Acordo como se tivesse sido atropelada.
A verdade é que não durmo direito há alguns dias, esse cochilo foi bom, me faz me sentir bem melhor.
Mas, entretanto, porém, todavia, e todos os seus sinônimos existentes, meu bem estar passa ao tomar um susto digno de uma parada cardíaca, ao abrir os olhos e me virar na cama, dou de cara com Laito.
— Olá! — Confesso que ele é bonito, pode ser legal, mas espaço pessoal é uma coisa que ele não conhece.
— Dormiu bem? — Acho que ele se aproximaria se pudesse, porém já está tão perto que não há como.
— Muito, e teria acordado melhor se você não estivesse quase em cima de mim. — Me sento na cama, e ele me acompanha. Seu chapéu não está na cabeça, mas sim, no pequeno espaço que existe entre nós.
— Não seja maldosa... — O encaro esperando o resto de sua frase, mas quando ele começa a colocar o chapéu, e o arrumar de um lado para o outro, buscando uma posição certa, eu percebo que a frase acabara ali.
— Não quer saber o que vim fazer aqui? — Sua atenção se volta para mim quando me levanto e caminho até o banheiro.
— Depois você fala, agora você arruma seu chapéu, e eu faço sei lá o que eu tenho que fazer. — Ouço um murmúrio de sua parte, mas não vou retrucar. Me olho no espelho, o corte melhorou um pouco, e por precaução, passo uma pomada antes de por outro curativo, apenas para ter certeza de que não vou ter uma infeção, prevenir é bom, muito bom.
— Aonde vai? — Sua pergunta soa quando abro a porta do quarto, viro-me e o vejo de pé, ao lado da cama.
— Comer — Saio andando, e percebo que ele me segue.
— Vou te acompanhar — Ele diz ao perceber que o encaro, balanço a cabeça minimamente, e então, continuamos andando até a cozinha.
— O jantar vai ser servido já já. — Seu comentário chega aos meus ouvidos quando pego um pote de biscoitos.
— É? Não sabia. — O respondo enquanto coloco leite num copo.
— Se comer agora, não vai querer jantar. — Senta-se à minha frente, a mesa que tem na cozinha é pequena, não é nada comparada à da sala de jantar.
— Vou querer sim — Minha resposta o faz sorrir, e então, eu mordo um biscoito.
— Você está... — Começo minha pergunta, mas não sei que palavras usar. Após comer os biscoitos, fui à sala e depois voltei ao meu quarto, e o tempo todo, Laito me acompanhou.
— Estou lhe fazendo companhia! — Ele pisca para mim, e tento ignorar isso, essas ações são um pouco estranhas para minha pessoa.
— Ok... — Eu realmente não entendi, mas tudo bem, desde que ele não faça coisas estranhas. Me levanto e pego meu uniforme no armário, seu olhar me segue.
— Você poderia sair? — O pergunto duvidosa, sua risada anasalada me deixa constrangida.
— Claro, afinal, teremos muito tempo juntos! — Ok, isso me assusta muito, ainda mais a lambida que ele me deu no pescoço antes de sair.
— O que é isso meu Deus? — Sussurro enquanto tiro minha camiseta, será que vou conseguir viver com esses loucos? Eu só estou aqui há o quê? Três dias? E já perdi a noção do tempo, socorro!
— Algum problema? Está demorando muito, quer ajuda? — A voz do demônio que insiste em me atormentar o dia todo volta a soar, e então, me apresso a vestir a camisa do uniforme.
— Não, vai embora! — Me certifico de responder, ou esse louco vai entrar aqui quando eu estiver colocando a saia.
Desde criança, eu tenho o costume de pensar na vida enquanto troco de roupa, o problema é que às vezes eu penso em tanta coisa que acabo me atrasando.
O som de um relógio me acorda de meus pensamentos, e dou conta de que estou quase atrasada para o jantar.
— Pensei que não iria sair nunca. — Encontro com Laito no corredor, em frente ao meu quarto. Descemos as escadas com rapidez, e ao chegar na sala de jantar, o relógio soa pela última vez.
— Hoje você quase chegou atrasada, o que houve? — Yui me pergunta em um dos corredores da escola, às vezes, quando temos tempo, conversamos um pouco, claro que não temos tantos assuntos, mas também não sinto necessidade de passar muito tempo com ela.
— Nada, eu só perdi a hora mesmo.
— Verdade, ela ficou mais de quinze minutos trancada no quarto se vestindo, e ainda me deixou plantado do lado de fora! — Algo que está me incomodando é que Laito está me acompanhando até na escola, talvez ele só esteja tentando me irritar, e devo admitir que, isso está começando a dar certo.
E então, após passar todo o período de aula com Laito me acompanhando - menos na classe, é claro -, e lutar no quarto para que pudesse dormir sem alguém indesejado junto, eu dormi, dormi como nunca antes.
— Bom dia, flor do dia! — Que a pessoa que acorda com tanto bom humor vá visitar o inferno, amém!
— O que quer, Laito? — Abro os olhos por inteiro, e o avisto todo sorridente, isso não me parece bom.
— Estou com sede — Sua aproximação calma me lembra um gato tentando pegar um pombo, e na nossa situação, eu sou um pombo que não pode nem passar uma doença sequer para quem se alimenta de mim.
— Não vai resistir? — Questiona ao me ver sentar na cama.
— Resistir é cansativo demais quando se está o fazendo contra um vampiro. — O olho após suspirar, e ele me encara de volta.
— Ok — Ele finca suas presas em meu pescoço, em cima da outra marca de mordida, ou seja, apenas enfiou as presas em dois furinhos que já estavam ali, já estavam cicatrizando! Meus olhos marejam, e me pergunto mentalmente se vale a pena chorar.
— Fofa! — O maníaco de chapéu diz ao ver uma lágrima escorrer, quão loucos eles são?
Os dias passam, e a cada momento me surpreendo mais, pode ser por eu nunca ter tido tanto contato com outras pessoas - mais precisamente, rapazes -, suas ações são diferentes do que considero normal, uma hora uma lambida, outra, uma mordida, sempre do nada, parece até que eles gostam de me ver surpresa.
Esses dias passaram moderadamente rápido, porém, nada muda, são duas semanas em que estou aqui, e estranhamente estou me sentindo bem, apesar das mordidas, eles cuidam de mim, não é um cuidar de mãe, mas sim normal, com normal eu quero dizer que não me "maltratam", tudo bem que às vezes um ou outro tem um surto e algo ruim acontece, entretanto, tirando essa parte, é como estar em casa.
Entretanto, tem um mal que me aflinge: Laito, ele fica me perseguindo todo os dias, o dia todo, isso é horrível, ainda mais com aqueles comentários desnecessários!
— Se escondendo de mim, bitch-chan? — Tal pergunta me assusta, e me viro para o ruivo, que me encara divertido.
— Não, eu estou indo jantar, só isso! — Apresso meus passos até até sala de jantar, sabendo que ele me segue.
— Parecia estar se escondendo! — Sua risada soaria divertida, no entanto, em outra ocasião. No momento eu só quero ficar invisível.
— Não estava não! — Adentramos o cômodo, todos nos olham, isso acabou virando algo normal, já que todo dia isso acontece.
— Afinal, para que me segue todo santo dia? — Resolvo perguntar, essa situação já está me saturando.
— Para não deixar Subaru-kun te machucar novamente! — Sua risada ecoa no cômodo, e seu dedo toca a marca do corte na minha bochecha, ele já fechou, e agora no lugar, tem uma marquinha, que provavelmente em poucos dias, irá descascar.
— O que você quer dizer com isso? — Subaru vocifera irritado após dar um soco na mesa, eu já expliquei para todos que eu cai, mas todos insistem em dizer que foi Subaru, apenas para o irritar.
— Foi uma brincadeira, não se irrite! — Laito gargalha, e continua:
— Na verdade, eu só queria testar a paciência da Bitch-Chan, confesso que ela foi uma ótima companheira! — Agora é a minha vez de ficar irritada, sua piscadela me faz querer socar seu olho até que ele afunde no crânio, quero arrancar suas tripas e o enforcar com elas.
— É melhor eu comer, quando eu fico com fome, eu não sou uma ótima companheira! — Puxo a cadeira e me sento emburrada, minha estadia aqui vai ser longa, então é melhor não arranjar brigas, ou não vou viver o bastante para sair daqui.
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