1. Spirit Fanfics >
  2. Probabilidade e o improvável >
  3. Sexta - Feira

História Probabilidade e o improvável - Sexta - Feira


Escrita por: Prejuiza

Notas do Autor


Minhas “férias” acabaram, estruturei esse novo capítulo e passei três dias escrevendo ele e editando. Depois de ficar quase um mês sem escrever nada relacionado vamos perdendo o tato necessário para a história, ou as vezes adquirimos um novo que dá um ânimo mais interessante para os personagens e para o enredo. O ano passado foi pesado para todos, e o capítulo que seria o “especial de natal” passou em branco, peço desculpas aos leitores, mas realmente dessa vez não saiu.

Capítulo 14 - Sexta - Feira


Pelos olhos da Macarena

O céu está limpo com nuvens finas e arrastadas, parece que alguém pegou um pincel com tinta branca e passou levemente encima daquele azul puro.

- Macarena! – eu olhei pra baixo, e vi a frente da casa dos meus pais, minha mãe chamava na porta com o rosto sereno - Venha! A comida já está na mesa...

A sirene tocou, fazendo com que eu quase batesse a cabeça na cama de cima, “carajo... de nuevo – suspirei pesadamente - mierda” balbuciei enquanto passava a mão no rosto oleoso pelo sono e pelo calor que já está em alta á essa hora da manhã. As roupas de cama estão suadas, vou precisar trocá-las mais tarde.

 

 

 

 

Pelos olhos da Zulema

Coloquei o braço dobrado sobre o rosto, fazendo uma sombra para os olhos, já estou acordada acerca de dez ou vinte minutos, os mesmos sonhos com Fátima, os mesmos gritos, porém dessa vez, sem as lágrimas. Sinto como se um rolo compressor tivesse passado sobre mim. Tudo dói, o braço que estava com a anestesia está roxo aonde estivera a agulha, a minha frente tem o estrado de metal da cama acima, da Saray. “Parabéns” minha mente já começou a trabalhar, até consigo ouvir as palmas sendo batidas em claro sarcasmo, “Galleta querendo a sua alma, e o Lobo grudado na sua bunda”. - Ao invés de me lembrar desses pequenos detalhes, você deveria me ajudar em uma solução – retruco meus pensamentos. “Não há muito o que fazer, e você sabe, Fahir irá atrás de você, descubra o que ele quer, se der, faça algum acordo”. – Claro, fazer um acordo com o Diabo, como eu não pensei nisso antes! Nunca nem sonhei, que algo assim poderia dar errado – dei um sorriso fraco. “Somente um *Iblis (Diabo) pode fazer acordo com outro Diabo...”

- Contagem feita – a mulher robusta falou para o rádio em seu ombro que chiou em um sinal de ok - Está na hora de levantar, vamos! – a guarda encostou seu cartão no leitor fazendo a grade soar o bip para abrir.

Começou uma agitação de todas se espreguiçando, dando bom dia e arrumando as suas camas pra poderem sair. Ouvi o bague surdo dos pés da Saray baterem no chão, ela abaixou e pegou seus sapatos embaixo da cama, ela sentou na ponta da minha cama para colocar suas meias, fechei meus olhos e me concentrei na dor de cabeça aguda, senti sua mão segurar minha canela fracamente.

- Ei Zule... Como você está? – levantei um pouco o braço para abrir minha linha de visão.

- Bem – assenti positivamente com a cabeça para dar ênfase no que havia dito.

- Vai levantar? – Balancei a cabeça negando – Certo. Quer que eu traga o café da manhã pra você, aqui? - Fiquei pensando em exatamente o que isso implicaria, na guerra quando o inimigo sabe que você está fraco ele aproveita para atacar. Neguei novamente – Certo, depois que você levantar não esquece de comer alguma coisa, vale? (ok?).

- Vale (ok) – ela suspirou e levantou.

Ouvi a Cigana e a loira conversarem algo, e depois todas saíram da cela. Meus olhos fecharam novamente, ouvi passos próximos, tirei o braço do rosto e virei a cabeça em direção a entrada, vi a loira se aproximando e olhando para os lados preocupada com os guardas. Ela se ajoelhou ficando na altura da minha cama, tirou algo da cintura e colocou na minha mão.

- Saray tinha razão, você está meio destruída hoje – ela ainda não havia escovado os dentes pra minha desgraça. Olhei pra baixo, o que fez minha cabeça dar uma pontada de dor, o que ela me deu foi um pedaço de vidro, o mesmo que ela tirou da minha mão naquele dia do pátio, nivelei meu olhar com o dela esperando uma resposta – Sempre espere o inimigo de braços abertos – acenei em compreensão e guardei o pedaço de vidro na fenda do colchão próximo a parede.

- Parece que você aprendeu uma coisa ou outra afinal – suspirei exasperadamente – porquê que a Cigana te mandou? – a loira coçou o nariz, e suspirou meia triste como se seu “segredo” tivesse sido descoberto.

- Ela pediu que eu desse uma força extra pra você aqui dentro, enquanto ela cuida das coisas lá fora.

- Loira, antes, vá escovar esses dentes. – coloquei o braço novamente sobre o rosto, Macarena adotou um olhar mortal, sorri fracamente com o canto da boca, é interessante como é fácil deixar ela irritada, e as caras e bocas que ela faz quando está com raiva tem um quê de engraçado - Pensando bem fique por perto, se vier alguém é só você abrir a boca, que a pessoa cairá morta instantaneamente.

- Quer saber, você está ótima – ela deu um tapa leve no colchão, saiu pisando duro e xingando coisas como “cadela, infeliz” cela á fora. Suspirei e me ajeitei na cama.

* No Alcorão, o Diabo é Iblis. Ele não seria o inimigo de Alá porque é apenas uma de suas criações, não tendo a capacidade de opor à superioridade do deus. Também chamado de Shaitan, o Satanás consideraria os humanos como seus maiores inimigos. Ele, no entanto, não tem poderes. Sua influência na humanidade está no fato de que este tenta, de toda forma, fazer com que as pessoas não obedeçam a Alá, usando de tentações.

 

 

 

Pelos olhos da Saray

Saí do refeitório e fui em direção ás celas no primeiro andar, estou subindo ás escadas enquanto Macarena está descendo com cara de poucos amigos.

- Ei Maca. Como foi? – ela sorriu fracamente.

- Tirando que Zulema é um chute constante e dolorido nas bolas que qualquer um - ela suspirou pesadamente - foi normal.

- Bom, ela não deve estar tão mal assim, creio que até o final da tarde ela estará em plena forma. – Maca assentiu concordando comigo.

- Vou ir tomar café, um banho e lavar minha roupa de cama – eu sorri, ela passou a mão no rosto irritada, já esperando algo.

- Maca pode lavar a minha também? Tem feito um calor infernal esses últimos dias. Por favor. Eu te arranjo um cigarro.

- Três.

- Fechado. Vou lá ver a senhorita nocauteada. Depois o turno do almoço é seu. – ela acenou confirmando – a Zule tem créditos ainda?

- Tem três se não me engano. Quer que eu traga alguma coisa?

- Não. Se puder, apenas uma fruta, deixe os créditos lá.

- Ok.

Acenei me despedindo e terminei de subir as escadas quando cheguei na cela, Zule está com o braço sobre o rosto e aparenta estar dormindo, mas se eu der mais um passo ela vai sacar uma arma e vir pra cima de mim.

- Zule sou eu – vi que ela relaxou o braço esticado normalmente.

- Fala – disse em tom seco e exasperado.

- O que você disse pra sua noiva? Maca passou por mim puta da vida, e querendo afundar a cara de alguém nas grades das escadas.  – Zule deu de ombros.

- O que eu posso fazer se a loira não tem senso de humor?

- Aham. Sei. Maca vai lavar as roupas de cama, quer que lave a sua também? – ela assentiu fracamente, e soltou um chiado de dor.

- Essa dor é tão sutil quanto uma martelada na cabeça – eu peguei meu travesseiro e ajoelhei pra ficar na altura da cama, coloquei embaixo da cabeça dela o pedaço de espuma para deixar mais alto e tentar amenizar a dor. Ela sussurrou um agradecimento e fechou os olhos, coloquei as costas da minha mão na testa dela, ela está um pouco febril mas nada que uma água fria não resolva.

Senti que alguém nos observava, virei-me brevemente e vi Maca encostada no batente das grades da cela com os braços cruzados e uma expressão menos irritada, deixei Zule tentando descansar e fui até a Maca na entrada, conversamos baixo quase em sussurros.

- Como ela está? – Maca deu um passo para o lado olhando pra árabe na cama.

- Francamente – suspirei preocupada - Não sei. Está com um pouco de febre mas nada que um banho não resolva – ela assentiu, compreendendo.

- Na situação em que estamos não podemos chamar atenção. Vamos esperar até amanhã, se a febre dela piorar ai chamaremos a doutora – balancei a cabeça concordando com ela.

- Vai lavar as roupas agora?

- Sim. Quero aproveitar que a lavanderia está vazia nessa parte do dia.

- Consegue se virar por lá? – ela fez uma expressão de surpresa e dúvida, mas depois sorriu pegando a essência do que perguntei.

- Claro. Cachos irá me dar uma força lá – no caso de alguém aparecer querendo a cabeça dela em uma bandeja, ela terá ajuda.

- Ainda bem, porque loira na máquina já sabemos que fica uma bela merda – Zulema falou em tom rouco talvez devido a dor mas carregado de ironia.

- Zulema, vá pra puta que te pariu! – Maca voltou ao seu tom irritado novamente e Zule deveria estar sorrindo mesmo que seja com um dos cantos da boca discretamente enquanto mostrava seu dedo do meio em nossa direção.

- Quando vocês se casarem eu quero ser a madrinha – falei em tom zombeteiro e apontando o dedo indicador para Maca e depois passando pra Zule. A árabe mostrou o dedo do meio novamente pra mim, Maca nivelou nosso olhar e senti que ela estava considerando seriamente enfiar minha cabeça na parede, no fim ela suspirou cansada e pediu que eu pegasse a roupa para ela lavar, enquanto foi tirar as roupas da própria cama. 

 

 

 

 

 

Pelos olhos da Tere

- Tere anda logo, estamos apenas começando – Antonia soltou impaciente.

- Pago – Luna considerou muito se iria adiante no jogo ou não, mas no fim desistiu das cartas que ela estava na mão.

- Eu passo – sobrou somente eu e a Antonia nessa rodada, ambas passamos, viramos nossas cartas na mesa, e eu ganhei com uma trinca de “As”.

- Tudo bem, tudo bem, essa eu deixo passar – Antonia falou amargurada.

- Ei vocês ficaram sabendo de algo mais, sobre o que aconteceu com a Zulema? – Luna falou baixo.

- Esse é o assunto do momento, todas estão falando sobre isso, o boato mais recorrente é de que ela mexeu com um mafioso poderoso dessa vez e também, que ele está querendo a cabeça dela em uma caixa – Antonia ponderou em tom confidente.

- Sim eu também ouvi algo parecido. Dizem também que estão oferecendo uma grana boa por isso – falei descontraidamente, e todas me observaram cada uma tirando suas próprias conclusões em silencio.

- Como dizia a Sole, se você quer que as pessoas se matem é somente prometer uma pequena fortuna que irá chover assassinos. Não quero nenhuma de vocês envolvidas nessa historias – Antonia soltou em tom mortalmente sério. Eu e Luna balançamos a cabeça confirmando que não iriamos nos meter em tal situação.

- Nunca conseguiria fazer tal coisa. Não mato nem uma barata, quem dirá uma pessoa.

- Mas tem muitas outras que fazem isso e muito mais – todas nós suspiramos já imaginando o que estaria por vir – apenas cuidem-se meninas e fiquem o mais longe que puderem dessa historia – Ouvimos barulho de algo caindo e gritos, uma detenta recém-chegada, enfiou a faca de plástico na garganta de outra reclusa enquanto gritava, “Ela é a Zulema, eu sei que é ela!” levantamos da mesa deixando as cartas e os cigarros, ficamos olhando na direção dos gritos que veio do corredor que vai para o refeitório e enfermaria, a mulher caiu com a metade do corpo pra fora no corredor e a outra metade ainda no refeitório nunca vi tanto sangue em um único lugar. O chão ficou com uma poça gigantesca de sangue, a mulher está se agonizando enquanto tenta tirar a faca cravada no pescoço, eu cobri minha boca em espanto, Antonia do meu lado rezava, Luna trêmula chorava de desespero pela cena em sua frente, depois de alguns segundos a mulher parou de se mexer, os guardas chegaram com a doutora para socorre-la mas já era tarde, ela morreu.

 

 

 

 

 

 

Pelos olhos da Macarena

Fechei a tampa da secadora e levantei com certa dificuldade, “aquela maldita tem razão, essa tampa baixa acaba com a coluna de qualquer um...” pensei enquanto resmungava algo aleatório.

- Pronto. Falta somente mais essas roupas e ai estará terminado – Cachos está passando o lençol.

- Sim. Eu tinha me esquecido de – me aproximei dela e coloquei minha mão áspera pelo serviço diário no ombro malhado dela – lhe agradecer por ter me acompanhado hoje e me ajudado com as roupas – ela sorriu fracamente.

- Sem problemas. Você fica me devendo um favor – eu assenti – Maca. O que tá rolando com a Zulema? Tenho ouvido boatos e fofocas de que ela está envolvida em algo bem sério dessa vez – Cachos dobrou o lençol e o deixou descansando na tábua enquanto pendurava o vaporizador industrial. Eu suspirei pesadamente já imaginando aonde essa conversa irá levar.

- Não posso falar muita coisa, apenas que... Essa parte é verdadeira – coloquei minhas mãos na cintura.

- E você? – Eu me aproximei ficando com nossos rostos próximos.

- Eu o que? - cocei meu nariz e funguei.

- Você está envolvida nisso tudo? – não estamos nos relacionando mas seu carinho e preocupação é do mesmo nível de antes.

- Você sabe a resposta – olhei nos fundo de suas orbes castanhas e vi medo, preocupação, amor e segredos.

- Maca... Eu te avisei que algo assim poderia acontecer – ela passou a mão no meu rosto. A secadora apitou nos informando que a roupa está pronta.

- Existem algumas situação que você é apenas jogado pra dentro dela, e tem que se virar com o que tem em mãos, você entende do que eu estou falando – coloquei minha mão por cima da sua no meu rosto – também sei, que você de alguma forma sabia que minha pena estava sendo revista porque Simón retirou a acusação – ela respirou fundo e segurou o ar – Não estou brava com você nem nada do tipo. Castillo me deu a notícia na tarde passada. Na verdade, eu poderia muito bem ter ficado sem essa - ela soltou o ar que estava segurando, beijei a palma da mão dela – Em algum momento as coisas irão melhorar mas antes que isso aconteça, as coisas ainda ficarão bem ruins por aqui – ela concordou e nos separamos. Começamos a conversar sobre o clima, outras fofocas da prisão enquanto terminávamos as roupas.

Após terminarmos tudo subimos as escadas e a nossa frente estava uma poça de sangue no chão com alguns guardas envolta e a doutora conversando com o Palacios, Cachos sussurrou “mais que merda!”

- Venham, passem pelo canto e tentem não pisar no sangue – Palacios estava pálido e nos instruiu a passar beirando a parede, Cachos sujou um pouco seu pé mas um dos guardar jogou um pano no chão para que ela pudesse limpar seu sapato.

Nós duas ficamos segurando as roupas dobradas nos braços e olhando pra poça de sangue imaginando quem esteve ali.

- Meninas! Achei vocês! – Antonia estava ofegante e veio a passos largos mas discretos para nos encontrar – Dolores morreu. Uma detenta nova matou ela, achando que ela era a Zulema – fiquei sem palavras naquele momento.

- Cadê a Saray? – Cachos viu minha situação e se pronunciou

- Já está na cela, e está esperando você Maca. – ambas assentimos.

- Obrigado Antonia.

- Fiquem bem – ela acenou e saiu voltando pra mesa onde estava Tere e Luna.

Subimos as escadas sem fazer muito alarde, esbarramos com algumas detentas pelo caminho que sussurravam entre si o boato e o ocorrido.

Chegamos na cela e Saray está encostada do lado de fora com a gola levantada da camisa preta aberta, um cigarro na boca e expressão de louca, daquelas que pode lhe atacar a qualquer movimento descuidado que você dê. Kabila e eu paramos na entrada ao lado da Saray, olhamos pra dentro Zulema está na mesma posição que antes, porém com uma expressão melhor.

- Saray? – olhei pra ela com uma pergunta implícita.

- Ela está bem, não está com febre. Já soube o que aconteceu? – assenti.

- Ela já sabe? – ela balançou a cabeça negando.

- Quer pegar essa? – tanto Kabila quando Saray me encaravam.

- Tanto faz – suspirei impaciente.

- Aproveita e leva – Cachos colocou as roupas que carregava encima das minhas, ela colocou uma mão na cintura da Saray e começaram a conversar sobre o ocorrido enquanto eu entrei na cela e coloquei toda a roupa dobrada na minha cama.

- Chega mais loira – Zulema está olhando de soslaio. Me aproximei, encurvei-me e sentei na beirada da cama dela com o corpo virado pra entrada – Cigana está fazendo charme pra me dizer o que ocorreu, se ela não vai falar, então será você. Manda. O que aconteceu?

- Uma detenta morreu. Mataram ela achando, que ela era você – Zulema assentiu solenemente, com uma calma que me incomodou.

- Parece que o boato já está fazendo efeito – concordei silenciosamente.

- Tem cigarro? – ela assentiu, e pegou um de seu bolso na calça preta com o número nove seis seis em amarelo e me deu.

- Fogo, está com a Cigana – ela disse enquanto dobrou uma perna sua para se esticar.

- Pensei que era você, que sempre ficava com fogo – ela olhou pra mim e bufou rindo.

- Que piada ruim. Vá a merda – ela soltou entre risadas. Fui até a Saray e acendi o cigarro voltando pra cela e sentando no mesmo lugar de antes. – Passa – traguei a fumaça e passei o cigarro pra ela que também tragou profundamente.

- O que... Iremos fazer? – peguei o cigarro da mão dela.

- Rubia, se olvidaron de advertirte que esta no es la primera vez que pasa, ni será la última. (Loira, esqueceram de avisar que, não é a primeira vez que isso acontece, e nem será a última.)

- Então? – apoiei os braços nos joelhos esperando pelas orientações.

- Não querem você, bom, pelo menos ainda não, o que significa que seu irmão não está sendo um incômodo pro Galleta (bolacha) o que diz que aquele imbecil está vivo. Resolva essa parte e tente descobrir porque aquele panaca está indo atrás dele. Caso contrário será duas cabeças em cheque, uma até consegue salvar, agora duas, uma sempre acaba rolando. Precisamos conversar com o Castillo, depois desse evento Palacios deve ir correndo pra ele, então amanhã podemos esperar a visita do velho. Terá a missa no domingo para a presa que morreu? – olhei pra ela surpresa.

- Não sei. Mas é muito provável que sim. Porque?

- Curiosidade – assenti imaginando o que ela está tramando.

- Zulema se vamos trabalhar juntas precisamos compartilhar todos nossos planos, pra não haver furos – ela concordou.

- Você em breve será movida de pavilhão, hoje não, mas amanhã é quase certeza, Palacios tem nervo mole, ele vai esperar a poeira abaixar, o velho vai deixar o vis a vis limpo então iremos nos falar por lá – ela olhou pra saída – ainda vou conversar com a Cigana pra ver como levaremos as coisas por aqui.

- Enquanto todas as outras?

- Luna e a junkie (viciada) não tem sangue pra isso, Antonia e a miss felicidade ali – balançou a cabeça na direção da Cachos – estão em observação. A Goya e eu teremos uma conversa assim que ela chegar aqui.

- Zulema. – soltei em tom de advertência.

- Tranquila loira. Ao invés de cuidar dos meus assuntos, comece a resolver os seus – suspirei e deixei morrer a conversa.

A tarde veio, e nós saímos para o pátio pra pegar um pouco de sol.

- Loira – ela parou na porta para sair pro pátio – está livre. Cigana, vem comigo – antes que ela saísse eu peguei no braço dela com força.

- O que aconteceu com, “se vamos trabalhar juntas precisamos compartilhar todos nossos planos”? – ela abriu um sorriso fraco.

- Relaxe. Vai cuidar da sua namorada – ela apontou pra Cachos que está sentada em uma mesa de pedra no pátio sozinha e com expressão triste – logo mais você saberá, prometo – olhei no fundo dos olhos dela que estão em um tom esverdeado, afrouxei meu aperto no braço dela, passei o polegar em uma casta caricia.

- Cuide-se – ela assentiu. Olhei pra Saray e acenamos em um cumprimento rápido antes delas entrarem novamente para o térreo.

 

 

 

 

 

Pelos olhos da Zulema

- Zule? – Cigana está afoita e esperando uma resposta.

- Vamos fazer uma visitinha á doutora – ela acenou em concordância, passamos na cela antes pra Cigana pegar o canivete que ela esconde no cano de ferro da beliche. Descemos as escadas e fomos para enfermaria. O lugar está quieto, com uma ou duas reclusas idosas que estão recebendo algum medicamento na veia provavelmente para a pressão.

Sentamos em uma das camas vazias e esperamos a doutora aparecer, tem câmeras por aqui, temos que agir normalmente e o lobo tem que nos convidar pra sua sala.

Após algo entorno de dez á vinte minutos o lobo apareceu.

- O que desejam? – ela sorriu de bom humor.

- Vim receber a medicação.

- Eu estou de acompanhante. Ela não esteve muito bem hoje.

- Estranho. Pra mim ela parece ótima – a doutora tirou os óculos e o guardou no bolso do seu jaleco impecavelmente branco.

- Tive um pouco de febre, mas já passou.

- Mas ainda estou preocupada, ela está pálida, e também não anda se alimentando adequadamente – Luzia suspirou e se deu por vencida.

- Me acompanhem – ela foi na frente enquanto eu e Saray seguimos alguns passos atrás.

Entramos na sala, não tem o mesmo ar de quando a Barbie gerenciava as coisas por aqui, tem ares um pouco leve, porém mais cauteloso.

Ao entrarmos a Cigana ficou com as mãos dentro do bolso de sua calça aonde estava o canivete, eu arrastei a cadeira e coloquei encostada na porta impossibilitando a saída, sentei ali na cadeira, a doutora já estava esperando algo assim, não nos deu atenção de imediato, pegou o pó de café, o filtro, ajeitou tudo e ligou a cafeteira deixando-a funcionando.

- O que querem? Seja lá o que for, vocês tem – ela olhou no relógio de alumínio em seu pulso – quinze minutos antes dos guardas entrarem.

- Nós sabemos – Cigana falou em tom ácido.

- Tire os seus sapatos doutora. E os coloque encima da mesa – o vídeo que assistimos na lavanderia no dia anterior, ninguém pareceu reparar que as mulheres que dançaram durante três ou quatro minutos e não mostraram seus pés, roupas bonitas sem sapatos iguais para acompanhar, isso me chamou á atenção. Os saltos da doutora são baixos e grossos, dá para esconder uma escuta tranquilamente atrás, terá um bom alcance se ela ficar parada e não se movimentar para fazer ruído.

- Algo mais? – ela está gostando de jogar, eu por outro lado estou apenas apreciando.

- Tire o jaleco e coloque no chão.

- No chão?! – agora ela ficou brava. Suspirei pesadamente já farta daquela palhaçada.

- Tanto faz. Deixe-o na mesa então – a Cigana ria atrás, ouvi ela dizer baixinho “fala sério...”. A doutora dobrou com carinho o jaleco e o colocou ao lado do seu par de saltos. Ela tem zelo pela sua profissão e, é capaz de matar para mantê-la. A cafeteira apitou informando que já havia terminado, o cheiro inundou a sala.

- Querem café?

- Eu aceito. Cigana? – Respondemos sem nunca tirar os olhos dela.

- Passo – ela pegou as xícaras se serviu e serviu outra pra mim colocando na ponta da mesa próximo ao seu jaleco. Um verdadeiro lobo.

- Então? – ela se encostou na pia, eu levantei da cadeira e fui até a mesa, peguei o par de saltos marrons cheirando a creme e talco, olhei atrás e bingo! Tirei as escutas, tinha uma em cada salto e as coloquei dentro da minha xícara de café, peguei o jaleco e o revistei, olhei para o bisturi dentro do seu bolso mas não o peguei, afinal se ela quisesse me matar já teria feito, achei mais uma escuta na sua gola e só.

- Viemos conversar.

- E a sua amiga?

- Vim em paz – Saray levantou uma das mãos enquanto se pronunciava, mas depois colocou de volta no bolso da calça preta.

- Se vieram em paz então, seremos civilizadas, sentaremos á mesa e não levantaremos as armas. Pode ser? – ficamos ainda na mesma posição - Não entenda mal – ela pegou seus sapatos de volta com movimentos calmos e lentos, os calçando novamente. - Prefiro me sentar á mesa com um inimigo respeitável, ao invés de um falso amigo – não é a primeira vez que vejo algo assim, mas é a primeira vez que vejo essa atitude ser genuína.

- Cigana – ela entendeu, e tirou as mãos dos bolsos, cruzando seus braços na altura dos seios – contanto que seu bisturi fique longe, não teremos problema.

- E você, não está armada? – acenei negando – Entendo. Um assassino digno não precisa de armas.

- li'ana jasidak wahdah hu balfel slah (Porque seu corpo sozinho já é uma arma)– completei a frase que reconheci ser de um provérbio que Karin dizia as vezes.

- Exatamente – peguei o espaldar da cadeira e a arrastei pra perto da mesa, fazendo barulho – Você se contraria muito fácil - ela disse enquanto bebericava seu café fumegante.

- Não estou aborrecida, estou pensando. Você conhece o Fahir, pela foto pendurada na parede, vocês se relacionaram durante um tempo, tiveram um filho – observei em como ela se ajeitou na cadeira desconfortavelmente e seu olhar amoleceu de ternura – uma menina. Acertei? – ela acenou confirmando – tem sorte, se fosse um menino ele já teria levado a criança embora com ele – respirei fundo. Tem-se essa ideia de que seu filho será o herdeiro dos negócios e toda essa baboseira. – Ele te traiu com outra assim que ele viu a criança, e sumiu – ela confirmou novamente – porém ele voltou, ficou sabendo que você estava trabalhando aqui. Prometeu ser um bom pai, bom marido, um ser humano incrível – meu sarcasmo atingiu o ápice – esse puto combo ainda vem acompanhado com uma grana imensa, daria até pra você e sua filha se aposentarem pelo resto de suas vidas se você o ajudasse a pegar minha cabeça.

- Zulema Zahir. Teve uma filha chamada Fátima, que morreu. Namorou Hanbal Hamadi, filho do Fahir, ou egípcio como era conhecido pela policia, foi morto e despedaçado pela família Ferreiro, que atualmente só restam dois ainda vivos, Román e Macarena Ferreiro, na qual você ainda divide cela. Me diz, como consegue? – ela deu mais um longo gole no café.

- Elas tem uma química melhor do que você imagina – Cigana falou timidamente enquanto limpava as unhas. A doutora sorriu.

- Encontrar alguém pior do que você ás vezes é fascinante, faz sentido. Então, vamos direto ao ponto, só restam três minutos.

- Você está com o Fahir ou não?

- Tem muitos sentidos essa pergunta, faça algo mais direto, por favor.

- Está me caçando ou não? – ela terminou seu café.

- Não – nos encaramos e assenti – uma guarda bateu na porta, Cigana se encostou na parede próximo á mim – pode entrar.

- Está tudo bem por aqui? – a mulher robusta perguntou com tom cauteloso.

- Sim. Está tudo bem, obrigado.

- Não se preocupe chefa. Já estou de saída – levantei peguei a xícara no canto da mesa e tomei um gole – esse seu café árabe da marca Escuta é delicioso – dei uma piscadela na direção da doutora que riu balançando a cabeça negativamente. Saí acompanhada da Cigana logo atrás, ouvi a guarda perguntar novamente a doutora se estava bem, ouvimos ela repetir a resposta positiva, Saray mostrou o dedo do meio pra câmera de segurança quando passamos, e seguimos para o pátio.

O resto do dia ocorreu sem interferências, continuei sentindo minha cabeça pesada, mas nada que fosse de grande importância.

À noite a noticia chegou, loira teve que contar á todos que estava mudando de pavilhão, Palacios decidiu mudar ela naquele mesmo dia, algo estava estranho, todas se despediram, os guardas á acompanharam cela á fora, quando cheguei perto da porta ouvi duas detentas conversando “viu aquela loira, dizem que se matar ela, você ganha dois milhões”, a outra mulher riu descrente.

Merda! Deve ter chegado ao conhecimento do Palacios, que resolveu tirar ela daqui antes que a situação fique pior. Chamei a Cigana discretamente e expliquei a situação.

- O que nós vamos fazer? – continuei calma apesar de não ter uma estratégia ainda certa.

- Calma Ciganita, um dia de cada vez. Agora é você e eu. Ainda pensarei em algo – ela acenou preocupada.

Fomos deitar e assim finalizou o dia.


Notas Finais


Obrigado pelo seu tempo
Até o próximo capítulo...


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...