— Está pronta?
Nayeon assentiu, tentando ao máximo não olhar para qualquer lugar que não fosse seus pés.
Logo após prepararem toda a equipe, no caso os fotógrafos, jornalistas, o pessoal que levaria todo o equipamento, saíram da empresa.
Nayeon tentava ao máximo não pensar demais. Caso contrário, ela sabia muito bem que desistiria.
Assim que o carro em que estava parou no local – mais especificamente, na frente da delegacia – ela desceu, vendo o tanto de pessoas que ali estavam. Umas protestando, outras apenas caladas vendo a cena, outros tirando fotos, gravando vídeos. Tudo isso, – para a surpresa de Nayeon – antes mesmo dele sair para fora.
Quando o pessoal do seu trabalho já estava com tudo preparado, Nayeon ficou ao lado de uma das entrevistadoras, assim como todo mundo, esperando.
No momento em que o homem saiu pelas portas, sendo acompanhado por mais quatro policiais, a multidão de pessoas ali foi – literalmente – a loucura, tirando fotos, fazendo perguntas, xingando. Nayeon estava quase cega por conta dos vários flashes ao seu redor.
"— Iremos sair e você irá abaixar a cabeça, entendido?
Nayeon assentiu, mesmo que, em sua cabeça, tudo estivesse tão confuso.
E, assim que a mulher segurou em seu braço e abriu a porta, ela se viu desesperada. Uma multidão de pessoas estava ali, com suas câmeras prontamente apontadas para ela. A garota começou a andar e, mesmo que vários policiais estivessem ali, protegendo-a, ela era quase esmagada, lutando para chegar ao carro preto que estava perto da calçada.
E como se não bastasse ouvir as mais variadas perguntas, Nayeon também ouviu os mais variados xingamentos. Por mais que não entendesse muito bem aquelas palavras, sabia que quem as soltava tinham raiva, desprezo e nojo por ela.
Mas por que?
Afinal, o que tinha feito de tão errado?
Por que a estavam culpando por algo que não fez?
Não era justo.
Mas, assim que chegaram no carro e a garota pensou estar, finalmente, livre, algo passou por seu braço, o cortando.
Nayeon sentiu quando os policiais a empurraram rapidamente para dentro do carro e os outros seguraram alguém. Uma mulher, que gritava descontroladamente para ela devolver sua filha.
Mas como a garota poderia?
Quando o automóvel saiu do lugar, ela olhou para a assistente social, que estava concentrada em estancar o pouco de sangue que saía de seu braço.
O corte parecia não doer, afinal, seu corpo estava quase que anestesiado. Nayeon estava tranquila, como a muito tempo não esteve. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentia que não carregava um peso consigo.
Mal sabia ela que pesos apenas passam a ficar leves, mas nunca desaparecem, de fato."
Após alguns minutos ouvindo o barulho insuportável dos repórteres falando um com o outro, Nayeon ouviu a porta da delegacia se abrir, o barulho aumentar e ela ser – nem um pouco delicadamente – empurrada para o lado.
Ele estava ali.
Suas pernas, quase que automaticamente, se moveram para trás.
Depois de muitos anos, ele estava ali, saindo do lugar cujo era para viver o resto de sua vida, se dependesse de Nayeon.
— Assassino!
As diversas palavras que a multidão usava para se referir a ele, chegaram aos ouvido dela, pouco a pouco, como se tudo estivesse em câmera lenta.
– Seu monstro!
— Deveria queimar no fogo do inferno pelo que fez com aquelas famílias!
Aos poucos, enquanto ele chegava mais e mais perto de onde Nayeon estava, ela conseguiu vê-lo.
Absolutamente nada mudou.
Seu cabelos – logicamente – estavam com alguns fios brancos. As marcas de expressões em seu rosto eram bem visíveis. Sua roupa nada mais era do que um calça jeans, camiseta preta e um boné. Sua boca, e a maior parte de seu rosto estava escondido pela máscara que usava. E é isso que Nayeon realmente não compreendeu.
Então mesmo zelando pela imagem dele? Estão mesmo zelando por uma imagem que, a mais de anos foi completamente destruída? O que tem ali que não pode ser visto?
Quando estava prestes a ir para longe, não aguentando ficar mais nenhum segundo ali, aconteceu. Nayeon congelou, suas mãos suaram e a mesma se arrepiou da cabeça dos pés. De repente, o ar ficou pesado, trazendo junto com ele tudo o que a garota tentava esquecer.
Ele a avistou.
Naquela multidão de gente, onde provavelmente não deveria reconhecer ninguém, ele a avistou. E não precisaram de palavras para Nayeon saber o que se passava em sua cabeça.
Ele a reconheceu.
Sabia que era ela.
~
— Pode deixar essas papeladas aí e ir embora, senhorita Seo.
— Tem certeza, Sr. Song? Não precisa de mais nada? Um café? Não tem mais coisas para que eu entregue?
Hyunjae suspira, olhando-a.
— Sabe que o que está me pedindo é ridículo, certo? - pergunta, indignado. — Qualquer outra pessoa já teria saído correndo por essa porta.
Esse era o problema. Nayeon não queria ter que sair dali. Não queria ter que encarar seja lá o que a esperasse lá fora. Era uma fraca, realmente. Mas o que poderia fazer?
— Eu apenas pensei que poderia faltar algo… - murmura. — Então.. até amanhã, senhor.
— Até.
Após sair da sala de seu chefe, Nayeon foi até sua mesa, arrumou suas coisas e, antes de sair do prédio, mandou uma mensagem para Mingi, lhe informando o endereço de um bar que havia ali perto e pedindo para que ele fosse até lá.
Quando adentrou o local, a garota sentiu, quase que instantaneamente, o cheiro forte de bebida. O bar não estava cheio, mas as pessoas que haviam ali já estavam mais do que bêbadas.
Nayeon sentou-se no balcão e rapidamente pediu duas garrafas de soju. Sabia que não era o melhor a se fazer, mas a muito tempo não bebia. E, de qualquer modo, estava necessitando de algum refúgio. E se a bebida fosse dar isso à ela, qual seria o problema, afinal?
Ela não contou, mas percebeu que se passaram vários minutos quando mais de 3 garrafas vazias estavam na sua frente. Viu quando Mingi chegou, mas não falou nada. Ele apenas sentou-se ao seu lado, pedindo mais uma garrafa e bebendo junto com Nayeon.
Era reconfortante.
Mingi sabia quando seria bom falar e quando não seria. Respeitava o espaço de sua amiga e sabia que, depois de tudo o que ela lhe contou, o que mais precisava era de tempo para processar tudo.
— É bem chato chegar no trabalho e ver que você não está mais lá. - falou, um tempo depois, tentando puxar assunto.
— Imagino que sim. E Changbin, como tá indo?
— Até que bem. Não é nada elaborado demais, então ele pegou o jeito rápido.
— Não está perdendo a paciência?
— Ele é bem paciente. Mais ainda com as garotas…
Nayeon riu, fazendo que sim com a cabeça.
— Sempre foi.
— E na empresa, como estão as coisas?
— Meu trabalho não é nada além de pegar café, entregar folhas, pastas e andar de um lado para o outro. Nada mal comparado com o salário que vou ganhar.
— Realmente… Mas espero que esteja gostando.
— Quem gosta de trabalhar, Mingi?
— Tem razão, mas tem que pelo menos se sentir confortável com o trabalho. Você se sente?
— Até que sim, as pessoas por lá são mais atenciosas do que pensei e nada do que faço é muito puxado.
Mingi assentiu, dando mais um gole em sua bebida.
Já estava abusando demais bebendo só aquele pouquinho. Teria que dirigir, depois.
— Se lembra do que pegou no seu primeiro aniversário?
Depois de minutos, Nayeon perguntou, olhando diretamente para seu copo.
— No meu ¹doljanchi?
— Sim.
— Meu pai disse que eu peguei dinheiro.
Nayeon riu, arqueando uma sobrancelha.
— Que novidade. Nisso você não errou, teve exatamente o que pegou.
Mingi deu de ombros, servindo-se e virando mais um copo da bebida.
— E você, o que pegou?
— Meu pai… - ela começou, notando o quão amarga a palavra "pai" saiu de sua boca. — Ele disse que havia colocado diversas coisas na mesa, muitas mesmo. Mas que, de todas, eu peguei a mais próxima da borda.
— Que foi?
— O barbante. - respondeu, rodando a borda do copo com um dedo. — Ele disse que ficou orgulhoso por eu pegá-lo. Afinal, significava que iria viver por muito tempo. Mas que sentido fez se anos depois ele próprio tentou me matar? - ela suspirou, dando risada. — Bem irônico, né?
Mingi notou quando o barman olhou de canto para Nayeon, essa que apenas ria.
— Não acha melhor irmos embora?
— Por que? Você acabou de chegar, poxa, tenta se divertir um pouco! - virou mais um copo, olhando o amigo de cima à baixo. — Logo você que vive dizendo que preciso sair.
— Não sair pra beber, Nayeon. Sair pra se divertir em festas, ou.. em qualquer outro lugar que não seja um bar onde só velhos vem…
— Que importância isso tem? - pergunta, colocando o copo de volta no balcão após beber mais um gole de soju. — Nenhuma!
— Nay…
— Eu posso beber, né? Ou até disso vou ser privada?
Mingi suspirou, olhando-a.
Mas por fim, deixou ela beber o quanto quisesse.
Quem sabe aquilo a fizesse esquecer as coisas por um tempo…
— Sabe, eu ainda não sei o que fazer sobre ele.
— Quem?
— Wooyoung.
— O que tem ele?
— Eu não consigo saber o que quero com ele. Ao mesmo tempo que minha cabeça diz para me aproximar, também me diz para esquecer isso e que nunca dará certo.
— Já sabe o que eu penso disso. - ele deu de ombros, sabendo onde aquilo iria chegar.
— Sim, sei. Acha que tenho que dar uma chance à ele. E talvez esteja certo, mas eu simplesmente não consigo. - suspirou, engolindo em seco. — Mais cedo ou mais tarde, independente da relação que tivermos, vou ter que dizer… alguma coisa pra ele.
— Tem medo da reação dele ou de contar?
— Ambos.
— Nunca saberá se não contar. Sabe disso, né?
— Claro que sei.
— A reação dele pode ser melhor do que imagina, então não se preocupe muito com isso.
— Talvez…
Nayeon largou seu copo no balcão, abriu sua bolsa e, após pagar pelas bebidas, se virou para Mingi.
— Veio de carro, certo?
— Sim.
— Ótimo, me leve para casa.
Ele riu, enquanto via a amiga saindo do bar, indo logo atrás.
— Ei! Me espera!
Quando a alcançou, passou o braço ao redor de seu pescoço e a guiou até seu carro.
— Sabe, poderíamos fazer isso mais vezes. Beber, conversar, colocar o papo em dia. Mas na próxima vez eu escolho o lugar, você tem gostos péssimos.
— Eu não queria procurar pelo melhor bar, Mingi, só queria beber.
— Mas poderia ter o mínimo de classe ao fazer isso. Até uma barraca é um lugar melhor do que esse.
— Tudo bem, da próxima vez você escolhe.
Quando chegaram em seu prédio, Nayeon se virou para Mingi, curiosa.
— Quer subir?
— Não, já está tarde, e você bebeu bastante, tente descansar. - falou, preocupado.
Mesmo com tudo o que Nayeon havia lhe contado antes, ela não parecia mexida com isso, tampouco preocupada. Era estranho…
— Ok, então. - deu de ombros, abraçando-o e abrindo a porta do carro. — Até!
— Até! - gritou para que ela pudesse ouvir, já que estava longe.
Assim que abriu a porta do apartamento, Nayeon teve todo o cuidado do mundo para não acordar Changbin, esse que se encontrava dormindo, totalmente largado no sofá. Ela foi para seu quarto, pegou uma roupa levinha e tomou um banho, deitando-se logo depois.
Naquela noite, Nayeon não dormiu. Nem por um segundo sequer, ela fechou seus olhos. Simplesmente não conseguia.
A resposta para isso, era mais do que óbvia.
Então, após longos minutos tentando, ela se levantou, pegou seu celular e ligou para a última pessoa que pensou que ligaria.
— Alô? - a voz, totalmente sonolenta, falou do outro lado.
— Wooyoung!?
— Sim, sou eu. Espero que tenha um ótimo motivo para me acordar, porque já vou dizendo que...
— Eu me decidi. - disse, o cortando.
Havia se decidido, finalmente.
Daria uma chance à ele. Ou melhor, à ela.
Sabia que precisava disso.
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