O envelope com o timbrando da escola deixou Sasuke ansioso àquela hora da manhã. Era sexta-feira e ele estava atrasado para uma reunião. Moegi e Konohamaru não poderiam ficar com Tamaki naquele dia e não havia ninguém disponível para aquele horário na agência de babás. Sasuke sabia que Sakura estaria no hospital aquele horário em plantão e não conseguia pensar em mais ninguém.
— Papai, olha, eu desenhei um sapo príncipe. — Tamaki mostrou o desenho e Sasuke abaixou-se para ver. — Você não vai trabalhar hoje? Vamos no parquinho?
Ela o olhou com animação, mas Sasuke logo explicou que precisava encontrar alguém para ficar com ela pelo menos até o horário que Konohamaru ficaria livre, depois das onze horas.
— Tamaki, por favor, eu pedi para não espalhar os lápis no chão. Daqui a pouco temos que sair. — Sasuke andou até a sala e foi pegando os lápis espalhados pelo chão, enquanto Tamaki se levantava do sofá.
— Desculpa, papai. — Ela pegou o estojo e colocou os lápis dentro.
— Eu acho que vou ter que levar você para o trabalho. — Sasuke disse, enquanto guardava a carta da escola dentro do bolso interno do paletó. — Vamos escovar os dentes, depois eu vou pentear seu cabelo.
Tamaki obedeceu e não demorou muito para que os dois estivessem prontos. Sasuke colocou o casaco na filha e eles desceram as escadas do prédio. Ele solicitou um carro pelo aplicativo e enquanto aguardava, respondeu a mensagem de Shikamaru. Pediu desculpas pelo atraso e informou que estava a caminho.
Assim que o carro estacionou próximo a calçada, Sasuke abriu a porta e colocou Tamaki no banco, afivelando o cinto em volta dela. Ele também colocou o cinto de segurança e orientou o motorista a seguir por um caminho que houvesse menos tráfego.
Tamaki estava entretida com a boneca que havia escolhido e Sasuke ainda procurava alguém para poder ficar com a filha pelo menos até a hora do almoço. Naquele momento, Naruto ligou para ele, mesmo apreensivo com seus problemas, Sasuke atendeu a ligação.
— Bom dia, como vocês estão? — Naruto perguntou e Sasuke olhou para Tamaki, que queria saber quem é. Logo que Sasuke disse que era Naruto, a menina se empolgou e pediu para falar com ele ao telefone. — Oi, Tamaki-chan, está tomando café da manhã e vendo desenho?
— Não, eu vou para o trabalho do papai.
— É mesmo? Você gosta de ir lá?
— Eu nunca fui nesse trabalho, é novo.
— Depois me conta o que achou de lá, ok?
— Tá bem. Tio Naruto, quando você vai na nossa casa? Papai assou uma torta ontem.
— Eu adoro torta, a gente vai se ver em breve, tudo bem? Deixa eu falar com seu pai agora?
— Pai, o titio Naruto quer falar com você. — Tamaki devolveu o celular para Sasuke.
— Desculpe, ela queria muito falar com você. — Sasuke disse, enquanto observava o trânsito mais à frente. Não havia muito o que ele pudesse fazer naquele momento, senão esperar.
— Sabe que eu não me importo de falar com ela. Você já tem notícias sobre a escola?
— Eu recebi hoje cedo uma carta da escola, mas ainda não abri.
Sasuke ouviu a risada de Naruto e depois ele se despedindo de alguém. O Uchiha puxou a manga e viu o relógio de pulso, era quase oito e meia da manhã. Tentou evitar pensar se aquele era um cliente de Naruto ou algo mais, que conversava com ele tão cedo.
— Desculpe, voltando ao assunto, ainda não abriu? Você não está curioso?
— Sim, mas também estou com um pouco de receio. — Sasuke olhou para a filha, que agora estava mergulhada na brincadeira com sua boneca. Ele crispou os lábios e fechou os olhos, ao ouvir uma segunda voz novamente pelo telefone de Naruto.
— Hoje é dia de levar a filha no trabalho? Tamaki disse que está indo trabalhar com você.
— Na verdade, eu estou levando Tamaki porque não consegui ninguém para cobrir a babá.
— Sério?
— É, eu já estou atrasado e tenho uma reunião, acabei caindo em um trânsito bem chato aqui em Chuo Ward.
— Você trabalha aí perto?
— Sim, em Bakuromachi.
— Conheço um café muito bom aí perto, o Garb.
— Na verdade, eu trabalho bem ao lado do Garb.
— Sério? Se quiser eu posso ir aí para ficar com a Tamaki para você.
— Eu não acho certo te dar esse trabalho. — Sasuke olhou pela janela, havia algumas nuvens carregadas se aproximando, ele olhou para seus objetos e viu que não trouxe a capa de chuva de Tamaki.
— Na verdade, você é a única pessoa nesse momento que pode me dizer justamente o contrário. Pode me dar quanto trabalho você quiser. Além do mais, a companhia de Tamaki é boa demais para dispensar.
Sasuke voltou a apertar os lábios e suspirou baixinho, se Naruto estava se oferecendo para fazer companhia para sua filha, então ele não deveria estar naquele momento com outra pessoa, fazendo alguma outra coisa. E pensar nisso começava a ser um incomodo, ele não poderia se ocupar com o que Naruto fazia em sua vida pessoal.
— Você não tem compromisso essa hora?
— Não, foi cancelado o teste que eu ia fazer e acabei indo para a academia. Mas está tudo fechado porque teve vazamento de gás. Enfim, eu estou em um café fazendo hora. Posso chegar em Bakuromachi daqui uns vinte seis minutos se eu pegar o metrô agora.
— Eu... — Sasuke olhou novamente para Tamaki e suspirou. Já estava atrasado e ainda levava a filha para o trabalho, seu chefe era um homem paciente, mas Sasuke não queria testar os limites de sua paciência, não agora que ele começava a corrigir os erros do projeto que estava trabalhando. — Tamaki, você gostaria de se encontrar com o tio Naruto? — Ele perguntou e a resposta foi definitiva.
— Eu ouvi isso. — Naruto riu. — Já estou indo para a estação.
Sasuke concordou e enviou o endereço por mensagem para ele, por precaução. O carro estacionou em frente ao escritório de arquitetura as oito e cinquenta. Shikamaru já havia enviado uma mensagem para Sasuke, o tranquilizando e dizendo que a reunião iniciaria as nove horas, porque houve uma queda de energia e o gerador não deu conta de manter todo o escritório em produtividade.
Sasuke estava um pouco mais aliviado, mesmo assim, ele ainda precisava esperar Naruto. Faltava cinco minutos para o início da reunião, quando ele despontou na esquina, e caminhou apressado até a calçada onde estavam Sasuke e Tamaki.
— Eu vim correndo da estação até aqui. — Naruto disse, e abaixou-se para falar com Tamaki diretamente em seus olhos. — Você parece que cresceu desde a última vez que eu te vi.
Tamaki riu e virou-se para o pai, perguntando se ela estava mesmo maior. Sasuke concordou e alisou gentilmente os cabelos da menina.
— Tem certeza de que está tudo bem você ficar com ela?
— É claro, Tamaki e eu vamos nos divertir muito, não é?
— Sim! Vamos. — Tamaki soltou a mão de Sasuke e correu para segurar a mão de Naruto. Ela acenou para o pai, dizendo que ele precisava trabalhar.
E era verdade. Sasuke teria menos de dois minutos para subir até o andar do escritório. Mesmo assim, ele fez algumas recomendações rápidas para Naruto e combinou de se encontrarem ali ao meio dia.
Apesar de se sentir um pouco constrangido em fazer Naruto ficar com a filha, ele também sentia um pouco de alívio. Subiu as escadas apressadamente e andou até sua mesa para pegar o projeto. Quando entrou na sala de reuniões, todos estavam sentados, conversando e bebendo café.
— Achei que Tamaki viria com você. — Shikamaru perguntou e Sasuke moveu a mão, dizendo que conseguiu uma pessoa para ficar com ela até a hora do almoço. Só então ele sentiu o corpo enrijecer e recordar-se de que Naruto e Shikamaru poderiam se encontrar. E a mera ideia de Shikamaru suspeitar que ele havia contratado Naruto, o deixou um pouco nervoso. Afinal, ele era o único que sabia do trabalho de Naruto.
Durante o almoço que teve na terça-feira, com Neji, Temari e Tenten, ainda conseguiu se sentir um pouco mais confiante porque nenhum deles tinha conhecimento do trabalho de aluguel que o Uzumaki prestava. Diferentemente de Shikamaru, que, segundo Naruto, até o ajudava em suas histórias.
Sasuke precisou de um tempo para respirar e colocar as ideias no lugar. Ele precisava entrar naquela reunião concentrado. Assim que todos estavam quietos e olhando para ele, o coração de Sasuke se tranquilizou. O seu trabalho era algo especial, que o tirava de qualquer situação complicada. Quando trabalhava, sabia que tinha tudo sob controle e essa sensação que ele buscava sempre em sua vida pessoal.
O que era muito mais complicado e problemático, porque ele não tinha controle sobre as ações das outras pessoas.
Mas, enquanto as pessoas o olhavam com interesse, Sasuke se sentia no jogo novamente, colocando suas habilidades e demonstrando que cada palavra que saia de sua boca não era mero enfeite. Ele explicou a todos como o projeto precisou ser modificado devido ao problema com a entrega de materiais e o resultado disso. Passou as fotografias do antes e depois e, assim que terminou, esperou que fizessem as críticas.
Sentado em sua frente, estava Senju Tobirama, irmão e sócio de Hashirama. Seu olhar severo causava um pouco de nervosismo em Sasuke, que sabia de suas exigências muito acima das expectativas de qualquer pessoa.
O homem inclinou a cadeira mais para trás por conta de seu peso. Sua expressão ainda era severa e fechada, não dava para fazer nenhuma leitura. Quem falou primeiro foi Shikamaru, que analisou a tabela de gastos, que estava abaixo da média, se comparando a outros projetos mais recentes do escritório.
— Está claro que você pensou em todos os detalhes, eu poderia mexer em algumas coisas, mas somente por estética e gosto pessoal. — Hashirama comentou, virando-se animado para o irmão. — O que pensa sobre o assunto, Tobirama?
— Eu fiquei surpreso que você soube reconhecer seus erros e trabalhou bem para contornar a situação. — Tobirama se mexeu na cadeira e ajeitou o paletó, olhando para as plantas do projeto sobre a mesa. Ele bateu os dedos na madeira algumas vezes e então voltou a olhar para Sasuke. — Você reutilizou muitos materiais bons, e eu gostei dos balcões feitos com madeira de demolição, junto com o cimento sustentável, você deu uma nova cara para o ambiente. E mesmo assim o manteve dentro da estética que o cliente queria.
— Obrigado, senhor, eu sempre procuro trabalhar com aquilo que acredito. A construção civil é um dos setores que mais causa impactos no meio ambiente, e eu acho importante meus valores estarem não apenas no meu discurso e modo de vida, mas no meu trabalho também.
— E é por isso que nós decidimos algo importante. — Hashirama parecia mais excitado do que o normal, esfregando as mãos com o álcool em gel, e pedindo para Shikamaru dar a boa notícia.
Shikamaru retirou os óculos de leitura e suspirou, ele possuía algumas olheiras e uma expressão cansada, o que fez Sasuke se recordar de Temari falando sobre como o ex-marido vinha trabalhando tanto e mal conseguia tempo para ver a filha. Sasuke ficou acanhado por ter sido um dos motivos de Shikamaru não ter descanso, mas ele estava bem concentrado em não cometer mais nenhum erro desde aquele dia em diante.
— Nós inscrevemos o seu projeto no Osaka House & Co. — Ele disse, esfregando os olhos com a ponta dos dedos. — O tema desse ano é sustentabilidade, e de todos os projetos que estamos trabalhando, o seu se destacou mais. Não apenas pelo empenho, mas criatividade e, como Tobirama disse, os materiais.
Sasuke sentiu o peito encher de alegria, e também de nervosismo. Aquele era o evento que Neji o indicou alguns dias atrás, mas Sasuke não esperava que fosse conseguir inaugurar a obra antes do evento.
— As inscrições iam até ontem, por isso eu decidi fazer essa reunião. — Hashirama não escondia sua animação diante da notícia. — Eu sabia que meu irmão iria concordar comigo, Shikamaru disse que era melhor falar com você antes, mas também acho que você não vai se opor a isso. Fiz mal?
Sasuke balançou a cabeça, mal conseguia juntar as palavras para responder.
— Eu estou surpreso, e muito honrado pela indicação. — Ele conseguiu falar, sabia que era importante ter um nome de peso como o de Hashirama Senju em sua inscrição, estar naquele escritório era como ter os holofotes mundiais voltados para si.
— Temos alguns escritórios concorrentes participando, incluindo o de Orochimaru. — Tobirama ressaltou e voltou a olhar para Sasuke. — Você trabalhou com ele, não é?
— Sim, quando me mudei para Osaka, iniciei no escritório dele.
Tobirama voltou a bater os dedos sobre a mesa, um semblante taciturno parecia acompanhá-lo.
— Pelo jeito ele desperdiçou seu talento durante esse tempo. — O Senju olhou para o irmão. — Ele se acha muito esperto, mas não dá valor aos colaboradores.
— Mais um motivo para eu ficar feliz. — Hashirama se levantou, os cabelos longos dele moveram com graça em suas costas, quando esse virou-se para pegar o casaco pendurado na cadeira. — Vamos até a obra, quero ver tudo pessoalmente.
Sasuke concordou, olhando o relógio, eram dez da manhã. Ainda faltava duas horas para se encontrar com Naruto. Era possível que desse tempo, caso contrário, ele teria que pedir para Naruto levar Tamaki até a obra. Não poderia deixar Hashirama na mão, e agora Tobirama também se mostrava animado para ver a obra pessoalmente.
— Vou ficar no escritório. — Shikamaru comentou, sem se mover da cadeira, espreguiçando-se. — Ah! Sasuke...
— Sim? — Sasuke virou-se, assim que os irmãos Senju deixaram a sala de reuniões conversando sobre as novidades.
Shikamaru deu um leve suspiro e ele apoiou a mão no queixo.
— Minha ex-mulher me falou que encontrou você na escola da nossa filha. — Shikamaru comentou, enquanto arrumava seu material na mesa. — Saki gostou muito de brincar com a Tamaki, e ela queria convidá-la para uma festa do chá, ou algo do tipo.
Shikamaru pegou o celular, pedindo desculpas por ter que atender a ligação.
Sasuke moveu a cabeça, também olhou no próprio celular e viu uma fotografia de Naruto e Tamaki que ele havia enviado por mensagem. Sasuke deu um leve sorriso, mas logo em seguida voltou a conversar com Shikamaru. Ele também pensou que o colega de trabalho fosse falar sobre Naruto, mas aparentemente era apenas sobre a festa que Saki iria realizar.
Sasuke concordou e prometeu enviar uma confirmação, anotando o telefone de Temari, para que pudesse entrar em contato com ela, já que Shikamaru não estaria presente na festa da filha.
— Está tudo bem? Precisa de alguma ajuda? — Sasuke virou-se novamente, antes de deixar a sala e acompanhar Hashirama até a obra. Shikamaru o olhou, com uma semblante cansado, mas ele deu um leve sorriso.
— Sem problemas, eu dou conta. — Foi a única coisa que ele disse, depois Sasuke voltou ao trabalho.
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