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História Quando os Anjos Dormem (vhope) - Oito


Escrita por: Gabbieah

Notas do Autor


#mentaEcanela

Capítulo 10 - Oito


  Sentia que estava prestes a enlouquecer. Faziam quase dois dias desde a publicação daquele maldito artigo e Hoseok ainda sentia raiva de Taehyung na mesma intensidade de quando o colocou contra aquela parede.

As palavras ecoando em sua mente e o fato de ter acabado de sair do tribunal o deixava transtornado. Ele sabia que Suho terminaria sendo inocentado pelas acusações de homicídio, teve certeza disso quando olhou no fundo dos olhos da advogada de defesa.

O julgamento ainda se estenderia por muito mais tempo, no entanto, agradecia por sua parte naquela história ter chegado ao fim. Porque mais um pouco e surtaria de vez.

E pensava em Taehyung novamente, naquele maldito repórter no qual amaldiçoava até a próxima encarnação. Estava puto por saber que talvez ele tivesse razão, que talvez não houvesse investigado mais afundo e isso estava o corroendo por dentro.

Queria pegar Taehyung e esgana-lo, mas não podia, quem sabe colocar uma foto de seu rosto em um dos manequins do estande de tiro ajudasse.

Os limpador de para-brisas ia de um lado para o outro, afastando as gotas grossas de chuva que embaçavam o vidro. Batucou os dedos no volante de forma impaciente, só queria chegar em casa antes da hora de dormir de Haewon.

Queria chegar a tempo para que pudessem assistir o filme, no qual vinha prometendo a dias que veriam juntos.

Um carro disparou na faixa ao lado da que estava, o assustando. A água acumulada na rua jorrou para todos os cantos e na calçada, terminou de molhar um homem que mal podia ser notado por conta daquele aguaceiro todo.

Franziu o cenho, viu o homem berrar em frustração, mostrando o dedo e mais um pouco, teria atirado a primeira pedra que encontrasse naquele maldito carro.

Assim que passou por ele, o reconheceu e não soube conter a risada. O assistiu se distanciar pelo retrovisor, e foi quando um segundo carro passou e mais uma vez o banhou com toda a água da calçada.

Sentiu pena dessa vez, e odiou-se por isso, teria seguido seu rumo e passado direto, mas o que fez foi dar a ré e parar o carro ao lado dele.

De cenho franzido o homem se distanciou do carro e quando Hoseok abaixou o vidro quis evaporar.

– Não tem água em casa, não, Kim?

– Vai se foder, Jung, não estou com paciência pra lidar com você e suas babaquices – cruzou os braços e voltou a andar.

– Taehyung, entra no carro.

– Já disse que não estou afim das suas gracinhas.

– Entra no carro, idiota, eu te deixo em casa.

– Não.

– Puta merda, prefere pegar um resfriado?

– Prefiro – resmungou, afastando o cabelo molhado do rosto.

Hoseok teria o deixado para trás depois disso, mas a pele lívida e os lábios roxos de Taehyung não o deixaram fazer isso. Ele parecia estar prestes a congelar.

– Entra no carro – pediu, parando de maneira brusca encontrando novamente o olhar furioso de Taehyung.

– Me deixa em paz.

– Entra, ou eu desço para te buscar.

– Duvido.

Hoseok abriu a porta, desceu e Taehyung estava surpreso demais para reagir quando teve seu braço agarrado e fora arrastado para dentro do carro.

Deu a volta e entrou novamente, batendo a porta em irritação e encarando Taehyung agora ao seu lado. Pensando em todos os palavrões que queria direcionar a ele naquele minuto.

Como Taehyung poderia ser tão teimoso?

Podia sentir sua pulsação na garganta e possuía a certeza de que estava vermelho de raiva.

Taehyung desviou o olhar, passando a mão no cabelo o jogando para trás, para depois arrancar a jaqueta que vestia e larga-la no chão entre seus pés.

Hoseok o viu estremecer, juntando as mãos em seu colo e se encolhendo pelo frio.

– Nem pense que vou pagar pela lavagem do carro – resmungou.

Hoseok estava impressionado. Até em uma situação como esta, Taehyung arrumava forças para provoca-lo.

Não retrucou, em vez disso inclinou-se entre os bancos para alcançar o casaco grosso que havia jogado nos bancos de trás quando saiu do tribunal.

– Veste – o estendeu na direção do Kim, este que maneou o olhar entre o rosto de Hoseok e o casaco em suas mãos.

– Não precisa.

– Precisa sim. Tira a camisa e veste.

– Já te falaram que você é um idiota mandão?

– Já te falaram que você é um insuportável teimoso?

– Vai se foder, eu não sou obrigado a ficar aqui engolindo desaforo – fez menção de descer do carro e Hoseok travou as portas – Ficou doido, é?

– É você quem tem me deixado doido – resmungou baixo e Taehyung o olhou ofendido.

– Eu quero mais é que você se lasque!

– É? E o que mais?

– Quero que se exploda! Que suma. Desapareça! – gesticulou alterado – Seu insuportável!

– Vai se foder, eu deveria ter te deixado na chuva!

– E por acaso eu pedi uma carona?

– Ingrato de merda.

– Eu quero descer – continuou a teimosia – Abre a porta, Jung, eu não vou passar mais nem um segundo do seu lado.

– Agora que entrou, não vai mais sair.

– Isso é crime, sabia?

Hoseok arqueou as sobrancelhas, revirou os olhos e entregou a ele o casaco. Taehyung querendo, ou não.

– Veste de uma vez e vê se para de dar chilique.

– Eu não acredito nisso! – grunhiu em pura irritação – Você é doido!

Hoseok encostou o carro, virou-se para ele outra vez e estava para explodir de raiva. Taehyung estava pálido como um papel, tremendo de frio, recusando-se a vestir o casaco e ainda sim, de cenho franzido em irritação.

Jung respirou fundo, esfregou os olhos e com a única gota de paciência que lhe restava se dirigiu à ele:

– Você está tremendo, Taehyung, veste o casaco – pediu em um tom de voz baixo.

O Kim se encolheu, desconfiado da mudança repentina de humor alheio e baixou o olhar ainda sem entender.

Hoseok ligou o aquecedor e com o cotovelo apoiado na porta esperou. Taehyung cedeu, arrancou do corpo a camisa molhada e a deixou no chão junto à jaqueta.

Vestindo o casaco de maneira desajeitada, subiu o zíper e se afundou no banco. Prendendo o lábio entre seus dentes e sequer pensando em agradecer.

Hoseok manteve o silêncio e o encarou apenas para garantir de que ele havia obedecido dessa vez, para só então arrancar com o carro.

Taehyung se manteve quieto, não queria mais discutir, sua mente estava bagunçada demais para encrencar com alguma coisa.

Detestava dar ao detetive aquele gostinho de satisfação, que tinha certeza de que ele sentia quando conseguia o que queria. Entendeu isso no exato momento em que teve seu corpo prensado contra aquela maldita parede.

Hoseok era um maldito que de alguma forma, conseguia desestabiliza-lo por inteiro. E Taehyung estava para morrer de medo do que seria capaz de fazer, caso Hoseok conseguisse deixa-lo com as pernas bambas daquela forma outra vez.

Esfregou as próprias mãos, antes de enfia-las no bolso do casaco, tirando de lá a carteira do detetive e totalmente levado pela curiosidade, a abriu, encontrando a fofo de Haewon e sua mãe.

Analisou o rosto das duas por um instante, os sorrisos e os olhos pequenos. Haewon era minúscula nos braços dela, deveria ter uns dois anos.

Assustou-se quando Hoseok tirou a carteira de suas mãos e a jogou no painel do carro, não dizendo nada, nem um insulto.

– É a mãe da sua filha? – perguntou baixinho, virando o rosto para encara-lo.

Não sabia se tinha liberdade para fazer perguntas pessoais, mas sua curiosidade não permitia que mantivesse as dúvidas para si. Era jornalista, fazer perguntas invasivas era uma rotina, não sabia conversar sem fazer parecer uma entrevista.

– O que aconteceu com ela?

– Ela morreu.

Taehyung sentiu o arrependimento no mesmo instante, baixou o olhar, pressionando os lábios.

– Sinto muito.

O silêncio se instalou entre eles, Hoseok mantinha uma das mãos no volante e o cotovelo apoiado na janela, coçando o queixo, preso em seus pensamentos.

– E a mãe dos gêmeos? – Taehyung assustou-se ao ouvi-lo falar – Você disse que eles não tinham mãe.

– E não tem – fita suas mãos, apertando os dedos em seu colo – Dá última vez em que eu soube ela estava na Europa... – riu ao lembrar da última conversa que teve com a família dela – Aquela filha da puta.

Hoseok o encara pelo canto do olho, esboçando um sorriso.

Taehyung manteve as mãos nos bolsos, dedilhando a carteira de cigarros de menta de Hoseok. Teria os tirado dali junto da carteira, mas não queria, simplesmente não queria.

– Onde estão as crianças?

– Em casa, com a minha irmã – fungou, afundando-se no banco e podendo sentir com mais clareza o perfume de Hoseok no casaco.

Um cheiro forte, só dele, livre de qualquer cheiro de cigarro. Respirou fundo, se deleitando ainda mais com o cheiro dele. Odiando-se por isso.

– Onde você mora?

O ouviu perguntar, arrancando-o de seu pequeno transe. Taehyung se recompôs, apontou as direções que Hoseok deveria seguir e não conversaram mais depois disso.

Jung observa o prédio, não possuía nada demais. Imaginava que fosse um apartamento pequeno, e imaginou também todos os três vivendo lá dentro.

– É aqui – suspirou, pegando suas roupas molhadas do chão, se preparando para sair – Obrigado – murmurou.

Hoseok o analisou por um instante, o rosto pálido e o cabelo molhado jogado para trás. Soltando o ar ao finalmente deixar de encara-lo.

– Por nada.

Taehyung até pensa em devolver o casaco, mas não faz e em vez disso, espera que Hoseok mesmo se lembre de pedir.

Mas Jung não o pede de volta e por ele, Taehyung que ficasse com o casaco.

O assiste descer do carro, carregando as roupas molhadas em uma das mãos. Correndo para dentro do prédio, e sumindo ao passar pelo portão.

Do lado de dentro, Taehyung esperava para ver Hoseok ir embora com o carro. Acenou rapidamente para o porteiro e caminhou até o elevador.

Tirou do bolso do casaco a carteira de cigarros, passou seu dedo pelas letras em relevo na embalagem azul. Abriu a caixinha, fitando os três únicos cigarros que restavam.

Não era muito fã de cigarros de menta, mas aqueles eram os cigarros de menta do detetive.

Assim que entrou viu sua irmã sentada no tapete ao lado do gêmeos, todos os três colorindo desenhos com giz de cera.

– Veio na chuva?

– É... – foi breve, seguindo caminho até o quarto – Fez o jantar?

– Macarrão instantâneo conta?

– Eu deveria te dar uns cascudos – resmunga e ela ri.

Taehyung para ao lado dos gêmeos, inclinando-se para deixar um beijo em ambos os rostos, um carinho no cabelo e ele volta a andar até o quarto.

– Mano. – ouve sua irmã chamar, ela se levanta, deixando para trás o giz de cera e correndo até ele, diminuindo o passo quando já estão no quarto – Me empresta um dinheiro?

– Quer dinheiro 'pra que, garota?

– Quitar umas dividas...

– Que dividas, Sana? – cruzou os braços desconfiado.

– Aí, Taehyung! Você está parecendo a mamãe.

Ele revira os olhos, entrando de vez no banheiro e largando as roupas molhadas no chão.

– Vai me emprestar, ou não?

– Não.

– Taehyung, por favor? – pede agora parada na porta, apoiando ambas as mãos no batente – Maninho...

– Não.

Ela bufa em irritação, cruza os braços e fecha a cara.

– Decidi pedir pra você, porque achei que não iria me julgar como faz a mamãe e as outras... Mas me enganei.

– Você não nos deixa outra escolha, ou deixa?

– Estou tentando reparar meus erros, Taehyung, poxa... – suspirou cansada – Mas não tem como fazer isso sem a grana.

Ele solta o ar, não acreditando em uma única palavra. Sana é um caso perdido desde os seus dezesseis anos, mas afinal, quem daquela família não era?

– Eu vou parar, e dessa vez é pra valer.

Quantas vezes ele já não havia ouvido tal promessa? Quantas vezes ele já foi busca-la na delegacia por ser pega carregando pinos de cocaína? Quantas vezes ela já não havia sido internada a força? Quantas?

– É a última vez em que te empresto dinheiro. A ultima!

– Obrigada! – sorriu largo e o abraçou – Juro que esta será a última vez.

Ele assente, não acredita, mas prefere fingir que sim. Passa um dos braços ao redor dela e planta um beijo em sua testa, suspirando.

– Agora sai daqui, pirralha – abriu um sorriso a empurrando para fora do banheiro – E vê se presta atenção nos meus filhos. Da última vez você ficou enfiada no celular enquanto eles corriam com uma tesoura.

– Ainda sim, ninguém se machucou – deu de ombros – Você se preocupa demais, maninho.

Ele ri em descrença, assistindo a garota atravessar o quarto descalça, o cabelo ruivo preso por um dos lápis de colorir das crianças, usando também uma de suas camisas e uma calça de flanela vermelha como pijama.

– Quase esqueci – deu meia volta – Me empresta o isqueiro, acho que perdi o meu.

Taehyung enfiou as mãos nos bolsos da calça, jogando para ela o isqueiro.

– Agora me empresta um cigarro.

– Você anda folgada demais – resmungou – Meus cigarros acabaram.

– Não acabaram não, olha aqui – ergueu a carteira de cigarros de menta do detetive – Você fuma cigarro de menta agora, é?

– Não são meus – marcha até ela, tomando os cigarros de suas mãos. Os jogando na parte alta da prateleira – Se quer fumar, vá comprar os seus.

– Deixa de ser ruim, Taehyung!

– Sai daqui, fedelha, anda – a empurrou para fora do quarto – E pare de usar minhas roupas!

Gritou, para no momento seguinte bater a porta do quarto e se permitir pensar.

Sana era sua irmã mais nova, Taehyung ainda se lembrava dela quando pequena. Armando planos para ir até a cozinha de madrugada pegar biscoitos na dispensa.

Ela tinha quinze anos quando os gêmeos nasceram, e Taehyung achava fofo as crises de ciúme que ela tinha sempre que precisava deixa-la de lado para cuidar das crianças.

Depois do divórcio de seus pais, Taehyung sentia-se mais conectado à ela do que à qualquer uma das suas outras três irmãs. E mesmo depois de todas as pisadas na bola que Sana deu, Taehyung nunca conseguiu se afastar como as outras fizeram.

Ela era assim. Sumia por um tempo e voltava como se tivesse passado um único fim de semana fora. Às vezes voltava bem, outras nem tanto.

Ligava quando precisava de dinheiro, ou se possível, aparecia pessoalmente para pedir. Sempre assim.

E quando começavam a acreditar na mudança, ela desaparecia outra vez.

As outras costumam chama-lo de frouxo por ainda cair na lábia dela, por ainda estender a mão quando ela precisa, mas o que poderia fazer? Afinal, ela é sangue do seu sangue. Sua cúmplice dos roubos à geladeira durante as madrugadas.

Ainda tinha esperanças quanto ao caso dela. Mesmo que quase nulas, preferia acreditar que havia solução, do concretizar em sua mente que sua irmã se autodestruiria como uma bomba relógio.

(...)

O som do bater da porta do carro ecoou por entre as viaturas, atraindo todos os olhares para a direção do barulho. Hoseok ajeitou o terno, enfiando as mãos nos bolsos ao caminhar até a linha amarela.

– O senhor não pode...

– É da homicídios – um dos veteranos sussurrou para o novato, o tirando do caminho para que Jung pudesse passar.

A fita amarela fora erguida, e logo ele estava diante da cena do crime. Estudou o local conforme se dirigia até onde estava o corpo.

As árvores altas, os arbustos fartos que pareciam engolir o céu, os fracos raios solares que ainda conseguiam atravessar o muro de árvores e formavam pontinhos amarelos na grama seca.

O vento soprava e mais algumas folhas se desprendiam dos galhos, flutuavam no céu até repousarem calmamente no solo. Podia ouvir o estalar dos galhos, pássaros e até a correnteza do rio logo afrente.

E com toda certeza, o lugar teria uma aparência mais acolhedora, se não houvessem cientistas forenses zanzando de um lado para o outro, assim como oficiais fardados que faziam apenas observar.

Continuou em frente, até deparar-se com Yoongi. Ele de luvas brancas, com os braços cruzados enquanto assistia o fotógrafo terminar de fazer as fotos.

Hoseok sentiu cada pelo de seu corpo arrepiar, mas não era a brisa gélida que cortava seu corpo, balançava as folhas das árvores ou os estalares dos galhos que lhe causava isso. Era a cena que encontrava diante de seus olhos.

A água do rio batia calmamente na margem, a correnteza arrastava as folhas secas que ali caiam e molhavam o rosto dele, balançavam os fios de seu cabelo escuro, assim como banhavam seus braços e pés.

O rosto e barriga dele estavam virados para dentro da água, seu corpo inchado boiava, enroscado nas raízes de uma árvore na margem que o impedia de ser arrastado para longe pela correnteza.

Sua pele tinha um tom azulado, quase roxo. Paralisado como uma estátua.

– Morto à mais ou menos 72 horas – Yoongi resolve finalmente dizer, não levando o olhar até o detetive em momento algum – É um garoto, deve ter uns nove ou dez anos.

Hoseok concorda, sentindo o estômago revirar. Manteve seus olhos no corpo do garoto por um bom tempo, para no minuto seguinte apontar para as pegadas que surgiam de dentro do rio e seguiam caminho até desaparecer na mata.

– Tamanho trinta e seis – Yoongi responde – Já fiz os moldes, estão sendo mandados para a análise agora, assim como os daquelas pegadas, e daquelas outras – apontou para o outro lado, onde mais pegadas surgiam de dentro do rio e para Hoseok o que parecia ser uma pista fácil acaba de se tornar três vezes mais difícil.

– Detetive, talvez você não saiba, mas esse lugar é famoso por abrigar casais de adolescentes que buscam um pouco de privacidade. Se é que entende o que eu estou querendo dizer.

– Então é aqui que eles namoram?

– Na minha época, a gente namorava embaixo da arquibancada do ginásio da escola – Yoongi explica – Mas acho que para os jovens qualquer canto isolado serve.

– Namorou muito embaixo da arquibancada? – indagou com um riso soprado, o cutucando com o cotovelo.

– Não, as meninas não gostavam dos inteligentes – lamenta – Mas e você?

– Namorei bastante nos bancos de trás do meu carro.

– Você tinha um carro? – arqueou as sobrancelhas – Porra... Você era popular no colégio eu imagino.

Hoseok concorda, contendo o sorriso.

– Como eu estava dizendo, a margem do rio é o ninho do amor dos estudantes, também é o canto onde eles fumam maconha... De todo modo – recapitulou – O rio fica logo atrás de uma escola, você deve ter passado por ela no caminho, o que significa que qualquer um pode ter passado por aqui nas últimas 72 horas, antes do corpo voltar à margem.

– Então a cena está contaminada?

– Com toda certeza, e se esse for um caso de assassinato, nós estamos fodidos.

Hoseok esfrega os olhos, negando com a cabeça.

– O legista já deve estar chegando, ele vai poder te dizer mais do que eu nessa situação. O corpo está dentro d'água, não tenho como saber muito nestas condições.

– Sei disso – coça o queixo.

– Encontramos uma bicicleta, escondida poucos metros daqui – apontou para onde a floresta se mostrava mais densa, e Hoseok fez o caminho naquela direção.

Era uma bicicleta vermelha, bonita, parecia nova. Hoseok imaginou que fosse um presente recente, de aniversário talvez. A corrente estava arrebentada e nas rodas estavam enroscadas galhos e folhas secas.

– Também encontramos um isqueiro branco – lembra – Nas margens do rio, boiando perto do corpo.

– E o que mais?

– Bitucas de cigarro, garrafas de cervejas vazias, latinhas de refrigerante, fitas e elásticos de cabelo... Eu disse, esse canto é diariamente infestado por adolescentes.

– Parece até o inferno – resmunga, ajoelhando-se ao lado da bicicleta – Tem sangue na corrente.

– Tem? – arregala os olhos, ajoelhando-se ao lado dele. Era uma mancha pequena, gotas rubras que desapareciam entre as engrenagens – Vou mandar para a análise.

– Faça isso – se levanta novamente.

– Então... O que acha?

– Não acho nada – cerra os lábios, negando com a cabeça – Um garoto de dez anos morto dentro de um rio atrás de uma escola, uma bicicleta e lixo de adolescentes... Não tenho muito o que achar nessas circunstancias.

– Claro que tem, você tira suas conclusões o tempo todo sobre qualquer coisa.

– Achei que não gostasse de teorias.

– Não gosto, mas quero saber o que você acha – dá de ombros.

– Quais as chances de isso ter sido um acidente, uma brincadeira entre garotos que acabou mal?

Yoongi não responde, olha em volta e se permite pensar.

– Garotos da idade dele não deixariam o amigo para trás, quero dizer, se ele estava com amigos e estes o vissem se afogar, tenho certeza que chamariam os pais ou a emergência. Que criança iria embora e fingiria que não viu o amigo se afogar? – Hoseok por fim explica – Crianças abrem a boca fácil, se uma criança soubesse o que de fato aconteceu aqui, nós já saberíamos.

– Então...

– Adolescentes por outro lado... – Hoseok pondera – Alguns garotos são violentos, pode ter sido o resultado de uma brincadeira de mal gosto, ou, ele pode ter somente entrado no rio por vontade própria e se afogado.

– A maioria dos casos de afogamento são causados por acidente.

– Exatamente – enfia as mãos nos bolsos da calça – Talvez terminemos rápido.

– Talvez.




– Você está péssimo, se me permite o comentário.

Taehyung ergueu o rosto, os olhos pesados e o nariz vermelho. Queria xingar Namjoon, mas sequer tinha forças para pensar em revidar.

– Por que não ficou em casa?

– O mundo não vai parar só porque eu contraí um vírus.

– Você não está servindo de nada hoje, parece um zumbi. Era melhor que tivesse ficado em casa, descansando.

– Eu não estou doente, é só um resfriado – passou a mão no cabelo, o afastando da testa suada – Nunca estive melhor.

– Vou te dispensar por hoje.

– Não!

– Vai pra casa, Taehyung – se levantou, preparando-se para deixar a sala – Junta as suas coisas e vai dormir um pouco.

– Mas eu estou bem!

– Vai logo.

– Não vou sair.

– Pode ficar, mas eu não vou te dar trabalho nenhum.

– Namjoon!

Ignorando-o, Namjoon deixou a sala, bateu a porta e deixou para trás um Taehyung frustrado.

Deixou o prédio ainda que a contragosto, bufando em irritação. Abraçou o próprio corpo pelo frio que sentira ao chegar no estacionamento.

A cabeça doendo, o corpo inteiro cansado. Sequer sabia de onde havia tirado forças para levantar da cama naquela manhã, mas agora parecia um sacrifício chegar até o carro.

Dirigiu até a cafeteria mais próxima, tomou um analgésico e pediu um chá. Esperando, praticamente deitado sobre a mesa ao ar livre, ele se recusava a ir para casa.

Quando teve a caneca de chá posta em sua mesa, foi que arranjou coragem pare se erguer. Prendeu o cabelo com um elástico, e abaixou a máscara, segurando o queixo com a palma da mão.

– Te achei – se assustou quando viu Hoseok se sentar na mesa, na cadeira de frente para a sua – O que você fez com os meus cigarros?

– Ficou doido, é?

– Estavam no casaco que eu te dei – explicou, prendendo um cigarro entre os lábios enquanto procurava pelo isqueiro.

– Não tinha cigarro nenhum lá e se tivesse, que porra eu iria querer com essa merda?

– Tinha sim, eu me lembro muito bem.

Taehyung negou com a cabeça, soprou o chá e tomou um gole.

– Você está ficando caduca, detetive, desmemoriado.

– Sei... – tragou o cigarro – Mentiroso de merda.

Taehyung não retrucou, em vez disso, manteve o foco em terminar o chá. Estava exausto demais para começar uma intriga com Jung.

– Está doente?

– Percebeu, foi?

– Pra você não estar dando pitaco só pode ser isso.

Taehyung bufou, mostrou o dedo e voltou seus olhos para a caneca.

– Eu não roubei os seus cigarros – mentiu, em seu tom de voz rouco, esfregando os olhos com a ponta dos dedos – Então pare de me encher com isso, você já até comprou um maço novo.

Hoseok até pensou em retrucar, mas não o fez. O Kim parecia estar fazendo o maior esforço só para terminar sua bebida, não continha energias para devolver suas alfinetadas.

Ele se manteve ali, enquanto terminava o cigarro e o assistia tomar do chá, mantendo os olhos baixos durante todo o momento.

– Olhe para nós, detetive – fungou – Estamos no nosso segundo encontro.

Jung riu soprado, revirando os olhos.

– Todos os nossos encontros são péssimos, aparentemente – completa, se escorando agora no encosto da cadeira.

– Qualquer coisa que envolva você é péssimo.

– Você 'tá atacado hoje, hein? – franziu o cenho – Quanto mau humor, detetive, parece um limão de tão azedo – apanhou a caneca em ambas as mãos, se escorando na cadeira e terminando o chá.

Hoseok soltou o ar, apagou o cigarro e descartou a bituca. Encarando Taehyung por um instante, encolhido pelo frio.

Estava prestes a lhe dirigir a palavra, quando o celular de Taehyung passou a vibrar na mesa. Ergueram os olhares, e Hoseok arqueou as sobrancelhas quando Taehyung largou a caneca e atendeu com desespero.

– Fala – e batuca os dedos na mesa, pressionando os lábios enquanto escutava – É? – sua feição mudou agora para surpresa.

Hoseok manteve seu silêncio, o ouvindo falar ao telefone. Arrancar do bolso o bloco de notas e fazer algumas anotações.

Quando desligou, cruzou os braços sobre a mesa e batucou a ponta da caneta no papel.

– Detetive... – sorriu e lá estava a disposição que precisava – Você não faz ideia do que eu acabei de descobrir.

– Me conte.

Taehyung riu, negando com a cabeça, se levantou e pegou suas coisas. Voltando a cobrir o rosto com a máscara.

– Descubra sozinho – deixou um tapinha em seu ombro – Você é bom nisso, detetive.

E acenou, antes de atravessar a rua e entrar no carro. Contendo o riso de empolgação quando segurou o volante.

Alcançou o celular e ligou para Namjoon. Mordendo o lábio enquanto esperava.

– Namjoon! – chamou empolgado – Eu quero escrever um artigo.

Não. Já disse que não vou te dar trabalho nenhum hoje.

– Quem disse que eu quero esses casos mixurucas de rodapé que você tem? – soou ultrajado – Eu só me presto à a escrever coisa boa.

Abaixa essa tua bola, Kim – riu – O que é que você tem aí?

– Descobri o caso novo do detetive.


Notas Finais


eu tenho certeza de que nunca vou chegar aqui 11 horas em ponto.

enfimm, sigam a gata aqui la no twitter ( @ gabbieah_ ) e comentem usando a tag pra eu rir da cara de vocês, obrigada.

vejo vocês semana que vem!


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