História Quando éramos apenas crianças sob as estrelas - Mas não é por isso que o final não é feliz

Acordei com a sensação de estar mais leve. Eu estava meio preocupada, mas era como se um peso enorme tivesse sido tirado das minhas costas. A única coisa ruim acontecendo era a minha curiosidade de saber porque Shalom tinha feito aquilo comigo, mas agora que já se passaram 2 dias que eu conversei com ele sobre isso, essa dúvida já deveria sumir da minha cabeça.

Levantei relativamente cedo, era cedo pra mim. Fui pra biblioteca e achei minha tia. Ela estava sentada olhando pro nada com as mãos na barriga. Coloquei as mãos nos ombros dela e dei um grito. Ela se assustou.

-Crystal! O que você tem na cabeça?!

-Muita coisa! -Ri. -E como vai minha prima.

-Nao sei se eu vou conseguir esconder de Kaden por mais tempo. Eu tô me matando pra não contar pra ele. E pode ser um primo.

-É uma prima.

Ela deu de ombros e sorriu.

Ficamos conversando, e ela disse que o aniversário dele estava chegando. Logo ela falaria pra Kaden sobre o novo membro da família.

Logo era hora do café da manhã, e nós fomos lá pra baixo. Sentamos a mesa e eu senti o olhar de Shalom sobre mim. Fazia um tempo que eu não sentia isso, então eu soube que ele iria querer falar comigo hoje.

Depois do café da manhã, não deu outra. Ele veio falar comigo, ele veio atrás de mim e me segurou pelo braço. Achei que ia ser uma coisa séria, achei que ele ia me perguntar uma série de coisas, mas ele apenas disse:

-Quer cavalgar?

Abri a boca, um pouco surpresa, um pouco aliviada. Logo depois, um sorriso, bem discreto, apareceu no meu rosto.

-Seria legal.

Ele sorriu também e nós fomos lá pra fora.

-Algo que me incomodou bastante há um tempo atrás...a cela do seu cavalo estava errada. Você devia deixar o coxeiro fazer essas coisas, ou alguém que entende, tipo eu.

-Ah, senhor espertão, então o que eu estava fazendo de errado?

-Isso. -Ele me deu uma explicação toda detalhada e eu boiei.

-Acho que vou deixar o coxeiro fazer isso mesmo.

Ele riu. Sorri involuntariamente, como eu sentia falta de ver o sorriso dele. Um sorriso leve, um sorriso descontraído, um sorriso que eu tinha provocado. Ah, droga! Por que o sorriso dele me derretia tanto?

Subimos nos cavalos e começamos a cavalgar. Acho que essa era a oportunidade para perguntar várias coisas...sobre a vida. Respirei fundo para deixar a pergunta que eu queria fazer de lado e tentei acompanhar a leveza de um dia de sol como hoje e fazer perguntas leves.

-Faz tempo que não conversamos. -Digo.

-Acho que normalmente, sim.

-Mas... você ainda toca?

-Sempre. Mas acabei esquecendo algumas músicas. Acho que há uns 5 anos eu escutava muito mais música que agora. Acho que há 4 meses eu escutava muito mais música que agora.

-O que tá acontecendo?

-De tudo um pouco. E você, ainda toca?

-Toco. Nunca mais toquei aqui, mas lembro de umas músicas.

-Hum...

-E as fotos? Continua?

-Acho que você não foi lá em cima de novo, foi?

-Na verdade, não.

-Vai fazer alguma coisa depois do almoço?

-Eu nunca tenho nada pra fazer.

-Otimo.

Continuamos cavalgando e falando coisas aleatórias. A conversa, incrivelmente, fluiu. Eu estava feliz. Bem, eu estava muitas coisas.

Lembrava de tudo que vivemos juntos, lembrava de quando cavalgamos juntos no jardim e meu cavalo saiu correndo desenfreadamente, ou quando ele me mostrou lá em cima, quando fizemos muitas coisas legais nesse castelo. E os olhos de Shalom ainda eram os mesmos, o cabelo bagunçado dele ainda era o mesmo. Ele ainda parecia o mesmo, mas não era. Eu sei que não. Eu não era.

Voltei pro meu quarto. Eu não sabia se eu sorria ou chorava. Minha garganta tinha um nó, mas minha boca se arqueava em um sorriso. Engoli a vontade de chorar e logo tive que descer pro almoço.

O almoço foi devagar, já que eu estava esperando pra ir lá em cima com Shalom.

-Me espera aqui. -Foi o que ele disse quando saiu da Sala de Jantar depois do almoço. -Volto já.

Sentei num sofá e fiquei lá pelo o que pareceu uns 15 minutos, até que um guarda me entregou um papel dobrado sem o menor capricho.

"Então, eu achei umas coisas pra fazer, não vai dar. Desculpa :( eu só vacilo.

Mas se você quiser ir lá sozinha... Tem algumas fotos novas lá.

~S

PS: desculpa de novo"

Bem, primeiro eu fiquei um pouco desapontada. Decepcionada talvez. Mas logo esqueci. Não podia ficar triste por não passar mais tempo com ele. Shalom não era mais meu melhor amigo, nem meu namorado, e ele tinha feito coisas horríveis.

Talvez eu seja um pouco bipolar.

Mas eu sabia que ele não estava pedindo desculpas apenas por não poder ficar comigo.

Talvez eu seja muito bipolar.

É, eu devo ser.

Pensei um pouco e resolvi não ir lá em cima. Eu só ia abrir feridas sem motivo nenhum.

Subi pro meu quarto e fiquei lá o resto do dia, até o jantar, quando Shalom me pediu desculpas pessoalmente, e depois disso eu dormi que nem uma pedra.

~~~

E então se passou uma semana. Eu conversei com Shalom algumas vezes, mas nós não fomos lá em cima, dessa vez fui eu que adiei.

Faltava uma semana pro Natal e o castelo estava cheio. Cheio mesmo. Logo, Shay ficou muito solicitado e nós não tivemos grandes programas além das nossas conversas. Eu reparava nele conversando com as visitas e em como ele ficava desconfortável quando falavam sobre um herdeiro ou sobre o casamento dele.

Fiquei tomando chá no salão das mulheres praticamente o tempo todo. Sempre lia alguma coisa, especialmente agora, que tinha achado O Grande Heroi de novo. Não lia aquilo há 4 anos. Li em dois dias e reparei em como o livro era bom e em como eu tinha bom gosto. Lembrei de quando Shalom e eu tivemos conversas filosóficas sobre ele.

Voltei pro meu quarto e dessa vez achei outro livro. Ele estava em cima da cama com um post it Azul colado em cima.

"vi você procurando algo na biblioteca hoje, achei que podia ser isso. Acabou ficando comigo quando você foi pra Noruecia e eu só te devolvi agora por causa...das circunstâncias.

Esse é um dos melhores livros até hoje.

Você sabe quem usa post its azuis."

Sorri e peguei o livro. A primeira coisa que fiz foi abrir e cheirar. Tinha o mesmo cheiro de antes, e eu mal podia esperar pra ler, e não esperei, comecei a ler naquela noite.

Vi que no final o casal não ficava junto, simplesmente porque não era pra ser, porque ele viu que ela não passava de uma garota por qual muitos ainda se apaixonariam, e então a deixou ir, ficando apenas com a lembrança dela na janela da casa. Acho que nem sempre o casal fica junto no final, mas não é por isso que ele não é feliz.