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História Primavera de Rulim - Protestantes precisam de salvação


Escrita por: yuriPsouza

Capítulo 8 - Protestantes precisam de salvação


Era domingo, dia 3 de agosto de 2014. E eu não tinha conseguido escapar de ir à igreja.

Minha mãe veio me acordar e falar “Lucas, vamos, é dia de igreja”, como se por alguma razão eu não soubesse, ou se por alguma razão eu precisasse ser acordado.

Tinha falado com Elise no sábado pelo Skype, ela estava com febre, com blusa e touca, falei que isso só aumentava a febre, mas ela não me ouviu.

Discutimos também sobre David e os outros gringos todos, mas também não chegamos a lugar nenhum além de discussões banais.

Então fomos à casa de Deus e lá me sentei e fiz todos os passos aos quais esperavam que bons cristãos fizessem.

Depois de todas as formalidades na igreja eu já estava com a famosa cara de bunda. Meu pai, sendo funcionário, chegava mais cedo (três horas mais cedo), e dessa vez minha mãe havia decidido ir junto e me fazer ir junto também… de certa forma eu poderia ter dito não, alegado estar depressivo, mas não consegui mentir, tinha passado tanto tempo naquele estado que não queria dizer continuar nele agora que estava começando a me sentir melhor que antes, não tinha um motivo forte o bastante para mentir.

Mas quando pensei que tudo estava acabado e poderíamos enfim voltar para casa, minha mãe retornou do confessionário com o padre Silviano. O nome dele era Carlos Silviano, mas era comum chamarmos padres apenas pelo sobrenome e o título, não só padres como bispos, freiras, etc.

— Jorge, querido, o Padre Silviano quer dar uma palavrinha com você.

— Já disse que não vou me confessar hoje mãe. — Eu falei baixinho ao lado dela enquanto o padre fechava a porta do confessionário e vinha se juntar a nós. — O pai vi ficar, ou vamos para casa?

Nisso um grupo de três senhoras interpelaram o Padre Silviano.

— Vamos aproveitar e ir. — Eu olhei para minha mãe como quem só tinha isso para pedir.

— Não seja rude, Jorge. — Ela respondeu séria e seca. — Espere pelo padre. Eu vou ir ver se encontro seu pai.

Eu fiquei em pé no corredor entre os bancos da esquerda e direita olhando o padre segurar a mão de uma das velhinhas, as veias verdes pulsantes enquanto ela falava, pareciam prestes a explodir.

— Amém, irmãs, que Deus as acompanhe!

— Fique com Deus, Padre, muita bondade sua, ó, se é!

Com isso elas se foram.

— Jorge, meu jovem, por favor. — Apontou o caminho rumo ao altar e eu fui a contragosto, mas bem-educado como sou não fiz careta nem nada.

O Padre Silviano era um homem de meia idade com cabelo só nos lados da cabeça, um rosto delicado e calmo que transmitia paz e serenidade.

— Padre, não sei o que minha mãe falou, mas está tudo bem.

— Eu creio que esteja mesmo. Ela só falou coisas boas. — O padre disse abrindo a porta para o jardim da igreja. — Disse que está mais feliz nos últimos dias, digo, você está.

Deixamos o confessionário de lado, então eu deveria tomar cuidado com o que dizia, afinal, não estando sob os votos do confessionário o Padre Silviano poderia reproduzir toda a conversa para minha mãe. Ao mesmo tempo me alegrava não estar me confessando, pois no confessionário eu não poderia mentir!

Mesmo assim, não queria falar sobre aquilo.

— É… — Limitei a dizer isso, mas vi que ele não pararia.

— O que tem feito na escola?

— Padre, isso não vai mais dar certo. Não tenho mais treze anos!

— Sempre me esqueço que já é um homem, Jorge. — O padre disse colocando a mão no meu ombro e me encarando. — E você, se esquece também?

— Como? — Olhei torto para ele.

— Sua mãe E seu pai estão passando por uma situação difícil, e você é o homem da casa. É seu dever como tal cuidar não só de você como deles. — Ele continuava achando que eu tinha treze anos. — Mas você também passou por seus bocados, é verdade, e por isso a família toda tem que estar unida.

— Aquelas senhoras, o que estavam agradecendo? — Mudei de assunto enquanto caminhávamos até um banco pouco antes de começar a horta.

— Uma delas é viúva, e embora não seja mais tão comum assim, é dever da igreja sustentar as viúvas. Aquela senhora sabe disso, e está passando por dificuldades, sem o que comer, a energia elétrica foi cortada, seus filhos não se importam com ela o suficiente para retornar e prestar auxílio, então ela pede ajuda onde pode, e como homens de Deus nós ajudamos, tal como o filho de Deus nos ensinou a fazer!

— Eu… Tadinha.

— Não, tadinha não. É a vida, fazemos o possível para tornar o ciclo o mais agradável possível. Essa mulher está aqui, na presença de Deus, está em paz. Ela pode não ter mais filhos que se importem ou parentes, mas mesmo assim sorri e é feliz. Na verdade, eu desconfio que aquela pobre senhora é mais feliz que nós, em simplicidade e na ausência de tudo ela encontrou a felicidade verdadeira, ela está em paz… pronta para partir.

— É a vida, o fim do ciclo. — Eu completei.

O padre Silviano se sentou no banco ainda úmido pelo orvalho.

— Sim, é a vida, uma caminhada de desapegos. Não quis se confessar hoje?

— Não tenho muito o que confessar. — Eu respondi dando de ombros e o padre pareceu se alegrar. Tinha aprendido a nunca falar “não tenho o que confessar”, porque todos pecávamos. Diariamente até.

— Isso é muito bom. Mas ainda assim, tem um pouco?

— Ninguém é perfeito, todos pecamos. — Proferi o que tinha acabado de pensar, então olhei em volta, as bromélias estavam ressequidas, mas as rosas amarelas floresciam. Enrolada no pinheiro do centro a primavera crescia forte. Me sentei no banco ao lado do padre sentindo que este estava frio. — Mas nem todo pecado precisa de redenção imediata… posso viver com esses por mais um tempinho, ao menos até o próximo domingo.

— Todos podemos, e vivemos. Converse com Deus você mesmo, como sei que faz, e ele te perdoará!

Se aquilo fosse verdade o padre não teria função nenhuma ali. Poderia ter ido por este caminho, mas preferi manter silêncio, então o Padre Silviano quem falou.

— Sua mãe disse que a escola recebeu novos alunos, vindos de fora do país. Fez novas amizades?

— Só um menino, David. Ele é legal, mas ainda tá deslocado. Os outros ficaram em outras salas.

— Também voltou a falar com Elise, não? — Tem alguma coisa que você não saiba?

— Estou voltando, pra falar a verdade ela tem me evitado nos últimos dias, não sei por quê.

— Vá com calma, em todos os amigos. Elise talvez ainda precise se ajeitar depois de tudo o que passaram, e para não se machucar e machucar você ela pode estar tentando entender melhor tudo que aconteceu. E os amigos estrangeiros também podem influenciar você em um caminho perigoso, americanos são protestantes, uma religião oriunda da igreja de Nosso Senhor Jesus, eles negam muito de Deus sem se quer saberem disto. Podem te levar ao pecado sem que perceba, nem eles mesmos se dão conta disto.

— David não parece ser do tipo protestante. — Eu disse rindo um pouco, duvidava muito que alguém pudesse me arrastar para qualquer coisa. — Mas vou tomar cuidado sim.

— Isso, e se a conversa chegar, pode chamá-los para a igreja também. Toda alma salva em nome de Deus é um a menos no exército do mal. Nosso Senhor nos é grato por todo aquele que conseguirmos trazes à sua casa e tirar do pecado.

— O que eles fazem de errado que nós não fazemos? — Eu perguntei então, percebi que aquilo podia ascender uma fogueira de discussões que levaria tempo… E eu não queria ficar conversando com ele.

— Os protestantes seguem uma bíblia falha, nossos vários papas completaram a Bíblia no decorrer dos anos com a palavra de Deus em várias formas, mas os protestantes negam que estas palavras sejam a palavra de Deus, e optam por ignorar alguns livros da Sagrada Bíblia, mas se o próprio filho do Senhor deixou como herança o papado para que um homem mortal fosse o emissário de Deus na terra, porque os protestantes negam o que o Santíssimo Papa escolhe e o chamam de mentiroso?

— Como pode a palavra de Deus estar completa ou incompleta? Eles não podem estar corretos?

— Isso seria dizer que os Papas estão errados. E filho, quem é o vigário de cristo na terra? O escolhido do próprio Deus para representar sua vontade entre os homens? Se o papa fosse errar, porque Deus teria o escolhido? Entende? — Sua voz soava sempre pacífica, era como ouvir um locutor de rádio. Ele induzia um pensamento do qual eu não tinha como discordar.

— Mas o papa é escolhido no conclave… Sim, através da vontade de Deus que move a mãos dos cardeais. — O padre Silviano fez que sim como se estivesse orgulhoso, mas eu só tinha decepção na cabeça acerca daquela conversa. Não acreditava que o papa fizesse o trabalho de Deus, ou os cardeais fossem movidos por Deus na tomada de escolha… Mas sabia que falar aquilo só geraria discussões das quais não queria. — Ainda assim, é como está no evangelho. Bato à porta, mas preciso que me deixe entrar!

— Exato, não se pode forçar as pessoas a amarem Deus…

Então meu celular tocou.

Padre Silviano me olhou enquanto eu puxava o aparelho para fora do bolso e olhava o nome.

— É Elise. — Eu disse meio sem saber como proceder.

— Atenda a sua amiga. Depois conversamos mais, tenho certeza que ela vai esclarecer tudo.

— Obrigado, Padre. — Agradeci me levantando. Atendi e levei o aparelho à orelha enquanto passava a mão pelas nádegas, tinha umedecido as calças com o orvalho do banco. — Elise…

— Lucas, eu… — A voz dela novamente parecia confusa, como se não soubesse se deveria ou não falar, percebi até mesmo um tom de angústia e indecisão. — Eu… eu preciso da sua ajuda, pode vir aqui em casa? Rápido?



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