Tempo.
De acordo com o dicionário, um dos significados de tempo é o de duração, onde diz que o tempo é o espaço entre o início e o fim de um acontecimento.
E o que isso tem haver? Simples, eu perdi o meu tempo. Perdi completamente a noção de tempo desde que presenciei Benjamin levar um tiro no peito e morrer na minha frente.
Segundos? Minutos? Ou talvez, até mesmo horas? Eu não sei. Não faço ideia de quanto tempo se passou.
Me sinto desacreditado e sem forças. Como se algo dentro de mim me dissesse que este é o meu fim. Benjamin se foi e a culpa me devora mais uma vez.
Outro fato que me destrói é Sonya, minha irmã se encontra estática, seu olhar está vazio e focado em algum ponto inexistente no chão. Me dói demais vê-la desse jeito e não poder a confortar. Por um momento me ponho em seu lugar. E se tivesse sido Tommy? E se ele fosse a vítima?
Mudo de pensamento na hora. É doloroso demais pensar nisso. Eu não sei se seria capaz de viver sem ele.
Tento manter minha mente vazia de pensamentos ruins e passo a observar Zyan que permanece calado apesar de sua expressão ainda ser de raiva. Sua crueldade e sangue frio com Ben me deixaram receoso quanto a tentar fazer algo. Estou de mãos atadas e não consigo pensar em nada para mudar a situação.
Direciono o olhar para uma pequena janela à minha direita. O céu não está mais tão escuro quanto antes, pelo contrário, os primeiros clarões do amanhecer já começam a dar as caras.
Torço para que meus amigos já tenham ido até a delegacia e contado tudo. Porque no momento eu sinto que essa é a única esperança que temos.
Um silêncio incômodo paira pelo local. Nenhum som, nenhuma palavra, apenas o vazio.
- Eu aceito…
Sou pego de surpresa pela voz. Olho para Sonya, a mesma mantém um olhar firme e direcionado a Zyan.
- Aceita o que garota? - Zyan questiona sem dar importância.
- Era sério quando disse que podíamos nos juntar a você? Porque se for, eu aceito. - Sonya responde calmamente.
Observo tudo atônito. Sonya não pode estar falando sério. Isso não pode ser real. Não tem como ela aceitar.
- Por que mudou de ideia? - Zyan pergunta levemente desconfiado.
- Não quero terminar como ele, eu sou tão nova e talvez seja bom ter uma vida nova. - Sonya responde com convicção.
- Você é esperta garota, gosto de você mais ainda agora. - O asiático responde indo até a loira. - Bem vinda a sua nova vida, gracinha. - Ele completa assim que a liberta da corda.
- Sonya… você não pode fazer isso. - Eu intervenho incrédulo com a atitude dela.
- É o melhor a se fazer, e acredito que todos aqui devem fazer o mesmo. - Ela comenta com a maior calma do mundo.
- Não Sonya, por favor. - Eu falo, implorando para que ela mude de idéia.
- Desculpe Newt, é o melhor. - Ela dá um pequeno sorriso.
Fecho os olhos com força, torcendo para que tudo não passe de um pesadelo. Meu coração está apertado e doendo. Sonya nos traiu? Ela simplesmente se juntou ao cara que matou o namorado dela e aceitou tudo numa boa? Não, eu não consigo acreditar, não posso me permitir a acreditar em tal coisa.
- Vocês deveriam seguir o exemplo da loirinha aqui. - Zyan anuncia enquanto passa um dos seus braços pela cintura de Sonya. - Todos podemos sair bem daqui, o que acha Newt?
- Não, obrigado. - Respondo sorrindo. - Não cheguei a um nível tão baixo assim. - Completo alfinetando a loira que me fita com um olhar de mágoa.
- Uma pena Newton, seu namorado poderia sair daqui agora e ir direto para o hospital, afinal, a pancada foi mais forte do que pensávamos. - Ele rebate maldosamente.
Engulo a seco. Seu jogo é sujo e baixo. Sabe que Tommy é o meu ponto fraco e o usa contra mim. Sei que Tommy precisa de cuidados mas não posso dar o braço a torcer, esse cara não é confiável e não posso cair em seu joguinho.
- Estou me cansando disso mas ver a cara de medo de vocês é tão prazeroso. - Chang comenta dando um sorriso de escárnio .
Minha mente trabalha incansavelmente à procura de alguma idéia mas tudo desaparece no momento em que escuto um barulho de distante de sirene. Uma luz no meio da escuridão.
Percebo que não fui o único a ouvir. Todos os presentes ali escutaram, incluindo Zyan que assume uma postura preocupada.
E então o inesperado acontece. Em um momento de distração do traficante, Sonya velozmente pega a arma do mesmo e a saca, apontando para ele.
- Parabéns garota, me pegou desprevenido mas vai por mim, você não vai querer usar isso. - Zyan argumenta tentando virar o jogo.
- Ah eu vou querer sim. - Sonya comenta raivosa. - Acabou para você, a Polícia já está chegando.
E ela está certa. O som das sirenes estão mais altos agora. Provavelmente há uns 40 metros de distância.
- Sabem que se eu cair, vocês caem juntos. - Chang comenta, um resquício de medo se faz presente em sua voz. -Agora me dá essa arma.
A tensão aumentar assim que barulhos de pneu tomam conta do lugar. Uma sequência de sons acontecem. O som de uma porta sendo quebrada. Vozes e gritos e então tiros, todos vindo dos andares abaixo.
Sinto um pressentimento ruim seguido por um frio na espinha tomar conta de mim.
É quando o caos começa, sim, e eu sempre soube que uma hora ele iria chegar.
Zyan avança na direção de Sonya. Em um ato de autodefesa a loira puxa o gatilho. Uma, duas, três vezes. Em questão de segundos o corpo do asiático desaba no chão e logo uma poça de sangue embaixo do mesmo se forma.
- Meu Deus. - Minha irmã sussurra pasma.
Meu olhar alterna de Sonya para o corpo de Zyan e vice versa. Até que um tiro é disparado. E não foi Sonya a responsável por ele.
Minha respiração falha ao ver uma mancha de sangue surgir na barriga da loira. Olho para a direção oposta a dela e vejo Luke, fiel capanga de Zyan, com uma arma em mãos.
Ele caminha em minha direção e sei que sou sua próxima vítima. Fecho os olhos e espero porém nada acontece.
- Mãos para o alto agora!
Abro olhos e vejo um policial. Luke solta a arma e leva suas mãos até a cabeça, se entregando.
Volto minha direção para Sonya. A mesma está de joelhos e com a mão em seu ferimento.
- Sonya, não, fica comigo por favor. - Imploro já sentindo as lágrimas escorrerem livremente pelo meu rosto.
- Promete que você vai cuidar da mamãe… - Ela tosse cuspindo um pouco de sangue. - Eu amo você, Newt.
- Não Sony, por favor, não, não… - Eu choramingo. - Não me deixa…
Sonya se curva tossindo mais sangue, até que a mesma cai de vez no chão, ficando deitada.
E quando uma lágrima solitária escapa pelo olho dela, eu sei, ela se fora, minha irmã se fora para sempre. Sonya se sacrificou para nos salvar.
E mais uma vez eu assisti uma pessoa amada ser morta na minha frente.
Mais uma vez eu fui fraco e incapaz de proteger aqueles que eu amo.
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