História Pretty Hurts - Finalmente a sós

Não pode ser. Isso não pode acontecer. Levo minha mão a boca, tentando conter minha surpresa. Não consigo imaginar as pessoas me odiando... mais. Penso em Justin, e em seu sorriso encantador. E, então, o sorriso de Shawn assume minha mente.

- Não posso fazer isso - digo, me afastando de Shirley. 

Ela ri, de verdade. 

- É óbvio que pode. E você vai. 

Senti meus olhos se encherem de lágrimas. Apesar de realmente querer estar ao lado de Justin Bieber, eu não conseguiria.

- Você não entendeu - digo - Eu não vou fazer isso. Shirley da um passo a frente e levanta o dedo. 

- É por causa daquele garoto? Shawn.

- O que isso tem haver, Shirley? Eu só não quero estar em um clipe com Justin Bieber.

- Todos querem - grita ela. 

- Não farei isso. 

- Temos um contrato, Ashley. Você tem que me obedecer. 

- Não - respondo. Me viro, e saio correndo. Quero ir embora do estúdio, e desistir de tudo aquilo que lutei para conseguir. Quem eu pensei que Shirley era? Desde o começo ela procurou me usar. Mas eu faria ela perceber que não sou um brinquedo. 

Dias depois. 

Finalmente chega o dia em que sairem com Shawn. Um encontro de verdade, apenas eu e ele, sem ninguém para nos empedir. 

Durmo até tarde naquele dia. Mais ou menos três da tarde acordo para almoçar e me arrumar. Tomo um banho quente e me visto com a melhor impressão que consigo causar. Um vestido de veludo, e meia-calça. Talvez seja demais. Tiro tudo e visto uma calça jeans com uma blusa apertada. Uma das vantagens de ser magra: qualquer coisa fica boa em você. 

Algum tempo depois, a campainha toca. Para minha surpresa Shawn está segurando um buquê de flores. Era só um encontro casual, e agora éramos tipo Romeu e Julieta.

- O que é isso? - pergunto. 

- Uma dama merece flores - responde ele, rindo.

Aceito as flores e as cheiro. Rosas, minhas favoritas. Quando saio de casa, vejo um carro enorme na porta. 

- Você vai dirigir? - pergunto. 

- Eu não, você vai. 

E então Shawn me entrega as chaves. Eu não sabia o que me surpreendia mais: as flores ou o carro que eu iria dirigir. Não posso dizer que chegamos vivos ao lugar que Shawn havia colocado no GPS. Na verdade, quase morremos algumas vezes. 

- Dá próxima vez peço para Cameron nos trazer - diz ele, rindo. E minha felicidade some no mesmo instante. Penso em Cameron, e na mentira que eu também tinha contado para Shawn. 

- Falando em Cameron... - começa a dizer, mas eu não dou tempo. Abro a porta do carro e salto, correndo para dentro do restaurante. 

Definitivamente eu não sou uma dama.

Havia uma fila enorme para entrar no restaurante, e pensei que passaríamos fome. Nos sentamos do lado de fora, Shawn tão perto de mim que com certeza podia ouvir meu coração batendo forte. 

- Como eu dizia antes de você saltar feito um macaco do carro - disse ele - no outro dia... O que você fazia na casa de Cameron? 

Hesitei.

- Eu já disse. Estava te procurando, e... 

- Mas como você tinha o endereço dele?

Fiquei quieta, olhando para os olhos castanhos de Shawn. O que eu iria dizer? 

- Você pode me contar, Ash. Pode confiar em mim - disse ele. 

O aparelhinho que nos foi dado para quando alguma mesa estivesse livre apitou. Salva pelo bongo. Não podia me sentir melhor. 

Shawn segurou minha mão para entrar, mas vi em seus olhos uma certa... desconfiança. Eu não sabia mais o que dizer para não nos causar problemas.

Nossa mesa era em um canto bem reservado, haviam apenas alguns casais ao nosso redor. A luz fraca do salão me dava conforto, e eu podia ver apenas algumas sombras do rosto de Shawn. Implorei a Deus que Shawn não voltasse no mesmo assunto, para que ele esquecesse aquele outro dia na casa de Cameron - e assim se fez. Ele calou a boca, apesar de ainda me olhar com incerteza. 

Enquanto comíamos pão e bebíamos coca-cola, falamos de nosso passado. Shawn me contou sobre seu antigo sonho de ser cantor, e disse sobre quando conheceu os meninos e Lox. Disse que viu uma chance de postar vídeos no YouTube, covers. E assim se fez. Cada vez mais pessoas assistiam a seus videos e diziam que ele tinha uma voz magnífica. Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ele contava. "Nunca pensei que estaria onde estou hoje. Nem perto" disse ele.

Eu contei sobre minha vida no Brasil. Contei que meu sonho desde pequena era ser modelo e desfilar vestida com as roupas dos melhores e mais consagrados estilistas. Disse sobre deixar minha casa para vir para Nova York, e sobre o acidente de minha família.

Ele segurou minha mão e disse que não tinha problema em chorar um pouquinho. Eu entendi o que ele quis dizer. 

Quando a comida chegou, não falamos mais nada. Apenas comíamos batatas com ketchup e molho de cebola. Ele fazia caretas o tempo todo, e eu não sabia como não rir. 

- Você é sempre assim? - perguntei.

- Assim como? 

- Querendo fazer os outros rirem. 

- Só quando eu amo o sorriso da pessoa. E, olha, eu amo o seu. 

Senti meu rosto corar. 

Naquela jantar, depositei toda a minha confiança em Shawn. Ele sabia como era ter problemas, e não me julgava pelas minhas atitudes. Ele até me incentivava. Disse, uma hora, que se nada tivesse acontecido eu não estaria com ele. E, que ele era grato a Deus por ter me colocado em sua vida. 

- Eu é que sou grata, Shawn. Você é o melhor amigo que eu já tive - respondi. E era verdade. Em toda minha vida, nunca tive alguém que amasse meu sorriso, ou que colocasse batata com queijo no nariz só para me ver feliz. E ele era assim comigo. 

Naquele momento, eu não queria mais ninguém. Só queria estar com Shawn, pelo resto da minha vida. Queria estar do lado dele, e sentir seu beijo. Mas então o rosto de Cameron me vinha na mente. O que eu tinha feito, aquele dia? Beijar Cameron, que loucura. Eu nem o conhecia, eu nem tinha saído com ele. Inclusive, ele provavelmente não gostava de mim. 

Shawn insistiu em pagar a conta. Brigamos sobre isso, e então decidimos que seria justo se dividissemos a conta. 

- Dá próxima vez eu pago - disse ele. E eu gostei disso, da "próxima vez".

Shawn hesitou antes de entrar no carro de novo. Ele disse que eu era uma péssima motorista, e eu joguei uma pedrinha nele. Por fim, ele cedeu e entrou naquela droga de carro. Que, na volta para casa, eu quase bati. 

Quando parei em frente a minha casa vi que as luzes estavam acesas. Todas elas. As dos quartos, da cozinha, da sala, e até dos banheiros. 

- Como você vai voltar para casa? - perguntei, lembrando que Shawn não poderia dirigir. 

- Eu vou dirigindo, ora bolas. - e me fez rir, mais uma vez. 

Olhei de novo para casa. Queria convidar Shawn para entrar, mas já devia ser tão tarde, e meu pai parecia paranóico lá dentro. 

- Obrigada, Shawn. Por tudo. Você fez minha vinda para NY valer a pena. Ele segurou minha mão. 

- Obrigada você por existir.

Sorri e o beijei na bochecha. Eu realmente queria que nós ficássemos juntos, então não apressaria as coisas.

Quando entrei em casa, papai estava na cozinha, segurando uma garrafa de Vodka. Seus cabelos estavam despenteados e seus olhos, arregalados. 

- O que foi, pai? - perguntei. 

- Onde está? - perguntou ele. E perguntou de novo. E de novo. 

- Onde está o que? - disse, me aproximando. 

- A jóia.

Então lembrei. A jóia de mamãe que haviamos vendido... para conseguir dinheiro, em um momento de crise na família. Mamãe ainda estava viva, naquela época. 

- Nós vendemos, papai - disse, tirando a garrafa de sua mão. 

- Não! - gritou ele, atirando-a no chão

. Ok, meu pai surtou e eu não sabia o que fazer. Ele se ajoelhou e começou a chorar. "Está tudo bem, papai. Está tudo bem" era tudo o que eu conseguia dizer, ajoelhada na vodka ao lado dele. Apenas eu e ele. Sozinhos no mundo. Ninguém para nos confortar. Nenhuma mãe para nos abraçar. 

Apenas papai e eu. 

Apenas Shawn e eu.