Okay.
Vocês devem achar que eu sou o errado. E tudo bem, não julgo vocês.
Mas vocês podiam tentar entender meu lado. A vida toda eu fui programado pela minha família a ser quem sou,não mostrar sentimentos,não dar motivos. Tudo o que eu vivi desde o dia que nasci foi uma mentira,uma vida criada pelos meus pais que mudava conforme a cidade que passaríamos a morar no ano seguinte. É, eu sou um ladrão. Eu venho de uma família de ladrões e, –modéstia à parte –,uma ótima família de ladrões. Não que eu me orgulhe disso.
Eu tenho vinte e cinco anos da vida mais fudida da Inglaterra. No começo eu pensava gostar, afinal era só isso que eu conhecia desde que me conheço,mas ficava mais difícil ao passar dos anos. Minha mãe morreu, então restou eu e meu pai. Uns anos atrás ele foi pego tentando roubar um banco no Soho, e desde então está preso. Restou a mim para administrar os negócios da família e,como eu nunca conheci nada que não fosse esse mindo,eu continuei, porque apesar de tudo, não queria decepcionar meus pais,que mesmo não sendo um trabalho nada honesto,me deram tudo que sempre precisei desde pequeno.
Meus avós começaram isso,meus pais os seguiram,e agora eu vou pelo mesmo caminho,como um bom filho deve ser,não?
Gostaria que a resposta fosse essa. Mas eu me perdi a muito tempo tentando fazer a coisa certa.
Quanto eu entrei naquele supermercado,eu já conhecia todos que estariam lá dentro naquele dia. A senhora Jude, dona do estabelecimento, uma senhora muito simpática mais muito amargurada pela vida,o senhor Mark,que traía a mulher todas as quintas feiras em sua sala de aula com uma de suas alunas a procura de nota,e todas as outras onze pessoas que estavam lá mas que perderam importância no momento em que eu o vi. Eu não sabia quem era,o que estava procurando ou se ele realmente gostava de caras. Só o queria pra mim. Porque não fazia sentido viver num mundo onde aqueles olhos verdes não estavam ao meu lado.
Novamente,eu não me orgulho do que fiz. Eu não me orgulho de nada o que eu faço. Mas tanto faz. Quem realmente gosta da vida que leva? Enfim.
Pode-se dizer que foi amor à primeira vista,porque talvez tenha sido mesmo. Eu só não iria conseguir descansar não tendo ele comigo e mais ninguém. Talvez seja obsessivo. Chame do que quiser, eu tenho ele em casa agora,é o que importa pra mim.
Estava no sofá perdido em meus pensamentos quando sinto uma respiração atrás de mim:
—Onde eu coloco a toalha?
Sempre com seus olhos gentis e medrosos. Eu não vou te atacar,coração. Só quando você pedir.
—Eu não me lembro de ter deixado você sair do quarto.
—Não foi isso que eu perguntei, Malfoy.
Engraçadinho.
—Sério que vai falar comigo nesse tom agora,cicatriz? Que feio falar assim com seu próprio namorado. Assim vou ter que te castigar mais rápido do que eu pensava.
—Que bom que você falou nesse assunto. Eu não sou seu namorado,seu maníaco! Você precisa seriamente de um terapeuta, ser internado em um manicômio! É sério,cara. Que pessoa normal faz isso com outro ser humano? Tenha piedade,porra. Me deixa ir,prometo que ninguém nunca saberá que estive aqui.
Sei que no fundo você tá certo,mas tudo o que queria era você de joelhos me chupando agora,coração.
—Mesmo que eu te deixasse ir embora,não iria ter como você ir,coração. Estamos muito longe de casa agora. Muito longe. Pode me dar a toalha aqui, eu lavo pra você. – Disse pegando a toalha da mão dele e me encaminhando para a lavanderia.–
—Eu vou ficar aqui pra sempre, não vou?
Sim,baby. Pra sempre ao meu lado. Sem mais ninguém.
—Eu não queria que as coisas fossem dessa maneira,acredite. Eu queria te conhecer, me apresentar, te chamar pra sair e depois de dar o melhor beijo da sua vida quando te levasse até em casa. Mas não vivemos num mundo perfeito, baby. Nada nunca é como queremos. Quanto antes aprender isso,melhor você vai seguir em frente com sua vida. Escute seu namorado.
Não me olhe assim tão friamente, querido. Acho que posso morrer se não receber o seu amor.
—Talvez você esteja certo. Mas isso nunca teria acontecido comigo se não fosse por sua causa, merda. Você me sequestrou, você que roubou o mercado,você que me tirou tudo o que eu tinha,você! Quantos antes aprender isso, melhor pra você.
Não me imite dessa forma,como posso viver seu o seu amor?
Vejo ele se encaminhado novamente para as escadas em direção a seu quarto, o sigo rapidamente antes que ele se tranque sozinho e nunca mais me deixe entrar. Tudo bem que eu tenho uma chave reserva,mas eu nunca faria nada sem sua autorização. Okay,eu vejo como isso soa hipócrita.
O alcanço antes de ele bater a porta com tudo na minha cara, o vendo se assustar quando o prenso contra a parede do lado de dentro.
Gostaria que isso fosse em outras circunstâncias.
—O quê você tá fazendo,seu brutamontes? Me solta!
Como ele pode ser mais lindo ainda me xingando? Não vejo a hora de você me pedir para estar dentro de você, baby.
—Brutamontes,jura? Não tinha mais nenhum xingamento apartir desse século não? É até fofo ver você se esforçar pra se soltar,querido. Quero ver tentar. Já parou pra pensar que talvez você não consiga porque na verdade não quer?
Isso,arregale os olhos pra mim,amor. Mostre que se importa.
—Eu não quero nada disso,meu Deus! Alguém já disse o quanto você é louco? Você precisa de um tratamento bem rápido. Eu nunca acreditaria nesse seu papo sobre estar gostando de mim mesmo,que loucura! Quem você acha que eu sou? Fã do Ted Bundy? Me solta, porra!
Nesse momento ele me empurrou com tudo para trás me fazendo bater na outra parede a sua frente. Porra,até sendo agressivo ele é sexy. Se ele pedisse eu o deixaria me comer. Eu faria qualquer coisa que ele pedisse. Exceto deixá-lo ir embora,óbvio.
—Tão estressadinho. Tá começando a mostrar as garras,é amor? Que fofo,parece um coelhinho com raiva. Será que você transa feito um coelho também? Vou adorar descobrir,afinal temos muito tempo.
—Para com esses apelidos! Pare de agir como se fossemos um casal e estivéssemos tendo uma discussão boba! Nunca seremos um casal, sacou? Eu já tenho uma namorada me esperando em casa, eu já tenho uma casa! Não preciso de você,só quero ir embora. Por favor, quanto mais vezes eu tenho que implorar pra você, hum?
Droga,como eu gosto dele falando sobre implorar, como eu queria ver ele implorar pelo meu pau em sua garganta. Espero que não demore muito,não vou aguentar por muito tempo essa boquinha longe de mim.
Merda.
—Você pode ficar implorando o quanto quiser,na verdade eu até gosto. Se quiser se ajoelhar e rezar também,não vou impedir. Eu vou amar observar. Amar. Mas enquanto você não estiver disposto a me ter em sua boca,não vai conseguir nada falando desse jeito comigo. Até.
Droga. Eu sei que não deveria falar isso. Agora ele vai achar que eu o sequestrei como escravo sexual. Mas eu nunca faria isso. Eu quero me casar com ele,ter filhos com ele,porra. Eu quero contar da minha vida pra ele,uma coisa que eu nunca fiz antes. Ele ainda não entendeu? Merda. Se o único jeito de fazer ele calar a boca e Me escutar, é ele com a boca cheia,então é isso que vai acontecer.
Não me entenda mal, não é como se eu não quisesse fuder ele vinte e quatro horas por dia, mas eu gostaria de realmente o levar para jantar,–na cozinha,por enquanto–, o dar um beijo de boa noite e o deixar com vontade de me ver de novo. Mas eu me precipitei em tudo,e agora ele deve estar achando que me deixando fodê-lo,ele vai poder ir embora. Coisa que nunca irá acontecer, claro. Perdão.
—Espera!
Droga. O que ele vai dizer?
Olhei pra ele debaixo,já que estava no último degrau da escada e ele estava na porta de seu–por enquanto– quarto.
—Diga, cicatriz.
—Eu não sei o que quer de mim. Pelo amor,eu já disse tantas vezes. — Mas eu topo. Eu faço qualquer coisa para voltar pra minha casa, minha namorada, meus amigos, enfim. Tolinho. Quero minha vida de volta, então faço qualquer coisa. Sério. Por que, depois você vai me deixar ir,não é?
Suas palavras me magoam,amor. Você ainda não entendeu,né querido? Eu sou sua família agora,seu namorado,seu amigo, amante. Seu lar. Você vai entender um dia. Mas pra isso é preciso mentir um pouco primeiro.
—Claro que sim. Se você fizer o que eu quero, logo mais estará em casa novamente,baby. Confie em mim. Eu nunca mentiria pra você. Nunca.
Sinto muito, meu amor. Espero que um dia me perdoe por isso. Espero também que um dia não queira mais ir embora. Não quero você longe de mim nunca mais,amor.
Nunca mais.
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