Uma vez, eu sonhei que estava caindo em um precipício. Eu devia ter uns dez anos e o sonho era tão real, que acordei chorando e chamando meu pai. Ele logo veio e me fez dormir novamente, mas aquela sensação nunca saiu de mim.
Era isso que eu estava sentindo. Que estava caindo e caindo. Como se a informação não fosse real.
Subitamente eu parei. Parei de falar, parei de andar, quis parar de pensar, mas minha mente estava a mil.
Olhei fixamente para o meu pai, com a boca entreaberta, esperando uma explicação.
- Leah... Não era para você saber assim. - ele começou - Na verdade, não era para você saber.
- Des sabe disso? - foi o que saiu da minha boca.
Des era uma boa pessoa, eu sabia disso. E, apesar de tudo, me preocupei com ele.
- Sabe. Filha, ouça. Aconteceu antes de você nascer. Eu... Havia brigado com sua mãe, acabei ficando bêbado e fui até o palácio de Des. Ele havia ido viajar com a filha menor, e sua esposa estava sozinha na casa. E... Eu não sei o que deu em mim. - ele disse sério - Em um momento eu estava chorando e no outro já estava em cima dela. Acordei no chão, sóbrio, com um corte na cabeça. Des chegou e me encontrou destruído e eu contei a ele o que aconteceu. Claro que ele é a mulher ficaram sem olhar em meu rosto durante toda a gravidez dela, e ele criou o filho para evitar escândalo, mas realmente amou o garoto.
- Harry...
- Des sempre foi meu amigo, e não ter a amizade dele estava me matando. Entao, me senti ainda mais culpado quando a mulher dele morreu no parto. Quando você nasceu, dois anos depois, eu prometi a Des que você se casaria com ele quando fizesse 18 anos. Era um jeito que eu tinha de me redimir.
Balancei a cabeça negativamente.
- Você fez merda e agora quer que me colocar no meio disso?! - eu gritei.
- Olha essa boca! Princesas não...
- Falam palavrão? Reis não dormem com mulheres dos outros. - o encarei.
- Leah, você não tem o direito... - ele levantou o dedo e apontou para mim, mas eu o interrompi.
- De falar? Eu não tenho o direito de seguir o caminho que eu quero porque você fez merda e agora está refletindo na minha vida?! A minha vida toda eu fui criada para esse maldito casamento! Para saber me portar, saber ouvir, saber governar, e em nenhum momento você perguntou o que eu queria! Em nenhum momento você se importou com a minha vontade, pois tudo o que você queria era se eximir da responsabilidade do que aconteceu me fazendo casar com Des! Você! Você não tinha esse direito! Não venha me falar sobre certo e errado, sobre direito ou pena, nunca mais!
- Leah, você está alterada. - ele veio se aproximando.
- Não toque em mim. - falei e pude ver a dor em seus olhos. - Vai precisar muito mais do que um casamento para eu te desculpar. - dei as costas a ele e saí da sala.
Corri para o meu quarto e chorei. Tudo o que eu não chorei quando vi os guardas, nem no avião e nem na hora que eu e Harry nos separamos, eu estava chorando agora. Agarrei lençóis, travesseiros, colchas, apertei-os entre os dedos, contra o rosto apenas para abafar o som que eu fazia quando as lágrimas saíam sem parar.
Como ele pôde fazer isso comigo? Como ele pôde...?
Eu não posso mais ver Harry. Cada vez que eu o olhar, lembrarei de tudo o que passamos juntos, e nunca vou parar de chorar. Vou estar destruída por dentro.
Mas como eu posso não vê-lo mais?
Claro que não era o que eu queria. Nunca. Mas... Quanto mais eu o visse, pior eu ficaria. Ao ver bem ao meu lado o homem que devia ser meu, que devia viver comigo, me amar e saber que não vou tê-lo é demais para mim.
Só havia um jeito de eu e Harry ficarmos sem nos vermos. Ele nao iria suportar me ver casado com o pai e morando na mesma casa que ele. Conhecendo-o como conheço, ele vai embora. Vai deixar o palácio, eu sei que vai.
Sequei as lágrimas e peguei meu celular. Liguei para o número de Des, que atendeu ao segundo toque.
- Leah, eu... - ele começou.
Era Harry.
- Chame seu pai.
- Mas...
- Chame o seu pai - apertei os olhos. Não vou chorar.
- Leah? - era Des.
- Marque o casamento para a semana que vem. - eu disse simplesmente é desliguei.
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