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História Provar, Comer e Casar - Quando um prato desanda


Escrita por: Pan_Alban

Capítulo 9 - Quando um prato desanda


Quanto mais Sakura tentava ignorar, mais parecia proliferar daquela revista de fofocas. Ela e Sasuke na capa, os dois se encarando à centímetros de distância no último programa que havia ido ao vivo. Tomavam a página inteira, como destaque, e ainda vinham acompanhados de uma manchete sensacionalista:

“A chapa esquenta na sétima temporada de Batalha dos Chefs, prometendo ser a melhor com muita pimenta nos olhos, limão em feridas e amargor na ponta da língua.”

Abaixo, o comentário de alguém sobre aquele dia.

“ Eles não se suportam. São como panelas de pressão prestes a explodir.”

— Sakura, ninguém ouviu nada. Te juro, só dava para ver que não estavam se entendendo, mas não havia som no microfone de vocês. — Temari andava ao lado de Sakura no shopping.

— Certeza que foi alguém da produção, essa deve ser a impressão que passam quando estão lá  sob toda aquela pressão. — Tenten intercedeu, pousando a mão nos ombros tensos de Sakura movendo os dedos vagarosamente, numa pequena massagem. —  Não se preocupa com isso, logo acham outra coisa para focarem e vocês virarão passado.

Tenten disse aquilo com muita convicção, mas o olhar que trocou com Temari mostrava exatamente os que as duas estavam pensando: O público não esqueceria tão rápido.

Sakura ainda não tinha noção do quão popular era. Havia deixado as redes sociais e não saía mais de casa, pois sempre tinha alguém se oferecendo para cumprir alguma atividade que a obrigaria a sair. Tenten, Ino e Temari haviam feito um pacto quando o programa acabou naquele dia e o Twitter começou a pipocar sobre o que estava acontecendo entre o chef Uchiha e a doutora Haruno. Então, as compras e lavanderia eram feitas por elas, com a desculpa de que Sakura estava ocupada demais e elas se sentiam culpadas por terem colocado-a no programa, o que em parte era verdade.

Tenten havia conversado com Tsunade, mas não precisou de muito argumento para a diretora entender como ficaria o assédio em cima de Sakura dentro daquele hospital. Uma reunião de emergência foi o que bastou para que a ameaça ficasse gravada na cabeça de qualquer um que a deixasse desconfortável.

Mas nenhuma dessas medidas foi suficiente para o quase surto de Sakura em querer sair de casa e se distrair. Com um chapéu na cabeça e óculos escuros, foi levada até o shopping pelas três amigas. Temari escolheu um bom shopping para comerem algo enquanto tomavam uma cerveja gelada; alguns olhares acompanharam elas, mas ninguém se aproximou até então.

Sakura pareceu alheia ao fato de ter sido reconhecida pela mesa ao lado quando tirou o chapéu e os óculos com brusquidão, bufando cansada.

— Isso tudo é uma droga. Sasori não me ligou, Sasuke parece um robô idiota me ensinando no restaurante e me ignorando quando tento conversar, minha mãe não para de me ligar falando para eu tomar remédio para os nervos e nem consegui fazer a merda do rocambole.

Tenten segurou a risada com a última indignação de Sakura e teve que beber um gole de sua cerveja para disfarçar. Sakura segurava os dois lados da cabeça, sentindo o peso do mundo caindo em cima de si mesma. Odiava não saber o que fazer quando todo o controle saía de suas mãos. Tudo o que queria era que aquele programa acabasse logo e sua vida voltasse para os eixos.

Num sobressalto, que apenas Tenten percebeu, Temari sacou o celular e chamou atenção de Sakura.

— Baixei a receita da sopa que você vai ter de fazer no próximo programa — Sakura deixou um gemido escapar, lembrando-se do prato e do palavrão externalizado ao escutar a palavra “cogumelos”. Só podia ser uma piada de mal gosto.

Temari puxou a mão dela com rapidez chamando sua atenção mais uma vez. Tenten achou estranho e olhou para trás, pressentindo que Temari tentava distrair Sakura para não olhar para lá. Teve que voltar a beber sua cerveja para não rir mais uma vez. Ino voltava do banheiro, mas havia parado no meio do caminho e parecia discutir com algumas pessoas enquanto apontava para a direção delas.

— Eu estava pensando que seria legal fazermos ele em casa; você poderia treinar, depois preparamos uma sobremesa e assistimos um filme.

— Não sei… Não quero pensar nisso, de verdade. — Sakura tentou virar-se para trás involuntariamente, mas Tenten entrou no jogo.

— Qual é? Vai ser divertido! Você vai cozinhar, a Ino vai ficar com um extintor, eu com uma tampa fingindo ser um escudo, a Temari brigando com a gente para não te pressionarmos, algumas coisas queimadas, acabamos pedindo pizza… como nos velhos tempos.

— Palhaça. — Sakura riu, jogando um saquinho de sal que ficava na mesa na direção da amiga. — Seria bom. Tudo bem. Mas onde está a Ino?

— Me esquece, menina. — Ino sentou-se ao lado de Sakura e sorriu para todas como se nada tivesse acontecido. — Sakura vai cozinhar? Muito bom, estou mesmo com vontade de comer pizza.

O clima ficou descontraído e puderam gozar de um tempinho somente entre elas sem pensar em reality show, chef cabeça quente, ex coberto de molho e sua cara na capa de uma revista.

Elas já se levantavam para seguir até o cinema quando a primeira pessoa parou querendo tirar uma foto com Sakura. Era uma senhora gordinha com um sorriso gentil que a elogiava nervosamente como se Sakura fosse a grande chef do programa. Enquanto Sakura tentava tirar uma selfie com a senhora, Ino contou às amigas sobre as pessoas que teve que afastar achando serem paparazzis atrás da Sakura. Temari, séria, sussurrou que teria que prestar atenção à isso; não deixariam a situação sair do controle.

— Apesar de tudo, é muito bom conhecer pessoas assim. — Sakura comentou sorrindo, voltando para as amigas.

Tenten já estava pronta para fazer alguma piadinha sobre Sakura ser uma celebridade agora, mas o celular de Sakura tocou e todas permaneceram em silêncio enquanto ela atendia o número desconhecido.

 

 

A cozinha do movimentado Amaterasu estava à mil. O movimento havia aumentando consideravelmente nos três restaurantes, e parecia que apenas Suigetsu e a equipe estavam animados com isso. Sasuke sabia muito bem o porquê e isso não era nada agradável.

— A mesa cinco pede sua presença, chef. — um dos garçons apareceu às costas de Sasuke. O chef respirou fundo tentando se acalmar. Aquilo estava um caos, não estava tendo controle sobre sua orquestra e os barulhos de pratos, fritura, talheres, ordens... estavam deixando-o louco.

— Andem logo com esses pratos — berrou por cima do barulho, fazendo uns ajudantes saltarem de susto. Mas o desabafo de sua fúria estava longe de acabar. Andando pelos cozinheiros, foi gritando ainda mais alto e com ainda mais fúria — O cliente pediu sem sal, faça de novo; Vocês dois ou ajudem ou saiam da minha cozinha; Essa louça vai ficar aqui ou eu mesmo vou ter que lavar?; Onde estão suas luvas?; Mexe isso direito; Presta atenção no que está fazendo, vai queimar…

— Senhor…

Sasuke bufava enquanto a cozinha voltava a um silêncio e uma ordem causados pelo medo. As veias de sua testa e de seu pescoço saltavam, os ombros subiam e desciam tensos, o rosto vermelho começava a voltar a cor natural enquanto o pobre garçom tremia quase encolhido atrás do grande chef. Sasuke virou a cabeça minimamente para trás, os olhos fechados tentando acalmar-se para não gritar com o coitado que tentava fazer o seu trabalho.

— Diga que não estou.

— Mas, senhor — o garçom engoliu em seco quando Sasuke virou-se por inteiro, dois palmos mais alto que ele e as narinas dilatadas — É… que…

— Sasuke! Não vai mais cumprimetar os clientes, seu ermitão azedo como limão? Boa noite, pessoal! Estão fazendo um excelente trabalho. Cumprimentos a quem preparou o meu peixe, estava divino.

Sorrisos e murmúrios rápidos de agradecimentos foram trocados pelo pessoal enquanto o invasor da cozinha de Sasuke sorria olhando tudo ao redor.

— Isso não é o programa, Naruto. — Sasuke soltou o ar de uma vez, tirando a bandana preta dos cabelos.

A menção ao programa fez Naruto olhar significativamente para Sasuke. O chef Uchiha suspirou, aquela noite estava sendo impossível. Apontou para os fundos do restaurante, mas Naruto negou com a cabeça olhando para o relógio de pulso.

— Peça para alguém levar o seu carro ou deixe-o aí, você vai voltar comigo.

— Do que está falando? Só saio do meu restaurante quando tudo acabar. — Sasuke olhou sério para Naruto, tentando entender qual era a dele; mas o loiro continuou irredutível.

Parecia que até os sons da respiração foram suspensos para ouvir os dois falando baixo, mas um único olhar de Sasuke fez a sinfonia de panelas e pratos retornar.

— Além do mais, ela… a Sakura virá hoje a noite treinar.

Naruto ergueu as sobrancelhas loiras enquanto o amigo observava o trabalho sendo feito atrás deles. Sem preparar qualquer argumento cansativo daqueles que ele sabia fazer para Sasuke desistir, apenas olhou mais uma vez no seu relógio. Assim que Sasuke se voltou para ele, sorriu um pouco e falou antes de se virar e sair:

— Ela não virá. Vou estar te esperando nos fundos.

Era dolorido deixar a cozinha nas mãos de Suigetsu, mas era ainda pior ter que deixar Naruto fazer aquele jogo psicológico com ele e sair ganhando. Deixou seu carro no estacionamento interno do restaurante e foi até o carro esportivo do amigo do lado de fora, saindo pelos fundos e o encontrando falando ao telefone. Ao abrir a porta, recebeu um sorriso de Naruto e o viu colocando o celular no suporte do painel para que falasse no viva voz enquanto dirigia.

— Perfeito, Hinata ficará feliz em te conhecer. Te passo o endereço por mensagem, pode ser?

Sasuke ajeitou o cinto de segurança sem esperar que a voz de quem respondesse fosse afetá-lo do jeito que afetou.

“Estou ansiosa para conhecê-la. Por favor, mande sim que já estou a caminho.”

Olhou para Naruto com interrogação, mas o amigo olhava para frente sorrindo.

— Pode deixar. Até mais, Sakura. Lembre-se do que te disse…

“Terei cuidado, sim. Até mais, Naruto.”

Ao terminar a chamada Naruto, soltou uma gargalhada enquanto Sasuke balançava a cabeça.

— Faz algo útil e manda meu endereço por mensagem para ela.

Sasuke pegou o celular de Naruto e mandou por lá, nem queria pensar qual seria a reação dela se chegasse pelo número dele.

— O que disse a ela que precisa ser lembrado? — Sasuke terminava de digitar e colocava o aparelho de volta no painel.

— Pedi que ela ficasse atenta se alguém estivesse seguindo-a porque não seria bom que a vissem indo até minha casa jantar.

— Um jantar para dar sermão?

— Um jantar para fazerem as pazes. — Naruto respondeu ao tom desacreditado de Sasuke enquanto o mesmo olhava para fora com um riso azedo. — Conversar como adultos. Cara, o que está acontecendo, hein? Tudo bem que às vezes não nos damos bem com o aprendiz, questão de afinidade. Mas entre vocês é pior que isso, é pessoal demais. — não havia mais humor em Naruto, as sobrancelhas franzidas enquanto dirigia pela avenida em direção ao condomínio. Sasuke escutava quieto. — Konohamaru e eu conseguíamos ouvir tudo o que vocês falavam… — suspirou passando uma mão pelo cabelo quando chegou até a entrada do condomínio parando em frente a guarita do guarda. — Boa noite, está para chegar uma visita para mim. Seu nome é Sakura Haruno.

— Irei direcioná-la até sua casa, senhor Uzumaki. Tenham uma boa noite, senhores.

Naruto parou em frente a casa de Sasuke, não mais que duas quadras distante da sua, e batucou no volante com os dedos.

— Tome um banho e tente relaxar. Terminamos essa conversa com todos lá.

 

 

Sasuke apoiava a testa sobre a mão fechada no azulejo do banheiro, fazendo exercício de respiração que normalmente praticava enquanto fazia musculação. A soma disso com a água morna descendo pelos músculos tensionados dos ombros, dos braços, ajudou a relaxar. Com a espuma do sabonete, esfregou a nuca, o pescoço, o ombro direito e parou sobre a tatuagem que tinha em cima do peito. Já estava desgastada pelo tempo, havia feito-a com o quê? Dezessete anos? Passou os dedos pelo desenho, começava antes de terminar os galhos que subiam pelo seu braço, a mais recente das tatuagens. Mas aquela no peito era a primeira, não se arrependia dela, era uma de suas favoritas e lembrava-se bem de quem, quando e por quê a fez.

Balançou a cabeça, desligando o registro e enrolando a toalha em sua cintura. Esfregou o rosto assim que parou em frente ao closet. Tirou a toalha da cintura e secou os cabelos lisos e os ombros molhados. Vestiu-se, tampando a maioria das tatuagens com uma polo azul e uma bermuda clara. Havia acabado de espirrar o perfume e fechar o relógio esportivo no pulso quando a mensagem de Naruto chegou dizendo que o esperavam.

Enquanto caminhava até a casa do amigo, mexia inutilmente no cabelo, liso demais para continuar bagunçado. A lembrança dos motivos de sua primeira tatuagem e os episódios que estavam acontecendo o deixavam nervoso, e foi assim que tocou a campainha e foi recepcionado por um Naruto sorridente com uma garrafa de vinho tinto nas mãos.

— Que homem cheiroso. Isso tudo é para mim? — gargalhou com a cara fechada de Sasuke, o empurrando pelos ombros até a sala de jantar.

Em pé, Hinata sustentava a barriga redonda sob um vestido de linho, alisando-a e Sakura tirava sua atenção dela para não esconder a surpresa em vê-lo ali.

— Boa noite. — Sasuke cumprimentou, estoico, deixando um sorriso pequeno para Hinata.

— Boa noite, Sasuke. Quase não acreditei quando Naruto disse que você havia deixado o restaurante para vir aqui. Sinto dizer que quem cozinhou hoje fui eu. — Hinata riu delicadamente, recebendo um beijo no topo da cabeça de seu marido.

— Você cozinha maravilhosamente bem, Hinata. Não me lembre que deixei meu restaurante.

Hinata e Naruto riram juntos do suspiro sofrido que Sasuke deixou escapar. Ele sorriu desviando os olhos para Sakura e a pegou olhando-o, pensou que ela desviaria, mas ela continuou esquadrinhando-o até que chegou em seus olhos.

Pensou que ela diria algo, mas ela virou-se para aceitar o vinho que Naruto servia.

Se sentindo um pouco deslocado, Sasuke se sentou em uma das cadeiras enquanto ouvia a conversa de Sakura e Hinata sobre a gestação dela. Um música que comumente tocava no programa enquanto rolava os desafios culinários tocava baixo no home theater. Cheiro saboroso de calzone invadiu todo o ambiente quando Naruto trouxe os pequenos e fumegantes petiscos em uma bandeja, junto de molho.

Sasuke não fez cerimônia para se servir, preferia ficar de boca fechada e era ainda melhor quando havia uma desculpa para isso. Mergulhou a pequena trouxinha de massa recheada recém saída do forno no molho que acompanhava. Como costume, cheirou o molho antes de comer e riu quando deu a primeira mordida.

— É apenas catchup, chef. — Hinata acompanhou o marido na risada e Sakura também não se conteve.

— O simples e prático também tem um espaço no meu coração. Mas deveria ter colocado um pouco de açafrão…

Sakura riu mais alto dessa vez, e enrubesceu ao perceber. Sasuke gostou da atitude dela e se sentiu mais confortável, apesar de saber muito bem o que viria naquela noite. Não sabia o que esperar exatamente de Naruto, mas não queria fechar a noite ainda se comportando como se Sakura e ele fossem dois estranhos, com a molheira e o ex sujo voltando para suas mentes a todo momento em que se encontrassem. Precisavam melhorar aquilo.

Sakura bebeu um gole de vinho, tentando limpar a garganta. Havia estranhado o convite repentino de Naruto, mas a menção da esposa grávida do apresentador havia amolecido seu coração e aceitou sem pensar no propósito verdadeiro daquele jantar.

Encantou-se com o bonito condomínio que se erguia à sua frente quando chegou ao endereço enviado por Naruto, com a boa recepção do sempre contente anfitrião vestido em roupas normais e da gentil e delicada esposa. Sentiu-se em casa em poucos segundos, não poupando elogios à decoração viva da casa, com muitas flores em vários locais; e a atenção rústica dada à sala de jantar com uma bela mesa de madeira de demolição ao centro, uma luminária chique de bambu que pendia no teto como teias e os quadros simples na única parede colorida de laranja no local. Era um local aconchegante, perfeito para o casal que a entretia com boa conversa e riso fácil. Mas a chegada do chef a pegou de surpresa, e logo fez aquele convite parecer óbvio, mesmo antes de Naruto começar a falar quando todos se acomodaram.

— Não preciso dar voltas, não é? O que está acontecendo?

Sakura não esperava ouvir Naruto falando daquela forma, não com falta de educação, mas firme, como se dirigisse à duas crianças. Olhou para Sasuke e este não estava nada surpreso, parecia apenas incomodado.

— Com todo o respeito, Naruto, acho que Sasuke e eu podemos resolver nossos problemas sozinhos. — Ela não queria discutir aquilo na frente dos dois, de forma nenhuma.

Naruto e Sasuke a olharam. o segundo continuava quieto enquanto Naruto apertava os lábios entre os dentes. Hinata olhava de um para outro, certamente já estava ciente e preparada para aquele momento.

— Não vejo progresso desde aquele dia.

— Naruto sabe que isso não é da conta dele — Hinata disse antes que Sasuke abrisse a boca — Mas você dois estão tendo noção do quanto o comportamento de ambos pode afetar o programa?

— Eu… nós sentimos muito por isso. — Sakura olhou para Sasuke e o viu com a atenção toda nela. — Aconteceu algo isolado, fora do âmbito do programa. Não deveria interferir no nosso aspecto profissional — continuou, incerta, olhando para Sasuke como se pedisse que ele a apoiasse, mas toda a resposta que tinha era o olhar fixo prestando atenção no que ela dizia.

Naruto suspirou, passando a mão no rosto.

— Não vai dizer nada, Sasuke?

— Você sabe o que penso de tudo aquilo.  — O Uchiha virou-se para o amigo, parecendo mais sério, perigosamente mais sério, que o próprio Naruto.

Naruto coçou a nuca e pareceu relaxar um pouco. Não ganharia uma competição de carranca contra Sasuke. O gênio do amigo era terrível e a sua desagradável franqueza parecia ficar ainda pior quando o mau humor surgia. Estado que parecia estar revestindo Sasuke desde que o levara do restaurante.

— Nossos patrocinadores não querem que sua marca seja ligada à um programa de barraco. Aquilo é um reality de culinária e não um Big Brother para termos audiência por brigas entre os participantes. Onde o rosto deles aparece em capas de revista de fofoca! Conseguem entender aonde quero chegar? Há muito mais envolvido nisso que as razões particulares de cada um.

Sakura abaixou a cabeça, sentindo-se culpada. Sasuke respirou fundo, encostando-se melhor na cadeira e cruzando os braços em frente ao corpo. Naruto estava certo, seria infantil discutir contra isso e inútil se quisesse consertar as coisas com Sakura.

— Mas você tem que admitir que somos melhores que o estátua do Neji na edição passada. — Naruto se surpreendeu com o tom de humor que Sasuke usou com um sorriso de canto, e ele não foi o único. Sakura levantou a cabeça espantada. — Uma senhora na rua me disse que eu esquentava o programa.

— Tenho quase certeza que não é pelos motivos que está pensando, Sasuke. — Sakura riu vendo que ele foi inocente no que disse e até Naruto se juntou a ela deixando o Uchiha confuso.

— É disso que eu estou falando! — Naruto abriu os braços dando ênfase, assim como fazia no programa. Sakura, mais leve, achou graça desse jeito dele — Sakura, você tem um motivo para aprender a cozinhar, não? Mesmo que o prêmio não vá para você, sejamos sinceros…

— Hey! — ela o interrompeu tentando parecer brava mas rindo no processo. — E sim, tenho um motivo, além do prêmio, claro. — Olhou para Sasuke, inevitavelmente, ele tinha um vinco entre as sobrancelhas, havia sido ruim ainda ouvir aquilo.

— Claro, claro. Sempre temos os prêmios de consolação — Naruto gesticulou displicente, rindo do resmungo dela. Virou-se então para Sasuke — Cara, eu sei que você não liga para o programa e nem que queria estar lá para começo de conversa. Mas pensa que logo acaba, enquanto isso está tendo a possibilidade de ajudar alguém a fazer algo que você ama, tendo a possibilidade de doar um pouco da sua paixão.

—  Eu sei — Sasuke moveu-se incomodado na cadeira, agora era Sakura quem o olhava fixamente.

— Se por você não é suficiente — Naruto continuou quando a atenção do amigo ainda estava em Sakura — Faça por ela. Isso é o suficiente?

Sakura ergueu as duas sobrancelhas e aguardou. Certamente que ele iria continuar no programa até o fim, mas a demora em responder e o jeito como a olhava deixava-a inquieta. Engoliu em seco quando ele apoiou o cotovelo de forma relaxada no encosto da cadeira e deixou que os olhos a analisassem despreocupadamente. Sakura quis se encolher, não entendia o que poderia estar passando pela cabeça dele.

— Sim, é. — Por fim ele respondeu, calmo. Sasuke respirou fundo olhando então para Naruto. — Pode confiar.

— Ótimo! Perfeito! — Naruto bateu as mãos em frente ao corpo visivelmente aliviado. Começou a rir e apontou um dedo para Sasuke — Mas não quero que deixe de esquentar as senhorinhas, seu garanhão.

— Ah, cala essa boca. — Sasuke respondeu rindo e o clima tornou-se muito diferente do que era no momento em que Sasuke entrou no apartamento.

Sakura sorriu-lhe, sincera, e também aliviada. Eles precisavam conversar. Ele não queria pedir desculpas pelo que fez, Sasori era um babaca e deveria ter apanhado e não apenas saído mergulhado em molho de vinho branco e cogumelos, que foi a forma que Sasuke viu de controlar a maior parte de sua raiva. Mas Sakura não merecia aquele tipo de comportamento, ainda mais quando confiou nele para que tivesse um jantar perfeito. Por ela,  poderia pedir desculpas e encontrar uma forma de se redimir.

—  Hinata! Você comeu tudo? — O tom assustado de Naruto e o riso de Sakura o colocaram de volta na sala de jantar com uma grávida nada arrependida limpando os cantos da boca.

— Eu fico com fome quando estou ansiosa. Não me julgue, querido. Eu vou buscar mais para vocês.

Antes que Hinata se levantasse, porém, Sasuke acenou para que ela não saísse e se levantou olhando rápido para a tela do celular.

— Não se incomode, Hinata. Já tenho que ir e preciso resolver umas coisas. Vem comigo, Sakura?

Sakura levantou-se, pousando a taça de vinho que bebia na mesa. Sorriu para Hinata e Naruto com agradecimento pela comida e o seguiu para fora após se despedirem.

— Eu vim com o meu carro, Sasuke. Pode ir tranquilo até o restaurante resolver…

— Não é no restaurante que tenho coisas a resolver. — ele respondeu em frente ao carro dela colocando as mãos no bolso da bermuda.

— Não? Então… — Sakura aguardou e sentiu os sintomas da ansiedade remexendo seu estômago enquanto ele a olhava em silêncio. Sem a roupa de chefe, ou qualquer apetrecho que o ligasse como seu superior, Sasuke parecia menos ameaçador; menos como chef e mais interessante como homem. Os braços musculosos sob a apertada manga e o peito esticando o tecido da polo foram as primeiras coisas em que ela reparou quando ele chegou, a tatuagem de galhos era mais visível também. E todo esse mistério havia sido de boa ajuda enquanto tentava se distrair lá dentro, mas agora era embaraçoso.

— Tenho coisas para resolver com você. Temos que conversar. — o tom resoluto não deixava margem para declinar. Ela moveu-se em cima dos saltos enquanto mordia a ponta da língua. Ele estava certo, precisavam conversar para deixar os pratos limpos e pedir desculpas pelo comportamento de seu acompanhante.

— Claro. Precisamos. — Concordou num suspiro conformado. Não gostava de estar neste tipo de situação, mas Naruto havia ajudado a arrumar o que estava errado entre eles e com certeza a conversa fluiria de forma civilizada e adulta. — Onde quer ir?

Já procurava as chaves em sua bolsa quando a resposta dele a fez travar no lugar.

— Tem problema em entrar na casa de um homem solteiro?

 



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