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História Predestinate - O lenhador.


Escrita por: canon e somerz

Capítulo 16 - O lenhador.


Não era uma pessoa que necessitava de vários métodos para manter a calma, mas naquele momento encontrava-me em uma tentativa desesperada de simplesmente não surtar. Meu peito elevava-se em uma frequência absurda, podia sentir o sangue sendo ejetado ferozmente em minhas veias. Fora tudo tão rápido. Num momento eu estava correndo floresta afora para qualquer direção que pudesse me levar para longe de Annelise Palmer. E de repente meus olhos recusavam-se a analisar o que exatamente estava em minha frente.

Havia um homem do outro lado do lago.

Suas vestes estavam tingidas por terra, sua expressão era carregada por algo que seu chapéu não me permitia descobrir. Eu sabia que meu pânico aumentaria se rolasse os olhos na direção do que havia em sua mão esquerda. Mas eu simplesmente não pude evitar.

Fora um erro.

Um total arrependimento que mortificou meus pés onde estavam, minha mente que até então se mantinha esperançosa em escapar, simplesmente silenciou.

A ponta do machado brilhava sombriamente sobre o feixe de luz que fazia questão em reluzir sobre o metal bem afiado. A única distância que separava minha vida daquele pedaço de ferro mortal, era o lago. E não era algo que pudesse ser contado como vantagem.

Duas situações se passavam pela minha cabeça, eu podia cair de joelhos e implorar para o meu Deus até que minha voz soasse esganiçada e desesperada o suficiente para que pudesse ser ouvida, ou podia esperar com que o homem julgasse minha sentença entre a vida e a morte.

- O que faz aqui? – o mínimo de emoção timbrada em sua voz, corroeu o silêncio.

A floresta encontrava-se estranhamente silenciosa naquele ponto, como se sacramentasse a cena no mais profano sossego. Velava por minha alma em particular.   

- Santo inferno! Perdeu a voz depois de gritar? Juro que se for mais uma baderneira da cidade...

- Eu estou perdida – proferi ao vê-lo apertar ainda mais o cabo do machado entre os dedos.

Seus olhos estreitaram-se em minha direção, apesar da sombra do chapéu que encobria seu rosto, pude perceber que me avaliava. O “crac crac” das folhas se quebrando repercutiu em meus ouvidos quando começou a caminhar em minha direção, a botina pisava bruta sobre o manto de folhas mortas espalhadas pelo chão. Ele contornou o pequeno lago e parou alguns metros a minha frente, de onde pude observar mais claramente o homem que me dirigia a palavra. Era jovem, beirava aos trinta anos e tinha uma barba comprida, aparentemente não me causava tanto pavor quanto a figura de Annelise.

- Está assustada. Está fugindo de algo? – perguntou, embora parecesse estar afirmando. Nada disse, apenas olhei para minhas costas afim de me certificar que a garota não estivesse ali. – É melhor que entre, conheço bem essa mata, posso te ajudar a sair.

Logo me vi subindo as escadinhas de madeira que levavam até a porta da pequena casa, meus olhos acompanhavam atentos o machado sendo pendurado sob a parede, o que fez com que boa parte da carga de medo abandonasse minhas costas.

- Quem é você? – perguntei ao vê-lo fechar a porta e acender a luz, as janelas eram bem isoladas e aparentavam não permitir sequer um feixe de luz.

- O lenhador, é tudo que precisa saber. O que te fez correr? – cruzou os braços e ficou esperando por minha resposta, o brilho ácido nos olhos sugeria pouca paciência.

- Há uma garota desaparecida na cidade – comecei – eu a encontrei na floresta e, algo estranho estava acontecendo com ela.

O homem riu pelo nariz como se aquilo fosse óbvio, revirando os olhos desdenhados a mim.

- Muitas coisas são estranhas nessa cidade, foi a sina lançada sobre essa gente. Mais tarde encontraram o corpo jogado aos pés de algum tronco. Ficaria satisfeito se você não tiver atraído para o meu terreno, se não será apenas mais sujeira para limpar.

- Como pode dizer isso? – fechei os olhos em descrença – Há uma mãe chorando na cidade, aquela menina precisa de ajuda.

- Que tipo de ajuda? Padres para que expulsem o demônio encarnado? Esqueça-os! Eles nada podem fazer, a não ser pedir para que o Espírito Santo de Deus tenha misericórdia da alma que padece.

- Você a viu? – notei sua respiração pesada ao sentar-se na beira do sofá.

- Ontem à noite, eu estava cozinhando algo para comer quando ouvi um barulho sobre as folhas. Pensei que fosse algumas crianças da cidade que às vezes aparecem por aqui para jogar pedras no lago, mas a julgar pela hora, presumi que não fosse. Fui até a janela e abri o mínimo possível, ela corria de quatro em círculos, grunhia coisas inteligíveis até que sumiu por entre as árvores.

Tentei não pensar muito na cena, era apavorante e me dava pena ao mesmo tempo.

- Você pode me ajudar a voltar? Meus amigos devem estar me procurando.

O carro percorria a trilha demarcada em uma velocidade média devido aos desvios constantes de galhos pelo caminho, evitava olhar muito pela janela e prendia minha atenção em minhas próprias mãos enquanto ouvia o motor ranger ao lado de fora. Poucos minutos depois avistei o casarão à frente, e avisei ao lenhador que já tínhamos chegado.

- Você mora aí? – curvou o pescoço para que pudesse analisar o enorme portão enquanto assentia a sua pergunta – Pensei que estivesse abandonada.

- Estava antes de chegarmos – respondi ao sair do carro, agradecendo-lhe pela carona.

Segui até o portão e o empurrei para que pudesse passar, a aparência mórbida do jardim continuava da mesma forma que eu me recordava naquela manhã, como se aquelas folhagens carregassem algum tipo de irritação transbordando uma espécie de energia negativa. Me fazendo sentir constantemente a falta do calor de Detroit, do cheiro adocicado que emanava da laranjeira plantada em meu jardim. O céu era azul e havia cores por toda parte, diferente daquela cidade, que carregava as cores da bandeira da maldição. Sempre tão fria e desbotada.

Assim que meus pés alcançaram o interior da casa, pude ouvir vozes vindas da sala.

“Como você pode perder uma garota de dezoito anos?”

“Ela estava perto de mim, ok? E de repente não estava mais, eu a chamei, fui até onde disse que estaria mas não estava, eu a procurei por todos os cantos!”

“Chaz eu juro que se algo acontecer a ela...”

- Não aconteceu nada, eu só me perdi – interrompi assim que alcancei os dois, que direcionaram o olhar até mim imediatamente – e encontrei Annelise Palmer.

- A garota desaparecida da cidade? – Chaz indagou.

- Que merda, Brooke! – disse Justin, ignorando a pergunta de Chaz – O que estava pensando? Que iria dar um passeio pelo bosque e voltar achando que está tudo bem?

- Calma Justin, ela disse que se perdeu. – Chaz tentou interferir.

- Agora não Charles. Ela poderia ter morrido, ou pior. – bradou ele, sem dar detalhes do que significava o “pior”. Na verdade eu estava surpresa com a reação de Justin, não esperava que ele fosse me receber com abraços, mas também não podia prever que ficaria tão furioso – E você – continuou ao apontar para mim – pare com essas crises de rebeldia, ou seja lá o que for.

- Não estava fugindo! – me defendi, ainda sem muito entender daquela discussão – Só quis saber o que tinha do outro lado da cerca e me perdi, eu sinto muito.

- É bom que sinta. – retrucou ele.

- Justin! – lá estava Charles intervendo outra vez, assim como eu, sem entender o nervosismo desmedido de Justin. – Mas que diabos! O que tem de errado com seu rabo?

- Aparentemente nada, a menos que você queira checar. – respondeu se divertindo com o revirar de olhos de Somers.

Eu estava quase dando um passo para sair da sala, quando outra vez Chaz se dirigiu a mim.

- Brooke você disse que encontrou Annelise. Onde ela está agora?

Não pude evitar engolir em seco, pisquei lentamente e amenizei o horror de saber que Annelise se encontrava na tormenta ao lado de fora.

- Da última vez que a vi, estava correndo atrás de mim porque segundo ela havia uma voz repetindo em sua cabeça.

- E ela te disse alguma coisa? – perguntou Justin, embora mais calmo dessa vez.

- Algo que se referia a uma garota de olhos azuis – pausei ao observar a troca de olhares entre Justin e Chaz – Você sabe alguma coisa sobre isso?

Justin pigarreou como se de repente precisasse limpar a garganta, seus olhos rapidamente abandonaram os meus enquanto caminhava para fora da sala.

- Não. Nunca ouvi nada a respeito. – respondeu antes de deixar Chaz e eu a sós.

Charles continuava encarando a direção que Justin seguiu, algo na atitude de ambos me fazia questionar se Justin estava mesmo me dizendo a verdade – seria possível?

- Chaz...

- Brooke, eu não sei o que isso quer dizer. Não deveria levar a sério, demônios brincam e mentem para as pessoas.

Assim como Justin, Charles apressou seus passos para fora da sala, me deixando solitária na vasta imensidão do cômodo. Por alguma razão a ideia de deixar aquele assunto pra lá não soava bem para meus ouvidos. Talvez fosse só a curiosidade tentando outra vez jogar contra sujo contra mim, ou talvez, só talvez, fosse minha intuição me alertando sobre algo. E entre essas duas, havia uma linha tênue prestes a arrebentar. Não importava a direção que arrebentasse primeiro, eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu iria procurar por respostas. 


Notas Finais


Oi meninas, aqui estou eu depois de um longo período sem aparecer. Bom, eu sinto muito mesmo! Como explicado no capítulo que postei como aviso, algumas coisas sobre a história mudaram, mas nada do que vocês leram até aqui será alterado. Como perceberam o capítulo está menor do que de costume, também peço perdão por isso, mas não aguentei deixar vocês passar mais um dia sem atualização, e resolvi disponibilizar mesmo assim.
Muito beijos, espero que tenham curtido.


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