. Higashikata voltaria em breve e seu coração não viria com ele. Duas passagens de volta (e ele nunca pôde encontrar a de ida). Seu peito apertou no instante em que ele desdobrou um formato irregular atrás de seu namorado. Rohan segurou um bolo colorido e velas acesas, um fantasma do que um dia ele havia sido, premeditando o que ele seria no futuro.
O que você pode fazer sem energia? Josuke não sabia. Ele estava ocupado demais chorando ao pensar que Rohan se lembrou de seu aniversário. O que lhe resta são sussurros engasgados, escutando discursos melódicos, porém muito baixos. Uma paixão que nunca morreu, que vem junto ao trem da meia-noite, vagar pelo seu coração. Ele agradece por Rohan não tê-lo deixado ir. Ao menos, não por muito tempo. Cinco meses até ele receber seu diploma, embalado por uma nota de embarque. As malas já estão prontas, dormindo debaixo da cama — apenas esperando.
Josuke assopra uma vela imaginária e Rohan sorri.
E, neste pequeno momento, Josuke sabe que ele não está mais sozinho.
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