História Quando éramos apenas crianças sob as estrelas - Vamos nos reconquistar

Eu não consegui dormir. Ainda não sabia se eu queria ou não queria seguir o conselho de Piper e voltar a falar com ele. Acho que eu queria, mas ainda não sabia como. Queria saber porque ele fez isso, mas acho que a nossa aproximação tem que acontecer justamente porque eu não ligo. E, por mais que me machuque, por mais que seja uma dúvida que me incomodava por noites, eu não vou mais ligar.

Quando finalmente dormir, faltavam 3 horas pra eu acordar, então dormi até mais tarde. Eram 10 horas quando Gardner apareceu.

-Ei ei ei! Acorda Margarida! O sol já está raiando lá fora!

-Aaaaahhh.....eu quero dormir mais...

-Eu também queria, mas fazer o quê? A propósito, falei com a Piper. Ela é uma fofa! E ela me falou sobre a conversa que teve com você. E então, o que você acha?

-Acho que você devia me deixar dormir! -Puxei o cobertor.

-Você tem que levantar e tomar sua decisão! -Ele puxou a coberta e eu morri de frio.

-Tenho mesmo? Acho que tudo seria bem mais simples se eu só dormisse o dia todo...

-Vai lá falar com o seu homem, Crystal! Isso não é uma opção que eu dou pra você!

Olhei para ele, com uma cara de quem queria morrer, mas ele me obrigou a levantar, pegou uma roupa pra mim e ainda penteou meu cabelo. Ele me contou sobre o aniversário de Gunther e sobre a coisa incrível que ele tinha encomendado pra ele. Gard disse que teria uma festinha na casa dos pais dele no final de semana, já que eles liberavam pra ver a família. Ele me convidou e disse que ele que cozinharia tudo, então queria me ver lá.

Desci para almoçar, já era meio dia. Entrei e a primeira pessoa que eu vi foi ele. Meu coração não acelerava mais como antes quando via Shalom, mas hoje ele deu um pulo. Como eu voltaria a falar com ele? Será que eu devia ir até ele ou esperar ele vir até mim?

-Ok, eu vi esse olhar. O que tá te preocupando? -Minha tia sentou do meu lado. Olhei pro outro, mas logo minha mãe sentou ali e ficou me encarando também.

Contei sobre a conversa com Piper e sobre minha indecisao, bem baixo, durante o almoço, e elas tinham opinioes bem diferentes. Minha tia já queria que eu caísse matando, no bom ou no mal sentido, já minha mãe era mais indireta, sutil.

-Isso não tá ajudando. -Eu disse no meio da discussão delas.

-Olha, você tem que é falar com ele. -Minha tia disse.

-Mas não explodindo! Não com tanta espontaneidade, como você tem as vezes. -Minha mãe disse.

Suspirei e tomei um gole de suco, olhando para o meu alvo. O que tinha no olhar dele? Não sei. Sua boca estava em uma linha reta e inexpressiva, era impossível dizer que ele estava sentindo uma coisa sequer. Por que ele dificulta tanto?

O almoço terminou, mas eu fiquei sentada até o salão esvaziar. Shalom sempre saia atrás dos pais dele, mas eu acho que ele reparou que tinha algo de errado.

-Crystal? -Ele parou e olhou para mim.

-Sim? -Continuei sentada.

-Tudo bem? -Ele ergueu as sobrancelhas.

-Bem, nem tudo.

Ele continuou me olhando, confuso.

-Eu queria...falar com você.

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Caminhavamos no Jardim em silêncio. Ele olhando para o nada e para o chão e eu olhando para os meus pés baterem nas pedrinhas. Estávamos quietos desde que começamos a andar. Ele esperava que eu falasse, e eu esperava que algo decente pra falar aparecesse na minha cabeça.

Ele suspirou:

-Entaaaaooo... -Shalom bateu os dedos na perna.

Suspirei também:

-Eu andei pensando... Pensando em várias coisas. Vaaaarias coisas. Pensando em mim, você, em muitas coisas. E eu cheguei numa conclusão, eu acho.

-Que seria...?

-Eu não te perdôo, Shalom. -Olhei pra ele.

Ele ficou confuso. Abriu a boca para falar algo, mas nada saiu, até porque eu o interrompi.

-E nem acho que vou perdoar. Mas eu acho que podíamos voltar a como éramos. Antes de tudo, quando eu cheguei no castelo. Você era um príncipe, eu era a Crystal. Nós conversavamos, éramos quase amigos, tudo bem, nós eram amigos. O que eu estou querendo dizer é...vamos parar com isso. Com as conversar ácidas, indiretas e olhares indecifráveis. Vamos voltar à estaca zero e recomeçar tudo. Esquecer tudo e voltar e ser apenas um príncipe e uma garota, vamos recomeçar nossa amizade do zero. Vamos... nos conquistar de novo.

Ele ficou olhando pra mim, mas pouco a pouco o seu rosto se acendeu num sorriso, que não era muito aberto, mas os seus olhos, depois de tanto tempo, denunciavam como ele estava por dentro.

-Okay! Eu já disse que eu vou fazer de tudo pra te conquistar de novo! E eu juro que...

-Shalom, menos. -Eu disse sem nenhuma acidez.

-Vamos nos reconquistar, então? -Ele me estendeu o dedinho.

-Vamos, Shalom. -Segurei o dedo dele.

-Pelo menos me chama de Shay.

Pensei.

-Tudo bem, Shay.

-Tudo bem, Crystal Ally.