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História Provar, Comer e Casar - Happy Hour


Escrita por: Pan_Alban

Capítulo 25 - Happy Hour


— … então ele apareceu na minha sala com um botão de rosa e fez uma reverência, Ino! Uma reverência! E disse assim: “É com extrema apreciação que recebi a notícia de que você estava envolvida com o nascimento de meu sobrinho. Receba esta rosa como sinal de…”  não lembro a palavra, mas ele me estendeu a rosa e eu fiquei meio sem saber onde colocar a flor. Eu nunca recebi uma flor que não fosse daquele menininho na época da residência.

— E aí?

— E aí que travei, né? Fiquei gaguejando igual uma pateta e falei pra ele se sentar, mas só tinha as cadeiras infantis porque as adultas estavam na limpeza. Tudo errado, Ino. Tudo errado. — Tenten passou a mão pela testa suada — Ele perguntou a hora que eu saia e está me esperando lá fora. Faz 36 horas que não durmo de verdade, que não tomo um banho com meu sabonete líquido e que não vi uma cera quente. Eu sou uma azarada da porra, Ino.

— E por isso quer que eu leve um vestido, gilete e um perfume para você na surdina? Tenten, eu não posso sair agora, estou fotografando, criatura! Temari não pode ajudar?

— Ela não me atende. — desceu deslizando as costas de modo dramático, como se Ino pudesse vê-la.

— Olha, meu amor, eu sinto muito, mas não consigo mesmo sair daqui. Eu nem deveria estar falando ao telefone.

— Inoooo…

— Onde está sua bolsa? Eu falei para deixar um hidratante nela!

— Está no… — Tenten se interrompeu e sorriu sem graça para o nada. — Pode deixar que me viro. Obrigada, Ino!

Desligou o telefone, se levantou rápida e saiu do banheiro como se nada tivesse acontecido. Olhou para os dois corredores e seguiu para as portas do fundo cheirando o próprio braço para sentir aquele cheiro de sabonete de hospital. Deu de ombros esperando que o hidratante resolvesse.

Havia deixado a bolsa no carro, o que não era algo raro dela fazer. Estava tão desnorteada com a chegada e o convite repentino de Neji que o desespero era sua parceira durante toda a última meia hora que tinha antes de dar seu horário.

Apertou a rosa contra o peito e se despediu das últimas pessoas que acabavam de entrar no turno da noite.

Chegou ao estacionamento e o viu se desencostar do carro em sua camisa bem alinhada e seu cabelo bem penteado para trás.Ele fazer menção de se aproximar, mas ela ergueu uma mão desesperada pedindo silenciosamente que ele não o fizesse. A primeira coisa que fez ao entrar no carro foi bater a cabeça no volante até a testa ficar vermelha e repetir a cada pancada um “Idiota, idiota”. Era bem fácil ser aquela garota doida pelas redes sociais, atrás de um aparelho de celular e de uma televisão para proteger ela da vergonha, mas agora que a coisa era real…

Passou o creme pelos braços, pescoço, barriga, dentro do sutiã (quase chorou ao ver que usava um bege), passou o batom rosado na boca e esfumou um pouco do mesmo pela bochecha em falta de um blush. Teria que pegar a mania de Ino em levar tudo o que pudesse dentro da bolsa, agora ela entendia essas emergências que Ino tanto falava. Jogou o jaleco para o banco de trás e olhou se a camisa poderia ser transparente se usasse sem sutiã. Apontou o dedo no queixo pensando que transparência seria uma boa ideia para ele não prestar atenção na falta de jeito dela… Não, não, não! Balançou a cabeça e desfez os coques que usava para entreter as crianças, bagunçou os fios gostando pelo menos das ondas que fizeram com o penteado bobo.

— Força, Tenten. Respira fundo. Dessa vez vai dar tudo certo. Isso! — Deu partida no carro e o viu acender os faróis do próprio e sair do estacionamento com calma, ela só agradecia o carro ser automático porque já não tinha mais certeza se acertaria as marchas até chegar onde ele queria.

Ele a levou até um bistrô tipicamente francês, diferente do último encontro - fracassado - que foi no próprio restaurante dele. Tenten puxou os peitos para cima e bagunçou a franja curta antes de sair do carro e sorrir sem jeito ao olhar plácido e demorado dele a esperando.

— Não é de bom tom expressar os meus pensamentos neste momento, — ele disse estendendo o braço para que ela entrasse na frente — mas você está linda.

— Nem fiz nad… obrigada. — Tenten riu sem jeito e passou rapidinho para dentro do lugar.

Haviam pouquíssimas pessoas e nenhuma delas parou o que estava fazendo para olhar para eles, era um ponto positivo, pois a atenção que receberam no restaurante dele era um pouco intimidante. O cheiro era doce e bom, o ambiente era caloroso e trazia um sentimento de estar mesmo na França. Talvez fosse a música suave no fundo, o sotaque dos garçons ou a pintura de uma janela dando visão para a Torre Eiffel.

Tenten se sentou na cadeira que Neji puxou para ela e o acompanhou com os olhos se sentar, sem conseguir mover um músculo.

Ela era uma pessoa tímida normalmente, só se soltava no meio de quem ela conhecia ou pelo celular. As amigas costumavam dizer que ela era espontânea e naquele momento ela não sabia dizer se era uma coisa boa ou não, porque não há espontaneidade com tanto nervosismo.

— O bebê está bem? — Perguntou a primeira coisa que veio em sua cabeça.

Neji sorriu um pouco deixando de passar os olhos pelo cardápio e dando atenção para ela. Tenten tremeu.

— Barulhento como o pai e comilão como a mãe. Está muito bem. E você? Como está?

Com sono. Apavorada. Com vontade de fazer xixi.

— Bem.  

Quis se estapear. Estava em um encontro improvisado e perguntava do bebê? Parecia até mesmo que Neji estava mostrando para ela como devia se fazer em uma situação como aquela, perguntando como ela estava e não colocando terceiros para disfarçar o nervosismo. Neji não ficava nervoso, não tinha insegurança o suficiente para sentir tal sentimento terreno, ele era um lorde.

— Posso te perguntar uma coisa que vem me incomodando? — ele se pronunciou depois de um momento constrangedor em silêncio, onde ela havia parado no tempo para pensar qual seria a melhor pergunta a se fazer depois da dele, que no caso seria perguntar de volta como ele estava.

Tenten assentiu passando a mão no cabelo. Medo.

Neji ergueu aqueles olhos extremamente claros na direção de Tenten e a observou por um segundo, apenas um segundo que a fez prender a respiração.

— Por que eu não conheço pessoalmente aquela mesma Tenten que mandava mensagens no programa ao vivo?

Ah, a resposta podia fazê-lo nunca mais olhar na cara dela. Ela tinha certeza. Mas não conseguiria inventar algo decente com aquela pressão em cima dela. Tenten não era capaz de ser tão calculista nessas horas.

— Porque eu não sou como você. — respondeu com um suspiro, relaxou os ombros e fechou o cardápio na mesa. — E talvez, só talvez, eu esteja tentando parecer mais educada, mas eu não sou assim. — sussurrou já pronta para o desdém dele. Ela iria desdenhar se estivesse na pele dele. Mas o viu rir. E Tenten não estava preparada para aquilo.

— Como eu? Está tentando ser uma pessoa sem graça, que não consegue contar piadas e por isso prefere se manter soturno? Eu gosto de pessoas bem humoradas, Tenten. Eu quero ver isso em você.

Tenten não encontraria uma palavra para descrever como se sentiu naquele momento. Rir não era a reação que ela esperava, mas certamente o ouvir dizer algo tão sincero e transparente estava longe de qualquer sonho, mesmo os impossíveis.

Ela suspirou e esfregou o rosto delicadamente para não estragar a maquiagem pobre que havia feito, era mais como um ato de libertação.

Como se sentia tolo diante daquilo, daquele homem que de repente se tornava tão humano na sua frente, as faces meio rosadas e os olhos sinceros e cansados.

O que ela ganharia não sendo honesta? Nada quando se sentia tão desconfortável e com ele pedia para que ela fosse do jeito que era. Era tímida com desconhecidos, mas podia colocar Neji em uma outra categoria, pois já o observava há bastante tempo pela TV e já saíra com ele outra vez.

— Own, Neji — ela riu colocando os dois cotovelos na mesa e apoiando as bochechas nas mãos, os olhos castanhos brilhando divertidos na direção dele — Você não deveria ter dito algo assim, poucas pessoas conseguem segurar meus impulsos.

— Não serei esse estraga prazeres — ele riu um pouco e Tenten gostou daquele som — Preciso de um pouco de aventura.

— Eu sou uma montanha-russa. Em algum momento vou ser boazinha, mas agora eu só quero te morder.

Neji não soube que reação ter naquele momento, ficou sem graça e engasgou sem conseguir dizer nada, então Tenten riu. Um riso um pouco alto que foi interrompido pela mão grande fechando sobre a dela por cima da mesa.

— Fale mais sobre as coisas que você tem vontade. Atenderei seus pedidos essa noite, madame.  

Tenten sorriu de um modo diferente desta vez, surpresa e com uma felicidade interna que quase explodia por seu peito. Então, com o alvará de Neji, desatou a falar coisas que ela jamais pensou que diria na cara dele, mas que certamente tentaria fazer com aquele homem.

 

 

O clima estava denso e quente no estúdio naquela quinta-feira. Sakura nem havia se trocado ainda e já sentia aquela atmosfera estranha, como se todo mundo estivesse andando na corda bamba e com medo de estarem sendo seguidos, sempre olhando para os lados e conversando em voz baixa. Ela não poderia estar mais satisfeita.

Entrou em seu camarim louca para ver a cara de Kakashi, saber como Naruto se comportaria na frente do diretor e diante do público.

Sasuke havia conversado pouco com ela pessoalmente sobre o que havia acontecido por sempre ter gente na cozinha e eles não quererem que as fofocas saíssem de lá, mas por telefone ele havia falado sobre a vontade de Naruto em desistir do programa quando acabasse a temporada. Sasuke não queria que ele fizesse aquilo, o programa, além do restaurante, era a vida de Naruto, o sonho dele desde que acertaram que seriam chefs de cozinha quando crescessem. Ela sentia, mesmo que Sasuke não dissesse, o quão triste era ver Naruto desistindo de um sonho por culpa de outro.

Naruto havia feito vídeos no Stories do Instagram se explicando depois da confusão ao vivo, não havia sido cordial com o programa, muito pelo contrário.

— Estou profundamente chateado por terem feito do meu desespero um novo reality. Muito decepcionado. Era o meu filho que estava nascendo e por pouco não perco esse acontecimento que há tempos minha esposa e eu aguardamos com ansiedade. Nunca fugi com meus deveres, errado esperar que buscasse meus direitos?”

E acrescentou em outro vídeo com o rosto abatido e um sorriso pequeno demais para o apresentador sempre alegre e vibrante.

— Eu só espero que me respeitem.”

Aquela mensagem poderia ser para qualquer um. Para a mídia, para as pessoas, para a emissora… Sakura se lembrava de como seu peito apertou o vendo tendo que dar satisfação ao seu público, Sasuke certamente não teria feito o mesmo e era aquilo que diferenciava os dois. Naruto estava sendo atacado na mídia antes desse vídeo, mas depois o próprio público se colocou ao lado dele e começou a criticar os meios de comunicação e seu sensacionalismo. Naruto era um homem amado pelas pessoas e fez por merecer estar onde estava.

Logo veio a primeira foto do recém nascido nos braços dos pais sorridentes, um menininho todo vermelho ainda, com um penucho loiro no topo da cabeça e as mãozinhas apertadas fora do manto laranja.

Naruto não poderia desistir do programa. Sakura faria de tudo para não deixar.

Vestiu a dólmã especial do programa sentindo uma agitação de semifinal que estava ignorando até aquela hora. Somente mais aquele programa e semana que vem já seria a final.

Particularmente, ela não via como o prêmio em troféu poderia ajudar ela, talvez fosse mais benéfico para Konohamaru, mas havia um espírito competitivo latente dentro dela. Queria o troféu em sua estante da sala para mostrar para qualquer um que entrasse o seu mérito como uma cozinheira amadora. Mas na verdade, seria um lembrete para si mesma de que ela era capaz de fazer qualquer coisa, muito mais que saber cozinhar - algo que ela sempre acreditara ser impossível -, um lembrete que ela podia escolher seu próprio caminho. E que o tesouro pode mesmo estar no fim do arco-íris se ela abrir os olhos e não tiver medo de tentar.

— Doutora Haruno, dois minutos. — uma assistente que parecia nova e contida bateu na porta e Sakura gritou que já estava indo.

Respirou fundo e amarrou a bandana firme na cabeça, o olhar decidido no rosto e o estômago borbulhando de nervosismo.

Estava na hora de flambar.

 

 

— Boa noite, senhoras e senhores! Bem vindos a mais um Batalha dos Chefs, e estamos perto do fim — Naruto esfregou as mãos com animação, como se nada tivesse acontecido. — E tenho um recado especial dos nossos patrocinadores…

Kakashi não estava lá, foi a primeira coisa que Sakura percebeu ao entrar no estúdio. No lugar dele estava Yamato, que todos chamavam de capitão por algum motivo inexplicável, e ele era sério e conciso, centrado no trabalho e altamente profissional, muito diferente de Kakashi. O que era um ponto positivo, mas Sakura estava doida para ver a cara daquele patife.

Sasuke estava ao lado de Naruto falando sobre a receita que fariam naquele dia, sua especialidade. Não tiveram tempo para conversar quando chegou e Sakura tinha consciência de que qualquer coisa que dissessem podia ser pego pelos microfones. Mesmo que Yamato não parecesse Kakashi, não o conhecia para saber sua índole.

Dois olhares significativos entre o casal foram trocados, apenas dois quando se encontraram no palco, mas foi o suficiente para afirmarem que não sabiam o que esperar naquele dia. Ele logo se juntou ao Naruto e para ela sobrou respirar fundo e se concentrar no que deveria fazer. Ergueu os olhos para olhar as costas largas de Sasuke sob a dólmã preta que usava, mas o viu olhando por cima do ombro para ela. Sakura se sobressaltou e sorriu.

— … Sakura já nos deu uma breve demonstração de como é uma flambagem, mas naquele caso havia sido rápido apenas para dar um toque de sabor mais intenso aos componentes do lámen, —  ele piscou e voltou para a câmera. Sakura teve que olhar para o chão para disfarçar o sorriso —  desta vez o sabor do lombo vai depender, não exclusivamente, mas principalmente do conhaque e tempo de flambagem. Além, é claro, dos toques especiais que espero encontrar de cada cozinheiro em seus pratos. — Sasuke apontou para Konohamaru e Sakura atrás das bancadas.

Sakura olhou para o seu adversário e o viu branco atrás da bancada. Konohamaru não havia falado quase nada naquele dia, na verdade, ela não havia o visto abrir a boca. De longe ela via as mãos dele apertadas atrás do corpo e as pernas mexendo nervosamente, ela estava se preocupando. Um pouco. Konohamaru estar nervoso só atestava ainda mais as suas chances de vitória.

— Mas não esperem que só porque esta é a especialidade do meu amigo aqui que Sakura vai ter vantagem, como vimos no dia do lámen — fingiu cara de decepção na direção de Konohamaru que sorriu sem graça — Ou por estarem de beijinhos pela cozinha…

— Naruto!

— Ok, ok! Essa prova vai ser desafiadora para os dois lados e somente um vai chegar com vantagem para o programa final. Como sabem, ambos estão empatados no número de vitórias até agora, e a de hoje vai contar muito para o desafio final da semana que vem. Konohamaru teve um treinamento pesado e digamos que o nascimento do meu filho me deixou inspirado para ser o campeão dessa temporada e levar o troféu novamente para casa.

Sakura sorriu com aquilo, Naruto estava leve e não tinha nem sinal do homem que Sasuke descreveu ao telefone ou da imagem retorcida que a mídia passou. Ela tinha até ruguinhas em torno dos olhos enquanto sorria falando do filho.

— Boa sorte com isso. — Sasuke sorriu de canto e cruzou os braços por cima do peito.

— Ora, seu…

— Psiu, Konohamaru — Sakura agitou uma mão na direção do garoto que olhou de canto um pouco assustado enquanto Naruto e Sasuke trocavam farpas amigáveis ali na frente — Tudo bem? — somente moveu os lábios com a pergunta.

O garoto assentiu várias vezes de forma nervosa e voltou a olhar para frente como um soldado bem ensinado quando Naruto disse o nome dele.

— … hein, Konohamaru? Aquela promessa de vitória que você me fez na cozinha durante o treinamento me fez acreditar em você. Não vai me decepcionar, não é?

— Não, chef! Eu vou vencer… — olhou determinado para Naruto.

Sakura não entendeu o sorriso pequeno e singular que Naruto mandou na direção dele, mas ambos pareciam se compreender.

Ela olhou o diretor calado no outro canto e o via somente gesticulando aos assistentes e câmeras e anotando coisas em sua prancheta. Tinha que se concentrar e ganhar aquela prova. Só precisava de Sasuke ao lado dela não a deixando esquecer nada que iria bem, tinha certeza.

— Na prova de hoje, porém, Sasuke e eu não vamos ajudar vocês. — Naruto disse com um sorriso quase sádico no rosto. Sakura quase gemeu de tristeza e Sasuke a olhou de canto — Nós dois... — Naruto continuou e o diretor fez um sinal naquele momento, uma mesa e duas cadeiras foram colocadas entre Sasuke e Naruto, logo vieram a toalha branca, a caixa de suco que patrocinava o programa, talheres, copos e guardanapos.

— Não brinca — Sakura murmurou passando as costas das mãos na testa.

— … Vamos ser os jurados de vocês. Nosso voto pode parecer certo, por que eu não votaria em Konohamaru? — Naruto acompanhou Sasuke se sentando folgadamente em sua cadeira e sorrindo para a câmera como se falasse olhando diretamente nos olhos dos telespectadores — A resposta para isso está dentro daquele envelope — Sakura olhou para a moça sorridente que entrou usando avental e toque blanche e parou entre as duas bancadas e atrás da mesa dos chefs segurando um envelope grande e branco com a logo do programa. Sakura lançou um olhar mortífero para Sasuke, ele sabia daquilo, estava muito calmo e até parecia se divertir. Naruto continuou no mesmo tom — Ali dentro tem uma consequência, pode ser boa ou ruim, pode ser para os participantes ou para mim e Sasuke. Pode ser uma penalidade no tempo da prova final, ou um bônus ao vencedor. Pode ser uma ajuda externa ao perdedor, ou dose de dificuldade… Pode ser qualquer coisa, por isso vamos ser sinceros em nosso voto, pois a possibilidade de ser algo que atrapalhe o vencedor é a mesma de uma que possa ajudar.

— Vocês vão comer? Só vocês? — Konohamaru se pronunciou apavorado.

— Algum problema? — Sasuke soou rude, mas dançava um sorriso no canto de sua boca.

Konohamaru quase se encolheu no lugar e mexeu a cabeça negativamente.

— Não acho isso muito justo — Sakura reclamou e só quando viu os olhos de todos em sua direção foi perceber que falou alto.

Sasuke sorriu misterioso para ela e Naruto gargalhou para ela.

— Justo? Você ainda não viu a melhor parte.

 

 

Ino estalou a língua impaciente e não desviou os olhos de Temari, mesmo que fosse ignorada intencionalmente.

Estava daquele jeito desde que Temari chegara atrasada para assistir o programa na casa de Ino, se sentara no sofá e permaneceu calada olhando para a TV. Tenten nem se movia para saber qualquer coisa, estava nervosa e concentrada na TV, quase roía as unhas de ansiedade, mas Ino...

— Temari, você é uma vaca.

Temari fechou os olhos e respirou fundo. Era a forma dela de não xingar de volta, de não começar uma discussão sem fundamentos e acabar perdendo no jogo da Ino.

— Não adianta perguntar nada. Presta atenção lá, Ino. — Temari disse olhando para Sakura e Konohamaru correndo loucos pelo mercado e pegando os ingredientes para a receita.

— Por que você não quer falar? — Ino estava chateada e mostrou bem aquilo não deixando o assunto morrer.

Tenten desgrudou os olhos da TV e olhou para Temari, ela também queria saber o que ela escondia, o porquê fazia aquilo.

Temari respirou fundo e apertou os olhos com os dedos.

— Nem eu sei o que está acontecendo, desculpa.

— Vocês fugiram de nós — Tenten apontou acusatória e Ino apoiou balançando a cabeça.

Temari riu um pouco, bem baixinho olhando para o colo.

— O Nara percebeu que vocês estavam lá. Dava para ver os coques da Tenten pelo vidro do carro.

— Eu falei para soltar esse cabelo! — Ino se virou injuriada e Tenten ergueu os ombros rindo. — Mas, e aí? — Voltou para Temari.

— E aí que eu não sei de mais nada nessa vida. — se afundou no sofá e enfiou pipoca na boca desviando os olhos para a TV.

Ino ergueu as duas sobrancelhas surpresa com aquela declaração de Temari. Não era o que ela queria ouvir, e acreditava que Temari não diria exatamente o que ela queria, mas Temari estar sem controle de alguma situação em que ela está diretamente relacionada é algo novo.

— Caladas vocês, o Naruto vai falar a segunda parte do castigo — Tenten esfregava as mãos de forma maligna. Ela nunca havia assistido o programa nas temporadas anteriores e agora estava viciada, mesmo que o chef favorito dela nem estivesse ali para ela babar.

As três olharam atentas para a tela, seus corpos se inclinando para frente e a vontade de roer unhas tinha que ser suprida com pipoca. Naruto sorria de forma perversa, mesmo que fosse naturalmente doce.

— Para deixar tudo ainda mais quente, Sasuke vai concordar comigo que isso vai ser muito interessante no ponto de vista de professores, vocês serão testados diante de dificuldades, além da falta de habilidade, claro. Um cozinheiro às vezes não dispõe de todos os ingredientes e tem que ser criativo na hora de improvisar…

— Ah, ele não vai fazer o que eu estou pensando, né? — Tenten perguntou num sussurro com a pipoca parada no meio do caminho para a boca.

— … fora o lombo, três tipos de especiarias e o conhaque, cada um de vocês pode tirar três ingredientes do concorrente a fim de “atrapalhá-lo”.

— O quê? — Sakura e Konohamaru gritaram juntos.

— Isso… Sasuke, eu não vou conseguir! — Sakura protestou batendo a mão na mesa.

— Ela vai ficar nervosa e vai fazer merda. — Temari balançou a cabeça tendo certeza.

— Eu devia ter entrado no círculo de apostas, droga. O menino está quase morrendo, olha lá. — Tenten apontou rindo para Konohamaru pálido olhando todos os seus ingredientes com desespero.

— Você não precisa ficar assim se lembrar de tudo o que eu te ensinei — Sasuke disse calmo, confiante — Textura, sabor, contraste. Te mostrei na prática que alguns sabores podem ser trocados por outros sem que a essência seja perdida. O doce pelo amargo às vezes não é uma ideia tão ruim.Você só precisa experimentar.

— Por um momento achei que ele não estava falando de comida. — Ino comentou com as sobrancelhas juntas.

Sakura fez uma cara de compreensão diante da câmera e relaxou sorrindo e acenando para ele com a cabeça. As bochechas rosadas não dava margem para outro tipo de interpretação.

— Ele não estava falando sobre comida.  Temari cravou.

— Decididamente não.

— Sabe o que devemos fazer?  Ino olhou para as duas enquanto Naruto fazia alguma piadinha sobre o relacionamento de Sasuke e Sakura na televisão — Vamos buscar a Sakura para beber alguma coisa depois desse programa e brindar a ida dela para a final, um meio de… — Ino gesticulou esquecendo a palavra.

— Motivar? — Temari testou.

— Exatamente. E aproveitamos para deixar ela atualizada, certeza que ela ainda não sabe do encontro da Tenten com o chef lá.

— Neji — Tenten corrigiu segurando um sorriso sapeca — Saquei, salvar ela dessa pressão toda. Estou querendo me enfiar num barril de chopp mesmo.

Ino voltou a se encostar relaxada enquanto Konohamaru sofria na tela da TV aos pedidos de desculpa de Sakura enquanto tirava ingredientes da cesta do garoto. Olhou de canto para Temari e depois para o celular no colo.

“Já contou para ela?”

A mensagem de Gaara ainda esperando sua resposta.

Ainda não. Mais tarde.

 

 

— Santa Madonna — Sakura sussurrou para si mesma quando Naruto gritou que o cronômetro estava rolando e um remix de Hung Up da rainha do pop tocava de fundo.

Sorriu para si mesma quando Konohamaru perguntou o porquê das batatas rosa e ela respondeu com um levantar de ombros. Ele deixou as batatas, os queijos e o leite, levou o mel, o bacon e a cachaça. Esse último ela nem sabia porque tinha pego, talvez no medo de pegar a bebida errada com o tempo curto. Mas no geral, já sabia que seu molho com base de mel não poderia mais ser feito. Olhou para os ingredientes que ela pegou dele e sorriu, estava bem claro que ele queria fazer um arroz como acompanhamento, pegou o arroz, os cogumelos e o vinagre. Konohamaru estava quase surtando, ele não tivera a mesma visão que ela, pois senão teria uma ideia do que ela iria fazer. Ou não.

Lavava as mãos e olhava em volta do cenário vendo todos trabalharem em harmonia, o clima parecia estar muito mais ameno, todos concentrados em seu trabalho e atentos às ordens do diretor novato. Alguns, ela percebeu porém, cochichavam sobre Naruto e o olhavam por cima dos ombros. Ela queria ter uma conversa particular com aquelas pessoas, pois se ela percebia, certamente Naruto também.

— Já começou a temperar o lombo, Sakura? — Sasuke, porém, a tirou de seu planejamento de vingança e a fez saltar — Olha o tempo.

— Eu sei… Quero dizer, sim chef. — murmurou o vendo sorrir e se virar para escutar o que Naruto começava a dizer.

Sakura balançou a cabeça se lembrando de algo que Sasuke havia dito em uma das noite em que havia dormido com ele. Ele a tinha vendado com a bandana que usava agora na cabeça e derramado aos poucos um gel comestível e gelado entre seus seios, deslizando a língua por ali.

Ela se lembrava vividamente da sensação abrasadora que subiu por todo seu corpo e de suas mãos tentando segurar algum pedaço dele, mas ele se afastava rápido e ria rouco “Vou te devorar” ele sussurrou perto de sua pele e ela soltou a única coisa que fazia sentido em sua mente “Sim, chef”.

“Quando você diz isso no programa… As coisas que passam pela minha cabeça…”

— Ai! Merda! — Sakura ergueu o dedo ensanguentado e trincou os dentes indo até a pia.

Sasuke afastou a cadeira e em um segundo já estava ao lado dela, Naruto também se aproximou rápido.

— Foi fundo? — Sasuke perguntou preocupado e ela só balançou a cabeça negando.

— Tudo bem, Sakura? — Naruto tentava ver o corte que ela deixava embaixo da água corrente.

— Estou bem, só me distrai e passei a faca pelo… ai.

Um bombeiro se adiantou no palco para ver o dedo dela. Sasuke olhou preocupado enquanto Naruto explicava ao telespectador o que havia acontecido.

— Consegue continuar? — Sasuke perguntou a careta de dor dela.

— Consigo sim. Não foi sério, certo? — perguntou ao bombeiro que sorriu abanando a cabeça.

— Tome cuidado, doutora. — terminou o curativo no dedo indicador de Sakura e saiu correndo do palco.

— Está vendo? — sorriu um pouco para Sasuke — Estou bem , Naruto. Pare de cantar vitória! — riu ao gracejo de Naruto depois de ver que estava tudo bem. Sasuke ficou balançado a ficar ali, mas Sakura sorriu testando a mão com o dedo machucado e voltando a pegar a faca  — Volta para lá, você me distrai.

— Estou contando com você. — Ele deu um passo para trás e Sakura sorriu agradecida — Quando Naruto descobrir o seu trunfo…

— Ora, ora, Sasuke — Naruto cruzou os braços voltando a se sentar na mesa central. — Trunfo, é? Tá falando do Aligot? Muito esperta essa garota, e Konohamaru deveria ter pego as batatas! Mas para errar o ponto do purê de batatas com queijo é fácil, fácil. Ás vezes querer impressionar muito acaba não dando certo.

— Eu nem sei o que é “aligor” — Konohamaru resmungou correndo de um lado ao outro da bancada.

Naruto olhou sofredor para Konohamaru e Sasuke tinha certeza que aquilo estava tirando risadas do público de casa. Naruto era bom com as pessoas, era carismático e sabia que toda a pressão da mídia sobre ele ia desaparecer sendo confrontada com a proteção do público. Naruto não precisava mais mover um músculo contra qualquer pessoa, e podia ver isso na cadeira de diretor que não era mais ocupada por Kakashi.

— Quero te propor algo, Naruto. — disse chamando com a mão um dos assistentes ali no canto. O capitão Yamato autorizou que o rapaz fosse e se inclinou na cadeira para ver o que eles fariam.

 

“— Sou Yamato Taichou, podem me chamar de capitão, é o que meu sobrenome significa. Todos me chamam assim. Pois bem, eu serei o substituto de Kakashi até o final da temporada e está sendo difícil já pegar o programa quase no final. Mas eu vi a dinâmica de vocês, vejo como Naruto comanda bem e é praticamente autônomo no palco, então acredito que raramente vão precisar de mim falando nos comunicadores de vocês. No mais, confio no que vocês quiserem fazer, vocês entendem a vibe do programa melhor que eu. Vou somente me deixar ser guiado pela performance de vocês. Preciso me preocupar com os palavrões?

Sasuke sorriu e Naruto riu coçando a nuca.

— Esteja preparado, mas o pessoal do som já conhece a gente. O Sasuke aqui e a namorada são bem… espirituosos quando soltam um palavrão. — Naruto foi quem respondeu aos risos. Sasuke rolou os olhos, mas de certa forma estava aliviado por não ser Kakashi. E a dúvida que tinha desde que foram apresentados ao novo diretor nos bastidores foi proferida por Naruto — O que aconteceu com o Hatake?

Yamato suspirou e fez uma expressão estranha no rosto.

— A última vez que o viram estava indo para a sala do dono da emissora.”

 

— Vamos lá, Sasuke. O que tem para mim? —  Naruto esfregou as mãos enquanto o assistente retirava tudo das mesas. Sakura e Konohamaru olhavam os dois de suas bancadas com curiosidade —  Vinte e cinco minutos! —  Naruto berrou e os dois voltaram a correr com seus pratos.

Sasuke a olhou mexer o aligot com força na panela, queria dar uma dica, mas se conteve diante da proposta de Naruto em deixá-los se virarem, ele estava certo de que ela venceria. Além do mais, Sasuke queria ajudar Naruto da forma que podia e que não levasse um processo por agressão. Visto a popularidade do amigo e a sua própria que ele tanto fazia questão de ignorar, só havia um jeito de ajudá-lo...

—  No segundo programa você me desafiou a pagar flexões por tempo extra aos nossos pupilos, hoje eu te desafio de volta, mas a uma queda de braço. Quem perder, perde mais um ingrediente.

… Audiência.

Naruto abriu a boca pronto para retrucar, mas parou e sorriu grande acenando com a cabeça positivamente.

— Tô ferrado! — Konohamaru gritou quase chorando e Sakura precisou parar o que estava fazendo para olhar a cena que se seguia.

 

 

— É disso que o povo gosta! Vai chef Uzumaki! —Tenten deixava bem clara sua torcida e aos risos as outras assistiam a encenação de Naruto tentando amedrontar Sasuke com seus músculos por baixo do dólmã.

— O braço do Sasuke é maior — Ino sorriu quando o chef Uchiha puxou a manga do braço direito e flexionou esperando Naruto se sentar e parar de provocar fazendo poses de lutador.

— Mas isso não quer dizer muito, Naruto também é forte e por aceitar fácil esse desafio certamente tem alguma confiança. — Temari digitava no celular enquanto falava distante.

— Preciso escrever um tuíte sobre isso, mas não estou inspirada — Tenten reclamou abraçando a almofada.

— Nem precisa. — Ino comentou rindo ao aparecer o primeiro tuíte falando sobre algo que não fosse a receita.

 

“Que me desculpe a Sakura, mas eu montava nesse homem e fazia de gangorra. #BdCSakura #ChefGostoso”

 

— E a censura? Ficou onde? — Temari ria horrorizada e Tenten tinha um ataque de tosse.

— Acho que é aleatório, eles nunca precisaram tomar cuidado com isso por ser um programa de culinária, né? — Ino ria da cara da Sakura mexendo de forma violenta uma panela com algo pegajoso sem saber que seu namorado era cantado em rede nacional.

— Nem eu fui tão ousada — Tenten resmungou aos risos — O Neji ficaria vermelho na hora, aquele fofinho.

— Ah, cala a boca Tenten — Temari jogou uma almofada na amiga.

As três pararam de rir para ver os dois chefs sorrindo um de cara com o outro, os olhos injetando desafio e os braços forçando-se ao máximo, saltando os músculos e deixando as veias dos braços e do pescoço em evidência. Os cotovelos estavam bem apoiados na mesa e um braço forçava o outro numa disputa acirrada sobre os olhos arregalados da mocinha que ainda segurava o envelope e os movimentos apressados de Sakura e Konohamaru tentando usar todos os ingredientes que pudessem antes de perderem algum.

— Vai, Sasuke. — Sakura sussurrou quando jogou o conhaque em sua frigideira, ele a olhou pelo canto dos olhos e a chama alta subiu.

Um braço foi esmagado na mesa.

— Wou!

 

 

— Você foi sensacional! — Ino a abraçou meia torta com um só braço por cima do ombro.

Sakura sorriu erguendo os ombros e as quatro ergueram as canecas de chopp em um brinde.

— Sasuke se distraiu quando me olhou e Naruto aproveitou, sorte que Konohamaru pegou meu creme de leite, ficou todo feliz mas eu já tinha acabado de usar. — Ela ria com a vitória e as pessoas ao lado sussurravam e olhavam para elas reconhecendo Sakura.

Quatro pessoas pediram para tirar foto com ela, as quatro perguntaram se Sasuke também estava ali. A negativa dela era respondida com palavra de incentivo onde torciam por ela para ganhar o programa e sobre o futuro dos dois. Sakura se sentia feliz.

Seu aligot havia dado quase certo, mas seu lombo havia ficado no ponto e suculento, ao contrário do de Konohamaru que ficou quase cru por dentro. Nem a desculpa dele de que queria deixar mal passado havia surtido algum efeito positivo sobre o prato simples e acompanhado de batatas fritas.

— Deu dó do garoto quando Sasuke disse que era uma ofensa servir um prato daquele flambado num… — Ino estalou os dedos tentando se lembrar.

— Conhaque doze anos — Sakura completou rindo se lembrando da carranca de Sasuke diante do prato do menino.

— Isso, uma carne flambada no conhaque doze anos sendo acompanhado de batatas fritas encharcadas.

— Falando em batata frita, me deu uma vontade de comer. Hey, garçom!

— Agora é só a final, hein Sakura? No envelope estava dizendo que o vencedor e o chef poderiam escolher a sobremesa, já sabe o que vai fazer? — Temari perguntou e Sakura balançou a cabeça.

— Sasuke e eu escolheremos no sábado, temos até segunda para informar. Vai ser uma semana e tanto. Vão filmar meu treinamento, que ódio.

— Isso vai ser engraçado. — Temari comentou e Ino concordou com a cabeça.

— E amiga, se você soubesse o tanto de mulher dando em cima do Sasuke pelo twitter — Tenten riu e Sakura fechou a cara.

— É, estou sabendo. — bebeu mais um gole do chopp e as três riram da cara dela. Entretanto, Sakura não se preocupava com aquilo, fazia aquela cara por graça, mas por dentro se lembrava do buquê de rosas vermelhas que encontrou em seu camarim quando voltou e o cartão com a letra dele. Um romântico incurável. Sorriu para o vazio com o presente, jamais havia ganhado um buquê de flores tão lindas como aquelas e jamais seu coração bateu tão forte. Era a melhor fase da sua vida.

— E Sasori? Voltou a dar as caras? — Ino perguntou mais séria e Sakura negou.

— Não, ainda bem. Eu estava com medo. — disse bebendo um pouco — Não acho que ele seja um tipo de psicopata, acho mais é que está com orgulho ferido. Mesmo assim dá medo.

— Eu não descartaria nenhuma hipótese, Sakura — Temari cruzou os dedos por cima da mesa e olhou Sakura com intensidade — Ele parece obcecado.

— Não sei se aplica. — Sakura retrucou relaxando os ombros e torcendo um pouco a boca — Ele tentou falar comigo mais de uma vez, e acredito que ele estar no shopping naquele dia pode ter sido uma infeliz coincidência. Entendam, eu não quero acabar com a  vida de uma pessoa nesse momento. — completou após o olhar das amigas. — Eu estou em evidência agora, tudo o que eu fizer de polêmico pode criar repercussões gigantescas que não se limitam a apenas duas pessoas, a vida inteira dele pode ser prejudicada e o fundo do poço para alguém com o ego do tamanho do de Sasori só o deixaria de vez maluco. Não estou querendo defender ele ou poupá-lo, só quero que as coisas se resolvam sem que outras pessoas e nossa vida profissional sejam atingidas. Eu estava pensando esses dias sobre ele e acho que cheguei a uma conclusão sobre o comportamento dele.

— Eu não sei, não. — Ino comentou baixo, mas completou — E qual seria?

— Sasori e eu — Sakura olhou para os lados e se inclinou sobre a mesa falando bem baixo, as outras tiveram que se inclinar também para poderem ouvir — quase não tínhamos relações, entendem? Já chegamos a ficar anos sem sexo.

— Não brinca — Ino sussurrou e o queixo caiu.

— Como não largou dele antes? — Tenten questionou horrorizada.

Sakura fez sinal para elas ficarem quietas e continuou:

— No começo do namoro, tinha vezes que ele não conseguia… fazer subir. — segurou o riso e as amigas não fizeram o mesmo — Sério, ele tinha problemas, sabe? Eu nunca tinha percebido isso, claro. Eu era idiota. Sempre pensava que a culpa era minha, que eu não tinha feito algo direito. Quero dizer, ele colocava a culpa em mim.

— Que escroto. — Temari verbalizou o mais leve dos adjetivos que passava pela cabeça.

— Não é? E eu estava tão apaixonada que acreditava. Ele era um doce, agora só de lembrar me dá ânsia, porque claramente ele era um manipulador. Ele era controlador, tinha ciúmes e sempre dava um jeito de eu me sentir culpada depois de uma briga. Eu me sinto tão ridícula agora. — Sakura parou para beber um gole de chopp gelado e Ino passou a mão pelas costas dela dando conforto.

— Tá tudo bem, já foi.

— É o que espero. — Sakura soltou o ar com força pela boca. Sua garganta estava um pouco fechada, incomodando-a, era humilhante dizer aquelas coisas depois que havia percebido, mas elas eram suas melhores amigas, aquelas que poderiam ter salvado ela mais cedo se tivesse sido mais esperta. — Então, ele propôs que parássemos de ter relações antes do casamento, eu achei aquilo muito fofo na época, Santo Deus! Até achei que ele não conseguia… vocês sabem… por culpa, por ser um homem religioso. Mas, depois da primeira noite com Sasuke me caiu a ficha de que Sasori só poderia ter disfunção, porque eu sou bem gostosa.

Ino riu alto e Temari só conseguia engolir o máximo de chopp possível para não fazer a mesma cena.

— Pobrezinho. — Tenten disse fingindo sentir dó e Sakura respirou com alívio.

— Isso explicaria — Temari secou a boca com um guardanapo — essa negação dele ao rompimento de Sakura. A masculinidade dele era comprometida e Sakura, desculpa amiga, idolatrava ele como um macho alfa. — Sakura deu de ombros fazendo uma careta — Ela era a certeza da masculinidade dele, ele a tinha nas mãos. Então…

— Exatamente. Sasori não deve estar aceitando esse rompimento, porque ele deve ter se agarrado tanto à esse poder que agora se frustra com a realidade. Ele me perdeu. E não foi para outro homem — Sakura disse apoiando o rosto na mão — Foi para mim mesma. Eu aprendi que posso fazer o que eu quiser, ele não poderia mais me deixar para baixo. Eu poderia ser desejada, sabem? Sem precisar saber cozinhar. Poderia cozinhar, também, sem que precisasse seguir a receita daquela bruxa da vó dele. Ele me controlava como se eu fosse uma marionete para ele, sempre me dizendo o que eu tinha que fazer, quais eram meus limites. Até o comprimento do meu cabelo ele questionava! Eu não sei como pude chegar a esse ponto de ficar tão cega por alguém, e meu maior medo foi que isso acontecesse com Sasuke também.

— Não vamos deixar. — Temari colocou a mão por cima do ombro de Sakura e Tenten e Ino assentiram com firmeza — Se bem que você é forte, você aprendeu de uma forma ruim, mas se precisar de nós…

— Sabe que pode nos gritar. — Ino deu um beijo no rosto de Sakura e Tenten se jogou por cima da mesa para um desajeitado abraço em grupo.

— Mitsashi! — Temari protestou enquanto as outras riam ao ver as canecas quase virarem na mesa.

— Vocês são as melhores. Aliás, quero ajuda para escolher uma arte, vou fazer uma tatuagem. — Uma exclamação exagerada e coletiva fez Sakura rir. — Então, — limpou a garganta e as três olharam-na — que história é essa de Temari estar saindo com um hipster e Tenten ter se convidado para dormir com o chef Hyuuga?

— Temari conta primeiro. — Tenten riu cutucando a amiga com o cotovelo.

— Fracamente, vocês. — a loira rolou os olhos e resumidamente contou que havia encontrado Shikamaru no jantar de negócios, havia discutido com ele e ficado irritada por ele conseguir destruir todos os argumentos dela e ainda mais a imagem subestimada que ela tinha dele. Ele era um gênio e aquilo a deixou irritada e com vontade de socar ele no fim da noite. — Então eu fui seguindo ele e falando umas merdas tentando mostrar que eu sabia sim o que eu estava fazendo. Ele estava desacreditando minhas estratégias de gestão!

— Então ele te beijou para calar a sua boca? — Tenten adivinhou rindo — É a cara dele fazer algo assim.

— Na verdade eu que agarrei ele. — Temari virou o chopp enquanto as três exclamavam surpresas — Empurrei ele contra o carro e fui falar umas coisas na cara dele, mas eu o beijei. — ergueu os ombros. — Foi uma loucura, nossa. — Temari ficou um pouco enrubescida e desviou os olhos para longe bebendo o resto de sua caneca.

— Minha nossa. — Sakura bateu palmas rindo.

— E estão se encontrando desde então? — Ino perguntou furando uma azeitona com um palito de acrílico.

— Sim — suspirou como se fosse algo ruim, mas havia um sorriso querendo aparecer no canto da boca — Ele não me deixou em paz.

— Estou feliz por você. — Sakura disse sincera e Temari pela primeira vez pareceu tranquila, um pouco tímida talvez.

— Ah, agora é a minha vez. — Tenten quase pulou na cadeira e começou seu monólogo sobre como Neji era um cavalheiro a todo momento e de como ela teve que se segurar para não puxar o cabelo dele durante a noite. — Eu parecia uma selvagem e ele um lorde inglês. Foi bem interessante.

— Você é impossível, Tenten — Temari balançava a cabeça e Sakura se recuperava de um ataque de riso quando percebeu que Ino parecia um pouco inquieta e distante.

Sakura a cutucou por cima da mesa e Ino se sobressaltou chamando a atenção das outras duas.

— Ino? Aconteceu alguma coisa? — Sakura perguntou e em seus olhos deixou claro que não adiantava inventar desculpa ou desviar  a atenção.

Ino sabia daquilo, então suspirou, jogou o rabo de cavalo por cima do ombro e ergueu os olhos primeiro para Temari e depois passou pelas outras.

— Eu vou fazer um curso na França. — disse de uma só vez e nenhuma palavra foi ouvida. Ino desviou os olhos para a mesa — Vão ser só seis meses, mas… — Ergueu os olhos para Temari mais uma vez, e mesmo que terminasse naquelas reticências, Temari já sabia o que poderia ter vindo, sua boca abriu-se e Ino finalizou — Gaara vai comigo.



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