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História Quando o céu despedaçou - Se eu não lembro da tristeza, então ela não existe


Escrita por: rupphires

Notas do Autor


to esperando dar o horário da minha aula online e to sem nada pra fazer, então decidi postar o capítulo auhauah

Capítulo 5 - Se eu não lembro da tristeza, então ela não existe


Ele me levou pra um lado da cidade que eu não conhecia. Era bem no extremo. Paramos em um galpão abandonado, basicamente. Alguns poucos carros estavam estacionados e as paredes de concreto sem tinta estavam cheias de pichações diversas. Desde coisas aleatórias como “amo a minha avó” para frases ofensivas e outras de cunho ideológico. Eu nunca imaginei que um galpão abandonado fosse existir naquela cidadezinha.

Lá dentro rolava um som vindo do rádio que alguém tinha trazido e alguns jovens estavam por lá. Reconheci imediatamente Hinata, com seus cabelos ruivos e chamativos, e suas roupas tão coloridas quanto ele. Dando uma olhada mais atenta, também reconheci Kenma e Kuroo sentados perto um do outro, e Kageyama. De resto, não conhecia ninguém. Por isso, fiz questão de ficar o mais próximo que conseguia de Bokuto, andando levemente atrás dele. Às vezes, ele virava o pescoço um pouco para falar comigo.

— Legal, né? Duvido que você tenha imaginado isso aqui.

— É, eu não imaginei isso. Nem de longe. 

— A gente também se diverte aqui. O que você faz para se divertir na sua cidade? O que tem de legal lá?

— Eu… — Pensei no que deveria responder. Sinceramente, ninguém ali me conhecia. Eu poderia me transformar no que eu quisesse. Se dissesse que ia para um montão de festas e conhecia vários lugares legais, eles facilmente acreditariam e ninguém poderia me contradizer. Mas eu não me sentiria confortável em criar uma imagem de mim que não se parecia comigo. Então, por mais que a verdade fosse meio lamentável, eu poderia lidar com ela. Deve ser por isso que não costumo mentir para outras pessoas que não sejam eu mesmo: não sei lidar com o peso insuportável de algo que não sou. — Não faço muita coisa, também não conheço tantos lugares. Eu leio livros e quadrinhos, e fico mais em casa do que na rua. 

— É? Qual seu livro favorito? — Ele tratou aquilo tão casualmente que eu desconfiei, mas não disse nada.

— A insustentável leveza do ser. 

— Parece bom. Eu leria só pelo título. — Aquilo me fez rir. 

— Eu também. Tem filme e livro que eu quero assistir ou ler só porque o título é maravilhoso. — Ele riu junto comigo e aos poucos eu fui me sentindo mais à vontade. Acho que esse era o efeito que ele tinha nas pessoas. Deixava-as completamente entregues. 

— Você sempre leu bastante?

— É. Acho que sim. É influência dos meus pais, acadêmicos, sabe? Meu pai é professor de história em uma universidade. Minha mãe deu aula no departamento de história da arte por anos, e agora tá criando um próprio sebo-café, ou sei lá como ela chama aquilo. 

— Caraca! — Ele exclamou. — Meu pai é corretor de imóveis e a minha mãe trabalha em uma kitandinha lá perto de casa, dois quarteirões pra cima. Mas ela também atua. Sempre faz o papel de Maria nas peças de Natal e fica linda! Ela queria mesmo era ir pra cidade quando era jovem, pra atuar em novela, sabe? Mas, aí, desistiu. Você vai vir pra cá no Natal? 

Imaginei a mãe do Bokuto vestida de Maria e ela me pareceu realmente bonita. Pensei no Natal, também, e ainda estava tão longe que era difícil afirmar alguma coisa.

— Não faço ideia do que vai ser do Natal.

— Você deveria vir. Aliás, por que é que você e sua mãe só apareceram agora? Fiquei com isso na cabeça desde que te vi. Sempre achei que senhora Akaashi era sozinha. Nem marido ela tem. Ah, eu vi sua mãe esses dias, também, andando na rua. Ela é bem bonita, vocês realmente se parecem. 

— É… — Concordei. — Longa história.

Repeti o que já tinha falado antes, mas dessa vez Bokuto não riu. Ele me olhou e eu senti que seus olhos meio caramelos meio amarelos carregavam toda a compreensão do mundo. Como se estivesse consciente, de verdade, de que era uma longa história e que era difícil explicar, até porque eu não sabia inteiramente dela. Ele não perguntou mais nada depois disso, porque nos aproximamos do lugar onde tinha gente.

Aí, o Bokuto foi só sorrisos e simpatia. Ele conhecia todo mundo e parecia animar geral, também. O som que tocava era de alguma artista pop que eu desconhecia e tinham bebidas. Hinata me agarrou pelo braço e me colocou pra sentar em um palco que tinha no centro do galpão, onde todo mundo estava, e me ofereceu uma bebida destilada da cor azul. Eu cheirei aquilo e já fiz uma careta. Não era muito próximo de bebidas alcóolicas, pra ser sincero. Quer dizer, não estava acostumado com elas.

— Todas as pessoas da cidade grande são certinhos que nem você? Eu imaginava muito o contrário. — Hinata comentou, ansioso por me ver entornar a bebida na garganta. Aquilo feriu o meu orgulho, admito, por isso eu dei uma grande golada e não consegui evitar a careta. Ele caiu na gargalhada. Eu suspirei, rindo também.

— Não, definitivamente não. É que eu não pertenço a lugar algum. 

— Gostei disso. — Ele comentou, virando-se para o garoto em pé na sua frente. — Não pertencer. Bonito. Poético, né, Tobio?

— Sim. — Ele virou a bebida que estava em seu copo na garganta. Acho que Kageyama estava bêbado e sinceramente não prestava atenção em mim. Sua atenção estava concentrada no rosto de Hinata e concordar deve ter sido uma atitude inconsciente. — Gosto de poesia. 

— Eu também! De poesias de amor, principalmente. — O ruivo falou, sorrindo. Tobio sorriu junto. Deve ser o efeito da bebida, porque quando o conheci o seu rosto era muito mais fechado e rígido. Bem, não sei. Só o tinha visto uma vez na vida.

— É... Você quer que eu recite uma poesia de amor pra você? Posso recitar qualquer uma! 

— Você está bêbado.

— Mas o amor é real. — Shouyou corou e olhou para mim, encolhendo o ombro, parecendo extremamente envergonhado. Depois, tornou a olhar Kageyama e começou a rir: 

— Ei, o Akaashi tá aqui. Não seja assim. — Achei bonitinho, mas também pensei que estava atrapalhando. Foi por isso que eu terminei de beber tudo em um gole só e me levantei.

— Pra onde você vai? 

— Eu vou… Procurar o Bokuto. — Falei meio inseguro, porque eu não acho que teria coragem de procurá-lo, mas era melhor sair de lá. Acenei e Hinata disse que daqui a pouco me ajudaria na procura, mas eu não botei muita fé. 

Eu fui andando entre as pessoas. Kuroo e Kenma me cumprimentaram, encheram o meu corpo mais duas vezes — e eu me senti na responsabilidade de consumir aquele líquido terrível para não soar tão careta como tinha parecido com Hinata, o que foi um grande erro, porque fiquei bêbado rapidinho — e me apresentaram mais uma galera simpática, tipo a Kiyoko, o Daichi e o Sugawara. Legais, me trataram super bem, mas eu também não fiquei muito tempo ali. Não sei onde é que estava o Bokuto. 

Nunca me senti tão deslocado. Quer dizer, eu tinha esse pensamento toda vez que eu me sentia deslocado, mas daquela vez era diferente. Eu parecia novamente aquela criança refugiada, escondendo-se em uma cidade que não era sua, com um nome que também não era seu. Todas as pessoas ali estavam se divertindo e olhá-las como um mero telespectador fazia a minha solidão se aflorar, sentimento que foi intensificado pelo efeito da bebida. Decidi sair pra tomar um ar e fingir que eu não me sentia tão corroído por dentro. No meio do caminho, quando já estava perto da saída, eu encontrei o Bokuto. Mas ele estava prensando um garoto contra a parede e eles se beijavam fervorosamente. Eu realmente não sei como ou o porquê, mas ele abriu os olhos no momento em que eu apareci ali.

Me senti terrivelmente desconfortável com aquela situação, principalmente quando ele interrompeu o beijo e dois pares de olhos me encararam. Acho que eu devo ter ficado tão vermelho que não consegui falar nada. Apenas encolhi os ombros e voltei a caminhar para a saída. Sentia meu rosto pegando fogo e eu puxei todo o ar que podia quando me vi sozinho do lado de fora, na estrada de terra rodeada por um mato mal cuidado e que precisava ser aparado. Andei em círculos algumas vezes, segurando o meu próprio rosto. Eu sou um idiota. Idiota, idiota, idiota. Não sei por que esse pensamento me passava tão freneticamente na cabeça. Tirei o maço de cigarro do bolso e acendi um. Eu tinha começado a fumar no último ano do ensino médio. Minha mãe desaprovava, mas ela também era fumante, então eu não a deixava discutir comigo, mas estava parando. Faziam semanas que eu não fumava e geralmente essa vontade vinha quando eu me sentia muito ansioso ou nervoso. Sentimentos incontroláveis, como naquele momento.

Traguei uma vez, soltei a fumaça e me sentei em cima de um tijolo do lado da porta do galpão. Encarei a rua vazia de carros. Estar sozinho ali me deu vontade de chorar. Quer dizer, eu estava sentindo muita coisa naquele momento, mas ficar sozinho pelo menos me dava a segurança de me sentir deslocado somente junto ao meu próprio eu. Ninguém precisava me observar na minha própria lamentação.

— Acalmou? — Bokuto apareceu do meu lado, sentando no tijolo perto de mim, e eu fiquei tão surpreso que me assustei, quase caindo e por sorte não derrubei o cigarro, mas queimei o meu joelho de leve. Fiz um murmúrio de dor e o rapaz dos cabelos prateados soltou uma risadinha nasalada antes de tocar na minha perna e tirar as cinzas de mim.

— Eu… Bem, você… Sinto muito… — Gaguejei, nervoso, e desisti do que ia falar no momento em que ele me encarou. Desviei os olhos e voltei a levar o cigarro aos lábios. Ele tirou as mãos de mim. Acho que meu rosto ainda estava vermelho e eu me sentia levemente febril pela vergonha. 

— Não sabia que você fumava. 

— É claro que não. — Eu respondi. — Você só me viu uma vez na vida. — Ele gargalhou e mais uma vez eu não sabia porque a minha sinceridade era tão engraçada pra ele. 

— Eu quis dizer que você não parece do tipo que fuma.

— Eu pareço de que tipo, então? — Acho que a bebida me fez ficar levemente mais atrevido com as palavras. 

— Do tipo que lê e escreve poesia.

— Mas eu sou do tipo de que lê e escreve poesia. Ora, um fumante pode ler e escrever poesias. Fumantes e poetas, não tem muita diferença a não ser no pulmão. Os dois são tristes e eu sou os dois. 

— Isso quer dizer que você é triste, Akaashi? — Novamente o sorriso morreu e seu tom era mais sério. Eu acho que Bokuto tinha humores instáveis, pelo menos na minha suposição. Ou ele só conseguia encarar cada situação como singular. É, acho que era isso. Reações específicas para momentos específicos. Desviei os olhos e terminei o meu cigarro. Eu carregava um saquinho plástico no meu bolso sempre para jogar a bituca porque não era garantia de que as lixeiras existissem por todos os lugares.

— Keiji.

— Como é?

— Pode me chamar de Keiji, sabe. 

— Sei. — Ele sorriu. — Vai me responder, Keiji?

— Não. — E voltou a gargalhar. Eu disse: Bokuto via algo de muito extraordinário na minha sinceridade para rir desse jeito. O humor e o albino, em si, são coisas muito curiosas. 

Ele voltou a ficar sério em um instante e nós ficamos em silêncio por um tempo. Estava meio desconfortável. Quer dizer, eu tinha atrapalhado o beijo, amasso, pegação, sei lá o quê, dele. E agora Bokuto estava ali. Céus, eu sou um idiota. 

— Você está… — Ele hesitou. — Assustado comigo?

— Quê? — Bem, eu estava muitas coisas, mas assustado não era uma delas.

— Eu estava beijando, bem, você sabe…

— Sim, eu te vi beijando. 

— Um cara.

— É.

— Isso não te assusta?

— Por que me assustaria? Eu também já beijei um cara. Eu gosto de caras. E de mulheres. Sei lá, eu gosto das pessoas. Às vezes não gosto, mas não tem relação com o que estamos falando. 

— Sério? — Concordei com a cabeça. Omiti o fato de que foi o Konoha, meu amigo, o único cara que eu tinha beijado porque ele queria fazer ciúmes em um garoto que estava curtindo em uma festa da faculdade. A única que eu fui e foi uma merda. Tinha sido um beijo bom, mas não tinha significado nada. Eu nunca tinha me relacionado com muitas pessoas e se tinha beijado mais de cinco delas na vida já era algo realmente significativo pra mim. — Entendi. — Voltamos ao silêncio e eu evitei olhar para Bokuto, mas eu sinto que ele me analisava. Parecia atento a cada movimento que eu fazia e aquilo me deixou desconfortável pra caramba. Nunca tinha sido encarado por tanto tempo antes. 

— Desculpa atrapalhar…

— Não atrapalhou.

— Então, você pode voltar.

— Não quero.

— Mas…

— Ei, Keiji. Qual é a longa história? — Então, eu virei o pescoço em sua direção, voltando a olhá-lo. Fiquei meio boquiaberta. Quer dizer, ele deixou de beijar uma pessoa porque estava curioso em relação a história da minha avó e da minha mãe? Bokuto devia mesmo ser singular. Quer dizer, ele era. Isso eu notei desde o princípio, mesmo. 

Pensei muito no que eu deveria falar. Acho que seria melhor se eu resumisse.

— Minha mãe e a minha avó ficaram mais de vinte anos sem se falar. Minha mãe morava aqui também, sabe. Mas decidiu ir embora. Minha avó já não concordou e, pra piorar, minha mãe se aliou ao partido comunista em plena ditadura. Foi demais pra minha vó aguentar e elas cortaram relações.

— Viu, contando desse jeito não parece tão longa. 

— É, não parece. É que não é só isso. É que eu não sei do resto. São as entrelinhas, Bokuto, as entrelinhas são muito longas e eu não faço ideia de metade delas. Eu senti isso a vida toda, sabe? Que eu tô vivendo uma história que é consequência de histórias anteriores, não a minha própria história. Eu não posso fazer a minha própria vida se não entendo o que me deu origem. É difícil pra caramba de explicar, mas, basicamente… Eu não sou daqui. 

— Eu sei, você é da cidade.

— É, se fosse só isso eu estaria feliz. Eu não seria essa… Coisa bagunçada que eu sou hoje. Estaria vivendo uma história que é só minha e não uma consequência de histórias inacabadas. Você não sente isso, não? É angustiante. Se pelo menos uma ditadura não tivesse acontecido e apagado toda a memória do mundo, do meu mundo, se pelo menos minha avó e a minha mãe não tivessem brigado, se pelo menos o meu pai não fosse tão idealista, então… Eu estaria bêbado e feliz. Não um bêbado triste e falante. Odeio beber. Sempre digo tudo o que não deveria, tipo agora, e é ruim. Destilado é terrível. Língua solta de merda. 

Quando eu terminei, eu achei, realmente achei, que Bokuto ia dar aquela risada alta e carregada de sinceridade cômica. Aquilo faria com que eu me sentisse melhor. Como eu disse: o humor torna coisas terríveis menos terríveis. É retórica. Mas ele não riu. Ficou absolutamente mudo e ainda por cima me olhava com seus olhos amarelados que me mostravam qualquer coisa que eu não podia entender. Senti vontade de chorar e se eu fosse um pouco mais aventureiro teria feito isso, sim, mas não fiz. Olhei pra baixo, não suportava o seu olhar. 

— Quando eu era criança, tinha um rapaz, trabalhava na construtora, que morava na rua de cima. — Ele começou. — Ele passava sempre na frente da nossa casa e ficava um tempão batendo papo com os meus pais. Um dia, eu tava na rua e vi um carro esquisito. Fiquei acompanhando de longe, curioso como eu era. Aí, pararam na casa dele. Tiraram ele do portão, nem se deram o trabalho de fechar, e enfiaram no carro. Depois desse dia, eu não o vi mais. É como se ele tivesse evaporado, como se sua existência tivesse sido uma miragem. Sempre que eu perguntava sobre ele para os meus pais, os dois ficavam quietos, não respondiam, desviavam o assunto, ou me censuravam. Então, por muito tempo eu acreditei que tinha sonhado com ele.

— Quando eu nasci, um tempo depois os meus pais tiveram que se refugiar na casa de alguém do partido deles. Então, pra se esconder, eles tomaram nomes diferentes, também me deram um nome diferente porque eu já tinha sido registrado no cartório. Ser você e também não ser é uma sensação muito estranha. Eu sinto que a ditadura atingiu os meus pais e a minha avó, agora que eu a conheci, em níveis catastróficos e que vão além da minha compreensão, mas me afetam de qualquer forma. Todos eles, eu os sinto distante de mim. Eu nunca sei o que a minha mãe está pensando e ela é a pessoa que eu mais amo na vida. Sei lá, Bokuto, eu nasci clandestino. Fiquei aquele período sem poder contar pra ninguém quem eu era e acho que foi ali que eu comecei a me perder de mim, porque fiquei tanto tempo sem falar que, quando pude, já não sabia mais fazê-lo. 

Bokuto ficou quieto por um longo tempo e eu não ousei interromper o silêncio. Tentava me perguntar quando foi que eu cheguei até aquele assunto e me repreendi por ser tão desbocado sob o efeito de uma bebida. Não beberia mais com eles. Acho que Koutarou, inclusive, estava sóbrio, porque ele dirigia, então eu não podia nem acreditar que ele esqueceria daquele diálogo. Mas, então, ele olhou pra mim. Pegou na minha mão e com a outra segurou o meu rosto. Se aproximou de mim e me deu um selinho. Arregalei os olhos, extremamente surpreso, até que ele sorriu: — Vi você quando chegou aqui no primeiro dia junto com a sua mãe e agradeci muito a sua avó quando ela nos apresentou. Eu estava imaginando uma forma de te conhecer a uma semana atrás. 

Comecei a chorar. Acho que eu chorei muito. De dor, de solidão, de humilhação e de vergonha. Eu estava bêbado. Eu tinha falado mais do que deveria e isso era humilhante. Bokuto tinha me dado um selinho e eu gostei. E eu estava chorando depois de ter aberto o meu coração.

— Vamos embora? Vou te levar pra casa. — Concordei com a cabeça. Antes de ir, puxei a sua camisa com uma mão. Com a outra, eu limpei o meu rosto. 

— Podemos esquecer disso? Esquecer das coisas que eu falei? E do meu choro?

— Você quer esquecer do beijo também? 

— … Sim.

— É claro. — Ele sorriu e seu sorriso me quebrou mais uma vez, porque era triste. Ele tinha mudado de humor muito rápido e eu podia sentir a sua tristeza no fundo dos olhos. Era por isso que eu detestava me abrir: se eu esquecia da dor, ela não existia. Agora que eu tinha lembrado, ela me vinha com intensidade. — Me desculpa. 

Concordei. Entramos no carro e a viagem foi silenciosa. Bokuto parecia tranquilo e tamborilava os dedos no volante. Como eu não conseguia olhar os seus olhos diretamente, também não dava pra saber se a tristeza continuava lá. Eu não sei se queria saber também. Eu estava quieto, mas minha cabeça nunca esteve tão barulhenta. Parecia o barulho da furadeira ou do escapamento solto de uma moto. Insuportável, porque eu odeio barulhos muito altos. 

Me despedi quando chegamos na nossa rua e Bokuto estacionou o carro na frente de sua casa. Agradeci, virei as costas e parti, envergonhado demais. Tinha certeza que nós não iríamos nos falar com frequência a partir daquele dia, mas seria melhor assim. Era melhor fingir esquecer porque, desse jeito, quem sabe nós não nos esqueceríamos de verdade e, então, isso se tornaria uma miragem até deixar de existir. Já dizia Kundera, quem não lembra não existe e é por isso que as ditaduras tomam como primeira medida para os seus governos totalitários a dizimação da história, que é o melhor jeito de apagar as memórias de um povo até que ele deixe de existir para se transformar em outra coisa completamente diferente.  

 


Notas Finais


Quando vou tentar retratar o Bokuto, eu penso em algumas características em especial. As principais são: instável, alegre, espontâneo e compreensivo. Não sei se vocês concordam comigo, mas é isso. Eu sinto que o Bokuto entende muito bem as pessoas ao redor no sentido de compreender. Ele ouve muito bem e o Akaashi também.
Espero que tenham gostado! Até logo <3


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