História Problemática - Problemas.

As flores secas que caíam das árvores eram as mesmas que minhas expectativas de tentar fazer minha vida dar certo. Meu signo estava em uma fase boa, eu não. Resumidamente, minha vida estava igual à cara de Karin Uzumaki: uma verdadeira cagada de pombo.

Digamos que largar as plantações de arroz em Konoha para começar a trabalhar trancada em um escritório em Tóquio era uma mudança drástica. Tudo ali era sem graça igual o humor de todos, sem contar que aquele "elefante" – aqui eles chamam de ar-condicionado – fica espirrando vento importado da Sibéria porque onde já se viu algo ser tão gelado!

Mas é claro que como uma boa vida defeituosa, tinham coisas que conseguiam superar a área do meu trabalho... Começando por aquilo que eu chamo de casa.

Eu morava em um apartamento de sete andares que sequer elevador tinha. Era apertado e velho. No calor era um inferno, no frio era mais gelado que um congelador. Então não havia essa baboseira de meio-termo. Aqui ou era 8 ou 80. E posso te garantir que minhas amizades se limitaram a pequenos pombos que faziam questão de fazer suas necessidades no parapeito da minha janela. A varanda era composta por uma mesa com dois lugares e grades enferrujadas. Então como da para ver, muitos problemas em apenas um só lugar.

Segundamente: minha vida amorosa.

Isso era de dar dó! Pode apostar que mais azarada que eu estava para nascer.

Desde meus 15 anos, eu fui rejeitada pelos meninos que eu gostava. Um era mais velho e garotos mais velhos gostam de garotas mais velhas; outro era gay; outro era bem foda-se para tudo e todos... O que me levava a pensar que sim, meu coração adorava um desafio. Ou o cara era gótico, from hell 666 ou era zé droguinha, e a não ser que eu me vestisse com roupa de enterro ou ficasse com os olhos menstruados, um namorado tão cedo eu não teria.

E claro que novamente minha vida virou de ponta cabeça quando vim para Tóquio. Na verdade, seguir um desses dois "conceitos", aos olhos deles era pedir para ser julgado. Não que os tóquioenses - sim, era assim que eu os chamava - apontassem o dedo na cara de um gótico/maconheiro e falassem super mal, mas dava para ver que se você não vestisse uma roupa cara, social, branco e preto para ir ao centro você já era olhado torto.

Um padrão que eu particularmente acho ridículo, mas se faziam tanta questão de tentar ser mais fino que outro, que o façam.

Mas o que isso tem haver com minha vida amorosa? Isso mesmo, nada. Foi só um comentário aleatório como sempre.

Minha vida se tornou um problema – novamente – quando eu fui contratada para trabalhar como secretária na empresária do herdeiro Uchiha. Para mim ele seria só mais um coroa chato, que fumava charuto igual um louco, mas quando eu vi que de coroa meu chefe não tinha nada, quase caí para trás.

Aquele homem era lindo!

Não posso dizer que seu cabelo era gótico – como ditava meu tipo ideal – e nem zé droguinha ele era, então claro que sentir o coração bater mais rápido que o considerável seguro para vida humana foi uma surpresa. Mas também...

Só que o que aquele homem tinha de beleza, ele tinha de cara-de-bunda.

Por Deus, ele nunca sorria, nunca falava mais que hm ou ok, não fazia questão de ser simpático e ainda conseguia ter puxadores-de-saco. Poxa, eu também queria ser um cu desse tamanho e ter uma legião de “fãs” que faziam o que eu quisesse/mandasse. Talvez por ele ser o chefe e tudo mais, mas caramba!

E sinceramente, não sei o que ele viu em mim quando me contratou.

Sou totalmente o oposto dele. Sou pobre, mas sou feliz. Sei ter diálogos, sei sorrir, sei viver em sociedade. Ele nem sabe dizer um arigatou gozaimasu.

Não que ele tivesse que dizê-lo, afinal ele era o dono da porcaria toda, mas fala sério. Mau humor trás vários problemas, um deles é linhas de expressão. Eu acho...

De qualquer forma, isso é apenas um detalhe miseravelmente triste porque foi partir dele que o maldito sentimento nasceu. Estava empregada nessa empresa por um ano e meio e nesse contratempo acabo por descobrir que estou apaixonada pelo demônio em forma de Deus: Uchiha Sasuke!

Isso é claramente o fim de qualquer orgulho e dignidade que eu tive – e que já eram baixas, quase inexistentes.

Se eu podia ter feito algo para impedir? Não. Por quê? Porque estamos lidando com um Uchiha, e se tratando dessa família nenhuma mulher sai sem se machucar da vida deles. Ouvi de muitas funcionárias que uma ex de Sasuke chegou a se internar por não suportar a dor de ficar longe dele! O que ele tinha? Um imã para mulheres? 

Não era a toa que ele me contratou. Só tinha eu e mais uma que estava tendo tique nervoso antes mesmo de realizar a entrevista!

No começo eu achei estranho ter recebido tantos ‘boa sorte’ de cada funcionária da empresa, e só fui entender quando me dei conta da merda em que eu estava me metendo. Eu não podia ter me deixado encantar por ele! Não podia, isso era uma questão de honra!

Mas era mais que óbvio que a tolinha aqui era apaixonada por ele. Sempre foi um defeito não conseguir esconder sentimentos e o que acabava sempre me complicando, então não seria surpresa se um dia Sasuke me perguntasse de tais malditos sentimentos. Se eu negasse, estaria mentindo e quando eu minto, fica óbvio; a gargalhada de taquara rachada se desprende da garganta, o suor brota na mão e o nervosismo é presente.

E como se isso não fosse o suficiente, temos o meu terceiro problema: Karin Uzumaki, a demônia que namora meu chefe e nome também do meu pesadelo. Juro que se eu vê-la de noite, é capaz de rezar 10 Ave Maria que não vai ser o suficiente - exagero mesmo, mas a culpa é do mapa astral, não minha.

Não sei o que se passa na mente contorcida dela, mas a cisma que ela tem comigo é grande e não da para negar. Nunca entendi o porquê daquilo, afinal, ela tinha o que eu nunca poderia ter e ficar jogando comentários estúpidos sobre a cor do meu cabelo ou algo assim só deixavam uma imagem pior que os empregados da empresa já tinha dela. Fala sério, a mulher fazia questão de se atracar com o Uchiha na sala dele sempre que eu entro ou quando qualquer outra mulher entra; faz atos impróprios para um ambiente público e fala de forma arrastada e irritante. Ah, se vocês soubessem quantas vezes não me segurei para calar a boca dela com uma rolha ficariam surpresos.

Inveja dessa mulher eu realmente não tinha.

E saber que Sasuke gostava daquilo era de se estranhar. Mas quem dividia a cama com ele era ela, então no mínimo pontos bons - mesmo que fossem pouquíssimos, quase de outro mundo - ela deveria ter, certo?

Eu sinceramente não sei explicar, só sei que minha vida virou de pernas para o ar quando me mudei para Tóquio, e só piorou quando conheci Uchiha Sasuke, meu chefe. Não sei se a situação de estar apaixonada por ele poderia, de fato, piorar. Mas caso isso acontecesse eu rezava até mesmo para que belzebu me levasse porque era muito mais viável do que criar sentimentos com alguém que eu nunca poderia ter!