História Powerless Wings - Capítulo 1

O que ele estava fazendo? Já poderia ter entregado a chave. Ele já deveria ter feito. Ele lutou tanto pelo sangue do titã e depois usou as poucas forças para pegar a chave, e agora? Agora ele estava traindo ainda mais o imperador, primeiro traiu ao não entregar o palismã quando ele apareceu em seu quarto, agora ele se pergunta se deve entregar a chave ou não. Normalmente a resposta que ele daria sem pensar seria sempre agradar a Belos, mas agora ele não conseguia nem mesmo ver aquela chave.

Talvez ela ainda funcionasse, ainda estava inteira, mas o olho estava rachado e pingando sangue do titã, poderia tanto ter sido bem sucedido quanto ter falhado tão mal novamente. Se ele entregasse a chave e ela não funcionasse como deveria, seria culpa de Hunter que não havia sido bem sucedido o suficiente. Seria sua falta de capacidade que o fez falhar. Seria sua falta de poder que o fez falhar.

Se ele tivesse pelo menos um pouco de magia, apenas uma quantidade ínfima já era o suficiente. Poderia não conseguir soltar um feitiço, mas pelo menos não seria mais um pária e não teria que se preocupar com suas asas aparecendo em público.

Era desconfortável mantê-las escondidas e um dos poucos lugares que elas poderiam ser esticadas era em seu quarto ou em algum lugar remoto, normalmente o céu em uma altura bem alta, onde ninguém podia vê-lo. Podia odiar aquelas asas e o que elas representava, mas somente um tolo para deixar de aproveitar as vantagens que isso acarretava – um dos vários ensinamentos do imperador para Hunter -, como a paz que encontrava acima das nuvens. As vezes tinha alguma bruxa voando alto ou alguma criatura, mas nada que o pudesse perturbar.

Somente ele, as malditas asas e seu pequeno palismã. Não entendia porque ele estava tão grudado em Hunter, claro que ele sabia que eles escolhiam suas bruxas através de fortes emoções. Que emoção Hunter sentiu para o pequeno pássaro vermelho se afeiçoasse a ele? Não sabia responder, não sabia quando havia escolhido Hunter, mas agradecia.

Sabia o quanto era arriscado manter ele no palácio e o que aconteceria se seu tio o encontrasse, Hunter não estava com medo por si...tudo bem ele estava um pouco sim, mas nada comparado a perder Rascal.

Hunter ri.

Ele estava com medo, com medo de algo que não Belos ou sua rejeição, correção ou ser substituído. Que piada que isso era, que piada era ele possuir um amigo e isso o tornar frágil.

Amizades nunca foram necessários ou importantes na visão de Hunter, apenas o deixaria fraco e incapaz de realizar as missões do imperador com o sucesso que elas requisitavam. Mas, apesar da fraqueza e da preocupação constante, valia a pena.

Quantas vezes ele dormiu fazendo pesquisas em seu quarto e Rascal o cobriu? Quantas vezes Rascal estava lá com ele? Quantas vezes eles conversaram usando palavras e piados?

Já havia perdido as contas, se perguntava se era assim que aquela humana que pregava sobre amizade se sentia com seus amigos. Possivelmente certo?

Rascal pia tirando Hunter de seus pensamentos.

-Apenas um pouco preocupado se Belos te encontra. -Tecnicamente não era mentira, mas ele estava apenas se esquivando da pergunta.

Rascal pia novamente.

-Não é mentira, apenas parte da verdade.

Rascal pia pousando no cabelo de Hunter.

-Tá bom, não precisa chegar a tanto, relaxa. -Hunter começa a se movimentar pelos céus com as suas asas batendo junto ao vento frio.

-Estava me perguntando se era normal sentir isso. Não posso dizer que tenho uma boa relação com os membros de qualquer conven, ou eles me odeiam ou tem medo. Mas também não é como se eu me importasse com isso.

Rascal pia e Hunter ri. Rascal continua piando, fazendo Hunter parar e o pegar para colocar o pequeno pássaro vermelho na mão.

-Repete isso devagar. -Fala Hunter como se tivesse ouvido algo de errado.

Rascal pia novamente.

-Não! É claro que não! Eu roubei sua chave, ameacei a vida dela duas vezes e a usei pra fazer meu trabalho. É claro que eu não posso simplesmente aparecer lá e “oi humana quer ser minha amiga sabendo que eu posso acabar traindo você como já fiz antes?”, ninguém é tão idiota assim. Além disso ela provavelmente deve me odiar depois de tudo.

Rascal pia.

-As vezes você fala coisas que não tem sentido nenhum. Eu não vou aparecer naquela casa, eu posso me virar para conseguir isso. -Hunter soava com a voz irritada, o que era bem normal.

-Não posso aparecer lá, ainda mais agora que o imperador não me deu nenhuma missão. -Hunter solta seu palismã e começa a descer para a janela de seu quarto.

Pisando na janela com cuidado e recolhendo suas asas, Hunter finalmente pode entrar em seu quarto onde podia encontrar a chave do portal dentro de um recipiente de vidro grande o suficiente para guardar e pegar ela sem problemas, o líquido que escorria pela chave já tinha coberto uma pequena parte do recipiente.

Caso entregasse a chave poderia fazer uso do pouco sangue que tinha conseguido armazenar, lógico que tinha perdido parte dele enquanto ia até o castelo e o que tinha ficado na luva da Blight quando havia quebrado a chave. Mesmo com aquela pequena quantidade ele poderia pesquisar uma cura pro seu tio, o sangue do titã poderia fazer muitas coisas além de ser usado para uma chave que ele nem sabia o que abria. Sim, abria aquela porta que seu tio estava reconstruindo, mas pra onde ela levava era um mistério e um mistério maior ainda era se isso ia funcionar.

Não, era lógico que ia funcionar! O imperador havia pensado em tudo e já tinha um plano para tudo, ele não devia se preocupar com nada, apenas obedecer suas ordens, apesar de não estar fazendo isso.

Hunter joga as suas costas em sua cama e Rascal pousa em seu peito se aninhando, era assim que os dois dormiam e não tinham nenhuma objeção quanto a isso, exceto nos dois primeiros dias. Hunter fecha seus olhos e se sente observado novamente, sempre se sentia assim dentro do castelo mesmo que estivesse de madrugada em seu quarto, possivelmente era a influência do imperador que o estava sempre perseguindo.