História Quando A Piada Se Transforma Em Escuridão - Sr. Óbvio

“Eu não posso evitar te amar

Mesmo que tente não amar

Eu não posso evitar te querer

Eu sei que eu morreria sem você

Fique comigo um pouco mais

Eu vou esperar por você”

Assim que entramos na BatCaverna, o silêncio tomou a forma do Cavaleiro das Trevas e essa forma se movia, impaciente, de um lado para o outro, como se estivesse prestes a explodir. Dick decidiu permanecer calado, apenas tirava seu traje, colocando o bastão em seu lugar no arsenal de armas, enquanto arrancava o resto das suas roupas, ficando apenas com a calça e a camiseta branca que usava por baixo do traje. Cruzando os braços, Grayson se apoiou na mureta de aço, ao meu lado.

Bruce parou a nossa frente, soltando uma respiração pesada o bastante para dizer o que receberíamos.

- O que vocês pensam que estavam fazendo lá? - reclamou.

- Uh! Eu sei, eu sei! - ergui minha mão, sorrindo.

Dick bateu na própria testa, negando, então encolhi minha mão atrás das costas.

- Então me diga, Harley! O que vocês estavam fazendo naquela merda de lugar?

Parei para pensar um pouco, olhei para Dick, mas ele não me correspondeu, então mordi os lábios.

- Estamos atrás do paradeiro do Coringa. - admiti, quase num sussurro.

- O quê? - se aproximou para ouvir com mais precisão.

- Estávamos atrás do paradeiro do Coringa! - gritei.

- Harley! - gritou Dick, tentando me chamar atenção.

- Qual é! Ele é o Batman! - estendi meu braço para Bruce - Ele ia saber o que estaríamos fazendo até dormindo!

- Não era para ele estar no meio!

- O quê? - voltou a indagar Bruce, arrancando a máscara de Morcego e a colocando com raiva sobre a mesa de aço.

- Você ia ficar impedindo e dando uma de protetor! - intercedeu Dick - Não é isso o que a gente quer! Bruce, eu estou cansado de ficar sabendo que ele faz sempre as mesmas merdas e você só faz levá-lo pro Arkham e quebrar alguns ossos, nem quando ele ferrou com a Harley você foi capaz de fazer alguma coisa contra ele.

- Dick! - gritei eu, tentando chamar a sua atenção - Você está sendo muito boboca!

- A questão não é o que fazer, é como agir para que isso aconteça. Vocês foram às cegas atrás de um Serial Killer, Jeff Bugg, que nem sabemos se existe!

- Existe sim! Eu vi! - ergui a mão mais uma vez, sorrindo.

Ambos olharam rudemente para mim e eu me encolhi.

- Quase morreram!

- Na verdade, foi bem fácil bater naqueles quatro… - murmurei.

- Você matou um. - lembrou-me Dick.

- Isso não importa, eu estava me aquecendo para fazer o mesmo com o Sr. C. - peguei a arma do meu coldre e fingi dar um tiro no ar a minha frente, acertando um ser invisível - Vai ser a melhor coisa da minha vida! Além do mais, Dick foi super caridoso e você deveria fazer o mesmo! - reclamei.

- Claro que não vou! Estou atrás dele desde que ele apareceu em Gotham, não vamos encontrá-lo tão cedo, a não ser que ele queira que nós o encontremos.

- Isso é besteira! - Dick andou para o centro da BatCaverna - Podemos encontrar ele em qualquer lugar! A Harley conseguiu! - apontou para mim.

- Isso é verdade! - afirmei.

- Ela teve sorte! - Bruce virou-se para Dick - Eu não quero que você corra atrás dele com base em emoções do que ele fez com a Barbara porque eu senti o mesmo, assim como senti com Jason…

Meu coração afundou no mesmo instante.

- Então não aja por impulso!

Dick viu o vácuo silencioso que nos dividiu.

- Já acabou? - perguntou o menino prodígio.

- Já. - Bruce trincou a mandíbula.

Dick passou por mim, e começou a subir as escadas, eu fui atrás dele.

- Você não, Harley. Você fica!

Parei no primeiro degrau e vi Dick subindo, enquanto eu dava meia volta, jogando o taco de baseball no chão, repousando minhas mãos na minha cintura.

- Sobre hoje cedo…

- O quê? Ah, aquilo? Está tudo bem, agora eu tenho que ir dormir! - apontei para trás.

Dei meia volta, indo subir as escadas mais uma vez, mas ele me agarrou pelo pulso.

- Você vai fazer uma piada sem graça agora e me bater, Sr. B?

Erguendo uma sobrancelha, ele me soltou.

- Harley, eu não queria que tivesse ouvido aquilo.

- Está tudo bem, você sabe como eu gosto de surpresas. - sorri.

- Não! Não faça piadas agora! - reclamou - Eu quero dizer que eu soube, no momento que vi o painel de controle com informações que a levaria ao Coringa, que eu sabia o que fazer, eu sei o que tenho que fazer agora.

Bufei, passando a mão pelo meu rosto.

- "Vinte e cinco anos e minha vida está imóvel. Estou tentando subir aquela grande colina de esperança por um destino. Eu percebi logo quando soube que o mundo era feito para essa Irmandade dos homens, seja lá o que isso signifique… E eu digo, Hey! O que está acontecendo?"

- Isso é What’s Up da 4Non Blondes!

- Eu sei, essa música é demais. Então me deixe ir dormir e ficar em posição fetal até alguém me tirar de lá. - bati em seu peito amistosamente.

Ele agarrou meus ombros com força e me obrigou a olhá-lo nos olhos.

- Você não me deixa falar, você pensa que tudo é uma brincadeira, uma piada, mas não é, é só…

- É só uma realidade distorcida, huh? Foi o que ele fez comigo, e é o que Gotham faz com todo mundo, eles destroem, esperando ver o que acontece com a gente depois. - tentei não soluçar, fechando os olhos com força - E eu não notei que causei tanto mal para todo mundo até ouvir o que você disse hoje. Juro que não tentei pensar nisso, que não tentei sentir o peso que eu comecei a sentir e eu sei que foi culpa minha… O que eu estava pensando, sabe? Ele nem era tão mau assim… Ou… Droga!

Bruce segurou o meu rosto e o ergueu, beijando minha bochecha enquanto meus olhos continuavam fechados, depois beijou meu nariz, minha testa, e o meu queixo.

- Eu perdoo você. - murmurou - Eu posso estar errado quanto a essa decisão, ou eu posso estar certo demais para conseguir te manter perto de mim, mas mesmo se tudo isso for uma mentira… O que eu sei que não é… Eu perdoo você.