Natsu suspirou, tomando fôlego para começar a longa história que teria de ser contada, se preparando mentalmente para a imensa quantidade de perguntas que seriam obrigados a responderem no decorrer dela.
— Como o velhote já falou, minha missão era encontrar o livro desse nerd aí. — Indicou o irmão sentado ao seu lado, prontamente recebendo um tapa na nuca em resposta. — Queria que eu te xingasse ao invés disso? — debochou um tanto indignado.
— Eu tenho nome e prefiro que seja usado — retrucou calmamente. — Idiota — concluiu xingando de leve, o que fez uma veia saltar na testa do mais novo.
— Ora, seu filho de uma-
— Nós temos a mesma mãe. — Encarou-o erguendo uma de suas sobrancelhas, quase o desafiando a continuar o xingamento.
O rosado bufou.
— Eu fui procurar a merda desse livro — continuou, contrariado, deixando um ar levemente triunfante ao redor de Zeref e um particularmente curioso em seus espectadores.
Era a primeira vez que assistiam aos dois interagirem daquela maneira, então ainda era um tanto surreal ver o infame Mago Negro tendo “brigas de irmãos” com o mago da Fairy Tail.
— Eu saí por aí procurando qualquer pista e assim se passaram os primeiros seis meses. — Ajeitou-se no banquinho de maneira folgada. — Foi uma droga, porque tudo o que existiam eram boatos, e às vezes eles se contradiziam. Até que eu encontrei uma pista concreta. Eu encontrei as ruínas da nossa vila, aonde eu e nossos pais morremos. E foi lá que as coisas começaram a sair fora do único objetivo da missão...
— O que quer dizer com isso? — Makarov já se preparava para ralhar com o rosado, por provavelmente ter feito alguma coisa idiota que não deveria.
— Eu encontrei algumas coisas lá. Além de alguns manuscritos, rascunhos do livro, também alguns objetos.
— Muitos dos meus rascunhos e algumas das minhas criações eu guardei naquelas ruínas — Zeref deu continuidade a fala do outro —, envoltos com proteção mágica, justamente para ninguém encontrar. Ninguém que eu não queria, no caso. Na maior parte das vezes, nunca criei esse tipo de proteção para serem capazes de afastar Natsu. Pelo contrário.
— E lá eu encontrei uma esfera mágica, que eu não fazia ideia do que era, mas que trouxe a primeira consequência da missão. — Bebeu mais um gole de seu copo.
Todos o encaravam em silêncio, aguardando a revelação. Ele divertiu-se ao notar a ansiedade geral.
— Os meus poderes como E.N.D foram despertados — ele declarou sem hesitação, embora sua expressão tivesse deixado a diversão de lado.
A reação geral foi muito parecida, todos pareceram prender a respiração por um minuto, até que Lucy e Gray cortaram o silêncio, acompanhados de Happy.
— Mas como?! — ela espantou-se.
— A Lucy reescreveu o livro antes dele desaparecer completamente! — Gray completou.
— Aye! — o baixinho completou. — Pensamos que E.N.D não existia mais!
Zeref sorriu compassivo.
— Se E.N.D deixasse de existir, Natsu não estaria aqui agora. — Seu tom era suave, embora também didático. — Lucy foi capaz de recuperar as palavras que se perdiam enquanto eu e ele estávamos lutando, e por isso o salvou dos ferimentos mortais; além disso, acrescentou novas informações à magia do livro, as informações da vida humana que Natsu viveu enquanto esteve com todos vocês. Isso é um fato. No entanto, isso só foi possível porque ela não modificou em nada a essência do texto. O único capaz de reescrever meus livros, transformando as informações, sou eu mesmo. Qualquer outra pessoa que tente fazê-lo sofrerá uma morte imediata. Ela fez apenas o possível, e ainda assim experimentou um pouco disso. Se Gray não estivesse lá naquele momento, Lucy provavelmente não estaria aqui.
A loira engoliu em seco, olhando para o mago do gelo, como que afirmando o quanto era grata a ele por aquilo. Gray apenas sorriu, como quem queria dizer que não era nada. O que a fez sorrir de volta.
A comunicação, contudo, fora cortada pela voz de Happy voltando a soar.
— Mas... o que aconteceu então com esses poderes, se eles nunca apareceram antes...? — questionou, externando a confusão que muitos outros sentiam.
— Mantiveram-se selados — Zeref respondeu, ainda utilizando o mesmo tom. O outro apenas concentrava-se em apreciar sua bebida, enquanto o irmão explicava a parte chata. — Eles já estavam completamente adormecidos desde que Igneel passou a criar Natsu. E depois do que houve durante a guerra, aonde Natsu fora obrigado a escolher entre suas “partes” e decidiu-se pela humana, eles foram selados por definitivo. Todavia, a esfera que ele encontrou era um objeto dentre as centenas que criei para quebrar minha maldição. — Suspirou. — Ineficiente como todos os outros. Ainda assim, a magia dela era capaz de quebrar outras magias, como se anulasse certos tipos de coisas. E pelo visto, anulou esse selo constituído naquela época. De tal forma que os poderes de Natsu se manifestaram — concluiu.
— E isso se tornou um problema — finalmente o Dragneel mais novo pronunciara-se novamente. — Porque eu não fazia ideia de como controlar isso. Eu não era capaz de controlar meus próprios poderes ou mesmo quem eles deixavam de atingir ou não. Era uma bomba ambulante, prestes a explodir a qualquer momento — ironizou a sua própria situação. — E encontrar o livro se tornou além da minha missão, a única saída que eu via pra conseguir arrumar isso. Foi quando eu deixei de contatar o velhote. Ele iria querer que eu voltasse para a guilda assim que encontrasse a merda do livro, mas eu não podia fazer isso, a não ser que quisesse condenar todos vocês à morte. — Essa parte em específica fez com que alguns magos engolissem em seco, ainda assim, ele continuara a falar, indiferente. — Então continuei a procurar por mim mesmo, com as novas pistas, concretas, que havia encontrado nas ruínas. Percebi que Zeref tinha escondido seus “tesouros” em lugares que tinham algum significado pra ele e passei a viajar por eles. Encontrei tudo o que vocês podem imaginar. Eu não falo brincando quando chamo esse idiota de nerd. — Sorriu debochado, fazendo o moreno rolar os olhos.
— Mas isso não faz sentido... — Jellal comentara, tentando absorver as informações como todos os outros tentavam. — Tudo isso era para ter desaparecido com sua morte. — Encarou Zeref. — Suas criações eram para desaparecer todas.
— De fato — esse, por sua vez, concordou. — Tudo fora fruto da minha Magia de Criação e, consequentemente, deveria desaparecer assim que seu criador deixasse de existir. No entanto, parece que Ankhseram não estaria muito satisfeito com isso.
— Ankhseram? — Erza perguntou para confirmar. — O deus que lançou a maldição sobre você e a Primeira?
— Sim.
— O que ele tem a ver com tudo isso? — Gray exprimiu confuso.
— Essa é uma informação que não posso afirmar com certeza, mas, aparentemente, fora ele que mantivera minhas criações e os efeitos delas nesse mundo. Como eu disse, não tenho certeza, mas acredito que ele as manteve aqui justamente para que conseguissem me ressuscitar algum dia. Pelo que parece, 400 anos não foram o suficiente para eu pagar pelo meu pecado. — Sorriu com amargura.
As expressões de todos entristeceram-se por alguns segundos, até que foi a vez de Erik cortar o silêncio.
— E então? — Os irmãos o encararam, ele direcionou a próxima pergunta ao mais novo. — Você encontrou o livro? E o que aconteceu depois disso? Porque não acho que você tenha passado quatro anos procurando por um livro. Pelo menos quero acreditar que você não foi idiota a esse ponto — ironizou, fazendo o indagado levantar uma das sobrancelhas pela petulância do outro.
— Pela terceira vez, minha missão está cumprida há anos — respondeu seco. — Eu encontrei o livro cinco meses depois de ter ido às ruínas.
— E foi então que eu voltei à vida: em 15 de março de X796. — Vários olhos abriram-se em surpresa.
— O dia que eu encontrei o corpo da Primeira — Laxus comentou com sua voz grave.
Zeref sorriu.
— Sim. — O moreno esticou a mão, deixando sua palma virada para o teto e com um leve reboar fez com que um livro aparecesse sobre ela. Era um livro encapado em camurça negra, grosso, relativamente grande. Olhou-o com tristeza. — Esse livro não era mágico, como os meus outros, em nenhuma circunstância — revelou ainda o encarando. — Ele era apenas um compilado de todas as magias que estudei, aprendi e criei durante toda a minha vida. Assim como as informações sobre minhas criações. Basicamente, é um resumo de tudo o que fiz nos 400 anos em que estive por aqui.
— Eu fui procurar por qualquer coisa que pudesse me ajudar com os poderes despertados, e acabei ressuscitando meu irmão mais velho por acidente — ironizou com sarcasmo.
— Como se ressuscita uma pessoa por acidente?! — Lucy exasperara-se, externando os sentimentos de todos os outros.
Zeref riu brevemente.
— Não foi culpa dele, na verdade. — Sorriu gentil. — Natsu apenas abriu o livro, com a intenção que acabou de mencionar. Ele só não fazia ideia, e eu também não, de que o livro deixara de ser um objeto não mágico e tornou-se a conexão da minha vida com esse mundo.
— Ankhseram — Jellal constatara antes do mago negro continuar.
Esse confirmou em meio a um meneio de cabeça.
— Sim, ele transformara um livro unicamente informativo em um livro com as mesmas propriedades dos que eu criei antes. E assim, eu voltei. E o efeito colateral disso está bem aqui. — Acariciou uma mecha do longo cabelo de Mavis, próxima dele.
— Como a Primeira está relacionada a isso? — Atsushi questionara ainda um tanto desacreditado das informações que ouvira.
Mavis é que se propusera a responder.
— Se eu estou certa, é por conta da conexão que foi criada entre a minha vida e a de Zeref — respondeu sorrindo docemente. Todos a olharam indagadores, ela continuou. — Desde que vivemos juntos os efeitos da Maldição da Contradição, estamos conectados de certa maneira. Mas, aparentemente, no dia em que eu e ele nos matamos mutuamente porque dela, essa conexão tomou outras proporções. — Ela entrelaçou sua mão direita à esquerda do mago, encarando-as com um sorriso singelo, embora cheio de significados. — Por conta do que achamos ter sido a Magia Primeira, nossas vidas estão conectadas de tal maneira que se um morrer, o outro também morrerá; e se um viver, o outro também o fará. Como Zeref voltou, eu consequentemente também voltei. Mas acredito que por conta da maldição, que ainda não havia sido quebrada mesmo com essa interferência da Magia Primordial, eu acabei voltando ao meu estado de inércia.
— E isso só mudou quando eu e Natsu conseguimos quebrar a maldição — Zeref completou.
— Foram vocês que quebraram a maldição! — Levy exclamara completamente surpresa, sentimento compartilhado por seus companheiros.
— Depois de Zeref voltar, tínhamos um novo problema — Natsu voltou a contar o resto da história. — Ele não era mais o Mago Negro indiferente à vida que se tornara. Ele dava valor a ela, e isso ativou a merda da maldição. — Suspirou brevemente. — Até hoje não entendi como isso funciona, mas o cachecol de Igneel me protegia dos efeitos dela. Sendo assim, eu era o único, além da Primeira, que conseguia ficar ao lado dele sem sofrer o efeito da maldição. E então passamos a viajar por aí, por alguns meses, sem qualquer objetivo.
— Apenas dois irmãos viajando sozinhos. — Zeref sorria, embora fosse um sorriso pesaroso.
— Até que eu ouvi a história de uma pedra com propriedades mágicas que poderia quebrar qualquer maldição mágica lançada sobre a pessoa que a encontrasse.
— Breaking Magic... — Mavis olhou o rosado com os olhos arregalados. — Mas... Era apenas uma lenda. Ninguém nunca havia encontrado antes, não há séculos.
— Breaking Magic é o nome da pedra — Zeref explicou ao ver a confusão na expressão de vários dos ouvintes. — Contavam-se as lendas que era um objeto mágico criado pelo primeiro mago de Earth Land, detentor do controle da Magia Primordial, capaz de quebrar qualquer magia que estivesse agindo sobre um ser vivo, inclusive maldições divinas. Essa pedra parece ter sido encontrada algumas vezes em toda a história, mas fazia muitos séculos que ninguém a achava. Eu, inclusive, procurei-a por muitos anos, até que me conformei com a ideia de que era apenas uma lenda. Mas não era bem assim... — Enfiando a mão pela gola de sua túnica, puxou algo que logo viram ser uma pedra de um belíssimo tom turquesa.
Mavis a pegou em mãos, ainda mais admirada do que quando havia visto a ametista.
— Vocês realmente a encontraram...
— Natsu a encontrou — ele corrigiu em meio um sorriso terno. — Eu não tinha qualquer fé sobre a existência dessa pedra, mas vocês o conhecem, — Encarou os companheiros do irmão. — ele só faz o que quer.
Os magos dividiram-se entre sorrir ou suspirar, com vários “Sabemos bem disso”, fazendo Zeref rir contidamente. Natsu apenas ignorava as reações, voltando a encher seu copo.
— Bem — o mago negro deu continuidade —, depois dele ouvir sobre essa história, passamos os próximos anos procurando por isso. — Indicou o objeto em mãos. — E descobrimos que ninguém a havia encontrado antes porque existe uma propriedade mágica curiosa sobre ela. Ninguém que quisesse usar em benefício próprio conseguiria achá-la. Por isso eu mesmo jamais fui capaz de fazer isso. Natsu por outro lado...
— Não queria ela para si, mas para você — Mavis concluiu, ainda admirada com a história.
Zeref afirmou em um meneio com a cabeça, sorrindo.
— Nós a encontramos há quase umas duas semanas, na quinta-feira retrasada — Natsu finalizou.
— O dia em que a Primeira acordou! — Happy comentou empolgado.
— Sim, no momento em que a maldição sobre mim foi quebrada, a de Mavis consequentemente também foi. Por conta da conexão que agora existe entre nós.
— E com isso a gente voltou pra cá — Natsu findou a história, dando de ombros ao beber mais um gole da bebida âmbar.
Por um instante todos ficaram em silêncio, processando todas as informações que adquiriram nos último minutos. No segundo seguinte, porém, a zoada ensurdecedora voltou a finalmente tomar o salão. Uma mistura de comentários empolgados sobre os acontecimentos com vários “bem-vindos de volta” direcionados à Natsu espalhou-se pelo ambiente. A festa voltava a ser festejada com mais motivos do que já tinham para tal; o que fez Mavis, Mira, Juvia e Levy rirem e Erza e Makarov suapirarem resignados.
— Makarov — a Primeira chamou, fazendo-o encará-la. — Eu tenho um pedido para lhe fazer. — Encarou-o de volta. — Permita, por favor, que Zeref faça parte da Fairy Tail.
— Mavis... — o referido chamou-a, hesitante. — Não podemos pedir isso...
— E por que não? — Ela o olhou seriamente. — Eu quero que você fique aqui comigo — afirmou com convicção.
— Mas não podemos obrigá-los a me aceitar aqui – retrucou ainda no tom anterior. — Eu fiz muito mal a todos vocês e-
— E ninguém está nos obrigando a nada — Erza interrompeu-o. Ela sorria.
Ele reparou que, na verdade, todos os membros que os circundavam tinham o mesmo sorriso que ela.
— Nós jamais permitiríamos que a Primeira tivesse que escolher entre estar com a Fairy Tail ou ao seu lado, se não há problema algum em ela estar com os dois — a ruiva concluiu, ainda sorrindo. — Ela precisa dos dois para ser completamente feliz.
— Pessoal... — Mavis tinha os olhos marejados, grata por cada palavra, enquanto o próprio Zeref os olhava admirado e igualmente grato.
Natsu permanecia ao balcão, quieto, mas um sorriso de canto pairava sob o copo em sua boca. Ele vivera os últimos três anos para que aquele momento se tornasse possível.
— E é por isso que é óbvio que não existe outra resposta para esse pedido do que sim! — Makarov respondeu, orgulhoso de seus filhos. — Então... Kinana, pegue o carimbo!
E logo a arroxeada acatou a ordem, levando o objeto mágico até eles.
— Primeira... Faça as honras, por favor — o mestre pediu, sorrindo.
A loirinha então aproximou-se do mago, seus olhos brilhavam tanto quanto dois diamantes. Zeref ergueu a mão direita, sorrindo para a menor, e ali ela tatuou a marca da guilda, na cor preta. Sorrindo como ela não se lembrava de ter sorrido antes, radiante, cumprimentou ao fechar os olhos marejados:
— Bem-vindo a Fairy Tail! Zeref!
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