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História Probabilidade e o improvável - Sábado


Escrita por: Prejuiza

Notas do Autor


A mudança de emprego juntamente com a Covid empacando e complicando nossas vidas mais a soma da finalização de um TCC. Esses foram os motivos que me fizeram ficar afastada por dois meses, mas retornei agora com um capítulo longo e bem estruturado.
Boa leitura a todos.

Capítulo 15 - Sábado


Fanfic / Fanfiction Probabilidade e o improvável - Sábado

Pelos olhos da Macarena

Abri meus olhos lentamente, olhei para os lados assustada, e sentei-me rapidamente ainda com a cabeça enevoada pelo sono, a única detenta e mais nova companheira de cela Inês mirou-me com atenção, ela é baixa e de ombros largos deve ter cerca de um e cinquenta e cinco de altura, seu olhar é profundo, não tanto quanto o da árabe, mas é igualmente parecido e carrega um brilho bastante perspicaz. Seu cabelo é castanho escuro e aparentemente sempre preso em um coque bem feito, ela só o deixa solto quando vai dormir revelando que ele é cacheado e longo formando uma cascata de molas até a cintura, seu rosto tem um formato oval, seus olhos são da cor do seu cabelo de um castanho escuro quase preto, ela carrega olheiras profundas mas não é porque ela dorme mal a noite creio que talvez seja genético, seu corpo é forte mas não definido, seus braços e ombros parecem destoar do resto do seu corpo, pois ambos tem os músculos mais tonificados do que todo o resto.

- Você usa algum tipo de droga? Porque se for usuária eu realmente gostaria de saber antes que você me ataque ou algo do tipo – sorri involuntariamente e neguei com um aceno lento de cabeça. Meu uniforme voltou a ser o amarelo com os números em preto.

- E você? – minha voz saiu baixa e lânguida.

- Não – assenti e respirei fundo.

É uma cama de solteiro pra cada detenta, a cela é maior e entre uma cama e outra tem uma mesa de tamanho mediano de plástico amarelo acompanhada de duas cadeiras no meio da cela. São apenas duas detentas por cela, esse pavilhão é bem mais silencioso e menos agitado é quase como se fosse outra prisão, o uniforme tem um detalhe diferente às calças e camisas amarelas carregam uma faixa branca nas laterais próximo aos nossos números.

- Então? – ela ficou sentada com as pernas cruzadas e esperando uma resposta, dei de ombros ainda confusa.

- O que foi?

- Porque essa agitação toda logo pela manhã? – levantei pra espantar o sono e caminhei até as grades, segurei firme o metal gelado nas minhas mãos.

- Ainda estou me adaptando – ela acenou em compreensão.

- Como é lá? O outro pavilhão? – todas as detentas aqui parecem ter medo das detentas que estão do outro lado do presídio, embora sempre tenham as que arrisquem mesmo assim arranjar briga para demonstrar força – Se for metade do que dizem, lá é realmente o seu inferno na Terra.

- O que o pessoal daqui fala?

- Dizem que é horrível, cada dia é uma tortura constante, as celas são apertadas, as detentas mais perigosas ficam lá e vendem outras detentas mais fracas, nos últimos meses uma mulher que já estava pra ser solta disse que o antigo diretor deixou uma reclusa ser devorada viva por cães como forma de punição.

- Nada fora do normal – dei de ombros, ela permaneceu em silencio digerindo a minha resposta – Vocês por aqui também estão na merda, a diferença é que aqui tem como dar descarga, lá o vaso sanitário enche até transbordar – ela sorriu e concordou.

 

 

 

 

Pelos olhos da Zulema.

Minha manhã foi... insana, Saray estava preocupada com a loira e ficava falando sozinha sobre o que deveria estar acontecendo por lá, a coisa toda fica ainda mais medonha quando junta a preocupação da Cigana com a da Kabila, vira um falatório sem fim com direito a planejamento de mandar bilhetes pra ver se ela está bem. Até mesmo a Antonia parece ter mais racionalidade que essas duas e encerra temporariamente esse tormento dizendo que ela deve estar se saindo bem por lá. Faz pouco tempo que a Cigana teve a criança, ela ainda está sofrendo com as mudanças do corpo, talvez dentro de seis meses ou menos ela volte ao normal.

Após o café da manhã eu fui até o pátio com o meu escorpiãozito e a Cigana como garantia.

- Zule... E agora? – abri a caixa de metal e soltei o escorpião que está em fase final de coloração, seu corpo preto como carvão e suas patas e ferrões amarelos, a Cigana olhou para ele enquanto comia as formigas próximas e riu controladamente - É sério!? – continuou sorrindo – é o filho perfeito – o acesso de riso foi diminuindo até se extinguir.

- Não sabia que quando duas mulheres se juntavam, geravam escorpiões – Cachos apareceu fazendo sombra e em seguida sentou ao lado da Cigana.

Cada um se distrai como quer. Eu tenho assuntos mais importantes. Falando em assuntos importantes o que acha de ir conversar com a doutora? – ir ver ela novamente para quê? – ela é bem mais conveniente do que essas duas e talvez a conversa seja mais interessante do que a anterior, recolhi o escorpião e fui em direção a enfermaria.

- Ei Zule! Tá indo aonde? – suspirei já entediada.

- Dar uma voltar – e segui meu caminho até as celas pra deixar minha caixa em segurança lá e depois desci pra enfermaria.

Quando entrei havia uma presa recebendo soro, e um saco preto encima da maca amarrado com barbante, a doutora está sentada em sua mesa que é de frente para a porta que está aberta, o aroma do café está forte no ar, segui até a sala dela, e dei uma batida na porta. Ambas acenamos em forma de cumprimento breve.

- Sente-se, mas antes, feche a porta – adentrei a sala encostando a porta atrás de mim e sentei-me. Fiz um gesto com o dedo no ouvido e outro na gola aonde estava a escuta da outra vez, ela novamente retirou todos os dispositivos e colocou na sua xícara de café – Se toda vez que você vier, eu tiver que perder o meu café, a sua presença se tornará bastante incomoda – sorri concordando com o seu argumento.

- Não pretendo ficar mais que o necessário.

- É uma pena. Você é uma boa companhia apesar de tudo – a observei tentando entender a essência do comentário, sarcasmo, ironia, talvez sejam os dois – Aceita café? – assenti e ela o trouxe, o aroma é divino, me servi de um pequeno gole.  

- Quero que você mande uma mensagem para o Fahir. Quero conversar com ele.

- Não posso.

- Porquê?

- Ele não sabe que você está aqui, não pela minha boca pelo menos.

- Explique.

- Ele conseguiu ou comprou a informação de que você estava aqui em Cruz del Norte, antes mesmo de eu ser contratada pra vir trabalhar ele já tinha essa informação, Fahir apenas juntou o útil ao agradável e pediu para que eu o ajudasse. Ele tem alguns guardas nas mãos e outros que sabem o que está acontecendo mas que se calam. Não sei se a senhora Cruz tem algum envolvimento, mas tanto ela quanto Fahir não estão felizes com Palacios no comando, sinto que a estádia dele talvez seja mais curta do que imaginamos – ela tomou o café lentamente.

- E aquela detenta na maca. O que aconteceu? – ela sorriu.

- Choque anafilático. Aparentemente ela tinha alergia a alguma medicação que não constava na sua ficha – seus olhos de âmbar brilhavam.

- Claro. – bufei e ri, ela matou aquela mulher e francamente pouca me importa o motivo.

- Porquê exatamente, você está me contemplando com a sua ilustre presença hoje? Não acho que seja pra fazer terapia – ela sorriu e finalizou seu café, concordei fixei meu olhar em seu rosto e acenei negando.

- Não. Apenas, passando o tempo – ela assentiu. Em um último cumprimento breve saí da sala e fui em direção ao banheiro para tomar um belo banho.

Hoje pra minha sorte está quase vazio, com apenas duas ou três presas terminando de se arrumarem.

Despi-me e olhei para o chuveiro de alumínio, o liguei e um vapor imediato tomou conta do ambiente embaçando todos os vidros, após banhar-me coloquei minha roupa íntima quando duas detentas entraram, uma é a Goya e está com um pedaço de madeira na mão talvez seja de uma caixa do galinheiro, a outra é a detenta que não conheço de nome mas que já é antiga e está segurando uma ferramenta caseira e pontuda quase como um picador de gelo.

- Sabe, sua puta, eu não ia me meter nesse assunto, mas você matou a minha irmã – fiz expressão pensativa e perguntei em tom propositalmente surpreso.

- Desculpa, mas quem caralhos é a sua irmã? – a mulher em questão começou a chorar.

- Você é mesmo uma vadia! Choque alérgico me disseram... Acha mesmo que eu acreditei nisso!? Ela estava tentando matar você, e no dia seguinte apareceu morta. Sua rampeira de merda! – respirei fundo e coloquei as mãos na cintura, depois peguei minha calça e a vesti, fiquei somente de sutiã branco com o dorso nú e a calça preta com os pés descalços no chão frio e úmido do banheiro. A Cigana apareceu na porta e compreendendo a situação ficou preparada para atacar atrás da Goya, doutora maldita, sorri daquela profunda ironia o que deixou a irmã da mulher morta ainda mais irritada.

- Shh... – com expressão séria, coloquei o dedo na boca pedindo silencio – estão ouvindo? – todas ficaram paradas e prestando atenção, fiz barulho de chiado parecido com o estalar da carne queimando na frigideira – Estou ouvindo a alma dela queimar no inferno – acenei e Saray pulou com a sua camiseta de botão em mãos cobrindo o rosto da Goya e a puxando pra trás.

Corri em direção à outra mulher, acertei o soco e cheio no nariz dela que quebrou e começou a minar sangue, no desespero ela deixou a arma cair, eu abaixei para pegá-la e recebi uma joelhada no rosto que cortou imediatamente meu lábio inferior, a arma continuou no chão acertei mais um soco ou dois nela até que ela ficou ajoelhada no chão pedindo clemencia, a Cigana nesse meio tempo estava montada nas costas da Goya segurando o pano contra o rosto dela, peguei a arma pontiaguda do chão e cravei com toda minha força na perna da Goya que deu um grito capaz de acordar até os mortos, Saray desceu das costas dela ofegando enquanto ela ainda gritava, os guardas entraram e nos encontraram naquela situação, Palacios chegou e perguntou o que diabos aconteceu.

- Estava tomando banho, quando essas duas vieram chefe. Dessa vez, eu sou inocente – Palacios passou a mão no rosto exasperadamente fazendo suas bochechas balançarem, Saray falou depois reforçando a minha versão. Em seguida com a voz cansada ele mandou as outras duas pra enfermaria e em seguida pra solitária. É a maneira dele de tentar diminuir o tamanho da tempestade que está se formando.

- Quer ir lá também? Pra enfermaria? – ele acenou para o meu lábio cortado, roxo e para as juntas das minhas mãos esfoladas.

- Passo – ele concordou e saiu levando os outros guardas junto.

- Zule – a Cigana chegou mais perto e trocamos um aperto de mão rápido, dei um tapa leve e afetuoso no ombro dela – acho que estou ficando velha pra essas coisas - ambas sorrimos.

– Então é melhor você já ir se colocando em forma. – ela assentiu – Cigarro? – ela negou, eu procurei algum no bolso da minha calça mas sem sucesso.

- Você matou mesmo essa tal mulher? – ela perguntou sorrindo e passando o polegar no canto da boca.

- Na enfermaria tem um saco preto na maca de viagem. A irmã dela morreu porque tomou uma medicação errada.

- Hija de una gran madre puta (filha de uma grande mãe puta) – Cigana compreendeu rápido o que aconteceu e passou a costa da mão direita na testa, peguei minha regata branca cheirando a perfume vencido e fumaça de cigarro e vesti.

No pátio o ar fresco e o tempo nublado faz com que seja um dia agradável. Palacios se materializou no portão com expressão séria.

- Se você quiser ir para o vis a vis não será necessário fazer solicitação, somente avisar o guarda próximo ao portão do refeitório que ela cuidará de todo o resto, mas o tempo continua sendo o mesmo, uma hora – assenti.

- Tanto eu quanto a loira podemos pedir? – ele confirmou.

- Sim, qualquer dia desde que seja no período da manhã ou tarde, quando se encontrar com Macarena avise isso a ela por mim.

- Claro chefe – acendi o cigarro e o traguei – apenas faça o serviço de vocês e garanta que o lugar estará limpo.

- Vale (ok). Castillo vem hoje à tarde – assenti, permanecemos ali em silencio até que ele resolveu que tem coisas mais interessantes para fazer, além de me perturbar.

Fiquei por ali mais um pouco até um guarda me chamar.

- Você tem visita – acenei de acordo e seguimos em direção a sala de visitas.

Passando pelo corredor das cabines, entrei no espaço amplo com uma mesa e duas cadeiras sendo uma delas ocupada pelo meu careca favorito, comecei a rir sozinha pela piada interna. As correntes das algemas unidas nas mãos e nos pés faziam barulho enquanto arrastavam no chão.

- Sente-se – ele se ajeitou na cadeira enquanto bebia um pouco do seu copo de café apoiado encima de uma sacola estampada com o nome “El Pinchito”, ele olhou para a sacola - é um restaurante no centro de Navalcarnero próximo a Av. de Castilla. - Assenti brevemente.

- O que queres? – ele se endireitou na cadeira.

- Ontem a noite uma correspondência foi deixada na delegacia – ele tirou uma foto pequena do bolso da sua jaqueta e tinha uma informação escrita em letra cursiva na parte branca “Dedo do pé direito”, era o dedão de um pé humano, dava pra ver que o osso havia sido cerrado, a cor da carne está normal, o que significa que foi arrancado de alguém vivo.

- De quem é? – Castillo ajeitou a perna débil e se debruçou sobre a mesa.

- Dos Ferreiros – aquele imbecil foi pego.

- Tenho certeza que é renascentista – ele bufou e sorriu.

- Está mais pra medieval – curvei o canto da boca em um breve sorriso e concordei. - O que significa? O dedão direito – refleti um pouco.

- Os católicos lavam o pé direito porque é assim que está retratado Jesus enquanto lava o pé de um de seus discípulos.

- Significa que eles estão aceitando serem humildes e a servir a Deus, que passam a serem visto e a receber a proteção do mesmo – acenei confirmando.

- Para o muçulmano não é muito diferente, antes de rezar ou entrar no espaço religioso faz se a ablução que consiste em um ritual de lavar tanto o corpo quanto o espirito, lava-se as mãos, rosto, orelhas, nariz e o pé direito. Para que o seu caminhar seja puro. Resumindo, Fahir está falando que o idiota está vivo, por algum motivo que ele achou ser a intervenção de Alá, ele resolveu deixa-lo vivo, procure em algum hospital nas redondezas. – respirei fundo já cansada daquela conversa - Tem cigarro? – ele assentiu e tirou do bolso da calça um maço de winston classic e isqueiro, separou um cigarro, eu peguei com uma das mãos arrastando a outra junto por causa das algemas e coloquei na boca, ele se inclinou pra frente acendeu o isqueiro eu traguei e assoprei pra longe a fumaça enquanto me encostava novamente no espaldar da cadeira. A foto do dedo decepado continuou na mesa – Foi serrado.

- Nós sabemos – Castillo esticou-se pegando a foto novamente guardando-a.

- Então? – me inclinei pra frente e bati as cinzas na mesa.

- Nosso investigado está atrás da filha dele, Merit.

- Não faço a puta ideia de quem seja – ele pegou outra foto e colocou na mesa empurrando-a na minha direção, na foto a rua está movimentada mas no centro da multidão está o irmão da loira segurando a mão de uma mulher inevitavelmente parecida com o Fahir, ela tem cabelo castanho longo com luzes loiras e levemente ondulado, pele bronzeada, as unhas feitas e pintadas de vermelho, os olhos verdes. - A mãe dela deve ser muito bonita – Castillo concordou silenciosamente bebericando o seu café.

- Ela fugiu do Egito á cerca de cinco anos, desde então ele está atrás dela.

- Dinheiro? – ele confirmou.

- Antes da Merit Hamadi fugir ela roubou cerca de quatro milhões em joias e euros – considerei tudo batendo o cigarro levemente na mesa pra depositar as cinzas – entrou na Espanha com documentos novos no nome de Samia Santiago Lopes.

- E está namorando o nosso Dom Quixote.

- Aparentemente já estão juntos por pelo menos um ano.

- Por isso esse imbecil iniciou a investigação patética de inspetor bugiganga – Castillo suspirou irritado. Eu terminei o cigarro e o apaguei na mesa encima do montinho de cinzas. Olhei a foto de novo, a barriga dela tem um leve volume quase imperceptível, Merit tem corpo de modelo e está em plena forma. Ela está grávida, essa foi a "intervenção divina". Empurrei calmamente a foto de volta na direção dele que, pegou e guardou – A oferta pela cabeça da Maca já se espalhou.

- Palacios me contou. Houve uma briga no banheiro – ele apontou pro meu lábio já com o sangue seco e um pouco dolorido, assenti brevemente.

- Elas vão ter que fazer melhor do que isso.

- Tenho certeza de que irão.

- Inspetor se eu fosse você tomava cuidado com o seu carro, seu apartamento ou talvez a mesa do seu escritório. Fahir ama bombas, é uma das suas especialidades.

- Claro – ele absorveu o que eu disse, e estendeu um mapa na mesa, conversamos mais um pouco sobre possíveis pontos em que o Fahir estaria estabelecido, me perguntou qual era o modo dele de agir e por último finalizou.

Os guardas me levaram de volta pro térreo.

 

 

 

 

 

 

 

Pelos olhos da Macarena.

Minha manhã foi tranquila e a tarde eu estava no pátio, que desse lado da prisão é bem maior, observei as jovens mulheres jogando basquete e trocando ofensas ou gratificações casuais. Um guarda ficou na minha frente fazendo sombra.

- Sete dois sete, Macarena Ferreiro é você? – confirmei levemente com um sutil acendo de cabeça e um estreitamento dos olhos para não encarar o sol forte – Você recebeu uma solicitação do pavilhão norte para um vis a vis.

- Quem está solicitando? Apenas o número por favor, não fale o nome – a mulher forte e robusta assentiu.

- Nove seis seis.

- É pra ir agora? – ela confirmou eu levantei do banco de cimento, tirei a poeira que poderia haver na calça e seguimos para dentro no térreo.

- Não é permitido agasalhos – ela falou sobre a camisa de botões amarela e eu tirei, fiquei somente com a regata, fui algemada nos pulsos e seguimos para a sala de vis a vis daquele mesmo pavilhão, fui revistada, eles tiraram as algemas – espere aqui - ela fechou a porta de ferro que rangeu.

Por incrível que pareça tudo está limpo e muito organizado, é um quadrado de concreto no chão feito sob medida para ter um colchão de casal tão fino quanto uma lamina encima, depois de alguns minutos escutei um arrastar de correntes creio que seja Zulema, eles devem tê-la algemado nos pés e nas mãos, como esse é um pavilhão calmo eles acharam necessário essa proteção extra, é quase como se ela fosse um monstro feroz na qual eles estão desamarrando pra jogar aqui dentro.

A porta rangeu e ela entrou, depois a porta de metal fechou fazendo barulho de porta de masmorra desses desenhos animado, ouvimos a voz abafada do guarda do lado de fora que avisou “vocês tem uma hora”. A Zulema está com aspecto melhor que antes, mas também um pouco danificado.

- Loira

- Zulema – nos cumprimentamos brevemente, eu andei a até ela que está parada com as mãos no bolso da calça preta próximo a porta – O que aconteceu? – ela no reflexo passou a língua no corte do lábio roxo e um pouco inchado.

- Mais um dia normal – a voz dela saiu rouca, assenti.

- Só pra constar, não teremos que fingir que estamos transando nem nada do tipo não é? – ela sorriu e negou.

- Felizmente não.

- Ótimo, então me atualize, o que aconteceu?

A árabe foi andando até a cama, passou o dedo no lençol e considerou se tinha poeira ou não, e depois deitou ali e apoiou as mãos atrás da cabeça, por fim ela despejou tudo o que havia acontecido, com a doutora, no banheiro feminino, Castillo, o dedo na caixa e as hipóteses. Sentei do outro lado na cama e cruzei as pernas.

- Céus Román... Você tem razão é um imbecil – passei a mão no rosto - Quais são as chances da poderosa Cruz ter vendido essa informação pro Fahir? – ela considerou um momento.

- Muito alta, ainda mais porque ela concordou com o idiota do Palacios expandir o nosso pavilhão sem nem reclamar mas quase o matou quando soube que ele havia mudado o plano de advogados, o dinheiro tem que estar vindo de algum lugar loira, e não é dela. 

- Faz sentido. E essa doutora Luzia?

- Vai ficar como está, mas quando se tornar um inconveniente será descartada.

- Queria estar com vocês lá na cela, é mais divertido.

- Pensei que aqui você já teria emoção o suficiente – eu bufei e ri.

- Não. É calmo e monótono ao extremo, cada dia parece que dura mais do que deveria.

- A Cigana e a Cachos mandaram oi.

- Como elas estão?

- Bem. O que pretende fazer quando sair? – ela fechou os olhos e acho que está pensando em tirar um cochilo.

- Não se mexa – passei a mão levemente no cabelo dela pra tirar um fiapo do lençol – Depois de tanto tempo, essa é a última coisa que me vem a mente, a cada maldita infração, assassinato do código penal ou das putas regras de conduta é uma semana ou mês a mais na pena, as estatísticas aqui não estão ao nosso favor.

Ela levantou e se sentou na cama, depois desceu e começou a andar de um lado para o outro enquanto esticava os braços.

- E o imbecil?

Não sei, tentei ligar pra ele mas só caí em caixa postal – Zulema – minha voz atingiu um tom alarmante – a doutora mencionou se ela tem uma irmã?

- Não. Porquê? – ela ouviu atenta.

- Román mencionou que estava namorando uma mulher nova, Samia, se não me falhe a memória, ele me mostrou uma foto, e por mais maluco que pareça ela se parece bastante com a doutora. E eu não consigo achar outro motivo plausível para Román sair por ai em um plágio ruim de caça as bruxas se o motivo não envolvesse essa nova mulher.

- Puta merda. – eu conseguia ouvir as peças desse quebra cabeça estranho se juntando no cérebro dela – O Fahir não está atrás do seu irmão, pelo contrário ele está sendo o fantoche perfeito.

- Como assim? – ela se aproximou e começou a relatar em quase sussurros.

- Fahir participa de grande parte de contrabando de drogas e tráfico humano atualmente na Espanha, desde a época do Hanbal ele fazia algo como atrair figuras politicas influentes, ou pessoas sem passagem na cadeia “honestas” para uma armadilha, ele passeava com essas pessoas aonde o contrabando ou roubo de fato acontecia em seguida aquele ponto seria desativado pra se estabelecer em um novo lugar, depois disso as fotos tiradas pelos fotógrafos dele próprio incriminavam quem estivesse ali enquanto ele saia como vendedor inocente do imóvel ou lugar, com o dinheiro e contatos certos isso é tão fácil quando tirar doce de criança, se Castillo já tem fotos dele no lugar Fahir deve ter de todos os ângulos e jeitos possíveis. E a Samia, é filha do Fahir.

- Como você sabe?

- Castillo.

- Mas você não a conhecia? – negou desdenhosa

- Não. Hanbal falava pouco da sua família e sempre entendi que ele era filho único, pelo menos naquele casamento.

- Román então além de dar o endereço do local aonde Samia está, seja lá o motivo pelo qual ela tem fugido do Fahir, ele também vai usar Román para se livrar dos pontos velhos de contrabando ou sei lá mais o que?

- Bingo. Samia roubou o pai antes de fugir, levou com ela alguns milhões em joias e euros. E quando estiver entediado a próxima parada dele será aqui – ela ficou parada e seus olhos arregalados.

- Zulema. O que você quer dizer?

- Bombas loira, muitas bombas, o suficiente para não restar nada, ou sequer saber da onde vieram.

- Merda! – exalei exasperada e passei a mão na testa.

A porta abriu e a guarda ficou em pé nos observando.

- Já deu o tempo – assentimos, nos abraçamos, Zulema sussurrou algo como “procure o panaca”, assenti e a abracei forte cravando minhas unhas nas suas costas, em um ângulo que o guarda não pudesse notar foi a minha vez de falar, “tenha cuidado”, nos separamos e ajeitamos nossos uniformes, eu segui na frente enquanto Zulema seguiu colada atrás de mim e beliscou minha bunda fazendo eu dar um pulo, dei um sorriso sem jeito na direção da guarda que suspirou enjoada – por Deus meninas vamos logo, vocês já aproveitaram bastante.

Pareceu convincente, seria no mínimo estranho as duas irem para o vis a vis e somente conversarem e agirem como agentes de escritório, nessa área a árabe é rápida e certeira em fazer o seu papel, e na maioria das vezes certeira até demais. Zule foi revistada, algemada e levada de volta pra cela dela e o mesmo aconteceu comigo.

 

 

 

Pelos olhos da Zulema

À noite enquanto todas estavam se arrumando para dormir atualizei a Cigana assim como fiz com a loira, apenas com as informações necessárias. Coisas como, a doutora tem uma filha com Fahir chamada Merit, que está grávida do irmão da loira não são necessárias de se saber. Com essas informações novas as coisas mudam de rumo.

Um novo plano surge no horizonte.

Assim, finalizou o dia.


Notas Finais


Demorei mas retornei com um capítulo novo.
Obrigado pelo seu tempo e paciência....
Até o próximo capítulo.


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