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História Prometeo - Twenty five


Escrita por: baemanvanlis

Capítulo 26 - Twenty five


-Vô-você tem uma noiva? – Ergui uma sobrancelha, confusa com a pergunta.

-Tenho, Bárbara. Juliana. – Respondi simplesmente, sorrindo para ela.

-Mas você me beijou.

-Claro, você é minha noiva.

 

BÁRBARA/JULIANA

 

Encarei as pessoas na sala me perguntando se as palavras de Macarena eram algum tipo de brincadeira sem graça, já que absolutamente ninguém estava rindo. Todos me encaravam de volta, com uma expectativa que eu simplesmente não conseguia entender. Eu deveria responder a altura?

            Parei para observar direito o salão e finalmente percebi a falta dos convidados. Quanto tempo havia passado? Não imaginei que uma festa tão grande pudesse acabar tão rápido.

-É algum tipo de pegadinha? – Macarena me analisava com aqueles olhos feitos de oceano.

-Será que se eu colocar uma lente violeta ela se lembra? – Um sorrisinho brotou na face da maioria dos presentes e uma gargalhada de Santiago preencheu o silêncio que era apenas interrompido pela música ambiente, que a cada segundo se tornava mais insuportável.

-Me lembro do que? – Minha voz saiu mais agressiva do que eu queria e Maca se encolheu um pouco, uma pontada de dor ferindo seu olhar por pequenos instantes.

-Valentina, você tem cinco dias, está correndo contra o tempo. – Porque o pai de Macarena a chamou de Valentina? As coisas não estavam fazendo sentido, mas senti que era melhor não perguntar, já que estava sendo tratada com... deboche? Ao mesmo tempo pareciam que todos estavam falando tão sério...

-Juliana, por mais soe estranho, gostaria de te fazer um pedido-

-Eu não vou me casar com você. – Interrompi a fala e ela se encolheu novamente, os olhos enchendo de lágrimas. – E pare de me chamar de Juliana!

-Eu-eu... me desculpe. – Ela parecia ter ficado subitamente cansada. – Não ia pedir você em casamento. – Senti minhas bochechas ficarem quentes e sabia que tinha ruborizado.

-Ah – Foi tudo que consegui dizer.

-Queria te pedir para que passasse uma semana comigo. – Franzi a testa. – Vou todos os dias te buscar, vamos passar os próximos cinco dias juntas. Te mostrarei todas as relíquias da minha família, e se você quiser pode me mostrar as da sua também e...

-Val, o que está fazendo? – Eva interrompeu a irmã e quase soltei um suspiro de alívio, aquilo estava ficando muito bizarro.

-Nesses cinco dias vou tentar acordá-la. Quero passar esse tempo com ela, sabe, caso eu não consiga... – Ela quase se engasgou com o pensamento e uma lágrima solitária escorreu em seu rosto, eu nem se quer sabia o que deveria entender com aquilo.

-Eu sinto muito. – Foi tudo que Eva pareceu capaz de dizer.

            Uma tristeza profunda parecia drenar o humor de todos ali. Estava sendo tão encarada que me sentia quase nua sob tantos olhares.

-E então, você aceita passar os próximos dias comigo? Começando amanhã.

            Olhei para Macarena e depois de rosto em rosto. Expectativa banhava o salão, que de repente já não parecia mais tão triste, quase como se estivessem com esperança de algo que eu não sabia o que era. Fiquei sem jeito, não tinha como negar o convite com todos sorrindo para mim e me encorajando a aceitar.

-Eu... eu aceito. – Maca soltou o ar que eu nem sabia que ela estava segurando e subiu as escadas para me dar um abraço apertado, ao qual eu devolvi com a mesma intensidade, sem entender muito bem o que porquê da resposta tão automática. Todos estavam comemorando com ‘vivas!’ e sorrisos.

 

DIA UM

VALENTINA

 

Olhava em aprovação para mim mesma na frente do espelho. A ideia de Santiago de que eu vestisse as mesmas roupas, ou nesse caso, roupas parecidas com as que estava no dia em que Juls me viu pela primeira vez no Palácio, foi excelente.

            Fiz algumas ondas no cabelo com babyliss, para que ficasse parecido com aquele dia e deixei meu rosto completamente livre de maquiagem. A calça preta modelava perfeitamente meu corpo, e a camisa social branca tinha um caimento perfeito com o blazer preto. Eu pensei em colocar as lentes violeta, mas Santi disse que aquilo traria má sorte, já que foi o que nos manteve afastadas por tanto tempo. Mesmo assim, levei as lentes comigo para deixar no porta-luvas do carro, só por precaução.

********

Dirigir até a verdadeira casa de Juliana, sem ser aquele apartamento velho levou apenas quinze minutos. A mansão era gigantesca. O grande jardim era repleto de flores amarelas, laranjas e vermelhas, essa era a minha Princesa detentora dos poderes do fogo! Um chafariz ficava bem no centro do jardim, a água saia vermelha por conta das luzes, uma placa de mármore estava pregada logo na frente com a frase ‘Onde a água e o fogo se encontram’. Meus olhos encheram de lágrimas.

-Foi ideia dela. – A voz familiar da Rainha Lupe encheu meus ouvidos e me virei para ela, sorrindo.

-Lupe! – Abracei a mulher, que não estava acostumada com uma recepção dessas vinda de mim.

-Não imaginei que tinha sentido minha falta, Princesa. – A voz dela saiu mais doce que o habitual, e seu abraço se apertou um pouco mais em mim.

-Senti falta de tudo! E olha que eu nem sabia que havia esquecido das coisas. – Ela sorriu para mim enquanto nos separávamos do abraço.

-A bem da verdade, ainda não sei como Santiago conseguiu nos manter vivas durante quatrocentos anos e eu nem se quer me lembro de ter vivido isso tudo. – Parei para pensar, é verdade, eu também não me lembrava de ter vivido esse tempo todo.

-Acho que justamente por isso os deuses escolheram Santi para esse trabalho, no fim das contas ele sempre foi o que se manteve mais calmo e equilibrado em situações bizarras como essa.

-Acha que vai conseguir acordar minha filha? – A pergunta me pegou de surpresa.

-Espero que sim, não fui feita para viver sem ela. – Lupe sorriu em triste compreensão, provavelmente pensando em Panchito e em quanto tempo os dois tiveram de ficar separados.

-Ela sempre foi muito teimosa...

-Nem me fale! Essa cabeça dura é a única que ainda não acordou! Tenho certeza que ela vai deixar para acordar nos últimos momentos do último dia, para dar mais um belo show no gran finale.

-Isso é a cara dela!

-O que é a cara de quem? – A voz de Juliana encheu meus ouvidos e não pude evitar de sorrir, ah deuses, como eu a amava, como sentia sua falta.

-Juls! – Não consegui me segurar e a abracei, tascando um beijo em sua bochecha. Ela corou e se afastou um pouco de mim.

-Bárbara. Meu nome é Bárbara. – Quase revirei os olhos. – E porque você parece ter mudado de personalidade depois de ontem? Antes era toda misteriosa e ficava em silêncio o tempo todo, me provocou uma ou duas vezes, e agora fica querendo me abraçar e me olha... me olha desse jeito como se pudesse... me ler.

            Olhei para Lupe em busca de ajuda e ela apenas deu de ombros, com uma cara de “É o amor da sua vida, eu já carreguei no ventre e criei, se vire” e depois saiu dali, caminhando em direção a entrada da mansão. Isso era a cara da Rainha, quase dei risada ao lembrar do quanto não gostava dela antes, mas agora era impossível não sentir que ela era minha família e que eu... a amava como uma segunda mãe.

-Antes eu estava fingindo. – Respondi à pergunta de Juls.

-Fingindo?

-Claro, não podia arriscar que descobrisse quem eu era, não queria que soubesse que sou famosa. – Ela ergueu as sobrancelhas, não acreditando nem um pouco em mim, mas aparentemente decidiu que seria melhor se deixasse o assunto de lado.

            Juliana finalmente parou para me analisar, descendo o olhar sob meu corpo e depois subindo novamente. A mordida que deu no lábio inferior não passou despercebida por mim, que não consegui evitar o sorriso sacana para o ato.

-Apreciando a vista? – A pergunta me escapou antes mesmo que eu considerasse seu peso.

-Tem como não apreciar? – A resposta me pegou desprevenida e tenho certeza que minhas bochechas pegaram fogo. Era bom saber que mesmo sem lembrar de quem eu era, Juliana ainda me desejava. – Para onde vamos hoje? – Engoli em seco, tentando me recompor.

-Para a galeria de arte da minha família.

-Sua família tem uma galeria de arte?

-É particular, não aberta ao público.

**********

Chegamos na galeria ao meio dia e decidi que seria melhor se almoçássemos antes de ver qualquer coisa. Levei Juls até o pequeno restaurante que tínhamos instalado bem no centro do casarão e escolhi a mesa perto da janela.

-Você tem um restaurante dentro de uma galeria que sua família nem se quer visita diariamente e que não é aberta ao público?

-Não se preocupe, eu pedi para que o chefe estivesse presente hoje. – Disse e pisquei para ela, que revirou os olhos.

            A comida não demorou a chegar. Comemos em silêncio, apenas apreciando a vista da janela e sentindo o sabor do alimento que estava tão bom, mas que obviamente não chegava aos pés da comida de Feyter.

            Enquanto comíamos, eu não conseguia disfarçar olhares para ela. Juliana era facilmente a mulher mais linda que já havia habitado nesse mundo e no nosso mundo. Lembrei com uma pontada de dor da voz de Santiago dizendo “– E olha, mesmo com essa maçã do rosto quebrada e a carinha inchada desse lado, você continua a mulher mais linda do reino. – Ergui uma sobrancelha. – Ah sim, depois de Juliana, claro, esqueci que ela sim era a mulher mais linda do reino. – Mantive a sobrancelha erguida. – Ah claro, claro, a mulher mais linda do universo todo.” Senti vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo, foi naquela noite que tudo aconteceu. Meu irmão morreu. Eu fui machucada de formas horrendas. Lucía foi atingida por uma bomba. Juliana morreu. Quase morreu.

-No que está pensando? Parece estar triste. – A voz de Juls acariciava meus ouvidos.

-Estou triste, de fato. – Ela franziu a testa, parecendo preocupada.

-Não sou uma boa companhia? Se estiver te fazendo mal de alguma forma, vou embora. – Sorri suave para ela, aí estava o amor da minha vida, sempre preocupada demais comigo.

-Não é você Jul- Bárbara. Não se preocupe. – Ela continuou me encarando por alguns segundos, me analisando. Tentei agir normalmente e voltar a comer, ela fez o mesmo.

            Assim que terminamos, pedi para que recolhessem os pratos e servissem uma taça de vinho para cada uma. Nos serviram e eu peguei a taça em uma mão e puxei Juls com a outra, pronta para explorar cada cômodo da casa com ela.

            Depois de uma hora mostrando todos os objetos de nossa coleção – alguns vindos de Feyter e preservados aqui por Santiago – Juliana me fez parar um pouco.

-Isso não é uma galeria. É um museu. – Ela apontou tudo ao redor.

-É uma galeria.

-Macarena, você sabe que é um museu. – Revirei os olhos, teimosa.

-Okay, um museu, satisfeita? – Ela sorriu cheia de razão e continuou andando.

            Entramos no cômodo em que Santiago guardava alguns armamentos e armaduras, objetos de guerra em geral. Lá estava, bem no fundo da sala, a imponente armadura vermelho sangue de Juliana, desde a gola, até o escarpe, o espaldar e a manopla, completamente vermelha, mortal e imponente. Do lado, a espada de cabo vermelho, pomo prata com um rubi no meio e lâmina prata. Incendiária. A espada dela.

            Juliana olhou com familiaridade para os objetos e pude jurar que ela havia se lembrado. Seus olhos não se desgrudavam da armadura e da espada e tive certeza que algo na mente dela se revirava e lutava para se libertar. Lembre-se, por favor, lembre-se de quem você é, lembre que me ama. Minha mente gritava e minhas esperanças aumentaram conforme ela caminhava em direção aos objetos, parando bem em frente e erguendo a mão para tocá-los.

-Por favor, me diga que reconhece. – Supliquei, com vontade de chorar feito criança.

-É claro que reconheço.

-Você... você se lembra? – Lágrimas encheram meus olhos, mas um sorriso começava a brotar em meus lábios.

-Óbvio! É a armadura e a espada que a Princesa Juliana usou na batalha! Era isso que ela estava usando quando morreu. – Foi como levar um soco no estômago, é claro, ela reconhecia por causa do maldito livro.

-Ah... claro.

-O que tem aqui? – Ela apontou para um armário que ficava fechado, pois não era agradável de se olhar. – Posso abrir? – Antes que eu respondesse, ela já tinha aberto e olhava fissurada para o que tinha lá dentro. A adaga que Guillermo havia enterrado em seu pescoço.

Primeiro, ela começou a chorar, inconsolável e desesperadamente. Depois, colocou a mão no pescoço, e começou a tossir e a se esforçar para conseguir respirar, como se estivesse de fato sufocando. Juliana não tirava os olhos da adaga. Corri para fechar a porta do armário, e assim que o contato visual acabou, ela caiu no chão.

Me apressei para me sentar no chão e colocar a cabeça de Juls apoiada em meu colo, ela ainda chorava baixinho e sentia tremores percorrerem seu corpo.

-Foi horrível. – Senti que era Juliana falando comigo, sem nenhum resquício de Bárbara.

-Doeu? – Dei um beijo em sua testa e sequei suas lágrimas.

-Doeu menos fisicamente do que psicologicamente, quando Guillermo enterrou a faca em meu pescoço, o que mais senti foi sua falta. Eu sabia que jamais te veria novamente e aquilo doeu, doeu mais do que qualquer coisa. – Comecei a chorar junto com ela, a luz em seus olhos era a luz de Juls.

-Você se lembrou! – Falei feliz, mas um instante depois, aquela luz em seu olhar se apagou, e eu entendi que aquele pequeno momento de lucidez havia passado e ela voltara a sonhar.

-Me lembrei do que? – Puxei o ar e soltei, cansada. – E o que estamos fazendo no chão?

-Não estou me sentindo bem, se importa se voltarmos para casa?

-Hum... não. – Ela olhou confusa para mim enquanto eu me levantava e dava a mão para que ela se levantasse também. – Ainda vamos sair amanhã?

-Amanhã vamos passar o dia no seu quarto.

-Hein? – O olhar dela e o sorriso safado revelaram o que se passou em sua mente.

-Não desse jeito, pervertida.

-Ouch!

-Ou quem sabe... – Deixei a frase se terminar em nada e pisquei para ela, puxando sua mão para voltarmos para o carro. Mesmo com a pequena brincadeira, eu ainda me sentia arrasada e completamente apta para chorar durante o resto do dia.

Eu precisava acorda-la. Precisava do amor da minha vida.

Eu não podia perder Juliana, outra vez não.

Sentia como se estivesse sendo engolida por um pesadelo.

Me restavam apenas quatro dias agora. 


Notas Finais


Obrigada a todas que estão acompanhando! Fico muito feliz com a resposta positiva de vocês <3


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