Quando completei dezessete anos, meu "presente de aniversário" foi receber a notícia de que minha mãe havia falecido.
Naquele momento foi como se eu não tivesse mais chão.
E depois de tanto sofrimento, me perguntei qual seria meu destino, afinal eu ainda era menor de idade.
Foi aí que descobri que teria de voltar a morar com meu pai.
Eu não havia concordado com a ideia, mas não havia outra solução.
E agora eu estava dentro um carro que me guiaria até Ghotam, minha cidade natal.
E quando finalmente cheguei ao destino, o motorista contratado por Bruce estacionou em frente ao enorme casarão e virou-se para o banco de trás, que era onde eu me encontrava.
- Chegamos, senhorita Wayne. - O motorista informou-me com uma voz tranquila. Como ele poderia ficar tranquilo enquanto eu pirava por dentro?
Abri a porta do carro, e quando pus meus pés sob o chão de cimento meio húmido por conta da chuva passageira, percebi que agora não havia mais volta.
O motorista desceu do carro, dando a volta pelo mesmo chegando até o porta-malas, que de lá retirou minha mala verde com detalhes como o zíper em um tom roxo. Não sei bem o motivo, mas o verde e o roxo haviam se tornado minhas cores favoritas.
Ele entregou-me a mala e eu agradeci com um pequeno sorriso.
Virei-me novamente para a mansão assustadoramente grande e caminhei até o meu destino em passos lentos pela minha falta de coragem.
E depois de passar pelo imenso gramado de um tamanho tanto quanto desnecessário, cheguei finalmente à porta principal. Com dois toques à madeira escura, foi-se aberta, revelando a imagem de um senhor de idade que trajava um terno de mordomo.
- Alfred! - O cumprimentei com um sorriso sincero nos lábios, o envolvendo em um abraço ternuoso.
- Senhorita Wayne! - Ele disse sorrindo quando finalmente nos desvenciliamos do gesto - Você cresceu tanto dês de a última vez que nos vimos.
- É, o tempo passa. - Falei de uma forma meio distante e vazia ao recordar-me de todas as lembranças que vivi fora de Ghotam. Mas tentei concentrar-me em Alfred, afinal eu não poderia ficar me lamentando pelos cantos. - Eu estava com saudades.
- Sim, eu também, senhorita Wayne. - Ele afirmou enquanto pegava a minha mala e a trazia para dentro. O acompanhei ainda meio acanhada. - Esta casa não é a mesma sem você.
Esta casa continuaria sendo sombria mesmo se o bozo morasse aqui.
- Eu imagino. - Forcei um sorriso simpático.
- Você está muito parecida com Bruce. - Comentou Alfred, dando início a um assunto que eu gostaria de evitar.
- Eu espero que tenha sido apenas na aparência. - Falei antes que conseguisse segurar minha boca grande.
- O que disse, senhorita Wayne? - Alfred aparentava não ter escutado o que eu havia dito, já que estava no topo da escada.
- Nada importante. - Forcei outro sorriso. Céus, isso estava me cansando.
Depois do nosso desconfortável diálogo (pelo menos pra mim), Alfred levou-me até o meu antigo quarto. Na época em que eu dormia aqui eu ainda era uma criança, então era tudo exageradamente rosa.
O imenso quarto se erguia em quatro paredes, todas de uma cor extravagante de rosa.
Minha cama de casal se encontrava no meio do quarto e em uma parede havia a entrada para uma varanda no qual eu tinha uma visão perfeita de todo o Jardim.
Havia um closet em uma outra parede que aparentemente ainda estava vazio. Alguns outros móveis como a cômoda e o criado mudo ao lado da cama eram de um tom rosa bebê.
Droga, o que tinha na cabeça pra gostar tanto de rosa?
Assim que Alfred se retirou do quarto, deixando-me sozinha com meus pensamentos, tratei de guardar minhas roupas, o que não ocupou nem um terço do closet, enquanto lembranças do meu passafo vinham à tona nesse silêncio mortal.
Quando minha mãe decidiu ir embora de Ghotam, levando-me consigo, Bruce foi atrás de nós e procurou em todos os lugares, mas não nos encontrou.
Talia, minha mãe, me dizia que Bruce se envolvia com coisas perigosas. Ele combatia o mau mas parecia não se importar com os perigos que vivia.
Sinceramente? Eu nunca entendi o que ela quis dizer com isso.
Depois que tomei um bom banho, vesti uma regata preta, uma calça moletom cinza e pantufas rosas e fofinhas(1). Deixei meus cabelos louros escuros soltos e desci as imensas escadas da mansão.
Ao chegar na cozinha, notei que não havia ninguém, então preparei um macarrão instantâneo apenas para matar a fome.
E enquanto devorava meu miojo, observei o que estava no meu campo de visão. Essa mansão era de arrepiar, e eu sabia que jamais me sentiria a vontade aqui.
Quando terminei de comer, coloquei o prato sob a pia de mármore e caminhei até as escadas, porém cesei meus passos ao ouvir uma voz gritando do outro lado de uma porta entre-aberta.
Ao me aproximar dos berros, percebi que era um escritório, e o dono da voz não era ninguém menos que Bruce.
Ele falava com alguém ao telefone enquanto se encontrava de costas para a porta.
E suas seguintes palavras fizeram um calafrio passear por todo o meu corpo.
- Como assim o coringa fugiu do asilo Arkham?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.