História Quando éramos apenas crianças sob as estrelas - Noruecia, lá vou eu

Passamos essa noite no sótão, jogando, e as outras tardes e noites que seguiram também. Duas semanas que eu não ousei me separar dele ou da minha família por nenhum momento até hoje. Hoje...eu estava tão ansiosa, era tão incrível pensar que o meu sonho ia se tornar realidade amanhã, mas ao mesmo tempo tão assustador pensar que não teria minha família lá.

Fui tomar café, às 17:00, com a minha mãe, minha tia e a rainha. Minha avó e America estavam lá também, mas nao falavam nada. Todos estavam me perguntando várias coisas e o meu coração estava batendo forte, ia logo logo anoitecer, e eu iria dormir, e quando eu acordasse, iria direto para o aeroporto e então para minha nova casa por 4 anos.

Um guarda se aproximou e me entregou um papel azul que eu logo reconheci.

"Que tal uma musiquinha para acalmar os ânimos?"

Sabia exatamente da onde e de que ele estava falando. Por mais que eu quisesse ficar com minha mãe e minha tia, mina vontade de ver Shay era ainda maior, então eu me despedi e fui em direção à "Sala do Shay".

Chegando lá, vi ele na frente do piano, apoiado nele.

-Oi. -Ele disse.

-Oi. -Sorri.

-Que música você prefere? -Ele disse indo até o banquinho do piano.

-Kodan's talvez...?

Ele sorriu e começou a tocar. Cantamos um pouco juntos, mas então eu comecei a pensar:

"Eu não vou mais poder fazer isso."

Por quatro anos eu não vou escutar Shalom cantar e nem tocar com ele. Ele não vai segurar as minhas mãos no piano e eu não vou escutar nossas músicas ecoando pela sala quando ele canta pelos cantos. Lágrimas invadiram meus olhos sem eu nem ter como impedir.

Comecei a chorar baixinho, mas Shalom ouviu.

-Ei... -Ele parou de tocar e me abraçou. Eu me sentia estranha por estar triste, mas estava inegavelmente triste.

Shay me apertou e beijou minha cabeça e nós ficamos ali por um tempo. Depois de eu me acalmar, ele me olhou nos olhos e eu pude ver que ele também tinha lágrimas em seus olhos.

-Crys, eu quero te ver depois do jantar. Lá em cima. No nosso lugar. -Ele sorriu.

Sorri de volta. Era o Nosso lugar.

Fui para o meu quarto depois de uma hora para terminar a minha mala. Tinha dado um jeito de colocar a rosa lá dentro e todos as coisas que Shalom tinha me dado também. Quando terminei, já era hora do jantar. Desci e comi. Seria o meu último jantar em família, e minha mãe, avó e tia, choraram ao pensar nisso. Até o meu pai deu uns sorrisos estranhos.

Depois do jantar, cumpri o que Shay havia me pedido, e vi que ele já estava lá em cima. Sentado no telhado e olhando as estrelas. Eu sentei no telhado e ficamos olhando as estrelas. A lua estava realmente linda. Comecei a pensar que, assim como eu olhava para as estrelas e pensava em Gardner e Hatty, daqui a duas semanas seria assim também com Shalom. Lágrimas vieram nos meus olhos.

-Sabe. -Ele começou. -Na Noruecia já seria bem mais tarde. -Ele me arrancou pequeno sorriso e umas lágrimas. Shalom coçou a nuca. -Voce vai mesmo, né?

-É... -Eu disse com um nó na garganta.

-Eu...eu queria te dar uma coisa. -Ele colocou a mão no bolso. Quando ele tirou, eu vi uma correntinha de prata. Ele a deu pra mim e eu vi que o pingente era uma estrela. -É pra você não esquecer disso aqui...sabe, das coisas tão importantes para nós que as estrelas nos lembram.

Ele colocou o colar em mim e então voltou a olhar para o céu.

-Sabe...eu não quero que você esqueça isso. Não quero que você me esqueça, mas também não quero que chore por mim. Talvez eu esteja me achando muito importante falando isso, mas talvez se eu falar pra você, eu consiga pegar de exemplo pra mim também. -Ele deu um sorriso triste. Não sei o que eu vou fazer quando você for embora. E eu sei que eu já disse isso, há umas semanas atrás, mas agora eu sei menos ainda. Quer dizer, eu quero que você ache uma pessoa que te faça feliz e eu também quero achar essa pessoa, mas essa ideia me assusta! Eu não quero te esquecer, muito menos vou conseguir fazer isso, mas quero que você consiga viver. Desde o início eu sabia que você iria embora, desde o início eu sabia onde eu estava colocando o meu coração, e, por mais que isso esteja doendo, e doendo muito, eu não me arrependo. Não me arrependo de ter me apaixonado por você, na verdade, essa é a melhor coisa que eu posso imaginar! Crystal, eu te amo, e não ache que você está causando alguma dor pra mim com essa viagem, não se culpe por nada, por que, mesmo que tenha durado só um mês, foi uma honra ter me apaixonado por você. Foi uma honra ter conhecido você. Você agora é uma parte importante da minha vida, e eu não quero que isso vá embora, mas sei que temos que seguir as nossas vidas. Mas, entao, não me esqueça, por favor, porque eu não vou te esquecer.

Shalom tinha a voz embargada e olhos lacrimejados. Eu já estava chorando quando ele me abraçou. Shalom disse que me amava. Nós éramos apenas crianças e eu não sei o que era o amor, mas devia ser parecido com isso. Também tinha sido uma honra pra mim. Pra mim foi uma honra ter ganhado o coração de Shalom e isso é algo que eu não vou conseguir esquecer nunca.

~~~

O aeroporto nunca apareceu tão longe e perto ao mesmo tempo. Tínhamos pegado um carro só, onde estavam meus avós, meus pais, minha tia, eu e Shalom. Meus parentes não paravam de tagarelar e chorar. Eu estava de mãos dadas com Shay, mas nós não falamos nada um pro outro.

Chegamos no aeroporto, e fizemos tudo o que deveríamos fazer. Eu me encontraria com o grupo do programa na próxima conexão em Allens, então agora era só pegar o jato do castelo.

Sozinha.

-Crystal... -Minha mãe disse desatando a chorar. Ela me abraçou e eu comecei a chorar também. -Eu não vou conseguir ficar tanto tempo longe de você! Quando você voltar vai estar tão diferente...

Falei mais algumas coisas e fui me despedir do meu pai, que me apertou e me tirou do chão:

-Crys...vai ser tão estranho não ter você aqui. Há um tempo atrás você era a minha garotinha e agora já está indo morar fora! O tempo passa tão rápido... não quero nem imaginar como você vai estar diferente quando você voltar. -Ver meu pai com os olhos cheios de lágrimas me fez chorar mais. -Boa sorte, filha.

Me despedi dos meus avós e da minha tia, que me abraçou e falou muitas coisas que eu nem consegui entenderem por causa dos soluços.

Olhei para Shalom. Só faltava ele. Ele sorriu e eu o abraçei. Fiquei chorando por um tempo só de lembrar do que ele tinha me falado ontem. Comecei a chorar mais e ele disse para eu me acalmar.

-Eu também te amo. -Eu disse olhando nos olhos dele, cheios de lágrimas.

Ele sorriu e me beijou:

-Eu vou sentir tanto a sua falta...

-Eu também...

Parei de abraçar ele e entao olhei para o avião:

-Acho que é melhor eu ir.

Todos me olharam com lágrimas nos olhos e meus pais me abraçaram uma última vez.

Virei de costas para todo mundo e fiquei olhando para o avião. O meu sonho estava me esperando. E realiza-lo agora era tão simples como somar dois com dois. Virei para trás uma última vez e encarei todos. Dei um sorriso e olhei de novo para o avião. Dei um longo suspiro.

Era isso. O meu sonho estava ali na minha frente acenando pra mim, me pedindo para eu realiza-lo. Subi os degraus do avião e dei outro suspiro ao ouvir a porta fechar atrás de mim.

Noruecia, lá vou eu.